[PSL-Brasil] Re: Software Livre NÃO é socia lismo (Was: Re: [PSL-CE] Software livre é Socialismo?)

2009-01-20 Por tôpico Roberto Parente
A pedidos do Ruoso, estou encaminhando a mensagem dele :-)

Abração,
Roberto Parente

2009/1/20 Daniel Ruoso dan...@ruoso.com

 Roberto,

 Não vou responder ponto-a-ponto porque senão isso não vai ter fim. Vou
 tentar sistematizar o que queria dizer desde o primeiro email e que se
 perdeu aqui:

 1 - Software Livre não é apenas o que é GPL. Software Livre é aquilo que
 dá as 4 liberdades, e, nesse sentido, não se pode dizer que o pessoal
 que desenvolve o X, o Perl e o OpenBSD não fazem parte desse movimento.
 A FSF é uma das forças nessa história mas não é a única, e é difícil
 avaliar se é ou não a mais importante. Um ponto muito importante é
 entender que nem todo o software livre é copyleft, e isso significa que
 nem todo mundo que é pró-software-livre é pró-copyleft. E você não pode
 dizer que só porque fulano prefere usar uma licença BSD à GPL ele não é
 militante do software livre.

 2 - O Projeto GNU surgiu dentro de um contexto específico, surge a
 partir de uma tradição de mais de 20 anos de compartilhamento de
 software e mais de 4 séculos do Iluminismo, não se pode dizer que só
 porque o Stallman criou o conceito de copyleft, ele se desvinculou de
 toda essa herança, e mais importante, não é porque o Stallman é o ícone
 do início do movimento software livre que ele representa esse movimento
 na totalidade. Dessa forma, o software livre tem sim como principal
 herança ideológica o liberalismo e está muito longe de questionar o
 capitalismo, muito pelo contrário, já desde os textos clássicos do
 liberalismo se defende que a difusão do conhecimento é um elemento
 fundamental para o mercado ser sadio.

 3 - Tentar encaixar alguma coisa nas teorias de esquerda só porque
 somos de esquerda e concordamos com essa coisa é extremamente
 empobrecedor. O Movimento Software Livre tem muita coisa a ensinar à
 esquerda (principalmente à esquerda latino-americana), e se tentarmos
 encaixá-lo no marxismo vamos perder muito. Vamos encaixar as teorias à
 realidade, e não a realidade às teorias.

 4 - Faz-se aqui uma oposição muito importante: O ideal de democracia
 contemporâneo não vem da grécia, mas da revolução francesa - todos são
 iguais, todos devem ter oportunidades iguais, todos devem ter voz na
 governança. Já a governança no movimento software livre pressupõe a
 desigualdade, não há mecanismos para garantir que todos tenham
 oportunidades iguais, que todos tenham voz. Novamente, não vamos tentar
 encaixar a realidade nas teorias, dizer que fork é um mecanismo
 democrático é ignorar o significado de democracia. Em um ambiente
 democrático não existe o conceito de fork, não se faz fork da
 organização porque perdeu-se a eleição, é um pressuposto fundamental da
 democracia.

 daniel

 P.S.: (Roberto, encaminha a minha mensagem pro psl-brasil, porque não
 subscrevo aquela lista, e eles não aceitam postagens de não membros)


 ___
 Lista de discussao PSL-CE
 http://listas.softwarelivre.org/mailman/listinfo/psl-ce


___
PSL-Brasil mailing list
PSL-Brasil@listas.softwarelivre.org
http://listas.softwarelivre.org/mailman/listinfo/psl-brasil
Regras da lista: 
http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/PSLBrasil/RegrasDaListaPSLBrasil

[PSL-Brasil] Re: Software Livre NÃO é socia lismo (Was: Re: [PSL-CE] Software livre é Socialismo?)

2009-01-20 Por tôpico Roberto Parente
Olá pessoas,

 Diferentemente de algumas pessoas, acho que essa discussão é necessária
e super importante para sabermos traças de maneira mais consciente a nossas
ações...

2009/1/19 Glauber Machado Rodrigues (Ananda) glauber.rodrig...@gmail.com:


 2009/1/19 Roberto Parente betim.pare...@gmail.com

 Como eu disse, o Software Livre pode existir dentro do capitalismo, senão
 talvez nem estaríamos discutindo. Porém, o que falo é dele existir em sua
 plenitude, das relações de compartilhamento, da não concentração do
 desenvolvimento na mãos de poucos e etc...

 Exato. Inclusive eu acho que a experiência de sucesso do software livre
irá
 transformar o capitalismo de tal forma que o que vai restar não vai
lembrar
 muito o capitalismo original. Acredito que o SL será um dos agentes de
 mudança. Não tem nenhum mas primeiro, e sim um e aí então

 Não consigo pensar que seja mais fácil acabar com o conceito de
propriedade
 privada antes do conceito de propriedade intelectual. Por isso acho
mais
 fácil se tornar popular ao sair gritando na rua compartilhem seus
programas
 com estranhos do que compartilhem todo seu patrimonio com estranhos.
Não
 sei por que deveria lutar pelo socialismo primeiro para viabilizar o
 software livre.

