Rodrigo Freire <freires...@gmail.com> escreveu:

Não. Não há um predicado para "número natural" que ocorre nos
axiomas da aritmética [...]

????

Então eu não sei o que você entende por axiomas de Peano.  No meu
livro, o primeiro axioma já reza:

1. O zero é um número natural.

:-)


[...]

Alem disso, apelar para uma "noção de número natural" que aritmética
pretende capturar já é introduzir um elemento semântico que vai além
da sintaxe [...]

Eu concordo com isso (talvez trocando "introduzir" por "reconhecer" ou
"aceitar").

[...] justamente para avaliar a "limitação do formalismo".

Mas *não* concordo com isso, ao menos da forma como está expresso.

O fato de que reconhecemos noções pré-teóricas (supostamente de
caráter semântico, embora não exatamente num sentido técnico do termo
"semântico", e.g. Teoria dos Modelos) que nos guiam na formulação de
sistemas formais não implica, *por si só*, limitações inerentes do
formalismo.

Não há diferença puramente formal entre o caso aritmético e o caso
da teoria de grupos, o que trivializaria sim a relevância
fundacional do teorema na ausência de algum elemento semântico (pois
o caso da incompletude dos grupos é irrelevante).

Bem, o teorema, conforme demonstrado em 1931, é puramente sintático e
responde a uma importante questão de *decidibilidade formal* que havia
sido formulada e estudada no contexto da Escola Hilbertiana desde o
início do século passado.  Portanto, acho que podemos concordar que o
teorema, mesmo na sua formulação original sintática, *não* é trivial.

Quanto à uma suposta "relevância fundacional" que só poderia ser
reconhecida numa interpretação semântica do teorema, eu não saberia
dizer.  Como observei anteriormente, as interpretações semânticas do
teorema, assim como tentativas de formular e demonstrar o teorema em
termos semânticos não fazem o menor sentido para mim.  Claro, esta
observação pode ser tomada como nada além de evidência da minha
própria ignorância e/ou incapacidade.  Para mim, contudo, ela
constitui evidência de que a interpretação semântica do teorema,
juntamente com seus usos e abusos em alegações sobre os "limites da
matemática" (ou formalismo) e "existência de sentenças verdadeiras
indemonstráveis", não passam de histórias pra boi dormir.  Porém, eu
continuo sinceramente buscando evidências contrárias, e, em vista das
informações do JYB, estou curioso para saber o que Kripke tem a dizer
sobre o assunto.  Até agora, contudo, apresentações "semânticas" do
teorema de Gödel tem me decepcionado, inclusive aquelas presentes no
excelente livro de Smullyan sobre o assunto.


--
Hermógenes Oliveira

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