> Caros colegas e professores:
>
> Estou enviando a carta que o senador ACM mandou ao professor Roberto
Romano
> e a resposta dele. Roberto Romano é um professor da Universidade Estadual
de
> Campinas - UNICAMP. Ele foi um dominicano e hoje professor de filosofia
> política naquela Universidade.  Ele é brilhante e competente professor em
> sua área de conhecimentos. Após ter sido entrevistado na GLOBONEWS,
tratando
> de questões políticas relativas ao presente momento do Brasil, Antonio
> Carlos Magalhães escreveu-lhe uma
> carta, em 16 de abril/2001; em 02 de maio, Roberto Romano respondeu a
carta,
> com a dignidade que cabe a um homem do seu porte.
> É estimulante ver a dignidade e profundidade com que responde a Antonio
> Carlos. Nao deixem de lê-las.
>
> Muito obrigado
>
> Federico Morante
>
>
> -------------------------------------------------------
>
>
> Brasília, 16 de abril de 2001
>
> Senhor Professor Roberto Romano,
>
> Assisti as manifestações de Vossa Senhoria em programa televisivo da Globo
> News sobre corrupção. levado ao ar no último final de semana.
> Embora respeite os seus pontos de vista, incumbe-me dizer-lhe que, quanto
a
> mim, está completamente enganado. De logo registro que a comparação com o
> Senador Jader  Barbalho é injusta e
> despropositada.
> Entendo o que o teria levado a isso. O Senhor fala por ouvir dizer, mas
não
> com conhecimento de causa. A minha liderança na Bahia, perdoe-me a
modéstia,
> está sempre retratada pelas pesquisas de
> opinião, inclusive a mais recente, em Salvador, realizada no mês passado,
me
> dá mais de 80%
> da aprovação dos baianos.
> Além de basear-se nas pesquisas, sugeriria que V.Sa. também, na feitura de
> uma análise sobre determinada pessoa, como professor diligente, ouvisse os
> escritores da terra. No meu caso, nomes como
> Jorge Amado e João Ubaldo; ou os compositores da terra, como Caetano
Veloso,
> Gilberto Gil, Jerônimo, Vevé Calazans e dezenas de outros; ou os artistas
> plásticos, todos eles. E, em se tratando de um
> professor, valeria a pena consultar, ainda, a população de 16 a 24 anos.
Sob
> esse aspecto, devo dizer também que, na sua prórpia Universidade, alunos
têm
> feito teses as mais variadas sobre o meu comportamento político e, em sua
> maioria, apresentando resultados positivos. Se um dia V.Sa. for à
> Bahia, ouvir o povo, andar pelas ruas, será lisonjeiro para mim
companhá-lo.
> Ai sim, o Professor de Política e Ética fará uma observação correta.
>
> Na minha idade, as injustiças, por mais que sejam repetidas, não mudam a
> rota de atuação. Continuarei trabalhando pela Bahia e, a ser verdadeira
sua
> afirmação de que 400 escolas têm o meu nome, o que
> não creio, terá sido porque, indistintamente, nos nossos 417 municípios
> existe a minha presença através do trabalho e de obras pelo
engrandecimento
> do Estado.
> Seja como for, achei o número exagerado e procurarei averiguar sua
> observação.
> Vê V.Sa. que a minha discordância é salutar, pois tem o objetivo de bem
> informá-lo a meu respeito, especialmente porque acredito na sua
sinceridade
> de propósitos e dedicação ao conhecimento histórico sobre a política e os
> políticos de nosso País.
>
>  Atenciosamente,
>
> Senador Antonio Carlos Magalhães.
>
> ---------------------------------------------------------
>
> RESPOSTA DO PROFESSOR ROBERTO ROMANO
>
> São Paulo, 02 de Maio de 2001
>
> Ao Senador da República,
> Antonio Carlos Magalhães:
>
> Senador:
>
> Quando ocorreu o golpe de Estado, em 1964, eu tinha 19 anos.  Em amargos
> anos aprendi, na universidade, a disciplina e o rigor da pesquisa. O livro
> que publiquei em 1979, fruto de um doutorado
> (Brasil, Igreja contra estado, SP, Kayrós Ed.),  sintetiza milhares de
> documentos recolhidos num processo lento e longo de investigação no qual
as
> informações foram analisadas, confrontadas entre si e
> com os dados estatísticos, históricos, sociais, econômicos. Todos os
> elementos do trabalho vieram de fontes sociais, arquivos, bibliotecas
> especializadas, laboratórios.