Não vamos lutar primeiro por um e depois pelo outro. Na minha concepção, o
Software Livre é uma forma de amadurecimento da consciência crítica sobre
alguns aspectos. Lógico que dentro dessa militância a gente vai fazendo
algumas ressalvas que caminham para a ruptura do sistema (estou falando de
como vejo a minha prática e tal). Se eu achasse que primeiro o Socialismo,
depois o SL não estaria participantes e dedicando parte do meu tempo e
intelecto para o movimento Software Livre.

2009/1/20 Filipe Saraiva filip.sara...@gmail.com:
 Não estou querendo dizer que as condições sociais melhoraram, que não
 precisamos mais de sindicatos, que não existe mais espaço para
 manifestações... nada disso, apenas sinalizo que muitos movimentos
 tornaram-se anacrônicos em suas práticas e concepções.


Exato, ai entra aquela velha história do sectarismo de algumas correntes
políticas da esquerda tradicional. Concordo com você que o mundo muda e
algumas práticas não são mais aplicáveis. Porém, eu ainda acho que a prática
de transformação através da conscientização das massas e tal ainda é viável,
mas precisamos saber como fazer isso, no caso o movimento S.L., apesar de
ser muito elitista, pode ser uma boa ferramenta para amadurecimento político
de algumas pessoas (para outras não).

2009/1/20 Daniel Ruoso dan...@ruoso.com:

 1 - Software Livre não é apenas o que é GPL. Software Livre é aquilo que
 dá as 4 liberdades, e, nesse sentido, não se pode dizer que o pessoal
 que desenvolve o X, o Perl e o OpenBSD não fazem parte desse movimento.

Não estou falando isso. Longe de mim dizer que projetos não-copyleft não são
livres ou que fulano ou sicrano representa o S.L.

 Dessa forma, o software livre tem sim como principal
 herança ideológica o liberalismo e está muito longe de questionar o
 capitalismo, muito pelo contrário, já desde os textos clássicos do
 liberalismo se defende que a difusão do conhecimento é um elemento
 fundamental para o mercado ser sadio.

Tudo bem, ele pode ter sim a sua herança ideológica no liberalismo. Porém,
dizer que ele é tal qual o liberalismo já é demais, ou seja, acho que ele
pode sim ter surgido de influências do liberalismo (apesar de achar que ele
surgiu mais do anarquismo), mas dizer que suas bases filosóficas são
plenamente colocadas no capitalismo é diferente. Não é uma inferência
direta, pelo menos não vejo assim.

 3 - Tentar encaixar alguma coisa nas teorias de esquerda só porque
 somos de esquerda e concordamos com essa coisa é extremamente
 empobrecedor.

Concordo plenamente. Tento não fazer isso, tento mostrar o porque acho que o
S.L. não é compatível com o Capitalismo. Acho sim que ele tem uma ligação
filosófica próxima ao anarquismo, talvez até com o socialismo, mas já acho
que nem tanto.

 4 - Faz-se aqui uma oposição muito importante: O ideal de democracia
 contemporâneo não vem da grécia, mas da revolução francesa - todos são
 iguais, todos devem ter oportunidades iguais, todos devem ter voz na
 governança. Já a governança no movimento software livre pressupõe a
 desigualdade, não há mecanismos para garantir que todos tenham
 oportunidades iguais, que todos tenham voz. Novamente, não vamos tentar
 encaixar a realidade nas teorias, dizer que fork é um mecanismo
 democrático é ignorar o significado de democracia. Em um ambiente
 democrático não existe o conceito de fork, não se faz fork da
 organização porque perdeu-se a eleição, é um pressuposto fundamental da
 democracia.

Tipo, temos que observar as coisas de forma mais sutil.

Não acho que o práticas e ações de comunidades tecnológicas ou digitais,
onde se tem a capacidade de reconstruir as ações num piscar de olhos, deva
ser uma função bijetiva com a realidade, onde programador = cidadão,
matenedor = 

[PSL-Brasil] Re: Software Livre NÃO é socia lismo (Was: Re: [PSL-CE] Software livre é Socialismo?)

2009-01-19 Por tôpico Roberto Parente
Primeiro vamos lembrar umas coisas...

Acho que o Rafael fez feio em criticar a pessoa e não a idéia. Acho que
essa discussão de confronto entre pessoas não é saudável...

Ricardo, acho que cada um tem suas opiniões, pensamentos e forma de se
organizar. Se você acha que isso é bom ou ruim, problema seu, mas chamar os
outros de idiotas por não compactuarem com a sua idéia, é bem baixo.

