-----Mensagem original-----
De: Gil Carlos Vieira de Rezende [mailto:[EMAIL PROTECTED]
Enviada em: sábado, 3 de abril de 2004 17:37
Cc: '[EMAIL PROTECTED]mpf.gov.br'
Assunto: Independência ou Morte do Rio de Janeiro: o Oleoduto da Petrobrás pelo mar.

 

            A verdade dói, mas deve ser dita e reverberada. Mesmo podendo pagar o preço de uma inimizade eterna ou a sua pronta reação furiosa, me dispus a colocar meu nome e meu endereço como parte integrante deste texto. Por amor e respeito à verdade.

Dito isso, afirmo sem medo de errar: nosso atual “Sistema Federalista Cooperativo”, tal como foi definido pelo renomado Jurista Toshio Mukai em uma de suas obras mais conhecidas (que versa sobre o Direito Ambiental Brasileiro), se tornou uma verdadeira ficção utópico-jurídica. Algo do mesmo tipo daquelas que os nossos demais tecnopuristas da Ciência do blá-blá-blá, do nhém-nhém-nhém e do quá-quá-quá jurídicos costumam definir como um mero “princípio programático”.

Trocando em miúdos metafóricos, bem ao gosto dos lulistas: o Federalismo Cooperativo é algo menos que uma simples alegoria carnavalesca, ou algo mais que uma simples falácia total. Ou melhor, é um verdadeiro rococó de um “marqueteiro jobiniano ou ulissiano” inserido na própria Constituição de 1988, para com ele se fazer a tal política do “me engana que eu gosto”. Isso comprova, cabalmente, que tais princípios não têm nem mesmo um mínimo condão de coercitividade normativa-constitucional sobre as leis e os atos administrativos hierarquicamente inferiores a uma norma deste quilate, que é o mínimo que se espera de um texto constitucional. Aliás, quem foi o escritor que disse que a pena é mais forte que a espada? Provavelmente, o mané nunca diria isto na frente de um espadachim do Cardeal Richelieu, a não ser que estivesse por detrás de três ou quatro mosqueteiros...

Logo, o que existe, na verdade, é um descarado elitismo paulista na liderança e na hegemonia dessas vigentes estruturas políticas e partidárias nacionais, as quais ora aparelham e controlam todos os setores e poderes dos anteriores e do atual governo federal desde 1991, data da queda do governo Collor. Tal marca o início da ascensão do tucanismo amoral e situacionista e do seu correlato pseudo-oposicionismo político: o falso-moralismo do PT que, desta forma, cria uma falsa dicotomia nacional que, por óbvio, só interessa aos interesses paulistas. Um não vive sem o outro.

Pois são estas duas facções partidárias, ambas nascidas sob a liderança de caciques paulistas bastante hábeis nas artes da revolução e da conspiração política, é que ora pragmaticamente nos “conduzem”, agora sob sinais trocados: quem antes era oposicionista, agora é situacionista, e vice-versa. E ambas não têm nenhum interesse prático, social, político ou econômico em buscar, implantar ou atingir quaisquer metas de superação dessas desigualdades nacionais, as quais atualmente são gritantes no restante panorama social-econômico miserável deste país. Quanto mais, no Estado rival e vizinho do Rio de Janeiro.

A conclusão lógica disto tudo é que, na minha opinião, aquela frase de Sérgio Motta, sobre um projeto de mais de vinte anos no poder, foi uma profecia acertada. Ao contrário do que os menos atentos possam crer, parece, sim, que estamos fadados a vinte anos ou mais de poder paulista no comando desta nação.

 A série televisiva “Um Só Coração”, atualmente em cartaz, ilustra bem este paulicentrismo. Tente o telespectador ali achar, naquela obra de “dramaturgia nacional”, alguém que pareça ser um negro, pobre e miserável; enfim, UM BRASILEIRO REAL! Não tem. Ali, só se consegue distinguir a própria elite “nacional” de civilizados paulistas quatrocentões, descendentes dos imigrantes europeus, que ora são mostrados ao resto deste país tal como se fossem (e não são mesmo) os novos “heróis” bandeirantes, missionários e colonizadores dessa restante barbárie tupiniquim. Aliás, não é a toa que a bandeira da Cidade de São Paulo vem com a frase inscrita em latim non ducor, duco (não sou conduzido, eu conduzo!).

