Duas paródias da Carta de Caminha.
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Olá meu amado Rei, aqui quem fala é o Pero Vaz. Está me ouvindo bem?

Peguei emprestado o celular de um nativo aqui da nova terra. Tudo bem,
Capitão  Pedro  está  lhe mandando um abraço. Chegamos na terça, 21 de
abril,  mas  deixei  para  ligar  no  Domingo  porque a ligação é mais
barata.

É  aqui  tem  dessas coisas. Os nativos ficaram espantados com a nossa
chegada por mar, não achavam que eramos Deuses, Majestade. Acharam que
eramos loucos de pisar em um mar tão sujo.

A  ligação  está  boa?  Pois  é, essa terra é engraçada. Tem telefonia
celular digital, automóveis importados, acesso gratuito à Internet mas
ainda tem gente que morre de malária e está cheia de criança barriguda
de tanto verme. É meio complicado explicar.

Se já encontramos o chefe?

Olha Rei, tá meio complicado. Aqui tem muito cacique para pouco índio.

Logo  que  chegamos  à  Porto Seguro tinha um cacique lá que dizia que
fazia  chover,  que  mandava prender e soltar quem ele quisesse. É, um
cacique  bravo  mesmo...  Mais para o Sul encontramos outra tribo, uma
aldeia  maravilhosa  e  muito  festiva, com lindas nativas quase nuas.
Seguindo  em  direção  ao  Sul,  saímos  do litoral e adentramo-nos ao
planalto.  Lá  encontramos uma tribo muito grande. A dos índios Sampa.
Conhecemos  seu  cacique,  que  tinha  apito mas que não apitava nada,
coitado.  Dizem  até  que  ele  apanha da mulher. O senhor está rindo,
Majestade?  Juro  que  é verdadeiro o meu relato. Como vossa Majestade
pode  perceber, é uma terra fácil de se colonizar, pois os nativos não
falam a mesma língua.

Sim, são pacíficos sim. É só verem um côco no chão para eles começarem
a  chutá-lo  e  esquecerem da vida. Sabem, sabem ler, mas não todos. A
maioria lê muito mal e acredita em tudo que é escrito. Vai ser moleza,
fica frio..

Parece  que  há um "Cacicão Geral", mas ele quase não é visto. O homem
viaja  muito.  Dizem  que  se  a intenção for evitar encontrá-lo, é só
ficar sentado no trono dele.

Engraçado  mesmo  é  que  a  "indiaiada" trabalha a troco de banana. É
banana!!! Todo mês eles recebem no mínimo 151 bananas.

Não é piada, Majestade.!! É sério!! Só vindo aqui prá ver.

Olha, preciso desligar.

O rapaz que me emprestou o telefone celular precisa fazer uma ligação.

Ele é comerciante. Disse que precisa avisar ao povo que chegou um novo
carregamento  de  farinha.  Engraçado...  eles  ficam tão contentes em
trabalhar...  A cada mercadoria que chega, eles sobem o morro e soltam
rojões.

É uma terra muito rica, Majestade.

Acho que desta vez acertamos em cheio.

Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...


Autor:  Paulo  D'Angelo, publicitário, reescreveu a Carte de Caminha e
ganhou   o   concurso   "Crônica  do  Ouvinte"  promovido  pela  Rádio
Bandeirantes.


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El  Rei,  desculpe-me  pela  demora  em  responder  o  vosso e-mail. A
navegação  aqui  no Brasil é muito difícil, porque a conexão é lenta e
cai   a  toda  hora...  Ah,  o  que  será  desta  terra  com  a  banda
larga...(suspiros)

Vou  relatar  a  seguir, então, a minha impressão sobre esta terra, em
que  chegamos  há  nove  dias, em missão chefiada pelo capitão Pedroca
([EMAIL PROTECTED]).

Notamos  muitas  coisas  interessantes  neste  país. A língua nativa é
curiosa, as palavras são muito parecidas: tem UOL, AOL, BOL, SOL, GOL,
que,  por sinal, é o vocábulo mais falado... Mandei um dos degredados,
o  Manuel,  fazer uma pesquisa no Cadê? para tentar descobrir o porquê
disso.

Não  posso  deixar  de falar das beldades que cá estão. As nativas não
mostram  suas  vergonhas nas ruas. Pelo menos, não que eu tenha visto,
mas  mostram  na  televisão, no cinema, na Internet, nas revistas... E
tem umas vergonhas bem formosas, limpinhas e raspadas! ;-)

Se  Vossa  Alteza se interessar, pode conferir o que estou a dizer, em
sítios como o Morango, Playboy e The Girl.

Como El Rei já deve ter percebido, está muito difícil me comunicar por
aqui, ora pois. Devia ter acabado meu cursinho de inglês...

A  terra,  em  si, é de imenso potencial. Muito grande e graciosa, ela
tem  seis  milhões  de usuários conectados à Internet, mas esse número
deve chegar a dez ou quinze milhões em somente três anos! Oras, isso é
mais  do  que todos nós da terrinha juntos, oh pá! Querendo aproveitar
esse país, tudo pode dar certo. Se investirmos, poderemos ter um lucro
bestial!

Não  dei  ainda  conta  aqui  a  Vossa Alteza de que dos 77 milhões de
dólares  movimentados  em  e-commerce  este  ano na América Latina, 67
milhões  foram  só no Brasil!!!! :-O E isso porque ainda nem colocamos
um  sítio  para  vender  bolinhos de bacalhau, ora pois! Quem sabe até
podíamos vender bolinhos no sítio do Vasco?!.

Aqui,  até cachorro faz compra pela Internet; cachorro rico (bota rico
nisso!),  é  verdade.  Por  falar  nisso, aqui só os 3% mais ricos têm
acesso à rede! Tanta pobreza em um país tão gracioso... :-(

É  também  facto  que é cada vez maior o número de provedores por aqui
que  não  cobram  nada  dos  usuários,  que só têm que pagar os pulsos
telefônicos.  Os  brasileiros  têm portais com sítios sobre culinária,
mulheres, esportes, humor... Já tem até sítio GLS! Coisa de paneleiro!

Desculpe  lá, mas eu não posso deixar de sugerir que El Rei invista no
ramo  da  banda  larga (broadband, para os nativos), que está chegando
agora  no  país.  O  povo  daqui espera para 2003 mais de 3 milhões de
assinantes  neste tipo de conexão! Poderemos, então, ver pela Internet
quem matou Odete Roitman, no Globo.com!

Vou  mandar no attachment uma foto do Maracanã, do desfile de carnaval
e  de uma bunda, que nós não temos tão redondas aí em nossa sociedade.
Tudo  em  JPG,  pode ficar sossegado. Vou anexar também, em arquivo de
texto,  a  letra  de  uma  música que toca em todo lugar aqui em Porto
Seguro,  mas  que  eu não entendi muito bem: fala de pegar em cima, de
pegar em baixo, de garrafa...tudo muito estranho!!!

E,  desta  maneira,  dou  aqui à Vossa Alteza conta do que nesta Vossa
terra  vi. Não pretendo voltar a Portugal, pois não posso abrir mão da
banda larga e de vergonhas tão formosas.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.
[]s para todos aí na terrinha...
Pero Vaz de Caminha
1º dia do mês de maio do ano de 2000.

Por Andiara Petterle e Guilherme Simões Reis

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Há mais coisas entre o pobre e o rico do que supõe o seu vã capitalismo


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