Viva, Marcos: A parte central da discussão que deu origem a esta thread dizia respeito à necessidade de DIPLOMA EM X para poder SE INSCREVER em um CONCURSO PARA A ÁREA X. Eu tenho tentado defender, talvez desastradamente, que *não há* (ou *não deveria haver*) uma especificidade importante em tomar X=Filosofia ao invés de X=Matemática. Estou cansado de ver concursos em Matemática buscando EXCLUIR físicos e engenheiros. Sim, concordo com Daniel que o que estamos testemunhando aqui se trata de "política de exclusão".
De resto, considero válido, sim, discutir OUTROS argumentos importantes apresentados aqui, envolvendo a formação pedagógica, a escolha cuidadosa dos temas a serem cobrados no concurso, a escolha cuidadosa da banca e a implementação de políticas públicas afirmativas, dentre outros. Por fim, sobre Wittgenstein, parece-me justamente um bom exemplo de alguém que teria problemas para conseguir *se inscrever* nos concursos ora em tela. Abraços, Joao Marcos On Thu, Dec 15, 2022 at 8:12 AM Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com> wrote: > > > > On Thu, Dec 15, 2022 at 4:14 PM Joao Marcos <botoc...@gmail.com> wrote: > > Ola, JM! > >> Deixe-me ver se entendo: você está defendendo que a exigência do diploma de >> GRADUAÇÃO em Filosofia neste concurso específico (ou qualquer outro?) foi >> introduzida como uma questão de política pública? > > > nao, não defendi isto. eu estou tentando fazer sentido da exigencia. eu > lancei uma hipotese. > mas eu acho, sim, que um edital, especialmente em uma universidade publica, > nao é neutro politicamente, nao. Alias, acho que nao deveria ser neutro, nao. > >> >> Mais ainda, está defendendo que esta seja a única alternativa para a >> implementação desta medida de política pública particular? > > > a "única"?? eu sou wittgensteiniano, nunca falaria algo assim. ;-) > >> >> (Obviamente que podemos perguntar se ela é SUFICIENTE para assegurar os >> objetivos arrolados, certo?) > > > vc sabe melhor que eu, que não há nada óbvio em filosofia, né, João. Eu acho > esta sua alegacao de "obviedade" fruto de uma confusão conceitual e > metodológica. Basicamente, eu acredito, e nao estou sozinho nisto, que não há > suficiencia em se tratando de fazer previsoes sobre relações complexas e > dinamicas em dominios sociais, culturais ou biológicos. Nestes dominios, > fazer X vai ser suficiente para Y? Não se pode garantir. Exigir suficiencia > não é uma boa estratégia aqui. Por exemplo, a açao afirmativa X vai ser > suficiente para remediar a injustica Y? Nao se pode dizer. Mas por que exigir > suficiencia aqui? Várias outras medidas podem (e devem) ser implementadas > conjuntamente. > >> >> >> Abraços, JM > > > Abraço! > >> >> >> On Thu, Dec 15, 2022, 07:38 Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com> wrote: >>> >>> >>> >>> On Thu, Dec 15, 2022 at 3:55 PM Joao Marcos <botoc...@gmail.com> wrote: >>>> >>>> Hummm, esta sua contribuição me pareceu perigosamente próxima da falácia >>>> do espantalho, Marcos... >>> >>> >>> okay. por quê? >>> >>>> >>>> >>>> Você poderia desenvolver melhor o argumento específico que conectaria de >>>> forma necessária (ou mesmo suficiente) o *diploma de GRADUAÇÃO na área X* >>>> com a existência de *interesse ou competência em problemas da área X* por >>>> parte do candidato (eventualmente aprovado pela banca do concurso)? >>> >>> >>> JM, acho que estamos falando de política academica e não de metafísica. >>> >>> é irreal se exigir condições de necessidade e suficiência para tratar de >>> questões sociais complexas. Me parece claro que não há necessidade e nem >>> suficiência ao se tratar de políticas públicas. Eu acho que este tipo de >>> exigência abstrata e ideal paralisaria, por exemplo, a implementação de >>> ações afirmativas muito importantes. >>> >>>> >>>> []s, João Marcos >>> >>> >>> abraços, >>> Marcos >>> >>>> >>>> >>>> On Thu, Dec 15, 2022, 06:53 Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com> wrote: >>>>> >>>>> Car@s colegas, >>>>> >>>>> >>>>> aqui vão meus dois centavos de contribuição para esta discussão. >>>>> >>>>> >>>>> Às vezes eu vejo com perplexidade a hegemonia de uma visão liberal e >>>>> meritocrática da universidade e da pesquisa acadêmica nesta lista. >>>>> >>>>> >>>>> Me parece legítimo que um departamento de filosofia, e qualquer outro, >>>>> possa orientar o perfil desejado de um professor de uma universidade >>>>> pública com algumas exigências de formação, sim. Isto não é reserva de >>>>> mercado tanto quanto ações afirmativas para pretos não é racismo reverso. >>>>> >>>>> >>>>> A gente pode querer assegurar, sim, ter um lógico, ou matemático, com >>>>> interesse em filosofia num departamento de filosofia e tentar estimular, >>>>> sim, que um lógico ou matemático procure ter formação em filosofia tb, se >>>>> quiser trabalhar em um departamento de filosofia. >>>>> >>>>> >>>>> Um departamento nao pode intervir para prevenir distorções que podem ser >>>>> muito prejudiciais no medio e longo prazo? Como, por exemplo, ter um >>>>> docente num departamento de filosofia por 30 anos sem interesse ou >>>>> competência em problemas filosóficos? No modelo atual, isto é possível. >>>>> Alias, voce vê isto em alguns lugares: lógicos ou matemáticos trabalhando >>>>> em um departamento de filosofia com muito pouco ou nenhum interesse em >>>>> filosofia. >>>>> >>>>> >>>>> >>>>> Não há uma resposta fácil para isto no atual modelo de gestão da >>>>> academia. Mas a lógica do “que ganhe o melhor e pronto” nao previne isto. >>>>> Ou “são as publicações que contam”. Isto talvez funcione para alguns >>>>> países de capitalismo central. Mas para um país periférico como o nosso, >>>>> cheio de distorções, assimetrias e desequilíbrios de poder e >>>>> oportunidades, eu não sei. A candidata selecionada simplesmente por >>>>> produtividade vai ter interesse em conseguir bolsas para os alunos e >>>>> alunas de filosofia? Vai procurar recursos para a pos de filosofia? Vai >>>>> se preocupar em ter uma rede de pesquisa e diálogo com a área e com >>>>> outros departamentos de filosofia? >>>>> >>>>> >>>>> Eu acho que "ganha quem tem o melhor currículo” ou “quem publica mais” >>>>> reforça uma visão individualista e meritocrática que sufoca e sufocou as >>>>> universidades nos últimos anos, está adoecendo muita gente e faz a gente >>>>> ficar extremamente vulnerável, por exemplo, a ataques de um governo de >>>>> extrema direita. Além disso, esta visão é muito nociva para discentes >>>>> periféricos que entram na universidade com muitas deficiências. “Que se >>>>> contrate quem publica mais” vai perpetuar as distorções com as quais nós, >>>>> infelizmente, já nos acostumamos. >>>>> >>>>> >>>>> Acho importante tentar assegurar que um professor ou professora de um >>>>> departamento de filosofia possa orientar alunos e alunas com interesse em >>>>> filosofia, possa fomentar e eventualmente defender, sim, a área de >>>>> filosofia em um ambiente institucional cada vez mais tecnocrata e hostil >>>>> às áreas humanas. Vale sempre lembrar que no Brasil, um professor, num >>>>> departamento de filosofia, além de publicar, também deveria ensinar na >>>>> filosofia, ter atividade de extensão e projetos na filosofia e ser >>>>> eventualmente coordenador da graduação e pos de filosofia. >>>>> >>>>> >>>>> Vale tb pontuar que eu não concordo com a maneira como concursos públicos >>>>> para professores do nível superior são feitas no Brasil. Eu acho >>>>> extremamente constrangedor, por exemplo, pela incrível artificialidade, >>>>> que a gente tenha que fazer uma prova escrita sem consulta por quatro >>>>> horas de um tema sorteado. Em oito anos de docência na universidade eu >>>>> nunca tive que fazer algo sequer parecido com isto. >>>>> >>>>> >>>>> Mas apesar disso, eu realmente acredito que um departamento de filosofia, >>>>> e qualquer outro, deve poder decidir, sim, exigências mínimas de formação >>>>> para tentar prevenir estrategicamente distorções possíveis. >>>>> >>>>> >>>>> Abraços, >>>>> Marcos >>>>> >>>>> >>>>> On Thu, Dec 15, 2022 at 2:44 PM Julio Stern <jmst...