Fa,
 
Movimentos como esses na França tendem a se espalhar pelo mundo. Chegarão ao Brasil sim. Quando? Nenhum profeta será capaz de dizer. Mas não há rebeldes sem causa, mesmo que ela não seja não seja percebida de imediato.Os excluídos atingirão o limite e uma vez aceso o estopim não haverá repressão que contenha a sua marcha.
É só esperar para ver. Podemos não alcançar o tempo da eclosão, mas ela é inevitável. Uma olhada no desenrolar cíclico da história mostra claramente isto.
É pagar para ver.
 
Um beijão.
 
Carlos Antônio.
 
 
----- Original Message -----


Oi

Pobreza e falta de oportunidades, né?

Será que vai se espalhar pelo mundo?

--
Beijins
Fa
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"Você não pode ter tudo. Onde você colocaria?"
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Domingo, 13 de novembro de 2005

Mario Sergio Conti  


Periferia: a resposta da República


Quinze dias de revolta da periferia francesa produziram números
eloqüentes. Mais de sete mil carros foram incendiados em mais de
trezentas localidades diferentes, em todo o país. Queimaram também
dezenas de estabelecimentos estatais: escolas maternais, liceus,
ginásios esportivos, centros de recolhimento de impostos, delegacias. Em
menor número, queimaram também lanchonetes, postos de gasolina,
mercados. Os prejuízos provocados pelos incêndios chegam a 200 milhões
de euros. Cerca de trinta policiais e bombeiros foram feridos. Um
cidadão foi morto quando tentava apagar um incêndio num recipiente de
lixo. Duas mil pessoas foram presas.

***

Quem são os revoltados? Sabe-se que a grande maioria deles são jovens, e
bem jovens. Têm entre catorze e dezoito anos. Até um garoto de oito anos
foi preso. Quase todos são franceses. A maioria é de origem africana
(Gabão, Costa do Marfim, Mali, Togo, Congo)e magrebina (Tunísia, Argélia
e Marrocos). Há entre seis e sete milhões de franceses imigrantes ou de
origem estrangeira na França, eles formam cerca de 10% da população.

Acredita-se que entre os manifestantes exista de tudo que viceja nos
subúrbios: desempregados, bandos de traficantes, pequenos delinqüentes,
secundaristas, adolescentes sem problemas com a polícia, gangues,
lúmpens, desgarrados dos grupos radicais islâmicos.

Sociólogos explicam que o alvo preferido dos revoltados, os automóveis,
têm um estatuto ambíguo.O carro é simultaneamente objeto de desejo e
símbolo dos franceses bem sucedidos, que são encarados como inimigos.
Acrescento que automóveis pegam fogo rápido e geram poderosas imagens na
televisão. Queimá-los é uma diversão. Os incêndios atraem bombeiros e
policiais, que são apedrejados, revidam com bombas de efeito moral e gás
lacrimogêneo e correm atrás dos manifestantes. A atividade tem algo de
jogo violento, de agressividade e perigo, de adrenalina farta.

O movimento é desorganizado e espontâneo. Não há líderes ou hierarquia.
Há, no entanto, meios de comunicação entre os manifestantes. Os
principais seriam blogs e celulares. Esses últimos serviriam de veículo
para as mensagens curtas, escritas, uma febre francesa. O movimento, ao
que parece, tem muito de mediático. Os participantes querem que “seus”
incêndios e depredações apareçam na televisão. Dois canais de TV, a
France 3 e a LCI (estatais), decidiram não divulgar os números de carros
incendiados, para não incendiar a progressão, a busca de bater recordes
a cada noite. A estação de maior audiência, TF1 (privada), adotou a
norma de, a cada reportagem sobre um determinado ataque dos revoltados,
levar ao ar em seguida uma matéria “positiva”: apelos à paz, ações de
ONGs, congraçamento de negros, árabes e brancos, etc.

***

Como o movimento é desorganizado, os depredadores não têm plataforma
política. Pelo que se depreende do que dizem seus integrantes que foram
entrevistados por jornalistas, eles têm sim uma reivindicação central: a
demissão do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, chefe supremo da
polícia. O que faz todo o sentido.