> Aprendi, portanto, a só apresentar um juízo após minuciosa observação de
> comportamentos, fatos, dados. Nunca escrevi um só livro ou artigo "por
ouvir
> dizer". Essa frase, cujo conteúdo é a mim atribuído pelo senhor, foi
> extraída, como deve ter ouvido dizer V.Excia., de Spinoza. No Tratado
sobre
> a Reforma do Intelecto, aquele é o modo mais baixo na hierarquia dos
> saberes.
> V.Excia. afeito à produção de dossies, com base em recortes de jornais (e
> nossa imprensa, infelizmente, não se notabiliza pela investigação isenta e
> cautelosa) confunde o vosso modus operandi com o comportamento científico
> habitual.  Não foi este modo opinativo que me levou aos considerandos
sobre
> o comportamento público de senadores, na atual quadra da vida brasileira,
> que faz enrubescer até as
> pedras. Voltando à minha pequena história, mencionada acima: durante a
> ditadura eu lutei pela democracia e pelo Estado de direito. Fui preso
> político por bom tempo. Sofri, como os brasileiros em geral, o peso dos
> censores, dos atentados cometidos contra os que não tinham o comando de
> batalhões.
> Verifiquei toda a arrogância dos políticos que se fortaleceram à sombra da
> exceção.
> Não foi "por ouvir dizer" que formei uma idéia bastante negativa dos que
> apoiaram a tirania. E foi  como cidadão que segui o procedimento de
> V.Excia., que sempre apoiou os mais lamentáveis atentados à democracia,
como
> o fechamento do Congresso, as pressões contra o Judiciário, a intimidação
> sobre a sociedade civil através dos Atos Institucionais, os decretos
> secretos, etc. Testemunhei tudo isto de um
> lugar privilegiado, a cidadania violentada, pagando caro os desmandos do
> regime do qual V.Excia. foi  campeão.
> Quanto à presença de vosso nome em escolas, minhas afirmações também não
se
> originaram "no ouvir dizer". Elas se baseiam em pesquisas cuidadosas como
a
> publicada pelo saudoso bahiano, Dr. José de Oliveira Arapiraca (nome de
uma
> só escola no seu Estado). Tive a honra de homenagear aquele grande homem
na
> Câmara dos Vereadores de Salvador,discursando como convidado da Casa, no
> momento certo.
> O Dr. Arapiraca, após levantamento feito na Bahia, chegou aos números
> alarmantes a que me referi na Globonews, no relativo aos estabelecimentos
> públicos de ensino. O nome de V.Excia, ultrapassa numericamente, em muito,
o
> de vultos pátrios como Rui Barbosa, Padre Vieira, Tiradentes, etc. O dito
> livro pode ser encontrado com facilidade nas boas bibliotecas
universitárias
> bahianas. Não é preciso um
> levantamento especial para identificar este desvio. Trata-se, como enuncia
o
> autor, de uso político, para fins de marketing, da coisa pública. Este
> abuso, no plano espiritual, é tão grave quanto a subtração de bens
> materiais. Dominar a alma de um povo é um dos piores atentados à
democracia.
> Finalmente, fico surpreso com o rol dos artistas e intelectuais
apresentado
> por V.Excia. em sua missiva. São os mesmos nomes inscritos no Manifesto em
> vossa defesa, lançado nestes dias. A coincidência indica um fato : existem
> pessoas, no âmbito da cultura, dispostas às zumbaias e aos rapapés. É
> triste, mas normal num país ainda não afeito à liberdade. Sua lista e
> Manifesto trouxeram-se a lembrança do célebre escrito de Julien Benda
sobre
> a traição dos intelectuais.
> Desconheço os trabalhos universitários favoráveis à V.Excia, feitos na
> Universidade de Campinas. Acho bizarra esta vossa afirmação, porque
> pesquisas sérias não são ideadas para definir juízos de
> partidos e de seus líderes. O rigor e a análise isenta constituem o único
> fundamento
> da ciência. E a Unicamp é uma pequena unievrsidade que prima por estes
> prismas do rigor e da cautela, longe das seitas e das preferências
> ideológicas. É isto o que lhe dá credibilidade ética e
> científica, justamente porque nela não se confia o destino da sociedade e
> dos indivíduos ao "ouvir dizer" ou aos recortes de jornais, mas na lenta e
> dura pesquisa.
> Grato pela sua missiva, digo a V.Excia. que tenho pela Bahia e pelo seu
povo
> o maior respeito e admiração. Justo por isto, não tomo uma parcela, por
mais
> expressiva que ela seja, pelo todo.
>
> Atenciosamente,
>
> Prof. Roberto Romano
>
>
>
>

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