Lula já discute
alternativas a Palocci
Sem alarde, Lula começou a discutir com
auxiliares de sua confiança nomes de eventuais substitutos para
o ministro Antonio Pallocci (Fazenda). Embora não deseje a troca de
comando na economia, acha que são ponderáveis as chances de Palocci
deixar, por vontade própria, o
governo.
Lula
trabalha com dois cenários. O primeiro prevê a substituição de
Palocci pelo atual secretário-executivo da Fazenda, Murilo
Portugal. Ou alguém com o seu perfil, conservador. O
segundo contempla a escolha de alguém identificado com uma
estratégia de baixa mais acentuada dos juros, visando taxas mais
densas de crescimento do PIB. Para essa hipótese, Lula ainda
não se fixou em nenhum nome. Se tem alguém na cabeça, não
revelou.
Reservadamente,
Lula se disse impressionado com o abatimento de Palocci. Acha que
ele reagiu com exagero às críticas da colega Dilma Roussef (chefe do
Gabinete Civil). Enxergou na reação um indício de que Palocci pode
estar preparando o desembarque.
Antes
um personagem blindado, Palocci foi sitiado pela crise política.
Normalmente afável, mostra-se irritadiço. Incomoda-o a perspectiva
de ter de sentar-se no banco da CPI dos Bingos. Avalia que, se isso
vier a ocorrer, não será tratado como testemunha, mas como
réu.
Alvejado
por ex-assessores na prefeitura de Ribeirão Preto, Palocci diz,
entre quatro paredes, que não compreende o que move a artilharia
contra ele. Demonstra especial desalento com o comportamento de
Rogério Buratti.
Nos
bastidores, o primeiro escalão de Brasília comenta que Buratti
tornou-se uma ameaça ambulante movido a ressentimentos pessoais. Na
mais nova investida contra o ex-chefe, acusa-o de ter intermediado a
doação ilegal de R$ 1 milhão de Casas de Bingo para a campanha de
Lula em 2002.
Autorizado
por Lula, Palocci mergulhou num recolhimento de quatro dias. Só
volta a Brasília na quarta-feira. O presidente pediu que esfriasse a
cabeça. Mas receia que o ministro retorne do descanso propenso a
pedir demissão. Daí a análise de
alternativas.
Numa
eventual troca de cadeiras, Lula terá alguma dificuldade caso venha
a se fixar no nome de Murilo Portugal. Fiel a Palocci, o ex-chefe do
Tesouro Nacional da gestão FHC não trabalha com a hipótese de virar
ministro.
Na
última quarta-feira, um amigo brincou com Portugal na mesa de um
restaurante. Vai acabar sobrando pra você. Ele ele: De jeito
nenhum. Acha que Palocci resistirá à crise. De resto, acalenta
o sonho de mudar-se para o Rio. Quer trabalhar na iniciativa
privada. Programou-se para ficar em Brasília até o final de 2006,
mas não como ministro.
Trazido
diretamente do FMI, Portugal tornou-se admirador de Palocci.
Conhecera-o ainda na fase de transição de governo, no final de 2002.
Acha-o acima da média dos quadros petistas. Inveja-lhe a capacidade
de contemporizar conflitos políticos. Uma qualidade que julga não
possuir.