Segue um texto da Revista Istoé
abraços:
Crime organizado |
O falecido |
Testemunha de CPI do Narcotráfico diz que foi abandonado e se
considera um morto vivo |
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Francisco Alves Filho |
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Narcotráfico e a CPI do Roubo de
Cargas devem muito ao caminhoneiro pernambucano Salvio Barbosa Vilar, 48 anos.
Depois de participar por seis anos de um esquema de roubo de caminhões e tráfico
de armas e drogas organizado por policiais paulistas, ele forneceu aos
parlamentares informações que possibilitaram várias prisões. Desde que deu com a
língua nos dentes, passou a temer por sua vida e a de sua família – ele é casado
e tem três filhos. “Deputados prometeram que seríamos incluídos no programa de
proteção à testemunha, mas tudo não passou de promessa”, cobra. Um filho, a
ex-mulher e um primo de Salvio foram mortos e o resto da família vive escondido.
Condenado a 18 anos e dez meses por assalto, ele tem direito a regime
semi-aberto. Apesar disso, desde que foi transferido, por segurança, para a
Divisão Anti-Sequestro, no Rio de Janeiro, a Justiça fluminense o mantém
trancafiado. Ele elogia a conduta dos policiais da DAS, que garantem a sua
sobrevivência, mas anda preocupado porque poderá ser transferido para uma
penitenciária paulista a qualquer momento. “Se eu voltar, vou morrer. Os
culpados serão os deputados das duas CPIs.” Num rasgo de humor negro, alguns
policiais já tratam Salvio como Falecido e ele mesmo diz que se sente como se já
estivesse morto. O caminhoneiro tem uma tradução própria para as três letras da
famosa sigla CPI: Caminho para o Inferno. Ele conta seu drama a ISTOÉ e faz
importantes revelações sobre roubo de carga e tráfico de armas e drogas no País,
envolvendo caminhões de grandes empresas.
ISTOÉ – Quando o sr. começou a participar do esquema dos policiais
envolvidos com o crime organizado? Salvio Barbosa Vilar – Fugi do
hospital penitenciário em abril de 95, pagando US$ 5 mil aos PMs que tomavam
conta de mim. Acabei sendo descoberto e, para não voltar a ser preso, tive de
“trabalhar” para eles, o pessoal do Depatri (Departamento de Investigações sobre
Crimes Patrimoniais) e do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime
Organizado). Eles apreendiam as cargas roubadas e revendiam para grandes lojas.
A maioria desses casos atualmente não é de roubo, e sim de desvio de cargas, em
que existe a conivência dos motoristas que conhecem grandes receptadores desse
material. O caminhão some e depois a ocorrência é registrada como roubo. A
partir daí, vende-se a carga roubada para lojas que ou vendem ou repassam para
os camelôs revenderem.
ISTOÉ – E os caminhões roubados? Salvio – A maioria das
carretas e dos caminhões trucados que são roubados está em Belém, nas grandes
madeireiras. Essa carreta fica um, dois, três anos puxando madeira no meio do
mato, com placa fria. Lá não tem polícia, não tem nada. Estive lá em algumas
dessas madeireiras com a Polícia Federal e os agentes constataram que eu falo a
verdade.
ISTOÉ – E quanto às drogas? Salvio – Nas apreensões de
drogas, acontecia o mesmo que no caso das cargas. Uma parte era apresentada à
imprensa e outra revendida pelos policiais.
ISTOÉ – Parece um esquema muito rentável... Salvio – Ali
corria mais dinheiro que num banco. O ladrão de carga era preso, mas pagava e
ficava livre. Vi acertos de R$ 700 mil e de R$ 1,5 milhão. A minha tarefa era
somente entregar, principalmente droga. Cheguei a levar 100, 200 quilos. Uma vez
levei uma grande quantidade, uns 60 quilos, para uma residência no Morumbi, em
São Paulo. Transportei para Recife também. Os nomes dos policiais eu já
denunciei à CPI. Alguns foram presos e outros estão soltos.
ISTOÉ – E quanto às armas? Salvio – As armas eram
divididas entre o grupo e algumas eram revendidas. Mas existem as grandes
empresas transportadoras que levam cocaína e armas para São Paulo e Rio. São
transportadoras que não levantam suspeitas. Qual o policial rodoviário que pára
a carreta de um grande frigorífico do Sul? A outra é uma grande transportadora.
Tenho como provar. Talvez os diretores das empresas nem saibam, mas tem gente lá
dentro que coloca as marcas famosas em algumas carretas e usa esses nomes para
fazer o transporte. Também clonam as notas fiscais. As armas que chegam ao Rio
hoje vêm através desse esquema. Não é verdade que entrem pelo mar ou em ônibus
que vêm do Paraguai. A polícia sabe
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