Vamos retomar o nível da discussão que tava interessante :-)

2009/1/19 Daniel Ruoso dan...@ruoso.com

Não sei se podemos afirmar que a GPL é tão fundamentalmente diferente
 das licenças BSD nesse sentido. Não é porque a GPL diz que você tem que
 se manter com as mesmas regras de licenciamento que ela se torna
 incompatível com o capitalismo.

 Quero dizer, a GPL é uma licença que tem uma função política, mas não é
 por isso que ela não é compatível com o capitalismo, e não é isso que
 faz ela perder a herança liberal. A IBM não deixa de investir no Linux
 por ele ter uma licença GPL, aliás, foi o Linux, com licença GPL, que
 salvou o setor de mainframes de pequeno porte da IBM (os zSeries, s390).


Veja que quando falo incompatível não é no termo de que ela não possa
existir dentro do sistema Capitalista. Hoje eu tenho várias idéias que são
contra capitalista e não podem ser executavas, mas isso não me torna
inexistente. Para algumas idéias minhas terem 100% viabilidade de
implantação, só com a mudança de sistema.

Vejo que a GPL tem uma diferença bastante grande das BSD's. Basta
observarmos a inversão de valor que ela faz. Nas BSD o valor está no
individuo, ou seja, EU pego aquele Software e faço o que EU desejar. Por
outro lado a GPL ela entra com o valor na comunidade/sociedade, pois EU pego
o Software não posso fazer o que eu desejar, mas sim o que é melhor para a
comunidade/sociedade. Por exemplo, BSD deixaria eu chegar na praia e
demarcar que aquilo é meu terreno agora, mas já na GPL diz que não podemos,
ou seja, existe uma quebra da idéia de propriedade privada, pois o Software
Copyleft ele não tem um dono (salvo manobras feitas através do direito do
autor).


 A questão dos open source tem muito mais uma visão de transição (nas
 palavras da própria OSI) do que de a GPL é má!, muito mais no sentido
 de tirar preconceitos do mercado corporativo sobre compartilhamento de
 código do que desvirtuar o software livre.


Não vejo nessa linha. OpenSource é visto da seguinte forma (revolution os
fala disso) Achamos que é uma forma legal de programar e não achamos que
todos softwares devam ser livres, eles podem co-existir. Essa é a lógica,
uma deturpação do S.L. que é um movimento radical, pois ele vai a raiz
do problema e diz que enquanto existir Softwares Proprietários, ainda
teremos um problema. Tem um texto do Stallman que fala sobre isso (não, ele
não é o mecias), mas esqueci o link :-/


 É claro que existe muita canalhice nesse meio, e aí é das empresas que
 não adotam o Open Source de verdade, fazendo produtos meio abertos que
 não tem nenhuma documentação disponível e que quando você tenta instalar
 a versão community não funciona nada direito. Mas não acho que esses
 sejam os casos de sucesso no mundo Open Source. Casos de sucesso para
 mim são o Apache, o OpenBSD, o Linux, o Eclipse etc.


Open Source é modelo de desenvolvimento, diferente do Software Livre que é
uma filosofia/movimento. Num é a toa que as pessoas vezes falam FOSS (Free
and Open Source Software).


  Por outro lado, assisti uma palestra (a única ao vivo) do Stallman no
  Latinoware 2007 e lá ele chegou a bater no Banco Mundial e no FMI

 Não é porque ele discorda do FMI e do Banco Mundial em alguns aspectos
 que ele é marxista...


Lógico que não. Num é porque a França tem educação pública que ela é
socialista.  O que eu quis dizer é que o Software Livre entra em conflito
com diversas forças do neo-liberalismo/capitalismo pela filosofia do
Software Livre, algumas vezes o sistema consegue contornar e por ai vai...


 Assim... Não é porque o mercado deixou de comercializar as licenças para
 cobrar pela prestação de serviços que modificamos as relações de
 classes.


Sim, não estou falando das empresas, estou falando do projeto, da
comunidade. O Software Livre sozinho não vai mudar o mundo, mas a suas
idéias fazem parte desta.


 A Intel, a Red Hat, o Google, a IBM e todas essas empresas
 amigas do software livre continuam exercendo a mais-valia. Uma empresa
 puramente de prestação de serviços continua sendo uma empresa, e
 continua dentro da lógica do capitalismo, se a questão da contradição
 entre capital e trabalho continua sendo central, ela ainda é central
 aqui.


Sim, como eu disse, estou falando da comunidade de desenvolvimento, ela
relaxa as relações de classe. Se você pegar uma industria, existe os caras
que manda (e concentram boa parte da verba) e os que executam (proletários e
etc), nas comunidades de Software Livre não existe isso, existem nas coisas
externas a ela (o motivo pelo qual o cara está programando, a participação