@hotmail.com> wrote: >>>>>> >>>>>> Caro Cassiano: >>>>>> Bom dia. >>>>>> Creio que eh Muito importante em um concurso aferir a capacidade do >>>>>> candidato para atuar em funcoes que sejam importantes para a instituicao >>>>>> que o esta potencialmente contratando. >>>>>> Em uma universidade, isto inclui, necessariamente, >>> (P) Pesquisa + >>>>>> (E) Ensino + (X) Extensao. >>>>>> >>>>>> Como voce me perguntou especificamente sobre o Ensino, faco a respeito >>>>>> alguns comentarios adicionais. >>>>>> Creio que o professor que ministra uma disciplina de graduacao ou pos em >>>>>> uma universidade deva ser capaz orientar seus alunos na area. >>>>>> De preferencia, ser capaz de orientar uma tese no assunto ou, ao menos >>>>>> de fornecer boas ideias sobre futuros assuntos de pesquisa, sobre >>>>>> possiveis orientadores de tese, etc. >>>>>> Ou seja, ter feito ele mesmo uma disciplina de graduacao no assunto, no >>>>>> Jardim de Infancia, no Colegio Tecnico, ou na Graduacao em Filosofia, >>>>>> pouco ou nada contribui para capacita-lo a ensinar Filosofia em uma >>>>>> universidade. >>>>>> >>>>>> Esclareco ainda que estes comentarios nada tem de especial em relacao a >>>>>> area de Filosofia. >>>>>> Sou Professor Titular do IME-USP , o Instituto de Matematica e >>>>>> Estatistica da USP. >>>>>> Tenho Graduacao em Fisica, um Mestrado em Fisica Matematica, outro >>>>>> Mestrado em Engenharia Industrial, um Ph.D. em Pesquisa Operacional, e >>>>>> uma Livre Docencia em Computacao. ... >>>>>> Voce acha que Pode? Poderia? Deveria ser possivel uma carreira >>>>>> assim? >>>>>> Na minha carreira, isto nunca foi impedimento. >>>>>> >>>>>> As instituicoes onde trabalhei queriam saber da minha capacidade de: >>>>>> (P) Produzir Pesquisa de boa qualidade em Algumas de suas areas de >>>>>> interesse (ressalto que Algumas, Nao Todas, pois isto seria impossivel >>>>>> para a maioria dos mortais); >>>>>> (E) Ensinar com propriedade -- enquanto pesquisador nestas areas -- >>>>>> disciplinas de interesse na instituicao; >>>>>> (X) Fazer ou participar -- enquanto pesquisador nestas areas -- de >>>>>> Assessorias, Consultorias, ou outras formas relevantes de Extensao. >>>>>> Sem falsa modestia, acho que nao as decepcionei, mesmo sem ter diploma >>>>>> ``bem casado'' (que eh o nome de um docinho muito acucarado e >>>>>> enjoativo). >>>>>> >>>>>> Tudo de bom, ---Julio >>>>>> >>>>>> ________________________________ >>>>>> From: Cassiano Terra Rodrigues <cassiano.te...@gmail.com> >>>>>> Sent: Wednesday, December 14, 2022 10:38 PM >>>>>> To: Aldo Figallo-Orellano <aldofiga...@gmail.com> >>>>>> Cc: Julio Stern <jmst...@hotmail.com>; Daniel Durante >>>>>> <durant...@gmail.com>; Lista Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br>; Joao >>>>>> Marcos <botoc...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaovito...@gmail.com>; >>>>>> João Daniel Dantas <dantas.joaodan...@gmail.com> >>>>>> Subject: Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica >>>>>> >>>>>> Julio, nessa produção, vc inclui tb docência para o jardim da infância e >>>>>> adolescência ou isso é desprezível? >>>>>> Se for desprezível, discordo veementemente. Acho q deveria contar e >>>>>> muito nos concursos, ao contrário do habitual. >>>>>> Abraços, >>>>>> cass. >>>>>> >>>>>> Em qua., 14 de dez. de 2022 18:37, Aldo Figallo-Orellano >>>>>> <aldofiga...@gmail.com> escreveu: >>>>>> >>>>>> Concordo plenamente com o professor Stern. >>>>>> >>>>>> >>>>>> >>>>>> Em qua., 14 de dez. de 2022 18:31, Julio Stern <jmst...@hotmail.com> >>>>>> escreveu: >>>>>> >>>>>> Caros: >>>>>> Para mim, Jardim de infancia, Primario, Ginasio, Colegio e Graduacao, >>>>>> pertencem a etapas da (pre-) adolescencia, e nao ha a menor justificativa >>>>>> em exigir que, para qq funcao academica, um candidato tenha >>>>>> colegio tecnico ou graduacao disto ou daquilo --- eh ridiculo. >>>>>> Quanto a pos-graduacao, pode-se obter excelente formacao em >>>>>> Filosofia, e deptos de Filosofia, Matematica, Fisica, Computacao, >>>>>> Antropologia, Historia, etc., etc., etc. >>>>>> Esta balela de exigir diplominha disto ou daquilo tem que acabar. >>>>>> O que interessa eh producao academica, ponto. >>>>>> Tudo de bom, ---Julio Stern >>>>>> >>>>>> ________________________________ >>>>>> From: logica-l@dimap.ufrn.br <logica-l@dimap.ufrn.br> on behalf of >>>>>> Daniel Durante <durant...@gmail.com> >>>>>> Sent: Wednesday, December 14, 2022 7:42 PM >>>>>> To: Cassiano Terra Rodrigues <cassiano.te...@gmail.com> >>>>>> Cc: Lista Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br>; Joao Marcos >>>>>> <botoc...@gmail.com>; joaov...@gmail.com <joaovito...@gmail.com>; João >>>>>> Daniel Dantas <dantas.joaodan...@gmail.com> >>>>>> Subject: Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica >>>>>> >>>>>> Oi Cassiano, João Daniel e Colegas, >>>>>> >>>>>> Concordo com tudo o que você disse, Cassiano, só que eu acho que alguém >>>>>> que tem doutorado em filosofia, escolheu dedicar-se à filosofia, e >>>>>> demonstrou alguma competência, já que obteve o título. Qual a razão, >>>>>> então, de privar essa pessoa da possibilidade de dedicar-se à área que >>>>>> escolheu? >>>>>> >>>>>> Veja, não podendo fazer inscrição, a pessoa nem consegue a oportunidade >>>>>> de demonstrar sua capacidade. >>>>>> >>>>>> Será que é medo de que quem não fez graduação em filosofia não consiga >>>>>> dar aula de graduação em filosofia? Bem, se o medo é esse, a exigência >>>>>> deveria ser licenciatura em qualquer área, e não graduação em filosofia. >>>>>> O curso de bacharelado em filosofia, por exemplo, não cobra essa >>>>>> habilidade de seus alunos. >>>>>> >>>>>> Isso sem falar que uma das etapas de todos os concursos é dar uma aula >>>>>> em nível de graduação. Quem não sabe, não passa. >>>>>> >>>>>> Já se o medo é, conforme sugeriu João Daniel, que o candidato com outra >>>>>> graduação não saiba suficientemente filosofia, já que os pontos do >>>>>> concurso são muito especializados em lógica matemática, e o professor >>>>>> vai trabalhar em um departamento de filosofia, então, se o medo é esse, >>>>>> que se mude o programa do concurso e inclua pontos “filosóficos". >>>>>> >>>>>> Aquilo que se espera de um candidato deveria estar expresso nos pontos >>>>>> do concurso e não em uma exigência específica de graduação. Não consigo >>>>>> ver nenhuma preocupação legítima que possa ser motivação para essa >>>>>> exigência de graduação na área que não seja melhor atendida mediante uma >>>>>> elaboração criteriosa do programa do concurso. >>>>>> >>>>>> Saudações, >>>>>> Daniel. >>>>>> ----- >>>>>> Departamento de Filosofia - (UFRN) >>>>>> http://danieldurante.weebly.com >>>>>> >>>>>> On 14 Dec 2022, at 14:05, Cassiano Terra Rodrigues >>>>>> <cassiano.te...@gmail.com> wrote: >>>>>> >>>>>> Camaradas, bons dias. >>>>>> Como se trata de dar opinião, vou dar a minha, já q sou graduado e pós >>>>>> graduado em filosofia, pela UNICAMP, e tive uma formação pífia em >>>>>> lógica, pois na minha graduação havia 1 único semestre reservado para a >>>>>> disciplina e muito desprezado tanto pelo corpo docente quanto pelo >>>>>> discente. Estou falando da década de 1990, qdo a graduação em filosofia >>>>>> na UNICAMP era recém nascida. Hoje, creio eu, a situação é outra, tanto >>>>>> por parte da carga horária quanto por parte do interesse, e até onde sei >>>>>> muita coisa mudou, não apenas na UNICAMP. da qual podem falar com >>>>>> propriedade quem está lá. >>>>>> No entanto, para fazer o advogado do diabo e tentar apresentar um >>>>>> contexto mais amplo, não posso deixar de lembrar q "reservas de mercado" >>>>>> não surgem do nada e não sobrevivem