Como ultima colaboraçao para a lista antes de vijar, estou mandando um texto sobre o VLS, epero que gostem, ele esta meio grandino para a lista, sugiro que colem ele no editor de texto. Um bom natal a todos, e um forte abraço. Ps, ve se manera nos doces da ceia de natal em marcelo, que te ver reclamando de aviasinho por muito tempo, beijao na Raissa. ------------------------------------------------------- 1)INTRODUÇÃO O foguete brasileiro VLS é sempre visto de duas formas muito distintas entre o publico, para militares da FAB, entusiastas em tecnologia e assuntos militares ele é tido como uma espécie de prodígio tecnológico, grande obra de engenharia que foi feita sem muito dinheiro, com boicotes internacionais e muito suor, para a grande imprensa leiga ele é tido como um foguete que não funciona, fonte de despesas desnecessárias para um pais que é tão pobre, brincadeira de militares decadentes, busca pé tupiniquim, e uma serie de rótulos pejorativos. Independente de ser um fetiche tecnológico ou uma fonte de despesas para o pais prefiro enxergar o VLS como um projeto de tecnologia avançada que teve seus erros e acertos, que como em todo projeto não são definidos na prancheta, mas sim em valores políticos e até pessoais de quem executa o programa. Meu objetivo neste texto é mostrar o porque o foguete foi projetado desta forma e o que causou os dois lançamentos fracassados. 2)O LANÇAMENTO DE 2 DE NOVEMBRO DE 1997. Quando aquele lançamento em Alcântara chegou ao fim de sua contagem regressiva o pais teria que derrotar uma estatística desfavorável, apenas a Rússia de todos os países que já lançaram satélites ao espaço com lançadores inteiramente nacionais tinha acertado na primeira tentativa, seria o brasil o segundo pais a conseguir a proeza? Para um engenheiro espacial um insucesso no primeiro lançamento de um foguete é tido como algo normal, assim como o abandono de um carro de corrida na sua prova de estreia, então de certa forma uma pane naquele dia era tida como absolutamente normal para aqueles homens. Quando o VLS decolou com um de seus foguetes auxiliares desligado já se sabia na sala de lançamento que haveriam duas variáveis a serem consideradas, ou o foguete conseguiria lançar o SCD-2 A em uma orbita muito baixa que tiraria muito das potencialidades do satélite porem todos os procedimentos de lançamento seriam testados e os dados de telemetria confirmariam que o projeto do VLS estava conceitualmente corretos, fato que não ocorreu mas que caso tivesse ocorrido poderia ter sido computado como um grande sucesso. A segunda variável seria menos grandiosa mas não menos honrosa, preparar a teledestruiçao do VLS de forma segura com todos os seus destroços caindo dentro das áreas isoladas, e foi o que ocorreu. Com 8.55 toneladas de peso e sendo responsável pôr um empuxo de 25 toneladas na partida o motor S-43 que apresentou a falha ficou como um grande peso morto dsesestabilisando a estrutura até que a 3250 metros de altura decorridos 65 segundos do lançamento o VLS se inclina a mais de 25 graus com uma velocidade de 715Km/h, o sistema de controle de vôo não pode corrigir a trajetória e o foguete teve que ser explodido. As investigações acharam um motivo técnico para a culpa, e ele se chama linha pirotécnica. Basicamente é um cordão detonate que transmite a energia da detonação de um detonador elétrico até o ignitor que coloca o combustível solido em ignição, para que não haja este tipo de falha os sistema de ignição são duplamente redundantes, apenas uma falha dupla pode impedir que o motor entre em ignição e caprichosamente foi o que aconteceu. Depois nas investigações varias linhas pirotécnicas que compõe o lote usado no primeiro lançamento foram detonadas, e a comissão observou que metade delas apresentavam problemas, o que é bastante contraditório com a informação de que mais de 500 ensaios com estes componentes foram feitos antes do lançamento, será que os índices de segurança com este componente não eram adequados? Porque esta discrepância? Ao contrario do que foi noticiado as linhas pirotécnicas são de fabricação nacional, sejamos então pragmáticos e imaginemos que aquele lote estava mesmo com um grande problema de produção, relaxamento nos procedimentos de qualidade industriais que custaram a AEB o seu primeiro foguete VLS. Assim como em todos os acidentes espaciais quando durante as investigações se descobre que o erro era simples e fácil de ser evitado, como tem sido em todos os acidentes, e que tem gerado um jargão na industria aeroespacial, “ não existe dois acidentes iguais “ . 