Lembo: "Cansei" é termo de dondocas enfadadas
       
      Segunda, 30 de julho de 2007  
Bob Fernandes
                  Felipe Corazza Barreto/Terra Magazine 

                  Passeata do "Cansei" chegando a Congonhas  
           
           
           
     
     
     
Domingo, 11 da manhã. Com duas mil pessoas, a passeata convocada pelos 
movimentos "Cansei" e "Cria" (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante) chega 
à avenida 23 de Maio. O coro "Fora Lula" já deu o tom à caminhada. A alguns 
quilômetros dali, abraçado e beijado por populares e tendo a seu lado o senador 
Marco Maciel (DEM-PE), o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo assiste à 
missa na Catedral da Sé.
No início da noite, Lembo diria a Terra Magazine o que pensa sobre o movimento 
"Cansei", suas origens e motivações:

- "Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das 
vidas enfadonhas que vivem.

Lembo, colunista deste Terra Magazine, em seu artigo semanal a ser publicado 
amanhã, tratará do que detecta ser um "clima de colapso" e analisará as ações 
de governos e da mídia em meio à crise.

O ex-governador de São Paulo percebe haver em vários setores da sociedade 
insatisfação com o "clima de colapso nos serviços públicos". Entende ele que a 
depauperização dos serviços públicos se dá há duas décadas e se aprofundou "nos 
últimos 10 anos".

Lembo constata que os recentes acidentes aéreos "comoveram o Brasil e 
produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa", mas lamenta "a utilização 
de um movimento natural e de motivos nobres por movimentos e atividades com 
claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo ou apesar de o negarem, e 
isso não é bom".

A colunista Mônica Bergamo informa na sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo: 
por entenderem que o "Cansei" tem slogans que podem levar a uma leitura 
política e partidária, as redes de televisão Globo e Bandeirantes não cederão 
espaço publicitário gratuito ao movimento. Por enquanto, a revista IstoÉ cedeu 
espaço.

Por fim, mas não por último, o ex-governador situa geográfica e nominalmente o 
"Cansei" desde o que, no seu entender, seria o nascedouro: 

- É um movimento nascido em Campos do Jordão. O empresário João Doria Jr., ao 
que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de 
cãezinhos de madames em Campos do Jordão. 

Leia a entrevista com Cláudio Lembo:

Terra Magazine - Na noite da última sexta-feira, durante o casamento de Sophia 
- filha do ex-governador Geraldo Alckmin, de quem o sr. foi vice -, o sr. disse 
ao repórter José Alberto Bombig, da Folha, que o movimento conhecido como 
"Cansei", nascido em protesto contra a crise no setor aéreo, a violência e a 
corrupção, é um movimento de "um pequeno segmento da elite branca" e nascido em 
Campos do Jordão. O que o sr. quer dizer com isso e o que o leva a ter essa 
convicção?
Cláudio Lembo - O próprio ato de nascimento do movimento. O "Cansei" nasce 
conduzido por figuras conhecidas que sempre possuíram e possuem uma visão 
elitista do país e da sociedade. 

A quem ou a quê o sr. se refere?
Por exemplo, ao sr. João Doria Jr., que só trata com os grandes empresários do 
Brasil, e que, até onde sei, só se relaciona com o topo da sociedade. Suas 
ações e relações estão sempre nesse nível, que representa uma parcela ínfima do 
Brasil.

Mas a sua convicção se forma apenas através das suas informações, do seu 
feeling?
Meu ou de qualquer um. Basta ver a forma, a expressão, o verbo utilizado para 
dar sentido ao movimento. "Cansei" tem um sentido muito próprio.

Que "sentido próprio" é este?
"Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das 
vidas enfadonhas que vivem. 

O sr. tem, certamente, a consciência de que nesses movimentos, o "Cansei" ou o 
"Cria", há a participação de familiares de vítimas dos acidentes aéreos?
Tenho consciência e isso me deixa mais triste ainda.

Por quê?
Porque é a utilização de um movimento natural e de motivos nobres por 
movimentos e atividades com claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo 
ou apesar de o negarem, e isso não é bom. 

Não é bom por quê? 
Não é bom porque as vítimas, os familiares, os acidentes comoveram o Brasil e 
produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa, enquanto o movimento de 
Campos do Jordão o que quer é ter espaço na mídia etc. 

Por que Campos do Jordão?
Pela figura de um dos organizadores centrais, senão o principal, ao menos no 
início.

O que exatamente o sr. está querendo dizer? 
O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há 
pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão 
(N.R.: Foi o 6º Passeio de Cães de Campos do Jordão). 

Mas o sr. não ignora que há motivos claros e justos para que pessoas protestem, 
se manifestem... 
Claro que não. Mas, antes de qualquer coisa, é preciso deixar claros quais são 
os motivos, qual é a justeza deles, e não sair propositadamente atacando sem 
dizer exatamente o que se quer e a favor ou contra quem. Há motivos muito 
grandes, justos, e creio que há um clima, em várias camadas da sociedade, de 
colapso dos serviços públicos. 

E por que esse clima de colapso? Culpa do governo? 
É difícil dizer, assim de passagem. Falo de um clima, mas é claro que o motivo 
não é só esse. Isso vem de há muito. 

Como e por quê? 
A reestruturação dos serviços públicos brasileiros partiu de uma cópia servil 
do modelo norte-americano, ou por eles imposto, e não encontrou raízes no 
Brasil. Isso nos últimos 20 anos e se agravou nos últimos 10 anos muito 
profundamente. 

Me dê exemplos do que o sr. está dizendo.
Pois não: as agências como a Anac, Anatel, ANP, e ONGs. Nos Estados Unidos as 
agências tinham e têm uma cultura ambiente favorável e as ONGs, em grande 
parte, nasceram para fiscalizar o governo. No Brasil as agências apenas servem 
para abrigar os interesses de empresas privadas, e ONGs, em sua maior parte, 
são apêndices de governos. 


      Terra Magazine 

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