Não há, pois, como negar. Estamos sendo ora “liderados” e “conduzidos” pelos marqueteiros e pelos falsos líderes trabalhistas que, baseados em São Paulo, ora se mostram e se dizem altamente progressistas e democratas, mas apenas pelo que o jornalista Elio Gaspari sobejamente definiu como “gogologia”. Porém, nas suas reais práticas de governo, são muito mais conservadores e intolerantes com seus extremos ideológicos ou meros opositores que muitos ex-ditadores. Pior ainda, são ora financiados tanto pela banca nacional e internacional quanto pela nomenklatura sindical. Esta última, agora, quer porque quer escandalosamente avançar com tudo nos vencimentos de funcionários públicos, para impor-lhes um imposto salarial de até treze por cento. Faz isso, por sinal, meses depois de cravar-lhes o seu venenoso punhal pelas costas, na questão previdenciária. E tudo, diga-se de passagem, conspirado e liderado pela falsa rivalidade entre os tucanos e os petistas, com o evidente apoio do monopólio privado da mídia neste país. Mídia esta que, metódica-e-planejadamente, conspirou e liderou a privataria nacional sob o signo da modernidade e, agora, prega a sua salvação pela viúva usando os mesmos argumentos antes negados à defesa dos setores estatais estratégicos em razão da manutenção da soberania nacional! E tudo isso fazendo muito mais pelas receitas de propaganda de interesse das multinacionais e do Departamento de Estado Americano do que pelos nossos próprios interesses nacionais. Desde Collor, a mídia global deste país tem muito mais manipulado e divulgado sua exclusiva opinião do que buscado veicular uma informação realmente isenta e imparcial, essa é que é a realidade.

No meu exclusivíssimo ponto de vista carioca, os eleitores do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, do Paraná e de todos os demais Estados brasileiros deveriam boicotar os partidos cujos diretórios nacionais, sob o controle deste paulistismo desvairado, acabam por submeter todo o resto da federação a esta eterna concentração espacial de renda num só Estado, com a conseqüente “democratização” e repartição da miséria entre os demais: estou falando do PT e do PSDB.

Aliás, se nossos princípios constitucionais de superação das desigualdades sociais e regionais brasileiras fossem mesmo para valer, como podemos tolerar que quarenta por cento do PIB deste país esteja ainda sob o controle de apenas cinco mil famílias? Como tolerar até mesmo que o Estado de São Paulo permaneça concentrando de um quinto até um quarto do total da população nacional, sem falar de mais da metade de todas as nossas riquezas? Será que estou vendo coisas ou isto é, de per si, intencionalmente provocado e estimulado pelo controle da política nacional e dos principais órgãos partidários e de governo por esta tediosa e mesquinha elite paulista que, nestes últimos doze anos, só fez aumentar ainda mais estas desigualdades?

O resultado prático disto? Miséria e submissão dos “cidadãos brasileiros não paulistas e de segunda classe”, que vivem no Rio de Janeiro e no resto do país. Eu, que me orgulho de não ter nascido em São Paulo, assim como outros, que até podem ora lamentar não ter nascido naquele caos (e sempre haverá quem ame o caos), repudiamos a forma com que a elite paulista vem tratando o resto do país: com evidente arrogância, auto-suficiência e desdém, quanto mais sendo submetidos a uma verdadeira humilhação pública, pelo escárnio da imposição do oleoduto da Petrobrás petista-paulista, a ser enfiado bem abaixo da goela dos fluminenses para colocar em risco aquilo que eles mais invejam: o nosso belíssimo litoral!

Pois já é hora de decretarmos a nossa própria independência ou, quem sabe, a futura morte do federalismo brasileiro, em face deste lamentável imperialismo paulista interno. Até porque, esta arrogância e auto-suficiência do imperialismo tupiniquim petista-tucano-paulista nem se agüentaria de pé, caso a eletricidade proveniente de Minas Gerais e do Paraná fossem suprimidas na fonte, assim como o petróleo do Rio de Janeiro. Essa “riqueza” paulista sumiria do dia para a noite. Aliás, não seria melhor taxá-la logo na fonte e distribuí-la eqüitativamente para todos os Estados da União? Afinal, por que se arriscar em taxar na ponta do consumo da energia e do petróleo se é muito mais fácil controlar tal sonegação em poucos pontos de produção, como em Furnas, em Itaipu e na Bacia de Campos? Tal acabaria, de cara, com esse lamentável incentivo à insurreição, ao secessionismo e ao golpismo.

 

Assinado Gil Carlos Vieira de Rezende, Analista Processual da Procuradoria da República em Angra dos Reis.

Endereço: Rua Haddock Lobo 447, Ap. 705, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, CEP. 20260-132.

Responder a