Prezado Dr. Hugo, Me parece que a patologia descrita pelo Sergio não é cancerígena apesar do apelido popular, mas sim, alguma forma de "ceratoconjuntivite infecciosa", como foi sua sugestão posto que, segundo sua descrição: "Começa por um corrimento e a medida que avança a doença passa de um olho para o outro, o deixa branco, e o animal fica cego... Tratamento com antibiótico, caro e pouco eficiente. Eventualmente ocorrem surtos nos rebanhos ovinos"
Quanto à terapia proposta e sua aparente eficácia, me parece mais relevante o efeito relatado em si do que a pretensa ação farmacológica do agente. Na minha antiga prática clinica também me deparava com muitas medidas populares de reconhecida ineficácia tais como a aplicação de teia de aranha coberta por uma moeda em umbigo para evitar tétano neonatal, jogar osso de frango dentro de caixa de fósforo na correnteza para levar verrugas, etc. etc. Por outro lado, muitas foram as práticas populares que se incorporaram à farmacopeia após a ciência se debruçar sobre as mesmas, tais como a prática de ciganos de aplicar sobre ferimentos "queijo embrulhado em pano e mantido em ambiente umido" que mostrava-se efetiva na cicatrização e, mais tarde, se verificou que representava excelente meio de cultura para crescimento do famoso fungo penicillium, cujo metabolismo produzia nada mesmos que "penicilina" muito antes que o dr. Fleming a ter descoberto. A prática de aplicação de substâncias ácidas ou cáusticas sobre lesões é antiga e ao lado de algum efeito antisséptico reconhecido, e talvez alguma ação como debridantes é reconhecidamente em muitos casos agente patogênico causando ele próprio lesões onde aplicado. A partir do relato do Sergio perguntei ao nosso sábio Dr. Google algo a respeito e não é que me deparei com uma pesquisa de um seu conterrâneo gaucho, na UFPEL, verificando a superior eficiência o uso da querosene no tratamento de endometrites de éguas em relação ao iodopovidine e à glicose. ( http://www.arsveterinaria.org.br/index.php/ars/article/viewFile/81/71_). Creio que os pesquisadores só tem a ganhar ao ficar atentos às observações populares, pois dali sempre surge algum caminho a aferir, nem que seja para confirmar sua ineficácia. Otavio PS. Quando ao caso em si, tivemos alguns casos de opacidade no olho, alguns com reversão da pálpebra para fora (ecctrópio) causado por "miíase" (oftamomiíase) sendo num deles dava para "vislumbrar" larva no interior do olho. Tratamos com ivermectina com regressão total do quadro em dois deles e em outro, imaginamos que fosse traumática , apesar de somente verificarmos a opacidade, sem secreção como na ceratoconjuntivite e cegueira. Aplicamos um spray com antibiótico+corticoide (terra cortril) com regressão parcial (permaneceu uma área opaca) mas a visão voltou ao normal. -----Mensagem original----- De: bufalos@yahoogrupos.com.br [mailto:bufalos@yahoogrupos.com.br] Em nome de Hugo Didonet Lau Enviada em: quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 23:24 Para: bufalos@yahoogrupos.com.br Assunto: [bufalos] patologia de olho em bovinos. Escrevo esta nota no intuito de dizer o seguinte: O amigo Sergio Souza Fernandes (sergiosouzafernan...@gmail.com) descreveu uma situação bastante inusitada ao informar a cura de lesões cancerígenas da região ocular de bovinos da raça Hereford. Segundo ele, isso é feito através de jatos de querosene diretamente no olho dos animais, como uma espécie de "lava olho". Informa ainda que a única explicação plausível para o resultado é a troca de pH, sendo que os animais ficam limpos e com, algumas exceções, até mais resistentes. Esqueceu de dizer, entretanto, qual é a troca de pH, se de ácido para básico ou vice-versa. Sabemos que pH ou potencial de hidrogênio iônico é o símbolo criado pelo químico dinamarquês Sorensen para indicar o grau de acidez ou alcalinidade de uma substância. O p significa "potenz", que em alemão e significa poder de concentração e o H o íon de hidrogênio (H+). Essa escala de medição varia de 0 a 14, tendo o 7 como valor neutro, o 0 como acidez máxima, e o 14 como alcalinidade máxima. Eu, particularmente, não consegui saber através da literatura científica qual é o pH do olho dos animais, quando cancerígeno, nem o da querosene. Sei, entretanto, serem apontados como fatores predisponentes dessa patologia, as influências genéticas, os raios ultravioletas e, possivelmente um tipo de vírus. O tratamento indicados pode ser cirúrgico, quando em condições avançadas, criocicatrização com nitrogênio líquido e hipertermia com campo de corrente localizada. O amigo Sérgio esqueceu também de explicar o porque do uso de querosene, bastante abrasivo e cheio de impurezas, segundo ele. Se o objetivo é a troca de pH, porque não usa outras substâncias, tais como água alcalinizada com bicarbonato (para aumentar o pH), ou acidificada com ácido acético (para diminuir o pH), que ao meu ver é bem mais barato e infinitamente menos empírico. Por outro lado, sei que o uso da querosene faz parte da farmacópeia campeira desde muito tempo. Muito vi o uso desse produto para imunizar animais contra a febre aftosa. Como imunizante, pinga-se algumas gotas de querosene na nuca dos animais e como curativo, coloca-se esse produto junto ao sal mineral. Apesar dos usuários dessas práticas jurarem seu o sucesso, muito atendi animais intoxicados por elas. 4. Assim, seria muito interessante que o caso do Sérgio fosse levado à luz da ciência, pois toda a literatura científica que consultei nada informa sobre o assunto. Seria bom para nós veterinários, ótimo para os produtores e excelente para méritos do seu inventor. No caso, o Sérgio. Hugo Lau ------------------------------------ ___________________________________________________________________ Lista de discussao sobre bubalinocultura: Inscrição: envie mensagem para bufalos-subscr...@yahoogroups.com (sem assunto nem nada no texto) Para sair da lista: enviar mensagem para bufalos-unsubscr...@yahoogroups.com (sem assunto nem texto) Página do grupo: http://br.groups.yahoo.com/group/bufalos Links do Yahoo! Grupos ----- Nenhum vírus encontrado nessa mensagem. Verificado por AVG - www.avgbrasil.com.br Versão: 2012.0.2238 / Banco de dados de vírus: 2639/5603 - Data de Lançamento: 02/14/13 ----- Nenhum vírus encontrado nessa mensagem. 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