Caro Jorge e demais amigos da IRRIGA-L. A reflexao feita é longa e válida, porém apenas de realista e até certo ponto cruel, com todo respeito, vejo nela um viés pessimista, incompatível com a importancia estratégica da agropecuária como um todo. Pois no diagnóstico feito poderia ser incluido também os Veterinários e Zootecnistas. Veja o caso da balança comercial este ano. Novamente que foi responsável pelo saldo positivo foi a agricultura.
Sua análise leva em conta apenas aspectos conjunturais e em momento algum considera o fator objetivos profissionais e escolhas adequadas durante a carreira, incluindo a formação universitária. Senão vejamos: vc considerada o especialista, este bem remunerado, uma espécie de "sortudo" e eu pergunto, como ele chegou a esta condição? Certamente não foi colocando uma peneira no fundo do quintal e falando "vem conhecimento, cai sorte, ...." que tudo o que ele sabe chegou assim de repente! Não! O cara construiu uma historia, que na maioria absoluta das vezes implicou em renúncias para que ele pudesse se dedicar a algo e se tornar um profissional reconhecido e portanto bem remunerado e a ele devemos bater palma. Nao descarto de maneira alguma os aspectos conjunturais, mas reconheço uma apatia muito grande por parte dos estudantes e profissionais no campo. Estes nao entendem a diferença entre gastar dinheiro e investimentos em si mesmo. Depois de formados, não é possível ser bem remunerado e chegar a posições de destaques sem antes passar pelos vários degraus da profissao. Da mesma maneira uma empresa quebrada ou com lucro curto, fica impossibilitada de proporcionar o salário dos "sonhos". Não há milagres, como já o saudoso Ministro Mário Henrique Simonsen ("Em economia, física e matemática não há milagres e a conta do carnaval tem que ser paga na quarta-feira de cinzas"). Volto a questão da carreira. Temos alunos de Mestrado que recebem do Governo na forma de Bolsas para investirem na carreira, ou seja investimento neles e tão somente neles. O que vemos? Muitos passam pelo Mestrado, Doutorado e toda a preocupação é tirar um conceito para não ser reprovado e fazer uma Dissertação que lhe valha o título. Pior, muitos entendem que a Bolsa é salário (face ao mercado, diga de passagem, o valor é bom, diria ótimo, para quem recebe para investir em si mesmo) e não investimento e apresentam comportamentos medíocres. Certamente estes vão alimentar a fila dos mal remunerados. Agora que dividi a culpa entre a situaçao da classe Agronômica com os elemntos que a compõem passo a fazer a apologia a nossa agricultura e a sua importância estratégica. Classe extramamente desunida e mal representada e talvez desinformada. Veja o exemplo dos EUA: os caras acertam em Doha que diminuiram os subsídios a agricultura e 15 dias depois o Congresso americano aprova subsidios de nada menos do que US$ 170 bilhões à agricultura. Porque fazem isso? Será que os agricultores americanos são bonitos, uns caras legais? Certamente não! Anexo estarei enviando um arquivo em PowerPoint que demosntra que a agricultura é a forma mais rápida e mais barata de gerar empregos e desenvolvimento, como estudos do próprio BNDES demonstram. A irrigação agrícola seria então peça-chave no encurtamento de distâncias entre os investimentos e o desenvolvimento sócio-econômico regional. É importante lembrar que definido o potencial genético de uma semente, somente dois insumos podem levar aquele plantio a máxima produção: água (irrigação) e fertilizantes. Sem desmerecer os demais insumos, mas estes representam a possibilidade de se manter a máxima produção, garantida pela disponibilidade equilibrada entre água e nutrientes. Não obstante a isso, a adoção da tecnologia da irrigação, implica em investimentos maiores no sistema produtivo, antes, dentro e depois da porteira, oxigenando toda a matriz insumo-produto (veja estudos do BNDES em Textos para Discussão 48 (Sheila Najberg e Solange Paiva Vieira) – Emprego e crescimento econômico: uma contradição? 1996), fundamental na análise do desenvolvimento sócio-econômico, ou seja, elemento essencial em trabalhos macroeconômicos que seriam norteadores de políticas públicas. Mas há também a questão dos famintos, como prover alimento à estes? Há décadas reconhecemos a teoria de Cochrane como atual e verdadeira, onde os custos dos insumos sobem mais do que os preços dos produtos agrícolas produzidos. Assim, só uma maneira do produtor agrícola se manter no mercado e é através de ganhos expressivos de produtividade, que curiosamente representa a diminuição do preço do produto a ser vendido, face a lei da oferta e procura. Assim, a tecnologia da irrigação representa ao mesmo tempo a esperança do produtor alcançar saltos expressivos de produtividades e aferir algum lucro nisso e também paradoxalmente, a possibilidade de oferta de alimentos a custos mais baixos. E certamente sem Engenheiros Agrônomos e Agrícolas a situação fica complicada, passando estes a serem peças fundamentais no processo. Apenas para complementar, este autor (Willard W. Cochrane) em seu livro de 1958 (republicado na íntegra em 1974 e 1993 - ) desenvolve a teoria do Treadmill, onde o agricultor está sempre voltando a estaca zero, como em uma esteira de exercício. Anda, anda e não sai do lugar. Sua teoria foi aprimorada em 1979 (republicada em 1993 – 2a. edição) no livro The development of American Agricultural a historical analysis. Vale a pena conhecer o trabalho que desejar aprofundar em temas macroeconômicos ligados a agricultura. Já falei da balança comercial, da geração de empregos no setor agrícola e também da tecnologia associada e obrigatória para se ter aumento de produtividade. Agora mais um motivo para se tratar a agricultura como estratégica do ponto de vista macroecônomico (só falta os governantes serem conscientizados disso e aí a importância de um grande número de bons profissionais), é a tese da MULTI-FUNCIONALIDADE DA AGRICULTURA. Por isso tudo ela é subsidiada nos EUA e Europa, principalmente (confira texto attachado). Observando o que tem acontecido aqui no mundo e face ao exposto, eu acredito no futuro da nossa Agricultura e cada vez mais considero a Engenharia Agronômica uma das mais ecléticas que existem e de grande importância social e por isso tudo, uma das mais bonitas. Amigos, tenham todos um belo final de semana! Fernando Braz Tangerino Hernandez Jorge Julio de Sousa wrote: > Prezado Fernando e colegas, > Pegando na solicitação de participação abaixo, me motivei a abordar temas > que penso devem ser arejados pois se convencionou que o papel dos Eng. > Agrônomos foi, é, e será o mesmo de hoje e de ontem num quadro de notória > insuficiência de alimentos em quantidade e em qualidade.... -- Fernando Braz Tangerino Hernandez Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP Chefe do DEFERS - Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos Area de Hidraulica e Irrigação (Hydraulics and Irrigation Division) Caixa Postal 34 (P.O. Box 34) 15.385-000 - ILHA SOLTEIRA - SP - BRASIL Phone / Fax: (0##18) 3742-3294 / 3743-1180 http://www.agr.feis.unesp.br/defers.html http://www.agr.feis.unesp.br/irrigacao.html http://www.agr.feis.unesp.br/fbth.htm ====================================================================================== Saiba o que já foi discutido na IRRIGA-L em: http://www.agr.feis.unesp.br/irriga-l.htm Para sair da lista IRRIGA-L, envie um e-mail para: [EMAIL PROTECTED] e no corpo da mensagem digite: unsubscribe irriga-l (seu endereco eletronico) Nao envie mensagens com este conteudo diretamente para a lista. ======================================================================================