Quando os dois garotos morreram eletrocutados num transformador em
Clicy-sous-Bois, em 27 de outubro, o ministro negou que eles estivessem
fugindo de policiais, que promoviam uma interpelação nas redondezas. (As
interpelações são barra. Os policiais franceses são conhecidos pela sua
brutalidade, verbal e física. Escolhem os interpelados a dedo: jovens
negros e árabes.) Um terceiro menino, que estava com os que morreram,
confirmou que eles fugiam da batida policial. Sarkozy não teve uma
palavra de condolência ou lamento pelas mortes. Naquela noite, houve os
primeiros incêndios.

No dia seguinte, o ministro enviou três companhias policiais a Clichy,
para fazer novas interpelações. Vi na televisão uma entrevista de uma
moradora, branca: ela se perguntava por que os policiais só paravam
árabes e negros. Os incêdios cresceram. Sarkozy foi à cidade. Cercado de
policiais, foi recebido com vaias. Retrucou chamando os manifestantes de
“escória”, e prometeu “limpar” o subúrbio. Os incêndios aumentaram. Mais
um dia e uma bomba de gás lacrimogêno estourou dentro da mesquita de
Clichy. O ministro admitiu que a bomba pertencia ao arsenal da tropa de
choque, mas completou: “o que não significa que tenha sido jogada por um
policial”. Um rapaz disse ao “Le Monde”: “quando pintam uma suástica num
cemitério judeu, o próprio Chirac vai lá e faz um discurso; Sarkozy
sequer pediu desculpas”. Os incêndios se multiplicaram e se espalharam
pela França.

***

A resposta da República tardou. Uma jornalista americana comparou a
reação de George Bush ao Katrina e a de Jacques Chirac ao motim da
periferia. “Bush levou dez dias para reagir; Chirac, onze”, disse Anne
Applebaum, do “Washington Post”. O mesmo raciocínio vale para a resposta
da opinião pública. Os americanos doaram dois bilhões de dólares às
vítimas do ciclone. Cinquenta e seis por cento dos franceses aprovaram
as atitudes de Sarkozy frente à revolta.

Pelo que transpira do palácio do Eliseu, Chirac ficou atônito com a
explosão de ódio. Ele não a esperava. Seu julgamento, tal qual o de seu
antecessor, François Mitterand, era de que era impossível acontecer o
que aconteceu. Em 1992, houve em Los Angeles o julgamento dos policiais
brancos que espancaram um motorista negro, Rodney King. O espancamento
foi filmado. Um júri, de maioria branca, inocentou os policiais. Los
Angeles foi tomada por motins, que tiveram origem nos bairros e
subúrbios pobres, onde os negros são maioria. A Guarda Nacional ocupou a
cidade. Houve 55 mortos, dois mil feridos, dez mil presos e prejuízos da
ordem de um bilhão de dólares. Mitterand, na época presidente, comentou
os distúrbios em Los Angeles: “Isso não poderia acontecer em Paris
porque a França é o país onde a proteção social é a maior do mundo”.

***

Chirac acabou reagindo. O caminho escolhido foi triplo: incremento da
repressão policial, restrição às liberdades públicas, e um plano de
emergência para as periferias.

Repressão. Mais dois mil policiais foram chamados para conter a revolta.
Sarkozy percorreu dezenas de guarnições e delegacias, elogiou os
policiais e orientou: a hora era de prisões. Também anunciou que os
estrangeiros que fossem pegos em flagrante participando de depredações
seriam expulsos sumariamente da França, mesmo que estivessem em situação
legal, mesmo que tivessem chegado ao país com menos de treze anos. Há
120 estrangeiros entre os presos nas periferias. A medida é um absurdo
jurídico, pois implica numa pena dupla (a condenação pelo crime e a
deportação), que foi expressamente proibida no ano passado. Mesmo que
não seja levada adiante, seu poder simbólico é grande.

***

Restrição à liberdade. O governo ressuscitou uma lei de 1955, que
regulamenta o estado de emergência. Ela autoriza a prisão, sem
julgamento, de “toda pessoa que seja perigosa para a segurança e a ordem
pública”, o fechamento de “locais de reunião de qualquer natureza”, a
proibição de “reuniões que possam provocar ou planejar desordem”, o
“controle da imprensa e de publicações de todos os tipos”, a
transferência da justiça para “jurisdições militares” e o
estabelecimento do toque de recolher. Até agora, duas medidas foram
tomadas. O toque de recolher (em 25 dos 95 departamentos) e a proibição
de manifestações públicas em Paris, no fim de semana.

