Correio Braziliense
  

 
A cerimônia de transmissão de cargo do brigadeiro
Walter Werner Bräuer para o novo comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista,
deixou patentes a insatisfação e a perplexidade de
militares. Como sinal, a um só tempo de apoio ao
demitido e de protesto ao governo, os demorados e
longos aplausos foram a marca da cerimônia. Na
presença do ministro da Defesa, Élcio Álvares, Bräuer
criticou, no discurso, a venda dos aeroportos e das
ações da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer),
e a criação da Agência Nacional de Aviação Civil, que
pode “servir a interesses de grupos alienígenas que
buscam, por intermédio do lucro fácil, garantir seus
obtusos e particulares objetivos’’.

  O ex-comandante condenou a falta de recursos para a
Aeronáutica e as ‘‘modestas promessas e pálidas
iniciativas‘‘ para reequipá-la. Bräuer também não
escondeu sua mágoa com os dois outros comandantes
militares (general Gleuber Vieira, do Exército, e
Sérgio Chagastelles, da Marinha, também presentes à
cerimônia) que não o apoiaram na demissão, deflagrada
depois das críticas feitas em relação à conduta da
ex-assessora especial do ministro da Defesa, Solange
Antunes. ‘‘Não me cabe interpretar o silêncio das
demais instituições nacionais‘‘, atacou.

  Em entrevista logo depois da cerimônia, seu
substituto, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista,
também fez uma cobrança por recursos. ‘‘Conseguir
recursos é a minha meta principal. Não sei como será.
Eu compreendo a dificuldade que possa ter o
presidente, o ministro (Pedro) Malan (Fazenda) e os
responsáveis por essa área de Orçamento. Eu não sei
como é. Sei que precisa haver (recursos)’’, disse
Baptista, em entrevista logo após sua posse.

DOR DE UM HOMEM

  O brigadeiro Baptista não interpretou como críticas
as palavras de Bräuer e nem acredita que possa servir
para alimentar as insatifações dos militares. ‘‘Se
achamos que haverá um incêndio, não estaremos agindo
como democratas e ele aproveitou a oportunidade para
dizer o que estava no seu coração, na sua cabeça‘‘,
justificou o brigadeiro. Ele ressaltou que é preciso
‘‘respeitar a dor de um homem que, de repente, se viu
substituído um pouco traumaticamente’’.

  Bräuer defendeu o uso ‘‘parcimonioso’’ dos jatos da
Força Aérea Brasileira pelos ministros e declarou que
essa missão da Aeronáutica ‘‘nunca foi bem
compreendida’’. Ele disse também, que ‘‘se enganam os
que julgam que a Aeronáutica é, por princípio,
contrária à participação da iniciativa privada’’ na
gerência dos aeroportos. ‘‘É notório, entretanto, que
as propostas até então apresentadas só cobiçam aqueles
aeroportos que auferem lucro, desconhecendo a maior
parte do todo’’, criticou o brigadeiro.

  Baptista, por sua vez, explicou que entende a
preocupação de Bräuer e defende tranqüilidade para
essa transição. ‘‘Temos poucos aeroportos
superavitários e 300 deficitários’’, informou. O novo
comandante disse que os oficiais da Aeronáutica sempre
souberam que, um dia, o controle da aviação civil
sairia da Força Aérea, como ocorre na maioria dos
países. ‘‘Quero saber quais os conflitos que
existem‘‘, disse ele. ‘‘Edificar a aviação civil, que
é uma das mais respeitadas do mundo, custou sangue,
suor e lágrimas’’, afirmou ele, justificando a
preocupação dos oficiais de que essa passagem seja
feita ‘‘com segurança’’.

  O ministro da Defesa, Élcio Álvares, ficou
constrangido entre críticas de Bräuer e tentativas de
amenizar o clima de Baptista. Ele cumprimentou os dois
ao fim da cerimônia e foi obrigado a ouvir as longas e
calorosas palmas a Bräuer, quando ele concluiu o
discurso, com críticas ao governo. Depois, na segunda
parte da cerimônia, os militares quebraram o protocolo
ao aplaudir Bräuer longamente, quando ele recebeu um
espadim de lembrança de um cadete.   
 
 

 



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