COMPUTADOR DE US$ 100 VAI REVOLUCIONAR EDUCAÇÃO
A distribuição dos computadores de US$ 100 pelo governo federal vai
promover uma revolução na educação, disse a pesquisadora do LSI
(Laboratório de sistemas integráveis da Escola Politécnica da USP),
Roseli de Deus, em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira,
dia 24 (clique aqui para ouvir). Roseli disse que essa máquina mais
flexível, mais leve, é ideal para o ambiente escolar.
O presidente Lula recebe nesta sexta-feira, em São Paulo, Nicholas
Negroponte, ex-diretor do Laboratório de Tecnologia do MIT. Negroponte é
o responsável pelo projeto do computador popular, de US$ 100, que passou
por análise dos técnicos do LSI, da USP.
Caberá Ministério da Educação adquirir um volume mínimo de unidades para
distribuir os computadores para as salas de aula, a partir de 2007. O
governo deve comprar 1 milhão de unidades, no início.
O computador utiliza sistemas abertos e livres, como o Linux, e vem com
a placa WiFi, que proporciona acesso sem fio à internet. Além disso,
ele tem um protocolo de rede que permite que as máquinas se comuniquem
entre elas, segundo Roseli. Isso permitirá atividades conjuntas na sala
de aula, mesmo que não haja antena que permite acesso à web.
Segundo Roseli, o computador promoverá o acesso a todos os conteúdos de
qualidade que você tem nas bibliotecas digitais do mundo inteiro, que
você possa desenvolver também atividades de autoria colaborativa na sala
de aula e, no futuro, se possível, também poder levar esses dispositivos
para casa, e incluir a família nesse processo.
Leia a íntegra da entrevista com Roseli de Deus:
Paulo Henrique Amorim: Que tal esse computador de US$ 100?
Roseli de Deus: É uma verdadeira revolução para área educacional, você
poder possibilitar que uma máquina mais voltada para o uso intenso do
ambiente escolar, que é uma máquina mais flexível, mais leve, e,
principalmente, de baixíssimo custo, vai provocar uma verdadeira
revolução na nossa educação. De a gente poder ter acesso a todos os
conteúdos de qualidade que você tem nas bibliotecas digitais do mundo
inteiro, que você possa desenvolver também atividades de autoria
colaborativa na sala de aula e, no futuro, se possível, também poder
levar esses dispositivos para casa, e incluir a família nesse processo
também, porque, uma vez que, sendo de baixo custo, o receio que a gente
pode ter de transitar com esses equipamentos fora da escola, com certeza
serão menores.
Paulo Henrique Amorim: O que vocês no laboratório, no LSI, fizeram? O
computador não veio pronto lá do Negroponte?
Roseli de Deus: A gente fez vários testes, não só o LSI mas outros dois
laboratórios que foram escolhidos pelo governo federal, que um é o
CenPRA (Centro de Pesquisas Renato Archer), de Campinas, e a Fundação
Certi, de Santa Catarina, fizeram vários testes de viabilidade técnica e
econômica enquanto ele não estava ainda pronto. A gente tinha a placa
mãe, fazendo testes em laboratório, acompanhamos o desenvolvimento do
software básico e agora sim, no dia de hoje, a primeira máquina
efetivamente integrada, funcional, com as características da máquina que
vai implementada agora no final vai ser entregue em mãos pelo presidente
pelo professor Negroponte.
Paulo Henrique Amorim: Ele trabalha com o Windows ou ele trabalha com o
Linux?
Roseli de Deus: Todo o conceito desse projeto é focado em tecnologias
abertas e tecnologias livres.
Paulo Henrique Amorim: Portanto, com o Linux.
Roseli de Deus: Isso não impede que no futuro alguém que queira
implantar algumas coisa, instalar alguma coisa, que seja proprietário,
que seja comercial, que não possa. Você tendo o hardware, depois você
pode configurar e instalar alguma coisa. Mas a idéia é que a
configuração básica tenha o hardware com o mais baixo custo possível,
com uma plataforma aberta, então, se no futuro, outras empresas quiserem
desenvolver sistemas semelhantes, não é uma coisa que está sendo
escondida, não é, é uma plataforma aberta, e o software é inspirado, seu
desenvolvimento, na questão de softwares livres mesmo, então, é Linux o
sistema operacional, e as aplicações também, que são abertas.
Paulo Henrique Amorim: Agora, deixa eu entender uma coisa: como é que
esse computador de US$ 100 sai da mão do presidente Lula e chega ao
estudante lá em Tremembé do Rocha, no interior de não sei onde?
Roseli de Deus: Essa é uma boa pergunta! Na proposta do professor
Nicholas (Negroponte), em diversos países do mundo, a proposta dele é
que os governos, por meios de seus ministérios da Educação, adquiram um
conjunto mínimo de unidades para disparar esse processo, para que a
equação técnico-econômica aconteça. Porque para você conseguir chegar a
essa ordem de grandeza de US$ 100 para as primeiras unidades, se você
não tiver um número mínimo, você não consegue atingir.
Paulo Henrique Amorim: Qual é esse número mínimo?
Roseli de Deus: É da ordem de 5 milhões de unidades, para você poder ter
essa escala para abaixar os preços.