pairando no céu. Relativamente ao >>>>>> concurso da UnB, o edital diz "graduação em filosofia", o que me parece >>>>>> incluir licenciatura e bacharelado, não? Posso estar enganado, não li o >>>>>> edital todo, mas se for realmente isso, a pessoa pode ter bacharelado em >>>>>> matemática, engenharia ou direito e licenciatura em filosofia (ou >>>>>> vice-versa) e estaria apta a prestar o concurso. Se for isso mesmo, não >>>>>> vejo tanto problema na exigência; é restritivo, mas nem tanto. Digo isso >>>>>> pq acho q cabe aqui lembrar q a carreira docente nas universidades >>>>>> brasileiras inclui a docência, apesar de muita gente não gostar disso. E >>>>>> a realidade no Brasil é q há mais cursos de filosofia com professores q >>>>>> são formados em teologia ou direito do q em filosofia (a CAPES, até bem >>>>>> pouco tempo, reunia as áreas de Teologia e Filosofia, e a separação não >>>>>> mudou a realidade). Isso incapacita os professores a priori? Não creio q >>>>>> seja o caso. Mas é um fato a se pensar q nem Aristóteles, nem Galileo >>>>>> enfrentaram o contexto da profissionalização q hoje é imprescindível. >>>>>> Diploma não é garantia de conhecimento, mas se prescindirmos dos >>>>>> diplomas, então q seja abolida também a estrutura disciplinar, >>>>>> departamental e burocrática q sustenta a universidade como instituição >>>>>> de produção capitalista de conhecimento (lembremos q a "modernização" >>>>>> departamental foi uma imposição do regime militar, severamente criticada >>>>>> à época; hj, é praticamente um dado da natureza, tamanha a falta de >>>>>> questionamento). Não me parece q temos o q por no lugar em nenhum país >>>>>> do mundo e isso nada tem q ver com recusar a interdisciplinaridade; >>>>>> inclusive, eu diria q no atual estágio de capitalização das >>>>>> universidades no mundo, a interdisciplinaridade é um fator desejado para >>>>>> a reprodução do capital. Eu mesmo faço um elogio da >>>>>> interdisciplinaridade e sou a favor de concursos abertos à diferentes >>>>>> áreas, mas é preciso defender a especificidade da formação ao mesmo >>>>>> tempo, não apenas para a pesquisa, mas sobretudo para a docência, pois a >>>>>> interdisciplinaridade no conhecimento vem do aprofundamento específico - >>>>>> é por aprofundar o conhecimento na sua área q alguém busca o de outras, >>>>>> deixem-me dizer assim - é o próprio desenvolvimento das questões q leva >>>>>> à necessidade de recorrer a outros saberes, pois conhecer, pesquisar, >>>>>> filosofar ou fazer ciência são atividades essencialmente comunicativas. >>>>>> No contexto de fragmentação das áreas de conhecimento, a filosofia, >>>>>> coitada, parece q perdeu tanto terreno q até hoje sofre a perda da >>>>>> identidade, mas tb sofre de falta de respeito por parte de outras áreas, >>>>>> q são esquizofrênicas qdo se trata de lidar com a filosofia. Se é >>>>>> possível filosofar em alemão, tupi ou mesmo português, e poetas e até >>>>>> donos de padaria filosofam, ao mesmo tempo filosofia não é qualquer >>>>>> coisa q basta querer fazer para conseguir. A esquizofrenia está aí: >>>>>> ninguém sabe o q é filosofia, mas todo mundo quer filosofar e acha q >>>>>> consegue. Longe de mim dizer quem pode ou não fazer qq coisa, mas entre >>>>>> a intenção e o gesto vai uma distância e não me parece q seja possível >>>>>> muito menos desejável escamotear q para não ficarmos presos ao senso >>>>>> comum é fundamental a sistematização formal do conhecimento (e isso é um >>>>>> direito q as escolas públicas devem garantir aos estudantes, aliás). Ao >>>>>> mesmo tempo, na minha avaliação, o insulamento da área de filosofia no >>>>>> Brasil levou a tal ignorância e descolamento da realidade q resultaram >>>>>> em elitismos vergonhosos; mas mesmo internamente à filosofia o >>>>>> insulamento é terrível, muitos sequer reconhecem a importância de >>>>>> estudar com um mínimo de seriedade algo q não está na sua prateleira >>>>>> elegida (não é de escolhas pessoais q falo, afinal, cada um escolhe a >>>>>> sua área de dedicação por razões psicológicas, qdo a situação o >>>>>> permite). Felizmente, penso, isso está mudando, ainda que talvez de modo >>>>>> muito indutivo. O diploma garante alguma coisa, nesse sentido? Acho q >>>>>> não, ou muito pouco. Mas o diploma, não como documento, mas como >>>>>> resultado de um percurso, é prescindível? Não creio q o seja e acho q >>>>>> poderia ser melhor. >>>>>> Perdoem-me o relato pessoal, mas não é por desabafo, é para levar ao >>>>>> ponto q o faço. Na minha graduação, tive péssimos professores formados >>>>>> em qualquer área, simplesmente pq, apesar de contratados e pagos como >>>>>> professores, detestavam lecionar. Eu tb não gostava tanto assim de ir >>>>>> às aulas, então, não faço condenações pessoais. E gostar de lecionar, é >>>>>> claro, tampouco garante a qualidade da aula. O ponto é o sentido da >>>>>> formação e o compromisso com a formação, q a meu ver deve >>>>>> necessariamente ir além do carreirismo pessoal. Muitos professores ainda >>>>>> hoje não lecionam um único curso sequer em vários anos ou, se conseguem, >>>>>> lecionam apenas na pós-graduação cursos q interessam aos seus >>>>>> orientandos (a UNICAMP era uma bolha elitista, naquela época; basta >>>>>> citar q havia pouquíssimos cursos noturnos e muitos em período >>>>>> integral). Já ouvi de mais de um colega q dar aulas é como um pedágio >>>>>> para fazer pesquisa. Então, pra q serve a indissociabilidade entre >>>>>> ensino, pesquisa e extensão? Nem vou falar da função social da extensão, >>>>>> ultimamente muito debatida. Mas a continuar essa mentalidade, tanto faz >>>>>> o diploma, pois é muito fácil lecionar a bel-prazer. Falta de >>>>>> compromisso pedagógico e liberdade docente são coisas bem diferentes, e, >>>>>> falando especificamente agora, planejar e executar um curso de lógica >>>>>> que dialogue com a formação em filosofia, da perspectiva da lógica >>>>>> contemporânea, não é fácil e exige muito mais q conhecimento da >>>>>> disciplina, exige tanto formação em lógica e filosofia quanto formação >>>>>> pedagógica. Nesse sentido, é mesmo estranho q nesse edital a filosofia >>>>>> esteja ausente. Mas o q me parece ruim mesmo é a falta de exigência >>>>>> pedagógica, o q fica a critério da banca, no fim das contas. Mas será q >>>>>> o bacharelado basta e isso pode ser relegado ao juízo da banca? Faz >>>>>> sentido, pq, afinal, o último projeto nacional de formação de >>>>>> professores foi de fato o Normal (o Magistério foi um remanejamento para >>>>>> baixo do Normal) e as licenciaturas não dão conta dessa tarefa. >>>>>> Eu entendo q a finalidade da pesquisa é a formação do estudante, pois >>>>>> sem isso a própria pesquisa não continua, então acho muito complicado q >>>>>> para concursos de instituições regidas pela indissociabilidade citada >>>>>> baste o diploma de bacharel e a prova didática seja avaliada por pessoas >>>>>> cuja única formação docente é, na maioria das vezes, a própria >>>>>> experiência ou quase isso. Não vejo muito outro jeito, pois de temos de >>>>>> partir do real, mas sem imaginar um futuro diferente fica difícil mudar. >>>>>> >>>>>> Saudações, >>>>>> cass. >>>>>> On Wednesday, December 14, 2022 at 11:17:16 AM UTC-3 Joao Marcos wrote: >>>>>> >>>>>> > Me parece que a questão é a completa ausência de temas relacionados a >>>>>> > filosofia da lógica em um concurso para um departamento de filosofia. >>>>>> >>>>>> Não sei se dá para dizer que esta é "a questão", nesta thread, mas >>>>>> certamente é uma _outra questão_ importante, além daquela que foi >>>>>> levantada por João Ferrari. >>>>>> >>>>>> Vários anos atrás rolaram algumas conversas aqui interessantes sobre >>>>>> que temas deveriam fazer parte de um concurso como este. Uma thread >>>>>> nesta direção, do longínquo ano de 2008, foi esta, na qual >>>>>> participaram em particular os saudosos