Re: [Logica-l] Nota de repúdio da SBL
Parabens, SBL! Seguem outras notas: ANPOF: http://www.anpof.org/portal/index.php/pt-BR/artigos-em-destaque/2075-nota-de-repudio-a-declaracoes-do-ministro-da-educacao-e-do-presidente-da-republica-sobre-as-faculdades-de-humanidades-nomeadamente-filosofia-e-sociologia SBPC: http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/sbpc-se-manifesta-em-defesa-das-ciencias-humanas-e-sociais/ abracos, marcos On Sat, Apr 27, 2019 at 11:01 AM Francisco Miraglia wrote: > Ótima nota! > Abraços, > Chico Miraglia > > On 27 Apr 2019, at 10:14, itala loffredo wrote: > > Obrigada, caros membros da Diretoria da SBL! > Itala > > Em sex, 26 de abr de 2019 às 23:17, Cassiano Terra Rodrigues < > cassiano.te...@gmail.com> escreveu: > >> Colegas, divulgo aqui a Nota de Repúdio elaborada pela Diretoria da SBL >> às últimas declarações do Presidente Bolsonaro e seu Ministro da Educação >> Abraham Weintraub sobre a filosofia e a sociologia no contexto da educação >> brasileira. >> >> Atenciosamente, >> Cassiano. >> >> >> Nota de repúdio da Sociedade Brasileira de Lógica às declarações de Sua >> Excelência, Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, e >> Sua Excelência, Ministro de Estado da Educação, Abraham Weintraub >> >> >> >> Em apoio à ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia. >> >> Em apoio à SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ao >> movimento #CiênciaOcupaBrasília e à mobilização nacional de 8 e 9 de maio >> de 2019 contra os cortes orçamentários em Ciência, Tecnologia e Informação. >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> A Sociedade Brasileira de Lógica (SBL) repudia veementemente as recentes >> declarações, por parte de Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro, e de >> S. Exa., o Ministro da Educação Abraham Weintraub, a respeito do ensino e >> da pesquisa nas humanidades, particularmente a filosofia e a sociologia. >> >> >> >> As declarações são desastrosas e ofensivas não só aos profissionais >> dessas áreas, como também deslegitimam toda a área das humanidades em todos >> os níveis da educação brasileira, sem excetuar o ensino mais básico da >> alfabetização mais chã, explicitamente mencionada por Sua Excelência o >> Presidente – como se fosse possível aprender a ler e a contar sem reflexão >> e autoconsciência. Chegando mesmo a dizer que apenas ricos deveriam se >> dedicar aos estudos filosóficos, S. Exa. o Ministro junta-se à Sua >> Excelência o Presidente na repetição de preconceitos rasos, caracterizados >> por um utilitarismo de vista curta e um atroz elitismo. Dos muitos >> problemas passíveis de ser levantados, ressaltamos dois erros nessas >> declarações. >> >> >> >> O primeiro erro é supor que só tem valor o que é imediatamente útil. Como >> filosofia e sociologia não trazem “retorno de fato”, devem ser consideradas >> inúteis e, portanto, sem qualquer valor. Ora, a verdade é que esse discurso >> trai uma preocupação exagerada com o que é desqualificado – se filosofia e >> sociologia nada produzem de fato, por que então atacá-las? Se são inúteis e >> desprovidas de todo valor, por que interessariam justamente aos ricos? O >> ataque parece revelar justamente o oposto do que está dito: filosofia e >> sociologia realmente são valiosíssimas, a ponto de merecerem menção direta, >> e, por isso mesmo, devem ser eliminadas do currículo, ou reduzidas ao >> mínimo disponível apenas às classes mais favorecidas. Cabe perguntar, >> portanto, se as palavras de Sua Excelência o Presidente e de S. Exa. o >> Ministro revelam o que seus enunciadores pensam ou se há algo que pensam e >> não manifestam abertamente. >> >> >> >> O segundo erro, apoiado numa rígida e insustentável separação entre >> teoria e prática, é tão grave quanto o primeiro. Se o valor de uma área de >> estudos é reduzido exclusivamente às suas aplicações e resultados >> imediatos, então a própria lógica do processo de conhecer é invertida: >> raciocinamos para chegar às conclusões, para depois buscar descobrir o que >> fazer com elas, e não o contrário. Se as aplicações práticas e os >> resultados imediatos tornam-se critérios normativos para avaliar o >> conhecimento, então podemos deixar de raciocinar, basta aplicar fórmulas já >> conhecidas. Por que pensar, se basta só repetir? “Trabalhe, não pense”, diz >> um lema de assujeitamento já conhecido. >> >> >> >> É claro, seria ingenuidade supor que apenas a filosofia e a sociologia >> são capazes de produzir pensamento “consciente” ou “crítico”, da mesma >> forma como seria ingênuo tentar defender sua “utilidade”. O conhecimento, >> em qualquer área, é sobretudo inútil, contudo tão somente no sentido de que >> seu produto maior não é nada de imediato e material, mas sim a autonomia de >> pensamento e a criticidade de consciência, atingidos apenas no contato com >> o mundo real e na apropriação do saber produzido por outras pessoas, em >> todas as áreas. >> >> >> >> A esse respeito, é impossível esquecer que o lema da nossa bandeira é uma >> adaptação de
Re: [Logica-l] Nota de repúdio da SBL