3)O LANÇAMENTO DE 11 DE DEZEMBRO DE 1999. Finalmente o VLS estava novamente na plataforma, depois de mais de 2 anos de investigações, melhorias no projeto e malabarismo para que a equipe econômica liberasse os pouco mais de US$ 10 milhões para a campanha de lançamento, de maneira heróica, seja para as duas correntes militares ou de mídia, ele estava lá. Os sistemas de controle de vôo foram aclamados como o grande prodígio do primeiro lançamento pôr terem estabilizado o foguete com um dos S-43 apagados, isto somado ao fato de que agora os sistema de ignição reprojetado existia a certeza de que o SACI-2 pelo menos sairia da atmosfera. É claro que duvidas quanto ao processo de basculamento, injeção do satélite em orbita ainda existiam, mas como naquele lançamento de 2 de novembro, um fracasso na fase critica da missão, seria tolerável. Eu tinha a certeza que o VLS subiria a mais de 200Km de altura, mas tinha duvidas quanto a injeção do satélite, chegando a sonhar com o lançamento e com uma falha de basculamento, conforme mandei em um mail para a lista. Quando a contagem regressiva chegou ao final naquela tarde de sábado o foguete com os seus quase 50.000Kg se levantou da plataforma, todos os motores funcionando normalmente, telemetria OK, trajetória OK, velocidade OK, vibração OK, todos os dados técnicos que poderiam denunciar algum problema com o foguete estavam dentro do esperado, então o fôlego estava renovado até o próximo passo critico da missão, a separação dos foguetes auxiliares, e ela ocorreu com sucesso. Logo após a queima do estagio inicial teria que entrar em ignição o segundo, e de repente a telemetria acusa, que não há mais aceleração, a vibração diminui, e o VLS novamente tem que ser detonado. A equipe que vai investigar o acidente tem alguns atenuantes pela frente, caso a telemetria acuse que o computador de bordo mandou o sinal para a ignição do foguete termos uma quebra de jargão, “ existem dois acidentes iguais sim”. O sistema eletrônico de bordo pode não ter mandando a ordem para a ignição, mais isto é mais improvável, um hardware desta natureza é projetado na forma de self check, ele provavelmente acusaria a falha antes do lançamento, o software de bordo é rodado centenas de vezes a procura de um bug que pudesse causar este tipo de pane. Mas culpas a parte infelizmente o VLS foi perdido novamente. 4)SISTEMA DE IGNIÇÃO DE MOTORES SÓLICOS. A técnica de projeto para um sistema de grande complexidade manda que o projetista quebre o conjunto em subsistemas menores criando interfaces funcionais entres os vários subsistemas de modo a novamente integrar todos em um conjunto final. Aplicando isto ao VLS temos um foguete dividido em varias malhas, hidráulica/pneumática, elétrica, eletrônica, pirotécnica etc. Esta ultima é da nossa maior atenção agora, pois é ela que é a responsável entre outras coisas pelo acendimento dos motores. Ela é composta de 144 pontos de ignição pirotécnicos que tem a tarefa de acender os motores pôr meio de geração de chamas, seriam os 5 motores da base do foguete, mais os 2 dos estágios superiores ( terceiros e quarto estágios), e mais dois pequenos motores de rotação do quarto estagio. Totalizando 9 motores. Outra tarefa da malha pirotécnica é de propiciar a separação dos estágios tem como da coifa e do satélite, que são parafusados com parafusos pirotécnicos que quando detonados liberam as peças que estão sendo unidas. Cada ponto da malha pirotécnica é redundante, de modo a que caso uma carga não seja detonada a segunda completa o trabalho não impedindo o vôo de continuar normalmente. A falha de malha pirotécnica neste segundo vôo, novamente foi dupla. A vários anos atras, a aeronáutica lançou da barreira do inferno um foguete experimental que tiveram usas imagens divulgadas depois no jornal nacional, recordando aquelas imagens de vários anos atras nitidamente me pareceu que se tratava do modelo funcional do primeiro estagio do lançador porem em uma escala menor, um detalhe importante me chama a atenção naquelas imagens, existiam 6 boosters auxiliares e não 4 como no VLS, ainda me recordo que a imprensa tinha divulgado a ocorrência de ignição assimétrica nos estágios daquele lançamento, o que faz pensar que a configuração definitiva foi congelada á partir deste ensaio. Então isto nos remete para uma questão importante a respeito do projeto da malha pirotécnica, o sistema apresentou ignição assimétrica no teste do modelo funcional, apresentou defeito no primeiro e no segundo lançamento, e com o agravante de que é derivada do projeto das malhas pirotécnicas de outros foguetes da família SONDA, que tem mais de 30 anos de desenvolvimento e nunca tiveram sua validade de projeto de malhas pirotécnicas questionadas. 