Walter, especificamente à sua pergunta, conheço vários colegas q têm duas graduações, na filosofia ou qq outra área. Isso sem falar na pós-graduação.
Abraços, cass. Cassiano Terra Rodrigues Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206 Campus do DCTA São José dos Campos São Paulo, Brasil CEP: 12228-463 Tel. (+55) 12 3305 8438 -- lealdade, humildade, procedimento On Wed, Dec 14, 2022 at 5:24 PM Walter Carnielli <walte...@unicamp.br> wrote: > Oi Cassiano, > > Você escreveu umas 60 ou 70 linhas como advogado do diabo, só que o diabo > escorrega no seguinte: > > alguém consegue ter bacharelado em matemática e licenciatura em filosofia, > ou vice-versa? > > Você conhece alguém nessa situação fora dos Estados Unidos, onde o(a) > cara faz o major e o minor? > > Aqui não tem isso , não existe, não conheço ninguém que tenha essa > capacidade de fazer bacharelado em alguma coisa e licenciatura em outra em > áreas tão diferentes. > > > De mais a mais, quando essa "reserva de mercado" fala em graduação, eles > estão interessados só em bacharelado. > Licenciatura para eles é lixo... > > Abs > > W. > > Em qua., 14 de dez. de 2022 14:05, Cassiano Terra Rodrigues < > cassiano.te...@gmail.com> escreveu: > >> Camaradas, bons dias. >> Como se trata de dar opinião, vou dar a minha, já q sou graduado e pós >> graduado em filosofia, pela UNICAMP, e tive uma formação pífia em lógica, >> pois na minha graduação havia 1 único semestre reservado para a disciplina >> e muito desprezado tanto pelo corpo docente quanto pelo discente. Estou >> falando da década de 1990, qdo a graduação em filosofia na UNICAMP era >> recém nascida. Hoje, creio eu, a situação é outra, tanto por parte da carga >> horária quanto por parte do interesse, e até onde sei muita coisa mudou, >> não apenas na UNICAMP. da qual podem falar com propriedade quem está lá. >> No entanto, para fazer o advogado do diabo e tentar apresentar um >> contexto mais amplo, não posso deixar de lembrar q "reservas de mercado" >> não surgem do nada e não sobrevivem pairando no céu. Relativamente ao >> concurso da UnB, o edital diz "graduação em filosofia", o que me parece >> incluir licenciatura e bacharelado, não? Posso estar enganado, não li o >> edital todo, mas se for realmente isso, a pessoa pode ter bacharelado em >> matemática, engenharia ou direito e licenciatura em filosofia (ou >> vice-versa) e estaria apta a prestar o concurso. Se for isso mesmo, não >> vejo tanto problema na exigência; é restritivo, mas nem tanto. Digo isso pq >> acho q cabe aqui lembrar q a carreira docente nas universidades brasileiras >> inclui a docência, apesar de muita gente não gostar disso. E a realidade no >> Brasil é q há mais cursos de filosofia com professores q são formados em >> teologia ou direito do q em filosofia (a CAPES, até bem pouco tempo, >> reunia as áreas de Teologia e Filosofia, e a separação não mudou a >> realidade). Isso incapacita os professores a priori? Não creio q seja o >> caso. Mas é um fato a se pensar q nem Aristóteles, nem Galileo enfrentaram >> o contexto da profissionalização q hoje é imprescindível. Diploma não é >> garantia de conhecimento, mas se prescindirmos dos diplomas, então q seja >> abolida também a estrutura disciplinar, departamental e burocrática q >> sustenta a universidade como instituição de produção capitalista de >> conhecimento (lembremos q a "modernização" departamental foi uma imposição >> do regime militar, severamente criticada à época; hj, é praticamente um >> dado da natureza, tamanha a falta de questionamento). Não me parece q temos >> o q por no lugar em nenhum país do mundo e isso nada tem q ver com recusar >> a interdisciplinaridade; inclusive, eu diria q no atual estágio de >> capitalização das universidades no mundo, a interdisciplinaridade é um >> fator desejado para a reprodução do capital. Eu mesmo faço um elogio da >> interdisciplinaridade e sou a favor de concursos abertos à diferentes >> áreas, mas é preciso defender a especificidade da formação ao mesmo tempo, >> não apenas para a pesquisa, mas sobretudo para a docência, pois a >> interdisciplinaridade no conhecimento vem do aprofundamento específico - é >> por aprofundar o conhecimento na sua área q alguém busca o de outras, >> deixem-me dizer assim - é o próprio desenvolvimento das questões q leva à >> necessidade de recorrer a outros saberes, pois conhecer, pesquisar, >> filosofar ou fazer ciência são atividades essencialmente comunicativas. No >> contexto de fragmentação das áreas de conhecimento, a filosofia, coitada, >> parece q perdeu tanto terreno q até hoje sofre a perda da identidade, mas >> tb sofre de falta de respeito por parte de outras áreas, q são >> esquizofrênicas qdo se trata de lidar com a filosofia. Se é possível >> filosofar em alemão, tupi ou mesmo português, e poetas e até donos de >> padaria filosofam, ao mesmo tempo filosofia não é qualquer coisa q basta >> querer fazer para conseguir. A esquizofrenia está aí: ninguém sabe o q é >> filosofia, mas todo mundo quer filosofar e acha q consegue. Longe de mim >> dizer quem pode ou não fazer qq coisa, mas entre a intenção e o gesto vai >> uma distância e não me parece q seja possível muito menos desejável >> escamotear q para não ficarmos presos ao senso comum é fundamental a >> sistematização formal do conhecimento (e isso é um direito q as escolas >> públicas devem garantir aos estudantes, aliás). Ao mesmo tempo, na minha >> avaliação, o insulamento da área de filosofia no Brasil levou a tal >> ignorância e descolamento da realidade q resultaram em elitismos >> vergonhosos; mas mesmo