amigos Andrea Loparic e Carlos >>>>>> Gonzalez: >>>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/aBuc6Lyg4R0/m/y3OqInfGt6IJ >>>>>> >>>>>> Teria sido interessante acompanhar a evolução do tema ao longo dos >>>>>> anos, com a coleta evidencial de programas de concursos que já >>>>>> ocorreram, no país, para a área de Lógica na Filosofia. (Fiz isso >>>>>> durante vários anos, e divulguei sempre nesta lista. Depois me >>>>>> cansei, tendo notado haver pouco interesse na área de Filosofia para >>>>>> dar continuidade a este diálogo.) >>>>>> >>>>>> > O candidato que domina os 10 temas do concurso não necessariamente >>>>>> > sabe sobre como fazer filosofia. Independente da graduação. >>>>>> >>>>>> E será que a _graduação_ específica em Filosofia, neste caso, >>>>>> garantiria que o candidato aprovado "sabe sobre como fazer filosofia"? >>>>>> (Esta questão particular está claramente relacionada à questão >>>>>> original desta thread.) >>>>>> >>>>>> []s, JM >>>>>> >>>>>> >>>>>> -- >>>>>> LOGICA-L >>>>>> Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de >>>>>> Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> >>>>>> --- >>>>>> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos >>>>>> Grupos do Google. >>>>>> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, >>>>>> envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. >>>>>> Para ver essa discussão na Web, acesse >>>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/3E873E9D-35DF-487A-AA17-6CB42FC353E0%40gmail.com. >>>>>> >>>>>> -- >>>>>> LOGICA-L >>>>>> Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de >>>>>> Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> >>>>>> --- >>>>>> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos >>>>>> Grupos do Google. >>>>>> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, >>>>>> envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. >>>>>> Para ver essa discussão na Web, acesse >>>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CPYP284MB143156332549DF573A906F9FB6E09%40CPYP284MB1431.BRAP284.PROD.OUTLOOK.COM. >>>>>> >>>>>> -- >>>>>> LOGICA-L >>>>>> Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de >>>>>> Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> >>>>>> --- >>>>>> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "LOGICA-L" dos >>>>>> Grupos do Google. >>>>>> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, >>>>>> envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. >>>>>> Para ver essa discussão na Web, acesse >>>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CPYP284MB143122D397D8556BB1E59681B6E19%40CPYP284MB1431.BRAP284.PROD.OUTLOOK.COM. >>>>> >>>>> >>>>> >>>>> -- >>>>> Marcos Silva (UFPE/CNPq) >>>>> Philosophy Department >>>>> Federal University of Pernambuco, Brazil >>>>> Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE) >>>>> Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica >>>>> https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy >>>>> "amar e mudar as coisas me interessa mais" >>> >>> >>> >>> -- >>> Marcos Silva (UFPE/CNPq) >>> Philosophy Department >>> Federal University of Pernambuco, Brazil >>> Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE) >>> Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica >>> https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy >>> "amar e mudar as coisas me interessa mais" > > > > -- > Marcos Silva (UFPE/CNPq) > Philosophy Department > Federal University of Pernambuco, Brazil > Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE) > Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica > https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy > "amar e mudar as coisas me interessa mais" -- http://sequiturquodlibet.googlepages.com/ -- LOGICA-L Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logica-l@dimap.ufrn.br> --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. 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