Congresso brasileiro é papagaio, diz Chávez

*FABIANO MAISONNAVE*
da *Folha de S.Paulo*, em Caracas

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem à noite que o Senado
brasileiro age "como um papagaio" do Congresso americano e que é mais fácil
o Brasil voltar a ser colônia portuguesa do que o seu governo devolver a
concessão ao canal oposicionista RCTV.

"O Congresso brasileiro está agora subordinado ao de Washington", disse
Chávez. "O Congresso do Brasil deveria se preocupar com os problemas do
Brasil. O Congresso é dominado pelos movimentos e partidos da direita, que
estão tentando que a Venezuela não entre no Mercosul."

As declarações de Chávez, feitas em cadeia nacional de televisão durante
assinatura de acordos com uma delegação do Vietnã, são uma resposta ao
requerimento aprovado pelo Senado brasileiro anteontem à noite com um pedido
para que ele devolva a concessão ao canal, que terminou no domingo e não foi
renovada.

O texto é do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e teve aprovação de senadores
do PT. O presidente Lula afirmara nesta semana que não falaria sobre o caso,
que considera questão doméstica.

"Este Congresso faz um mau favor à causa sul-americana. A esses
representantes da direita brasileira, eu digo que é muito mais fácil que o
império português a se instalar em Brasília do que o governo da Venezuela
devolver a concessão à oligarquia venezuelana", disse Chávez, que elogiou a
posição de Lula.

Antes, Chávez já havia feito críticas aos Senados chileno e americano e ao
Parlamento Europeu por resoluções contrárias ao fim da concessão da TV.

*Manifestações*

No primeiro dia sem grandes protestos desde que a emissora saiu do ar, no
domingo, deputados chavistas tornaram públicas gravações de escutas
telefônicas para mostrar que as manifestações estudantis são manipuladas
pela oposição.

Numa das gravações, apresentadas pela vice-presidente da Assembléia, Desirée
Santos Amaral, um diretor da RCTV conversa com a mulher de um líder do
partido oposicionista Ação Democrática (AD) para que ele se envolva mais nas
manifestações.

"Temos a grandíssima responsabilidade de nos defender de grupos estrangeiros
e internos que pretendem repetir uma vez mais abril de 2002 e que brincam
com o melhor que temos no país, nossos jovens", disse Santos, em referência
ao golpe frustrado contra Chávez.

Os líderes universitários, que negam ser manipulados, convocaram para hoje
uma nova marcha em Caracas, desta vez em direção à Assembléia. Já Chávez
convocou uma marcha oficialista para amanhã.

Uma estudante da Ucab foi morta com cinco tiros ontem de manhã em Caracas,
dentro de seu carro. Horas depois, o ministro do Interior, Pedro Carreño,
disse que os dois supostos assassinos foram presos e que a mataram por
encomenda, sem especificar os mandantes. Freddy Guevara, presidente do
Centro de Comunicação Social da Universidade Católica Andrés Bello, disse
que ainda é cedo para dizer se o caso tem relação com as manifestações.

A agência oficial de notícias, ABN, informou ontem que dois militantes
chavistas que participaram de ataques às sedes da TV Globovisión e de uma
federação de empresários foram assassinados a tiros.

Segundo o analista do instituto de pesquisa de opinião Datanálisis, Luis
Vicente León, as manifestações ainda estão abaixo do nível de rejeição ao
fechamento da RCTV, que, segundo ele, chega a 70%. Para ele, a novidade da
atual crise é que teve um grande custo para a imagem internacional de
Chávez. "Ele não consegue explicar à opinião pública internacional que não é
uma medida completamente arbitrária."

O governo tem argumentado que se trata de uma decisão "administrativa", já
que acabou a concessão da RCTV, emissora que apoiou a tentativa de golpe de
abril de 2002, quando as manifestações pela volta de Chávez ao poder não
foram televisionadas.
--
Marco Antonio Figueiredo
Blog : http://marcofigueiredo.multiply.com/journal

Responder a