Diogo Dias <diogo.bispo.d...@gmail.com> escreveu:

> Quando disse que Dummett não apresenta uma definição precisa de prova
> canônica, estava pensando nas seguintes citações:
>
> "What exaclty the notion of a canonical proof amounts to is obscure"
> (The Philosophical Basis of Intuitionistic Logic, p. 241), e "no one
> can at present give a detailed account of canonical proofs even of
> statements of first order arithmetic." (Elements of Intuitionism,
> p. 400)

Ao que me parece, Dummett tinha em mente nessas citações um contexto
mais amplo do que o da lógica pura: o contexto da aritmética ou mesmo da
matemática em geral (análise e etc.).  Isso está inclusive explícito no
caso da segunda citação.

Enquanto a tese da canonicidade parece bastante natural e plausível no
âmbito da lógica pura, a coisa complica quando passamos para a
aritimética de primeira ordem ou teorias matemáticas mais complexas.
Problemas similares aparecem quando tentamos aplicar a tese da
canonicidade à teorias empíricas.  O próprio Dummett chega a discutir
vários problemas com a tese da canonicidade (ali tratada como "hipótese
fundamental") em contextos extra-lógicos, tanto empíricos quanto
matemáticos, no capítulo 12 do "The Logical Basis of Metaphysics".

> Obrigado pela indicação do Logical Basis of Metaphysics. Acabei de ler
> os capítulos que você mencionou e, de fato, ali ele apresenta uma
> definição precisa dessa noção. Li, também, o texto Meaning approached
> via proofs, do Prawitz, em que ele apresenta outro possível tratamento
> de prova canônica, e compara com o do Dummett.
>
> Meu interesse no tema é o seguinte: Eu estou atualmente estudando
> pluralismo lógico, e estou investigando se alguns argumentos que, a
> princípio, foram propostos como uma defesa de um tipo de monismo
> lógico, podem ser interpretados como dando margem à legitimidade de
> lógicas distintas. No caso do Dummett, me parece que, variando o
> tratamento da noção de prova canônica, mas respeitando as restrições
> gerais da sua proposta (normalização, harmonia, molecularidade da
> linguagem etc), é possível gerar lógicas distintas.
>
> Você poderia me indicar alguns artigos desses autores que você
> mencionou que fazem isso? Em particular, fiquei interessado na
> possibilidade de obter uma lógica relevante mantendo o framework do
> Dummett.

Quanto à semântica Dummettiana para lógica relevante e outras lógicas
subestruturais, me referia a um trabalho preliminar meu e de dois
co-autores, Mattia Petrolo e Eugenio Orlandelli.  Nosso impulso é, em
linhas gerais, exatamente a que você descreveu acima: trazer uma
perspectiva pluralista para o monismo característico do inferencialismo
semântico da tradição Prawitz-Dummett.  Nós apresentamos nosso trabalho
em alguns congressos, mas ainda não temos nada publicado.  Infelizmente,
não conheço nenhuma pesquisa nessa linha além da nossa, portanto não
tenho muito o que indicar.

No que concerne o nosso trabalho, a ideia é bastante simples.  Grosso
modo, basta observar que a noção de argumento canônico de Dummett
trabalha com argumentos hipotéticos (com hipóteses abertas), em vez de
provas fechadas.  Uma vez que as hipóteses são incorporadas de modo
essencial na abordagem, podemos refinar o tratamento das hipóteses de
modo a obter lógicas subestruturais.

Por exemplo, nas defininições baseadas nas regras de eliminação,
argumentos válidos são predicados, grosso modo, na possibilidade de
transformar certos argumentos canônicos em outros argumentos canônicos
que dependem, *no máximo*, das mesmas hipóteses.  Se, em vez disso,
exigirmos que os argumentos canônicos resultantes dependam *exatamente
do mesmo conjunto de hipóteses*, temos uma lógica relevante (sem a lei
de distribuição) similar àquela de Prawitz (1965, Cap. VII).  Se, além
disso, coletamos as hipóteses em multiconjuntos, em vez de conjuntos,
temos um fragmento da lógica linear intuicionista (sem exponenciais).  E
por aí vai.

-- 
Hermógenes Oliveira

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