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datada de 08/05/2001, 08:15

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Roger

Demorei um pouco para me inteirar das críticas ao sistema de urnas
eletrônicas e responder às suas colocações e de outros críticos do
sistema eletrônico de eleição no Brasil.

Em princípio não acho que o erro esteja no sistema em si, mas na
estrutura relacionado com o processo em si. Da análise das críticas e do
processo de votação eletrônica adotado no brasil, depreende-se que o
sistema padece de dois males principais:

1. Falhas de projeto
     O projeto da urna eletrônica não leva em conta os problemas que
    toda a tecnologia tem embutidos.
    Dá como certo que não há riscos embutidos na tecnologia; esses
    aspectos foram bem debatidos pelos
    estudos apresentados por Brunazzo, Evandro e pelo SSSI/2000.
     Não tenho reparos a fazer, exceto quanto a alguns aspectos
    relacionados abaixo:
    a)    Os sistemas – operacional, de apoio e aplicativos – não
            precisam ser necessariamente em software.  Uma vez
            definidas as regras definitivas que nortearão as eleições,
            elas não precisam mais ser modificadas; isso permite com
            que os sistemas sejam codificados em hardware (firmware),
            o que tornaria à prova de fraude quanto à carga dos sistemas
            na máquina. Entretanto, isso implica em uma legislação
            eleitoral definitiva e não como ocorre hoje, em que
            praticamente se aprova uma lei para cada eleição.
    b)    A auditoria quanto ao firmware pode ser feita mediante
            assinatura digital. Uma vez
            aprovado o código dos sistemas, ele passaria por um processo
            de geração de uma assinatura digital de conhecimento público,
            que acompanharia o software de cada urna eletrônica e
            poderia ser facilmente aplicado por fiscais de
            partidos e o resultado impresso
            pela própria urna e comparado com a assinatura original.
    c)    Uma vez autenticadas pelos fiscais dos partidos, as urnas
            seriam lacradas à vista dos mesmos e nos lacres constariam
            suas assinaturas.
    d)    A auditoria do voto eletrônico precisa ser necessariamente em
            forma que o eleitor comum possa entender, ou seja é
            necessário que o voto de cada eleitor seja impresso na sua frente.
            Nenhum dos argumentos do justiça eleitoral contra a
            impressão do voto se sustenta.

2.    Erros humanos
        Seres humanos são falíveis e volúveis. A maioria dos erros descritos
        nos casos de Araçoiaba (SP) e no que deveriam ser os procedimentos
        de São Domingos (GO) são claramente decorrentes
        de interpretação errada, arrogância da justiça eleitoral e hipóteses
        assumidas como verdadeiras mesmo quando saltam aos olhos as
        evidências em contrário.
        São deste tipo os aspectos relacionados abaixo:
    a)    Desconhecimento do processo por parte dos juizes locais. Este
            é um dos problemas mais graves; a maioria do pessoal da justiça
            eleitoral não tem o conhecimento técnico para operar uma eleição
            informatizada e muito menos para julgar proferir julgamentos sobre
            o processo. Isso ficou evidente no caso de Araçoiaba.
    b)    Arrogância. Em geral, a postura do serviço público no Brasil é
            de arrogante superioridade em relação aos mortais comuns;
            e o Judiciário é de longe o que tem postura mais
            distanciada do público em geral.
    c)    Segurança por obscuridade. A abordagem de se ter a segurança
            baseada no sigilo é típica da mentalidade do serviço público;
            tudo é secreto, tudo precisa de autorização superior.
            Um sistema que baseia a segurança no segredo, não fica nem
            sabendo quando a segurança é violada.
            A segurança deve basear-se na transparência. A melhor
            abordagem para a segurança é a padronização e a ordem;
            tudo o que fuja à padronização e à ordem tem grande
            possibilidade de estar fugindo também aos padrões de
            segurança. Se as pessoas não ficam sabendo o que se
            esperar como seguro, não há como auditar.
    d)    Falta de separação entre funções. O STE define o processo
            eleitoral, monta a estrutura de eleições, fiscaliza, julga os
            casos omissos etc. Não há garantia de que em alguma parte
            do processo não haverá falhas humanas intencionais ou não;
            também não há garantias de que terceiros não façam uso
            de dessa estrutura mal montada.
            Em uma instituição financeira de São Paulo, o analista de
            sistemas responsável pelo desenvolvimento do sistema
            que controlava os fundos ao portador bloqueados com o
            Plano Color, também tinha acesso aos terminais que permitiam
            executar o sistema.
            Resultado: ele caiu em tentação e desviou algumas centenas
            de milhares de reais e somente foi apanhado porque foi imprudente.

O sistema eletrônico de votação em si não é mais inseguro ou mais seguro
que o tradicional sistema de urnas para cédulas de papel. Ele eliminou uma série
de possibilidades de fraude, mas abriu a possibilidade para a ocorrência de um
monte de outras fraudes; aumentou a complexidade de uma eventual fraude,
mas também aumentou a complexidade do controle. É necessário criar
mecanismos para melhor controlar o processo.
Além disso, é necessário o estabelecimento de um sistema de controle
externo da justiça eleitoral.
A mera informatização do processo eleitoral não elimina por si só a
fraude e erros. Eles podem ser grosseiros como no caso de Itaberaba.


--
Flávio Deny Steffen
Tradutor Inglês/Português
Perito em Segurança de Informações e de Informática
English to Portuguese Translator
Expert in Information and Computing Security
R. Pres. Altino, 71 - Jd. Sta. Rita
Indaiatuba - SP
13335-110
Phone/fax: 55 19 3834-4283



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-- 
Grande abraço,

Roger Chadel
Chadel Quality Software
http://www.chadel.com.br

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Extraido de minha coleção de taglines:
Nunca deixe para amanhã... o que você pode fazer depois de amanhã! (© Marilia)

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  X   ASCII ribbon campaign - against html mail
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       http://www.votoseguro.org
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