Dei uma vista de olhos e posso dizer o seguinte: Não é novidade que as primeiras obras de Chomsky são consideradas muito fraquinhas. Na década de 1970, por exemplo, os chomskyanos já diziam isto.
É mais fácil corrigir dados históricos de quem não conhece o que é realmente consenso. Houve na década de 1950 uma reação favorável ao trabalho de Chomsky. Mas, a chamada linguística chomskyana começa mesmo com “Aspects of the Theory of Syntax”. Como assim, você vai perguntar? É porque as primeiras obras de Chomsky eram muito pouco originais e representavam uma revolução para os estruturalistas. Mas, não diziam nada que algum grande linguista da época já não dissesse. Isto era possível porque naquela altura, o termo “estruturalismo” já não correspondia ao que tinha sido historicamente e abarcava uma multidão de vertentes muito diferentes entre si. A obra de 1965 é que traz mais inovações e rompe com o paradigma estruturalista na sintaxe, assim como na fonologia “the Sound Pattern of English”. As diferenças são muitas. Por exemplo, a fonologia de Chomsky não tinha mais a noção de “fonema” e rejeitava acomodá-la. A sintaxe de Chomsky admitia categorias não diretamente observáveis, algo que por influência de Bloomfield se rejeitava. Chomsky mudou ainda as noções sociais de “langue” e “parole” de Saussure, que eram coletivas, uniformes e supostamente não idealizadas, para falar de “competência” e “desempenho” que eram individuais mas altamente idealizadas. O segundo momento crucial na linguística chomskyana veio décadas depois, com sua teoria da regência e da ligação, depois chamada de Princípios e Parâmetros em que as noções de gramática e regra gramatical perdem o status científico de uma vez. Em “Knowledge of Language” fica ainda estabelecido que o objeto de estudo da linguística não devem ser nem a noção de “langue” de Saussure, ou outra equivalente, nem as línguas do mundo, como o Português ou qualquer dos seus dialetos. Fica de uma vez consolidado que objeto da linguística tem de ser a própria faculdade de linguagem. O terceiro momento e que parece vai ser o último é o chamado programa minimalista, que coloca o princípio da economia das derivações no centro das preocupações e da orientação da pesquisa em linguística. Mas, o mais importante nestes anos todos é que, ainda que Chomsky tenha usado de certa matematização, coisa que herdou dos estruturalistas, sua concepção de linguística não é nem de uma ciência humana nem exata: para ela a linguística é uma das ciências biológicas. Na década de 1950 ele já pensava assim, como se sabe por relatos dele próprio e de colegas, de forma que ele propositadamente não usou de argumentos matemáticos mais pesados. Nunca houve entre os linguistas essa crença de que Syntactic Structures é o principal marco histórico da chamada revolução chomskyana. Pullum quer dialogar com quem desconhece a história da ciência. Eu li Syntactic Structures e posso dizer que a resenha de Pullum é parcial demais. Seria o mesmo que alguém escrever um artigo atacando Gagarin para dizer que ele não foi à Lua. Mas quem disse que foi? Se houve quem o disse, é gente que não sabe da missa a metade! Em 18 de setembro de 2011 02:10, Tony Marmo <marmo.t...@gmail.com> escreveu: > Verei o texto, mas, para ja, advirto que o Pullum obviamente eh muito > informado. O que ele diz, todavia, nem sempre parece bem intencionado, se o > alvo do que diz vem a ser Chomsky. > > Em 17 de setembro de 2011 22:52, Joao Marcos <botoc...@gmail.com>escreveu: > > Olá, Tony: >> >> Envio em anexo o artigo para que você possa avaliar por si próprio os >> argumentos do Pullum, que parecem bem informados e chegam a conclusões >> bem diferentes das suas. >> >> Abraços, >> JM >> >> 2011/9/17 Tony Marmo <marmo.t...@gmail.com>: >> > Como o artigo não é aberto e só se lê o resumo, é de difícil comentário. >> > Todavia, eu conheço os escritos do prof. Pullum e os do prof. Chomsky. >> > Acontece que cada um tem sua teoria linguística e elas competem entre si >> no >> > "mercado" da linguística formal para ver quem tem mais adeptos. Os >> > chomskyanos são em maior número. >> > Geralmente, esses ataques recíprocos são sem fundamento, como me parece >> o >> > resumo do artigo. >> > Syntactic Structures foi um livro extraído da T.D. de Noam Chomsky "The >> > Logical Structure of Linguistic Theory" e só teve impacto para a >> linguística >> > nos anos 1950. No meio da década de 1960 o debate já tinha outros focos, >> com >> > "Aspects". >> > Não é verdade que Chomsky quisesse usar de argumentos matemáticos >> pesados >> > para demonstrar que uma gramática de uma língua como Inglês não é uma >> > máquina de estados finitos. É verdade sim que os argumentos formais que >> ele >> > usa são suficientemente fortes para mostrar isto dentro da linguística >> > estrutural do final dos anos 1950. Afinal de contas, o ônus da prova >> está >> > com quem quiser provar o contrário e dar sustentação a teses cognitivas >> > behaviouristas. >> > >> > Em 17 de setembro de 2011 16:35, Joao Marcos <botoc...@gmail.com> >> escreveu: >> >> >> >> A menção recente do Chomsky e seu "argumento hegeliano" lembrou-me >> >> mencionar aqui o recente artigo do linguista Geoffrey Pullum no JoLLI, >> >> que será do interesse de alguns membros desta lista. >> >> >> >> Mais uma prova da importância do trabalho do lógico Emil Post. >> >> JM >> >> >> >> * * * >> >> >> >> On the Mathematical Foundations of Syntactic Structures. >> >> Journal of Logic, Language and Information 20 (3):277-296, 2011. >> >> http://www.springerlink.com/content/p3n161t5257q1156/ >> >> >> >> Chomsky’s highly influential Syntactic Structures (SS) has been much >> >> praised its originality, explicitness, and relevance for subsequent >> >> cognitive science. Such claims are greatly overstated. SS contains no >> >> proof that English is beyond the power of finite state description (it >> >> is not clear that Chomsky ever gave a sound mathematical argument for >> >> that claim). The approach advocated by SS springs directly out of the >> >> work of the mathematical logician Emil Post on formalizing proof, but >> >> few linguists are aware of this, because Post’s papers are not cited. >> >> Chomsky’s extensions to Post’s systems are not clearly defined, and >> >> the arguments for their necessity are weak. Linguists have also >> >> overlooked Post’s proofs of the first two theorems about effects of >> >> rule format restrictions on generative capacity, published more than >> >> ten years before SS was published. >> >> _______________________________________________ >> >> Logica-l mailing list >> >> Logica-l@dimap.ufrn.br >> >> http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l >> > >> > >> >> >> >> -- >> http://sequiturquodlibet.googlepages.com/ >> > > _______________________________________________ Logica-l mailing list Logica-l@dimap.ufrn.br http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l