5)A OPÇÃO PELO COMBUSTIVEL SÓLIDO. Uma coisa que chama a atenção de qualquer pessoa com o mínimo conhecimento de foguetes é o fato do VLS usar combustível solido apenas, para a aeronáutica a explicação para esta estratégia de projeto é que a tecnologia de combustíveis sólidos já vinha sendo progressivamente desenvolvida através da família de foguetes se sondagem SONDA e que a adoção no projeto do VLS era o caminho natural. Isto tem ou não sentido, usar uma tecnologia com menor potencial em um foguete que iria competir no mercado de lançamento internacional conforme o marketing em torno do projeto sempre deixou claro, enfim, foi uma boa idéia a aeronáutica usar combustíveis sólidos neste foguete? Vamos dar uma observada em 5 lançadores de foguetes de categoria semelhante mundo a fora. O primeiro foguete que me chama a atenção é o israelense SHAVIT, libélula em hebraico, que é um lançador leve, para até 160Kg em orbita baixa, seu peso é de 23,430 Kg, com uma altura total de 15m. O projeto é baseado no míssil balístico Jericho II, o SAHVIT já foi lançado 5 vezes, sendo a primeira em 19 de setembro de 88 e a ultima em 22 de janeiro de 98, sendo que em 2 lançamentos houveram perda do foguete. Este foguete para Israel é apenas um vetor para lançamento de cargas militares como os satélites leves de observação e de desenvolvimento de tecnologia para fins de comunicação militar, não tendo pretensões comerciais alguma. Outro foguete que chama a atenção é o SLV, indiano, sigla em inglês que tem o mesmo significado da sigla VLS, é um pequeno foguete de combustível solido de 17.610Kg, com uma capacidade de carga de 40Kg para baixa orbita, seu primeiro lançamento foi em 10 de agosto de 1979, e o ultimo em 17 de abril de 1983, ao todo foram 4 lançamentos, 2 com sucesso e dois fracassos. O SLV nunca foi encarado pêlos indianos como uma alternativa comercial para lançamentos, mas foram vetores importantes para o desenvolvimento de tecnologia de mísseis balísticos. O terceiro foguete seria o TAEPODONG-1, de procedência norte coreana, basicamente uma adaptação do míssil NO-DONG-1 que a correia no norte desenvolveu para o seu arsenal, o TAEPODONG-1 é um foguete de 33.400Kg de dois estágios, os dois primeiros movidos a combustível liquido, e um terceiro a combustível solido para a inserção orbital do satélite, este ultimo estagio de 252Kg, não acendeu e foi o responsável pelo fracasso do único lançamento ocorrido em 31 de agosto de 1998. Entender o porque esta combinação de combustíveis foi usada no TAEPODONG é simples, pois os combustíveis líquidos hiperbólicos, especialmente a hidrazina misturada com o tetraoxido de nitrogênio sempre foram os combustíveis usados em vetores táticos nucleares pêlos soviéticos desde os primeiros SCUDs na década de 50, como os mísseis norte coreanos sempre foram clones de velhos mísseis chineses e soviéticos a tradição se manteve, mas para o ultimo estagio era necessário o projeto de um outro motor foguete que devido a características de empuxo e altitude de operação poderiam ser uma adaptação de motores de mísseis balísticos , então haviam duas alternativas aos engenheiros norte coreanos, ou projetavam um motor de combustível liquido sem a ajuda dos usados mísseis balísticos, ou partiam para o projeto de um motor de combustível solido, mais simples e poderia ser feito sem transferencia de tecnologia, a segunda opção venceu e o motor do terceiro estagio não funcionou impedindo o sucesso do lançamento. Um foguete de grande sucesso tecnológico foi o francês DIAMANT-B, um projetil de 27.000Kg com capacidade de lançamento de 169kg, o foguete consiste em 3 estágios sendo o primeiro de combustível liquido (N2O4/UDMH) e os outros dois de combustíveis sólidos. Foram 9 lançamentos e apenas dois fracassos, sendo o 10 de março de 1970 e o ultimo em 27 de setembro de 1975. A frança buscava com este programa a tecnologia do que viria a ser posteriormente o programa ARIANE. O ultimo foguete que gostaria de examinar é o PEGASUS XL, que desde o inicio foi projetado como um lançador comercial, introduzindo o conceito de lançamento pôr aviões, o pegasus e um foguete de 24.000Kg com capacidade de lançamento de até 460Kg a 200Km, faixa de carga praticamente igual a do VLS, em seu projeto é usado combustível solido, mas que porem é uma dos poucas alternativas devido a problemas de interface com o avião lançador caso o combustível fosse liquido, problemas de simplificação de contagem regressiva, também tiveram um peso grande na escolha desta tecnologia de propulsão. O pegasus acumula 15 lançamentos com 3 fracassos. Observando a historia destes 5 foguetes, é fácil fazer um paralelo entre as sua gênesis, o SHAVIT, SLV e o TAEPODONG tiveram sua cultura de projeto baseadas no emprego de tecnologia de mísseis balísticos, sendo nos dois primeiros o uso de combustíveis sólidos um prolongamento