Oi Ricardo,

É sempre muito bom ver pessoas dispostas a discutir a questão de gênero com seriedade. Homens, então, são uma veradeira raridade.


On 6/20/06, Ricardo L. A. Banffy <[EMAIL PROTECTED]> wrote:
Eu não conheço muitas mulheres envolvidas com desenvolvimento de
software livre, mas eu gostaria de ouvir mais sobre essas barreiras -
talvez por eu ser homem, essas barreiras, embora existam, sejam
imperceptíveis pra mim.


Bem, não me considero uma desenvolvedora. Tenho apenas um bom nível de conhecimento técnico na manipulação de sistemas e algum conhecimento de linguagens de programação e desenvolvimento de sites. Mas acho que minha experiência de interação nesse meio pode ilustrar algumas das dificuldades que encontramos para você...

Quando fiz meu primeiro curso de linux, parecia que eu estava numa corrida de kart onde todos os homens presentes queriam pelo menos garantir que não "perderiam" para mim. Um amigo (este sim desenvolvedor mesmo) me falou rindo que era muito feio para um homem perder para uma mulher, então por aí você já tem uma idéia. Comparei com corrida de kart porque foi a mesma sensação que tive quando corria com amigos de meu irmão. Após algum tempo, eles passaram a me respeitar, mas não era como mulher, e sim como uma "anomalia", algo fora do "normal".

O problema neste tipo abordagem é que, além de levar a mulher a ter que, de certa forma, se "masculinizar" (segundo Capra[1], a competição é um elemento masculino), o tempo ideal para o processo acontecer é comprometido por um desequilíbrio na própria forma que o homem e mulher encaminham suas próprias vidas (segundo Jung[2], "(...) a vida, para o homem (ou para a mulher que teve a mente treinada de forma masculina), é algo que se toma de assalto, num ato de força de vontade heróica; mas para a mulher, a vida se realiza melhor através de um processo de despertar progressivo."). Vejam bem, não acho errado uma mulher competir (tod*s temos elementos femininos e masculinos dentro de nós). Acho apenas errado ela sempre ser obrigada a competir num nível muito acima daquele ela enfrentaria se fosse um homem, pois isso gera um desequilíbrio enorme na sua forma natural de ser.


Mas é fácil observar outras anomalias estatísticas em populações
selecionadas.

É mais fácil ver gente bonita numa Casa Cor do que num FISL. Ao mesmo
tempo, é mais fácil encontrar pessoas que saibam desenhar de cabeça uma
molécula de cafeína num FISL do que numa Casa Cor. É muito mais fácil
encontrar piercings numa agência de publicidade do que em um banco. Há
mais cabelo em um encontro de metaleiros do que em um de skinheads.

Aparentemente, existem muitas outras "cercas invisíveis" à nossa volta.


Eu não diria que o problema da questão de gênero se resume a uma cerca invisível, pois pra mim ela é bem visível. Na realidade, ela é óbvia. Tão óbvia que acaba ficando escondida em sua obviedade (quem aqui nega que as coisas óbvias por vezes são as mais difíceis de se ver?). E a raiz mais profunda desse problema, na minha opinião, encontra-se numa certa árvore do conhecimento, de cujo fruto proibido certa mulher ousou desfrutar e, tendo também seduzido um homem a faze-lo, amaldiçoou para sempre a humaninade, expulsando-n*s da possibilidade uma vida maravilhosa dentro do Paraíso...

ah, como nós somos más! >)


[1] CAPRA, Frijof, O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1984.
[2] Jung, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1991.


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Fabianne Balvedi
Linux User #286985
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