Concordo plenamente com o professor Stern.
Em qua., 14 de dez. de 2022 18:31, Julio Stern <jmst...@hotmail.com> escreveu: > Caros: > Para mim, Jardim de infancia, Primario, Ginasio, Colegio e Graduacao, > pertencem a etapas da (pre-) adolescencia, e nao ha a menor justificativa > em exigir que, para qq funcao academica, um candidato tenha > colegio tecnico ou graduacao disto ou daquilo --- eh ridiculo. > Quanto a pos-graduacao, pode-se obter excelente formacao em > Filosofia, e deptos de Filosofia, Matematica, Fisica, Computacao, > Antropologia, Historia, etc., etc., etc. > Esta balela de exigir diplominha disto ou daquilo tem que acabar. > O que interessa eh producao academica, ponto. > Tudo de bom, ---Julio Stern > > ------------------------------ > *From:* logica-l@dimap.ufrn.br <logica-l@dimap.ufrn.br> on behalf of > Daniel Durante <durant...@gmail.com> > *Sent:* Wednesday, December 14, 2022 7:42 PM > *To:* Cassiano Terra Rodrigues <cassiano.te...@gmail.com> > *Cc:* Lista Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br>; Joao Marcos < > botoc...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaovito...@gmail.com>; João > Daniel Dantas <dantas.joaodan...@gmail.com> > *Subject:* Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica > > Oi Cassiano, João Daniel e Colegas, > > Concordo com tudo o que você disse, Cassiano, só que eu acho que alguém > que tem doutorado em filosofia, escolheu dedicar-se à filosofia, e > demonstrou alguma competência, já que obteve o título. Qual a razão, então, > de privar essa pessoa da possibilidade de dedicar-se à área que escolheu? > > Veja, não podendo fazer inscrição, a pessoa nem consegue a oportunidade de > demonstrar sua capacidade. > > Será que é medo de que quem não fez graduação em filosofia não consiga dar > aula de graduação em filosofia? Bem, se o medo é esse, a exigência deveria > ser licenciatura em qualquer área, e não graduação em filosofia. O curso de > bacharelado em filosofia, por exemplo, não cobra essa habilidade de seus > alunos. > > Isso sem falar que uma das etapas de todos os concursos é dar uma aula em > nível de graduação. Quem não sabe, não passa. > > Já se o medo é, conforme sugeriu João Daniel, que o candidato com outra > graduação não saiba suficientemente filosofia, já que os pontos do concurso > são muito especializados em lógica matemática, e o professor vai trabalhar > em um departamento de filosofia, então, se o medo é esse, que se mude o > programa do concurso e inclua pontos “filosóficos". > > Aquilo que se espera de um candidato deveria estar expresso nos pontos do > concurso e não em uma exigência específica de graduação. Não consigo ver > nenhuma preocupação legítima que possa ser motivação para essa exigência de > graduação na área que não seja melhor atendida mediante uma elaboração > criteriosa do programa do concurso. > > Saudações, > Daniel. > ----- > Departamento de Filosofia - (UFRN) > http://danieldurante.weebly.com > > On 14 Dec 2022, at 14:05, Cassiano Terra Rodrigues < > cassiano.te...@gmail.com> wrote: > > Camaradas, bons dias. > Como se trata de dar opinião, vou dar a minha, já q sou graduado e pós > graduado em filosofia, pela UNICAMP, e tive uma formação pífia em lógica, > pois na minha graduação havia 1 único semestre reservado para a disciplina > e muito desprezado tanto pelo corpo docente quanto pelo discente. Estou > falando da década de 1990, qdo a graduação em filosofia na UNICAMP era > recém nascida. Hoje, creio eu, a situação é outra, tanto por parte da carga > horária quanto por parte do interesse, e até onde sei muita coisa mudou, > não apenas na UNICAMP. da qual podem falar com propriedade quem está lá. > No entanto, para fazer o advogado do diabo e tentar apresentar um contexto > mais amplo, não posso deixar de lembrar q "reservas de mercado" não surgem > do nada e não sobrevivem pairando no céu. Relativamente ao concurso da UnB, > o edital diz "graduação em filosofia", o que me parece incluir licenciatura > e bacharelado, não? Posso estar enganado, não li o edital todo, mas se for > realmente isso, a pessoa pode ter bacharelado em matemática, engenharia ou > direito e licenciatura em filosofia (ou vice-versa) e estaria apta a > prestar o concurso. Se for isso mesmo, não vejo tanto problema na > exigência; é restritivo, mas nem tanto. Digo isso pq acho q cabe aqui > lembrar q a carreira docente nas universidades brasileiras inclui a > docência, apesar de muita gente não gostar disso. E a realidade no Brasil é > q há