de desenvolvimento de motores deste tipo usados em mísseis balísticos indianos e israelenses. O TAEPODONG usou basicamente tecnologia de mísseis balísticos porem como a cultura soviética pregava combustíveis líquidos para este emprego devido aos maior peso das primeiras ogivas soviéticas exigirem maior esforço de lançamento, a lição foi mantida pêlos norte coreanos. O DIAMANT e o PEGASUS foram projetados como lançadores comerciais, e o uso de combustíveis foi decidido de maneira sistemática visando unir aspectos técnicos e econômicos, entre custos de desenvolvimento, escala de lançamentos, e carga paga maior. O VLS anunciado como um lançador de comercial de combustível solido conseguirá um prodígio, será o único lançador comercial do mundo a usar esta tecnologia, exceto o pegasus pôr motivos técnicos da forma de lançamento. Fica evidente que o VLS é fruto de um programa militar que acabou não implementado mas que no inicio da década de 80 previa a gestação de mísseis balísticos no brasil. 6)O MISSIL BALISTICO BRASILEIRO Quando a missão espacial completa brasileira (MECB) foi lançada em 1979 a criação de um vetor de lançamento de satélites logo ganhou fôlego, porem a primeira metade da década de 80 para o brasil e a argentina foi marcada pôr propaganda e jogadas de efeito no cenário internacional a respeito de uma possível corrida a bomba atômica, os argentinos desenvolveram um programa de mísseis balísticos que resultaria no projeto do vetor CONDOR, porem como o programa era claramente militar as pressões sobre o pais o fizeram perder força, quando na década de 90 em plena era Menen ele foi sepultado assim como o programa de construção de submarinos em nome da segurança fornecida pelas “relações carnais” que os argentinos afirmaram ter com os EUA O brasil nunca admitiu desenvolver um vetor deste tipo, para não prejudicar entre outras coisas a sua industria militar e de aviões que na década de 80 ganhou notoriedade mundial, mas dentro da FAB a tecnologia para este projetil sempre esteve na pauta do dia, o lançador era o grande alibi para um uso pacifico da tecnologia de mísseis, mas até que o governo Collor, lançasse a primeira pá de cal no buraco cavado na serra do cachimbo onde provavelmente explodiria nossa bomba atômica, a esperança de construir um vetor balístico ainda existia na cabeça de nosso militares. Um lançador e um míssil balístico, ambos com a mesma base tecnológica com no exemplo israelense que gerou o JERICHO e o SHAVIT e com o programa do lançador como alibi para o uso civil da tecnologia, isto era a estratégia do pais para continuar com o seu programa de tecnologia de mísseis. Criar um cenário em que o VLS fosse reprojetado como um míssil basilisco é algo que me impressionou, retirando se os 4 foguetes de lançamento auxiliares, colocando no lugar do quarto estagio uma carga militar, teríamos um foguete de 15.400Kg, com um empuxo de 32.700Kg, com dois estágios base, teríamos um vetor com capacidade de carga de até 700Kg a 1000Km de distancia. Algo muito bom sobre qualquer angulo. 7) CONCLUSÕES Os dois lançamentos fracassados do VLS trazem a tona um grande numero de coisas a respeito do projeto deste foguete, tem se falado muito na hipótese de sabotagem, mas considero perigoso qualquer afirmação a este respeito. O fato é que ele apresentou a mesma falha de ignição depois do sistema ter sido reprojetado duas vezes, o projeto base dos ignitores foi o mesmo dos foguetes SONDA, que nunca tiveram retrospectos muito negativos neste tipo de falha. Se foi sabotagem ou não nada é improvável para uma força aérea que não consegue saber que seus C-130 estão sendo usados para trafego internacional de drogas. Se foi sabotagem será que a FAB viria a publico admitir isto? Até que ponto esta hipótese não foi plantada como forma de encobrir dois erros primários? O fato é que as duas falhas que derrubaram o VLS não foram criadas em São José dos Campos, ou em Alcântara, mas sim em Brasília, na cabeça dos militares brasileiros que sonharam com um vetor balístico, o que pôr si só é até um direito do pais, mas que ousaram colocar o programa na forma de um pacifico lançador, se tivessem admitido desde o começo como a argentina fez que o programa era eminentemente militar talvez o VLS nem existisse devido a pressões internas e externas, mas ele esta ai, como o resultado de um programa mal planejado em uma área onde erros estratégicos costumam ser fatais. O grande mérito desta equipe que criou o foguete é exatamente este, ele esta ai, bom ou ruim em um pais como o Brasil e a contra gosto dos EUA isto é um grande merito. _________________________________________________________ Do You Yahoo!? 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