internamente à filosofia o insulamento é terrível, >> muitos sequer reconhecem a importância de estudar com um mínimo de >> seriedade algo q não está na sua prateleira elegida (não é de escolhas >> pessoais q falo, afinal, cada um escolhe a sua área de dedicação por razões >> psicológicas, qdo a situação o permite). Felizmente, penso, isso está >> mudando, ainda que talvez de modo muito indutivo. O diploma garante alguma >> coisa, nesse sentido? Acho q não, ou muito pouco. Mas o diploma, não como >> documento, mas como resultado de um percurso, é prescindível? Não creio q o >> seja e acho q poderia ser melhor. >> Perdoem-me o relato pessoal, mas não é por desabafo, é para levar ao >> ponto q o faço. Na minha graduação, tive péssimos professores formados em >> qualquer área, simplesmente pq, apesar de contratados e pagos como >> professores, detestavam lecionar. Eu tb não gostava tanto assim de ir às >> aulas, então, não faço condenações pessoais. E gostar de lecionar, é claro, >> tampouco garante a qualidade da aula. O ponto é o sentido da formação e o >> compromisso com a formação, q a meu ver deve necessariamente ir além do >> carreirismo pessoal. Muitos professores ainda hoje não lecionam um único >> curso sequer em vários anos ou, se conseguem, lecionam apenas na >> pós-graduação cursos q interessam aos seus orientandos (a UNICAMP era uma >> bolha elitista, naquela época; basta citar q havia pouquíssimos cursos >> noturnos e muitos em período integral). Já ouvi de mais de um colega q dar >> aulas é como um pedágio para fazer pesquisa. Então, pra q serve a >> indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão? Nem vou falar da >> função social da extensão, ultimamente muito debatida. Mas a continuar essa >> mentalidade, tanto faz o diploma, pois é muito fácil lecionar a bel-prazer. >> Falta de compromisso pedagógico e liberdade docente são coisas bem >> diferentes, e, falando especificamente agora, planejar e executar um curso >> de lógica que dialogue com a formação em filosofia, da perspectiva da >> lógica contemporânea, não é fácil e exige muito mais q conhecimento da >> disciplina, exige tanto formação em lógica e filosofia quanto formação >> pedagógica. Nesse sentido, é mesmo estranho q nesse edital a filosofia >> esteja ausente. Mas o q me parece ruim mesmo é a falta de exigência >> pedagógica, o q fica a critério da banca, no fim das contas. Mas será q o >> bacharelado basta e isso pode ser relegado ao juízo da banca? Faz sentido, >> pq, afinal, o último projeto nacional de formação de professores foi de >> fato o Normal (o Magistério foi um remanejamento para baixo do Normal) e as >> licenciaturas não dão conta dessa tarefa. >> Eu entendo q a finalidade da pesquisa é a formação do estudante, pois sem >> isso a própria pesquisa não continua, então acho muito complicado q para >> concursos de instituições regidas pela indissociabilidade citada baste o >> diploma de bacharel e a prova didática seja avaliada por pessoas cuja única >> formação docente é, na maioria das vezes, a própria experiência ou quase >> isso. Não vejo muito outro jeito, pois de temos de partir do real, mas sem >> imaginar um futuro diferente fica difícil mudar. >> >> Saudações, >> cass. >> On Wednesday, December 14, 2022 at 11:17:16 AM UTC-3 Joao Marcos wrote: >> >>> > Me parece que a questão é a completa ausência de temas relacionados a >>> filosofia da lógica em um concurso para um departamento de filosofia. >>> >>> Não sei se dá para dizer que esta é "a questão", nesta thread, mas >>> certamente é uma _outra questão_ importante, além daquela que foi >>> levantada por João Ferrari. >>> >>> Vários anos atrás rolaram algumas conversas aqui interessantes sobre >>> que temas deveriam fazer parte de um concurso como este. Uma thread >>> nesta direção, do longínquo ano de 2008, foi esta, na qual >>> participaram em particular os saudosos amigos Andrea Loparic e Carlos >>> Gonzalez: >>> >>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/aBuc6Lyg4R0/m/y3OqInfGt6IJ >>> >>> Teria sido interessante acompanhar a evolução do tema ao longo dos >>> anos, com a coleta evidencial de programas de concursos que já >>> ocorreram, no país, para a área de Lógica na Filosofia. (Fiz isso >>> durante vários anos, e divulguei sempre nesta lista. Depois me >>> cansei, tendo notado haver pouco interesse na área de Filosofia para >>> dar continuidade a este diálogo.) >>> >>> > O candidato que domina os 10 temas do concurso não necessariamente >>> sabe sobre como fazer filosofia. Independente da graduação. >>> >>> E será que a _graduação_ específica em Filosofia, neste caso, >>> garantiria que o candidato aprovado "sabe sobre como fazer filosofia"? >>> (Esta questão particular está claramente relacionada à questão >>> original desta thread.) >>> >>> []s, JM >>> >> -- >> LOGICA-L >> Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de >> Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> >> --- >> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos >> Grupos do Google. >> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, >> envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. >> Para ver essa discussão na Web, acesse >> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/c758dca2-7d80-43d5-8b30-61753042351en%40dimap.ufrn.br >> <https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/c758dca2-7d80-43d5-8b30-61753042351en%40dimap.ufrn.br?utm_medium=email&utm_source=footer> >> . >> > -- LOGICA-L Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CALYh6%2Bu9Hw9pn2%3D9aawj99nLzzDLGf9OWbKODWrvEeizH5tzsg%40mail.gmail.com.