Ótima nota! Abraços, Chico Miraglia > On 27 Apr 2019, at 10:14, itala loffredo wrote: > > Obrigada, caros membros da Diretoria da SBL! > Itala > >> Em sex, 26 de abr de 2019 às 23:17, Cassiano Terra Rodrigues >> escreveu: >> Colegas, divulgo aqui a Nota de Repúdio elaborada pela Diretoria da SBL às >> últimas declarações do Presidente Bolsonaro e seu Ministro da Educação >> Abraham Weintraub sobre a filosofia e a sociologia no contexto da educação >> brasileira. >> >> Atenciosamente, >> Cassiano. >> >> >> Nota de repúdio da Sociedade Brasileira de Lógica às declarações de Sua >> Excelência, Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, e >> Sua Excelência, Ministro de Estado da Educação, Abraham Weintraub >> >> >> >> Em apoio à ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia. >> >> Em apoio à SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ao >> movimento #CiênciaOcupaBrasília e à mobilização nacional de 8 e 9 de maio de >> 2019 contra os cortes orçamentários em Ciência, Tecnologia e Informação. >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> A Sociedade Brasileira de Lógica (SBL) repudia veementemente as recentes >> declarações, por parte de Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro, e de >> S. Exa., o Ministro da Educação Abraham Weintraub, a respeito do ensino e da >> pesquisa nas humanidades, particularmente a filosofia e a sociologia. >> >> >> >> As declarações são desastrosas e ofensivas não só aos profissionais dessas >> áreas, como também deslegitimam toda a área das humanidades em todos os >> níveis da educação brasileira, sem excetuar o ensino mais básico da >> alfabetização mais chã, explicitamente mencionada por Sua Excelência o >> Presidente – como se fosse possível aprender a ler e a contar sem reflexão e >> autoconsciência. Chegando mesmo a dizer que apenas ricos deveriam se dedicar >> aos estudos filosóficos, S. Exa. o Ministro junta-se à Sua Excelência o >> Presidente na repetição de preconceitos rasos, caracterizados por um >> utilitarismo de vista curta e um atroz elitismo. Dos muitos problemas >> passíveis de ser levantados, ressaltamos dois erros nessas declarações. >> >> >> >> O primeiro erro é supor que só tem valor o que é imediatamente útil. Como >> filosofia e sociologia não trazem “retorno de fato”, devem ser consideradas >> inúteis e, portanto, sem qualquer valor. Ora, a verdade é que esse discurso >> trai uma preocupação exagerada com o que é desqualificado – se filosofia e >> sociologia nada produzem de fato, por que então atacá-las? Se são inúteis e >> desprovidas de todo valor, por que interessariam justamente aos ricos? O >> ataque parece revelar justamente o oposto do que está dito: filosofia e >> sociologia realmente são valiosíssimas, a ponto de merecerem menção direta, >> e, por isso mesmo, devem ser eliminadas do currículo, ou reduzidas ao mínimo >> disponível apenas às classes mais favorecidas. Cabe perguntar, portanto, se >> as palavras de Sua Excelência o Presidente e de S. Exa. o Ministro revelam o >> que seus enunciadores pensam ou se há algo que pensam e não manifestam >> abertamente. >> >> >> >> O segundo erro, apoiado numa rígida e insustentável separação entre teoria e >> prática, é tão grave quanto o primeiro. Se o valor de uma área de estudos é >> reduzido exclusivamente às suas aplicações e resultados imediatos, então a >> própria lógica do processo de conhecer é invertida: raciocinamos para chegar >> às conclusões, para depois buscar descobrir o que fazer com elas, e não o >> contrário. Se as aplicações práticas e os resultados imediatos tornam-se >> critérios normativos para avaliar o conhecimento, então podemos deixar de >> raciocinar, basta aplicar fórmulas já conhecidas. Por que pensar, se basta >> só repetir? “Trabalhe, não pense”, diz um lema de assujeitamento já >> conhecido. >> >> >> >> É claro, seria ingenuidade supor que apenas a filosofia e a sociologia são >> capazes de produzir pensamento “consciente” ou “crítico”, da mesma forma >> como seria ingênuo tentar defender sua “utilidade”. O conhecimento, em >> qualquer área, é sobretudo inútil, contudo tão somente no sentido de que seu >> produto maior não é nada de imediato e material, mas sim a autonomia de >> pensamento e a criticidade de consciência, atingidos apenas no contato com o >> mundo real e na apropriação do saber produzido por outras pessoas, em todas >> as áreas. >> >> >> >> A esse respeito, é impossível esquecer que o lema da nossa bandeira é uma >> adaptação de outro, de Auguste Comte: “O amor como princípio, a ordem como >> base e o progresso como meta”. Isso porque a Escola Militar do Rio de >> Janeiro, já durante o século XIX, foi o principal centro de ensino >> sistemático da doutrina de Comte, o positivismo. Com isso, toda uma geração >> de militares brasileiros tornou-se positivista, a mesma geração que, em >> 1889, protagonizaria a Proclamação
Re: [Logica-l] Nota de repúdio da SBL
Obrigada, caros membros da Diretoria da SBL! Itala Em sex, 26 de abr de 2019 às 23:17, Cassiano Terra Rodrigues < cassiano.te...@gmail.com> escreveu: > Colegas, divulgo aqui a Nota de Repúdio elaborada pela Diretoria da SBL às > últimas declarações do Presidente Bolsonaro e seu Ministro da Educação > Abraham Weintraub sobre a filosofia e a sociologia no contexto da educação > brasileira. > > Atenciosamente, > Cassiano. > > > Nota de repúdio da Sociedade Brasileira de Lógica às declarações de Sua > Excelência, Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, e > Sua Excelência, Ministro de Estado da Educação, Abraham Weintraub > > > > Em apoio à ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia. > > Em apoio à SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ao > movimento #CiênciaOcupaBrasília e à mobilização nacional de 8 e 9 de maio > de 2019 contra os cortes orçamentários em Ciência, Tecnologia e Informação. > > > > > > > > > > > > A Sociedade Brasileira de Lógica (SBL) repudia veementemente as recentes > declarações, por parte de Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro, e de > S. