Mãe de vítima da TAM acusa Lula de falsidadeA mãe de Fernando Soares 
Zacchini, 41, uma das vítimas do Airbus da TAM, divulgou uma carta aberta 
criticando a atitude do governo e principalmente do presidente Lula em relação 
ao acidente. Adi Maria Vasconcellos Soares afirma que a tragédia já era 
prevista e que se surpreendeu com a reação do presidente que ela considerou 
falsa e classificou como um insulto. "Não pensei que teria de passar por mais 
um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de ensaiadas e 
demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a um hábil 
redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao nosso 
luto, às nossas vítimas." Luiz Fernando trabalhava para o Sindicato dos 
Técnicos-Científicos do Estado do Rio Grande do Sul (Sintergs) e deixou mulher 
e um filho. Veja a íntegra da carta:   "Aos governantes e à família brasileira, 
  Perdi o meu único filho.   Ninguém, a não ser outra mãe que tenha passado por
 semelhante tragédia, pode ter experimentado dor maior.   Mesmo sem ter sido 
dada qualquer publicidade à missa que ontem oferecemos à alma de meu filho, 
Luís Fernando Soares Zacchini, mais de cem pessoas compareceram. Em todos os 
olhos havia lágrimas. Lágrimas sinceras de dor, de saudade, de empatia. Meus 
olhos refletiam todos os prantos derramados por ele, por mim, por seu filhinho, 
por sua esposa, por todos parentes e amigos. Por todos os sacrificados na 
catástrofe do Aeroporto de Congonhas.   Há muito eu sabia que desastres aéreos 
iriam acontecer. Sabia que os vôos neste país não oferecem segurança no céu e 
na terra. Que no Brasil a voracidade de vender bilhetes aéreos superou o 
respeito à vida humana. A culpa é lançada sobre um número insuficiente de mal 
remunerados operadores aéreos ou sobre as condições das turbinas dos aviões. Um 
Governo alheio a vaias é responsável pelo desmonte de uma das mais respeitáveis 
e confiáveis empresas aéreas do mundo, a VARIG, em
 benefício da TAM, desde então, a principal provedora de bilhetes pagos pelo 
Governo. Que a opinião pública é desviada para supostos erros de bodes 
expiatórios, permitindo aos ambíguos incompetentes que nos governam continuarem 
sua ação impune. Que nossos aeroportos não têm condições de atender à crescente 
demanda de vôos cujo preço é o mais caro do mundo. Quando os usuários aguardam 
uma explicação, à falta de respeito ao cidadão juntam-se o escárnio e a cruel 
vulgaridade de uma ministra recomendando aos viajantes prejudicados que relaxem 
e gozem. Assuntos de alcova não condizentes com a reta postura moral e respeito 
exigidos no exercício de cargos públicos. Assessores do presidente deste país 
eximem-se da responsabilidade e do compromisso com a segurança de nosso povo 
exibindo gestos pornográficos. Gestos mais apropriados a bordéis do que a 
gabinetes presidenciais. Ao invés de se arrependerem de uma conduta chula, 
incompatível com a dignidade de um povo doce e amável como
 o brasileiro, ainda alardeiam indignação, único sentimento ao alcance dos 
indignos. Aqueles que deveriam comandar a responsabilidade pelo tráfego aéreo 
no Brasil nada fazem exceto conchavos. Aceitam as vantagens de um cargo sem 
sequer diferenciarem caixa preta de sucata. Tanto que oneraram e humilharam o 
país ao levar o material errado para ser examinado em Washington. Essas são as 
mesmas autoridades agraciadas com louvor e condecorações do Governo em nome do 
povo brasileiro, enquanto toda a nação, no auge de sofrimento, chorava a perda 
de seus filhos.   Tudo isto eu sabia. A mim, bastava-me minha dor, bastava meu 
pranto, bastava o sofrimento dos que me amam, dos que amaram meu filho. Nenhum 
choro ou lamento iria aumentar ou minorar tanta tristeza. Dores iguais ou 
maiores que a minha, de outras mães, dos pais, filhos e amigos dos mortos 
necessitam de consolo. A solidariedade e amor ao próximo obrigam-nos a esquecer 
a própria dor.   Não pensei, contudo, que teria de passar
 por mais um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de 
ensaiadas e demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a 
um hábil redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao 
nosso luto, às nossas vítimas. Palavras que soaram tão falsas quanto a forçada 
e patética tentativa que demonstrou ao simular uma lágrima. Não, francamente eu 
não merecia ter de me submeter a mais essa provação nem necessitava presenciar 
a estúpida cena: ver o chefe da nação sofismar um sofrimento que não 
compartilhava conosco.   Senhores governantes: há dias vejo o mundo através de 
lágrimas amargas mas verdadeiras. Confundem-se com as lágrimas sinceras e puras 
de todos os corações amigos. Há dias, da forma mais dolorosa possível, aprendi 
o que é o verdadeiro amor. O amor humano, o Amor Divino. O amor é inefável, o 
amor é um sentimento despojado de interesse, não recorre a histriônicas 
atitudes políticas.   Não jorra das bocas, flui do coração!  
 E que Deus nos abençoe!   Adi Maria Vasconcellos Soares   Porto Alegre, 21 de 
julho de 2007." 


 

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