De: Celso Galli Coimbra 
 
10/18/2004 - Morte Suspeita - Editorial do Jornal do Brasil de 01.03.1999, Caderno Brasil, página 08.

MORTE SUSPEITA

"( ... ) Transplantes são técnicas sofisticadas de medicina de ponta, custam caro e um sistema de transplantes, a começar pela captação de órgãos, deve ser tecnicamente coerente de uma ponta a outra do processo, para evitar suspeitas de favorecimento, corrupção e quebra de ética médica.

Quantos hospitais brasileiros têm condições de medir o fluxo do sangue no cérebro de paciente em coma profundo?

É indispensável que, quando alguém passe a doador potencial, seja avaliado pelos métodos mais modernos de diagnóstico e, se não forem conclusivos, indicando lesão irreversível, deve-se tentar salvar esse paciente e não considerá-lo a priori, por falta de recursos, preguiça ou até ganância desenfreada, simples doador de órgãos.

Além da dúvida médica, cabe lembrar que 80% de todos os transplantes realizados no Brasil são de rim e que a maioria dos rins pára de funcionar por hipertensão e diabetes, cuja prevenção é fácil e custa relativamente pouco. O Governo sancionou lei tornando os brasileiros doadores automáticos, o que, num país de fortes desníveis sociais, despertou suspeitas não de todo infundadas.

Felizmente as autoridades voltaram atrás por pressão dos médicos e o consentimento da família do morto voltou a ser necessário.

O Ministério da Saúde gastou somas enormes em campanhas sobre transplantes, mas faltou atenção à prevenção do diabetes e da hipertensão, o que reduziria a fila de 25 mil brasileiros à espera de um órgão.

A angústia para salvar uma vida num sistema insatisfatório poderá originar uma situação inaceitável do ponto de vista da ética médica e até do Código Penal.

Estaríamos matando pacientes, em geral pobres, que poderiam ser salvos em nome da eficiência e da esperança dos transplantes."


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