Artigo de Sergio Rosa, publicado 05/06/08, em O GLOBO =========================================
TSE, NÃO SEJA AMIGO DA ONÇA ! Raquel de Queiróz em 1964 escreveu na revista O Cruzeiro sobre o sucesso da apuração eletrônica nos Estados Unidos e registrou sua decepção com o aspecto da máquina de votar por ser grande e com cem manivelas - "mas que dá o resultado da votação antes da meia noite". No Brasil, em 1982, o episódio Proconsult foi um grande fracasso no uso da computação, mas a sociedade organizada entrou na luta e impediu uma fraude eletrônica. Esses e outros erros contribuíram para que o Brasil viesse a ter um excelente sistema de votação e apuração digital. Hoje, em menos de 24 horas, o resultado em todo o país é conhecido. O sistema centralizado no TSE melhorará a partir deste ano com a utilização de software livre (linux) nas "máquinas de votar", o que facilitará a fiscalização deste sistema desenvolvido com tecnologia nacional. As "máquinas votar" são pequenas, sem manivelas e funcionam. Enquanto isso, o uso da tecnologia da informação nas eleições dos Estados Unidos tem sido como cantou Antônio Maria: "de fracasso em fracasso". Os norte-americanos votaram em 7 de novembro de 2000 para presidente. Eleitores votaram errado por indução no formato da cédula e em dezembro ninguém ainda sabia o resultado das eleições. Chegamos em 2008 e na disputa das prévias entre os democratas, a novidade: Barak Obama, cresce e se destaca, captando recursos através da internete e levando em frente a sua "chamada" para mudança. E aí, neste momento rico de uso da rede mundial de computadores, o TSE determina um recuo inacreditável no uso da internete nas eleições. O Brasil pioneiro e no topo da tecnologia de votação e apuração eletrônica se prepara para um obscurantismo injustificável. A Resolução 22.718 do TSE permite propaganda eleitoral na internete somente na página do candidato, proibindo o uso de mensagem eletrônica (email), blogs, vídeos e salas de conversa. O uso da internete em campanha é como se o candidato andasse pelas ruas e falasse com o eleitor. Por que proibir a propaganda que não depende do poder econômico? Não cabe ao país retroceder e proibir o "improibível". A legislação tem que acompanhar o avanço tecnológico, e não travá-lo. Pensemos como barrar Barak Obama quando na Carolina do Norte pediu a cada um dos 29 mil eleitores que mandassem mensagem de apoio aos seus conhecidos? E em Portland, dizendo o mesmo para uma multidão de setenta e cinco mil eleitores? Parafraseando Péricles, também inspirado em uma antiga edição de O Cruzeiro: Senhores ministros do TSE, não sejam "amigos da onça". Sergio Rosa Ex Diretor do SERPRO Publicado no Jornal O Globo, de 5 de junho de 2008, página 7
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