Prezad@s,

João Marcos traz um ponto importante, sobre o qual já discorri antes na 
lista 
<https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/hdgs_PeUEyo/m/cbY8DMUeBAAJ>.
 
Não convém ignorar que contribuir com periódicos de propriedade das grandes 
editoras científicas também prejudica a causa da ciência e pesquisa livre. 
Sim, sob a condição de ceder os direitos autorais, *autores* comumente não 
pagam para *publicar*. Mas, neste caso, os *cofres públicos* normalmente 
pagam pelo *acesso*, e as respectivas editoras também embolsam lucros 
obscenos.

Eis um experimento para quem curte ficar deprimido ou indignado. Abra a 
página do Diário Oficial da União e faça uma busca na Seção 3 pelo termo 
"Elsevier", "Springer", "Clarivate Analytics" etc. Faça uma breve soma dos 
contratos dos três últimos anos e relembre a magreza dos recursos para 
pesquisa no mesmo período. Eles também assinam contratos diretamente com as 
IES, claro. A minha instituição, a UFPB, por exemplo, pagou algumas 
centenas de milhares de reais 
<https://sipac.ufpb.br/public/jsp/processos/processo_detalhado.jsf?id=1849298> 
para obter acesso aos dados bibliométricos da Clarivate e Scival. O 
contrato tem sido renovado periodicamente. A justificativa supostamente 
seria a "necessidade de uma ferramenta para avaliação da produção da 
universidade com base em dados e evidência". Os demais detalhes da 
justificativa é copiado e colado da própria brochura do fornecedor.

É possível argumentar 
<https://www.scidev.net/global/features/open-access-excludes-developing-world-scientists/>
 
que *pagar para publicar* afeta mais negativamente a pesquisa em países 
emergentes do que *pagar para ler* (não quero entrar nas 
instrumentalizações destes argumentos pelas grandes editoras para se 
pintarem como defensoras dos fracos e oprimidos). Contudo, somos leitores 
de ciência também. Não é improvável que uma boa parte de nós vá direto ao 
Sci-Hub e sequer se importe com o portal de periódicos da CAPES. Ainda que 
não façamos tanto uso atualmente, os cofres públicos continuam pagando. E 
não é factível que o Governo Brasileiro simplesmente deixe de pagar sob a 
alegação que quase 100% de nós já usamos Sci-Hub mesmo. Me parece que os 
custos aos cofres públicos devem ser devidamente considerados, ainda que 
seu efeito em pesquisadores individuais seja mais diluto.

Não tenho soluções a sugerir. Trata-se de um problema melindroso. Mas acho 
importante evitar que a perspectiva do pesquisador individual domine, e que 
os custos para a sociedade sejam devidamente considerados.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira

-- 
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica 
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