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Benjamin Wallace lança o livro 'O vinho mais caro da história' 

Enviado por: "JPSCHIFFINI" [EMAIL PROTECTED]   villakauai2000 

Sex, 5 de Dez de 2008 10:32 am 

Benjamin Wallace lança o livro 'O vinho mais caro da história'
Bolívar Torres, Jornal do Brasil 

RIO - Em 1985, a reputada casa de leilões inglesa Christie's pôs à venda
um curioso objeto histórico: uma garrafa de vinho Château Lafite de
1787, que teria pertencido ao presidente americano Thomas Jefferson, o
primeiro apreciador da bebida nos Estados Unidos. 

Embalado pelo boom da degustação de vinhos antigos, que começavam a
ressurgir subitamente da poeira dos séculos pelas mãos do suspeito
empresário alemão Hardy Rodenstock, o item atingiu o incrível valor de
US$ 156 mil, o maior já pago por uma garrafa da bebida. 

Além de atrair a atenção da mídia do mundo inteiro, o fato provocou uma
série de vendas do gênero, mobilizando bilionários em torno do mesmo
objetivo: todos queriam adquirir um Lafite da coleção de Jefferson. 

Quinze anos depois, porém, começaram a pipocar dúvidas sobre a
autenticidade das garrafas. E uma épica caça legal a Rodenstock
desestabilizou para sempre as vendas de vinho raro no mundo. A história,
com todos seus contornos, está habilmente reconstituída em O vinho mais
caro da história, livro-reportagem do jornalista americano Benjamin
Wallace. 

- Para mim, sempre se tratou de um episódio fascinante - explica o autor
ao Jornal do Brasil. 

- O caso das garrafas de Jefferson era um mistério não-resolvido, que
abriu meu apetite para a investigação. Além do mais, me permitia
explorar, num híbrido de história e jornalismo, os aspectos sociológicos
da evolução do conhecimento e do consumo de vinho. 

Além do Lafite vendido ao americano Malcolm Forbes, quatro garrafas
foram adquiridas pelo também bilionário William Koch, que pagou US$ 500
mil pelo conjunto. 

Apesar de não haver provas razoáveis de que realmente pertenceram a
Jefferson - o indício mais concreto era a inscrição "Th.J" - foram
apresentadas como autênticas pelo leiloeiro e enólogo Michael
Broadbent. 

Mais tarde, uma incisiva investigação de Koch, que não suportou ser
enganado, provou que Rodenstock, o "descobridor" da coleção, na verdade
fabricava as garrafas em casa e aquecia o vinho para acelerar seu
envelhecimento. 

Wallace usa o episódio como ponto de partida para um retrato complexo
sobre a cultura em torno da bebida. Com uma pesquisa cuidadosa, mergulha
nas origens do consumo, acompanhando as viagens de Jefferson pelas
vinícolas francesas e seu esforço de fazer do vinho um produto apreciado
pelos conterrâneos. 

Um século depois, os bilionários do pós-guerra começaram a desenvolver
uma obsessão fetichista por rótulos, que ia muito além do simples gosto
de beber. 

Para eles, o vinho se tornara uma espécie de troféu. Wallace apresenta
os novos-ricos como figuras um tanto cômicas, que usam gravatas de
caubói, são donos de shoppings ou têm ocupações obscuras. 

Observando as necessidades de afirmação social desse grupo, o autor se
pergunta: por que as pessoas se tornam tão influenciáveis e se deixam
enganar tão facilmente quando se trata de vinho? Será que, por trás de
todo circo de leilões e processos judiciais, não há uma vontade
inconsciente de ser ludibriado? 

- Não há dúvidas de que fatores psicológicos influenciam o gosto pelo
vinho - observa Wallace. 

- Acredito que, por causa da associação com questões de classe e status,
áreas em que somos muito inseguros, o vinho pode ser especialmente
suscetível a isso. 

O lado satírico do livro aparece no retrato dos altos salões, das mesas
de degustação, em que a alta sociedade desfila sem saber - ou, pelo
contrário, muito consciente - de que participa de uma farsa. Wallace
encontra personagens fascinantes como Michael Broadbent, o (antes)
conceituado enólogo que tinha a capacidade de descrever vinhos com
imagens libidinosas: não raro, comparava-os com as curvas de Sophia
Loren. 

Apesar da fleuma, Broadbent arruinou sua reputação ao se deixar enganar
por outro personagem fascinante, o esperto e misterioso Rodenstock. 

- Encontrei-me com Broadbent várias vezes, saímos para comer em Londres
- lembra Wallace. 

- Já Rodenstock foi menos acessível. Entrevistei-o por fax algumas
vezes, porque ele se recusou a me encontrar. Formei em minha cabeça uma
imagem por meio de pessoas que o conheciam. 

Nenhum dos personagens gostou do livro. Um representante de Broadbent
chegou até a emitir uma nota reclamando de supostas distorções do
livro. 

- Entendo que ele não goste da maneira pela qual é retratado, mas
busquei a exatidão - ressalta o autor. 

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