mais cursos de filosofia com professores q são formados em teologia ou > direito do q em filosofia (a CAPES, até bem pouco tempo, reunia as áreas > de Teologia e Filosofia, e a separação não mudou a realidade). Isso > incapacita os professores a priori? Não creio q seja o caso. Mas é um fato > a se pensar q nem Aristóteles, nem Galileo enfrentaram o contexto da > profissionalização q hoje é imprescindível. Diploma não é garantia de > conhecimento, mas se prescindirmos dos diplomas, então q seja abolida > também a estrutura disciplinar, departamental e burocrática q sustenta a > universidade como instituição de produção capitalista de conhecimento > (lembremos q a "modernização" departamental foi uma imposição do regime > militar, severamente criticada à época; hj, é praticamente um dado da > natureza, tamanha a falta de questionamento). Não me parece q temos o q por > no lugar em nenhum país do mundo e isso nada tem q ver com recusar a > interdisciplinaridade; inclusive, eu diria q no atual estágio de > capitalização das universidades no mundo, a interdisciplinaridade é um > fator desejado para a reprodução do capital. Eu mesmo faço um elogio da > interdisciplinaridade e sou a favor de concursos abertos à diferentes > áreas, mas é preciso defender a especificidade da formação ao mesmo tempo, > não apenas para a pesquisa, mas sobretudo para a docência, pois a > interdisciplinaridade no conhecimento vem do aprofundamento específico - é > por aprofundar o conhecimento na sua área q alguém busca o de outras, > deixem-me dizer assim - é o próprio desenvolvimento das questões q leva à > necessidade de recorrer a outros saberes, pois conhecer, pesquisar, > filosofar ou fazer ciência são atividades essencialmente comunicativas. No > contexto de fragmentação das áreas de conhecimento, a filosofia, coitada, > parece q perdeu tanto terreno q até hoje sofre a perda da identidade, mas > tb sofre de falta de respeito por parte de outras áreas, q são > esquizofrênicas qdo se trata de lidar com a filosofia. Se é possível > filosofar em alemão, tupi ou mesmo português, e poetas e até donos de > padaria filosofam, ao mesmo tempo filosofia não é qualquer coisa q basta > querer fazer para conseguir. A esquizofrenia está aí: ninguém sabe o q é > filosofia, mas todo mundo quer filosofar e acha q consegue. Longe de mim > dizer quem pode ou não fazer qq coisa, mas entre a intenção e o gesto vai > uma distância e não me parece q seja possível muito menos desejável > escamotear q para não ficarmos presos ao senso comum é fundamental a > sistematização formal do conhecimento (e isso é um direito q as escolas > públicas devem garantir aos estudantes, aliás). Ao mesmo tempo, na minha > avaliação, o insulamento da área de filosofia no Brasil levou a tal > ignorância e descolamento da realidade q resultaram em elitismos > vergonhosos; mas mesmo internamente à filosofia o insulamento é terrível, > muitos sequer reconhecem a importância de estudar com um mínimo de > seriedade algo q não está na sua prateleira elegida (não é de escolhas > pessoais q falo, afinal, cada um escolhe a sua área de dedicação por razões > psicológicas, qdo a situação o permite). Felizmente, penso, isso está > mudando, ainda que talvez de modo muito indutivo. O diploma garante alguma > coisa, nesse sentido? Acho q não, ou muito pouco. Mas o diploma, não como > documento, mas como resultado de um percurso, é prescindível? Não creio q o > seja e acho q poderia ser melhor. > Perdoem-me o relato pessoal, mas não é por desabafo, é para levar ao ponto > q o faço. Na minha graduação, tive péssimos professores formados em > qualquer área, simplesmente pq, apesar de contratados e pagos como > professores, detestavam lecionar. Eu tb não gostava tanto assim de ir às > aulas, então, não faço condenações pessoais. E gostar de lecionar, é claro, > tampouco garante a qualidade da aula. O ponto é o sentido da formação e o > compromisso com a formação, q a meu ver deve necessariamente ir além do > carreirismo pessoal. Muitos professores ainda hoje não lecionam um único > curso sequer em vários anos ou, se conseguem, lecionam apenas na > pós-graduação cursos q interessam aos seus orientandos (a UNICAMP era uma > bolha elitista, naquela época; basta citar q havia pouquíssimos cursos > noturnos e muitos em período integral). Já ouvi de mais de um colega q dar > aulas é como um pedágio para fazer pesquisa. Então, pra q serve a > indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão? Nem vou falar da > função