Mas, como observou o jurista Michel Tubiana, presidente honorário da
Liga dos Direitos Humanos, “não há nenhuma razão para acreditar que o
governo não usará todos os poderes da lei frente à ‘escória’ e a outros”.

Novamente, para além da aplicação da lei de 1955, há a questão
simbólica. A legislação foi feita no contexto da Guerra da Argélia. Ela
visava combater os argelinos que lutavam pela independência. Agora, os
filhos e netos daqueles argelinos sofrem novamente o peso da lei.

Todos os partidos da direita e da extrema-direita, e o maior da
oposição, o PS, apoiaram o estado de emergência. Só ficaram contra a
extrema-esquerda, o PCF, os verdes e uma insittuição liberal, o jornal
“Le Monde”. Uma pesquisa de opinião mostra que 73% dos franceses
aprovaram a restrição às liberdades.

***

Plano de emergência. Ele prevê a recontratação de auxiliares de
professores nos liceus das periferias, cujos postos haviam sido
suprimidos nos cortes do orçamento de 2005. A medida, ainda que
restrita, é correta. As outras são escandalosas.

O governo aumentará as verbas para as associações civis que atuam nos
subúrbios. Ou seja, em vez de fortalecer os órgaos do serviço público
(escolas, creches, hospitais, postos de saúde, delegacias, etc), o
governo terceiriza o Estado, delegando a ONGs as funções que são suas.
Em vez de fortalecer o Estado nas periferias, ele é solapado.

É autorizado o emprego de aprendizagem para adolescentes de catorze
anos. Na prática, se acaba com a obrigatoriedade, constitucional e em
vigor desde meados do século passado, do estudo até os dezesseis anos.
Com isso, as diferenças sociais irão aumentar, pois os filhos de
famílias pobres terão menos escolaridade. Além do mais, por empregos de
“aprendizagem” entenda-se aumento da exploração: meninos e meninas de
catorze a dezesseis menos receberão menos para realizar o trabalho que é
feito hoje por maiores de idade já diplomados. Em suma: a educação e o
emprego ficarão ainda mais precários.

***

Escreveu-se muito sobre raça, discriminação social, urbanismo e origem
estrangeira. Esses problemas existem. Só um exemplo. No ano passado, a
Assembléia Nacional rejeitou um projeto de lei que obrigava que não
constasse dos currículos nem o nome nem o endereço do candidato a um
emprego. O deputado, do PS, argumentava que as empresas, ao toparem com
um nome árabe ou africano, ou um endereço de periferia, barravam a
contratação do candidato. É verdade. A lei não foi aprovada.

Mas as questões centrais, que estão interligadas, me parece, dizem
respeito ao trabalho e ao Estado.

O trabalho é ainda a base da sociedade. É o trabalho que garante a
coesão social, pois dá a cada um dos integrantes da sociedade a
possibilidade de sobrevivência e de estabelecimento de relações. As
relações de trabalho organizadas permitem a constituição de classes e a
defesa de interesses econômicos e políticos num quadro estável. Essas
relações integram todos os indivíduos de uma sociedade, quasiquer que
sejam sua origem geográfica, crença religiosa e postura política.

Na França, o desemprego atinge 10% da população economicamente ativa.
Entre os jovens, em busca de um primeiro emprego, ele chega a 17%. Nas
periferias, chega a 25%. Entre os jovens dos subúrbios, às vezes atinge
50%. Sem trabalho, esses jovens não têm relações sociais duradouras nem
futuro.

O Estado, constitucionalmente, deve garantir a educação, a saúde, a
moradia e a aposentadoria. Na França, como em todos os lugares, ele vem
sendo destruído. Pelas privatizações e pelo sucateamento dos serviços.
Nas periferias, esse processo é mais agudo.

Criar trabalho e reforçar o Estado, no atual estágio do capitalismo, são
quimeras. Mas sem eles, os acontecimentos na França, as revoltas sem
objetivo claro, as explosões de cólera, as depredações, tudo isso tende
a aumentar.



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