On Jul 13, 2006, "Felipe Augusto van de Wiel (faw)" <[EMAIL PROTECTED]> wrote:
> Não Nanda, o Debian não coloca os usuários acima da liberdade, > acho que você conhece o [1]Contrato Social do Debian tão bem quanto eu, > o item um diz claramente que o Debian permanecerá 100% livre. Oba, decidiram acabar com o non-free, então? :-) > E o item quatro define usuários e software livre como nossas > prioridades. > 1. http://www.debian.org/social_contract.pt.html E no caso de conflito de interesses entre usuários e Software Livre, qual deles vence? Claramente Debian fez a opção por alegadamente privilegiar o usuário (embora eu tenha minhas dúvidas de que deixá-lo se acomodar com software proprietário seja um privilégio) em detrimento do Software Livre. O próprio contrato social do Debian citado acima contém uma mensagem perigosíssima para o Software Livre: Nós reconhecemos que alguns de nossos usuários precisam usar softwares que não atendem à Definição Debian de Software Livre. Isso valida a noção errada de que software proprietário é um mal necessário e aceitável. Se usuários do projeto Debian querem tomar esse tipo de decisão infeliz por si mesmos, paciência. Mas na medida em que o projeto Debian reconhece publicamente essa alegada necessidade, está dando força ao software proprietário e ajudando usuários a se acomodarem. Está usando uma métrica errada de sucesso, que coloca número de usuários seduzidos por uma alegada conveniência à frente da fidelidade à ética de respeito à liberdade de seus usuários. Se sobrassem recursos ao projeto Debian, talvez fosse justificável dispender parte deles em Software não Livre. Não creio que seja o caso. Melhor seria extinguir o non-free, ou ao menos retirar dele tudo que não seja Software Livre, de modo que o projeto Debian possa fazer jus à cláusula 1 de seu contrato social, e deixar que quem queira manter esses pacotes o faça por conta própria, sem interferir com o desenvolvimento do Debian propriamente dito, sem exigir que os desenvolvedores Debian sejam perturbados por necessidades de softwares proprietários. Um exemplo de como isso pode e, penso, deve ser feito, é o projeto Fedora, que tem como objetivo conter apenas Software Livre e/ou Open-Source (o ou é um problema, mas estamos trabalhando nisso), e portanto não admite a inclusão de pacotes cujas licenças conflitem com esses objetivos. Isso fez com que grupos de pessoas que faziam questão de alguns desses pacotes se unissem e criassem um repositório completamente independente (na verdade, mais de um) contendo os tais pacotes. Usuários ainda podem facilmente obter os pacotes, mas o projeto Fedora em si não suja seu nome nem dispende seus recursos com isso. > Não, a non-free não é parte do Debian como projeto. A non-free > não vai nos CDs oficiais e a non-free não é considerada para uma série > de outros itens relativos ao projeto. Isso é uma falácia (possivelmente não intencional), é uma forma de duplipensar (double-thinking Orwelliano), que eu mesmo faço quando racionalizo que o CD de extras do Red Hat Enterprise Linux, contendo JVM da IBM, Adobe Acrobat Reader, Macromedia Flash player e alguns fontes proprietários, não fazem parte da distribuição propriamente dita. É verdade: para o grupo de engenharia do sistema operacional, o sistema é puro, e esses pacotes nem são instaláveis pelo instalador, precisam ser instalados separadamente. Mas para o grupo de marketing e vendas, fazem parte do sistema operacional, sim. Para a percepção pública, esses softwares proprietários fazem parte do sistema operacional. > Aqui entra uma parte importante > do Projeto Debian, nós reconhecemos que alguns de nossos usuários > *precisam* de software não livre, é a necessidade deles, Mas se vocês primassem pela liberdade, não tentariam resolver essa necessidade pra eles. Alguns usuários acham que precisam de Windows. Vocês vão distribuir Windows pra eles? > Há softwares como o qmail e pine que vão para a non-free por > diversas restrições Restrições incompatíveis com a definição de Software Livre, tais como não permitir a distribuição de modificações, o que viola a liberdade nº 3. > Além disso, nossos usuários precisam de documentação que não é livre > nos termos da DFSG e infelizmente estão na non-free, não vão nos CDs > oficiais, ao menos, estão integradas com a distribuição e podem > servir de referência se eles sentirem necessidade. Imagino que você esteja fazendo uma alusão ao debate envolvendo a GFDL e seções invariantes. Compreendo a postura do Debian e entendo que a FSF tenha planos de trabalhar para resolver isso após o término do trabalho na GPLv3, que é considerado mais urgente. Mesmo que o projeto Debian considere que documentação é software, ainda que tenha características fundamentalmente diferentes, não temos objeção alguma à manutenção de documentação que viole a DFSG mas ainda seja livre segundo a FSF em seu non-free. De fato, esse seria um uso bastante apropriado para o non-free, provavelmente o único uso legítimo que respeita as liberdades dos usuários de software. -- Alexandre Oliva http://www.lsd.ic.unicamp.br/~oliva/ Secretary for FSF Latin America http://www.fsfla.org/ Red Hat Compiler Engineer [EMAIL PROTECTED], gcc.gnu.org} Free Software Evangelist [EMAIL PROTECTED], gnu.org} _______________________________________________ PSL-Brasil mailing list PSL-Brasil@listas.softwarelivre.org http://listas.softwarelivre.org/mailman/listinfo/psl-brasil Regras da lista: http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/PSLBrasil/RegrasDaListaPSLBrasil