social da extensão, ultimamente muito debatida. Mas a continuar essa > mentalidade, tanto faz o diploma, pois é muito fácil lecionar a bel-prazer. > Falta de compromisso pedagógico e liberdade docente são coisas bem > diferentes, e, falando especificamente agora, planejar e executar um curso > de lógica que dialogue com a formação em filosofia, da perspectiva da > lógica contemporânea, não é fácil e exige muito mais q conhecimento da > disciplina, exige tanto formação em lógica e filosofia quanto formação > pedagógica. Nesse sentido, é mesmo estranho q nesse edital a filosofia > esteja ausente. Mas o q me parece ruim mesmo é a falta de exigência > pedagógica, o q fica a critério da banca, no fim das contas. Mas será q o > bacharelado basta e isso pode ser relegado ao juízo da banca? Faz sentido, > pq, afinal, o último projeto nacional de formação de professores foi de > fato o Normal (o Magistério foi um remanejamento para baixo do Normal) e as > licenciaturas não dão conta dessa tarefa. > Eu entendo q a finalidade da pesquisa é a formação do estudante, pois sem > isso a própria pesquisa não continua, então acho muito complicado q para > concursos de instituições regidas pela indissociabilidade citada baste o > diploma de bacharel e a prova didática seja avaliada por pessoas cuja única > formação docente é, na maioria das vezes, a própria experiência ou quase > isso. Não vejo muito outro jeito, pois de temos de partir do real, mas sem > imaginar um futuro diferente fica difícil mudar. > > Saudações, > cass. > On Wednesday, December 14, 2022 at 11:17:16 AM UTC-3 Joao Marcos wrote: > > > Me parece que a questão é a completa ausência de temas relacionados a > filosofia da lógica em um concurso para um departamento de filosofia. > > Não sei se dá para dizer que esta é "a questão", nesta thread, mas > certamente é uma _outra questão_ importante, além daquela que foi > levantada por João Ferrari. > > Vários anos atrás rolaram algumas conversas aqui interessantes sobre > que temas deveriam fazer parte de um concurso como este. Uma thread > nesta direção, do longínquo ano de 2008, foi esta, na qual > participaram em particular os saudosos amigos Andrea Loparic e Carlos > Gonzalez: > > https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/aBuc6Lyg4R0/m/y3OqInfGt6IJ > > Teria sido interessante acompanhar a evolução do tema ao longo dos > anos, com a coleta evidencial de programas de concursos que já > ocorreram, no país, para a área de Lógica na Filosofia. (Fiz isso > durante vários anos, e divulguei sempre nesta lista. Depois me > cansei, tendo notado haver pouco interesse na área de Filosofia para > dar continuidade a este diálogo.) > > > O candidato que domina os 10 temas do concurso não necessariamente sabe > sobre como fazer filosofia. Independente da graduação. > > E será que a _graduação_ específica em Filosofia, neste caso, > garantiria que o candidato aprovado "sabe sobre como fazer filosofia"? > (Esta questão particular está claramente relacionada à questão > original desta thread.) > > []s, JM > > > -- > LOGICA-L > Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de > Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> > --- > Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos > Grupos do Google. > Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie > um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. > Para ver essa discussão na Web, acesse > https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/3E873E9D-35DF-487A-AA17-6CB42FC353E0%40gmail.com > <https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/3E873E9D-35DF-487A-AA17-6CB42FC353E0%40gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer> > . > > -- > LOGICA-L > Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de > Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> > --- > Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos > Grupos do Google. > Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie > um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. > Para ver essa discussão na Web, acesse > https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CPYP284MB143156332549DF573A906F9FB6E09%40CPYP284MB1431.BRAP284.PROD.OUTLOOK.COM > <https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CPYP284MB143156332549DF573A906F9FB6E09%40CPYP284MB1431.BRAP284.PROD.OUTLOOK.COM?utm_medium=email&utm_source=footer> > . > -- LOGICA-L Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. 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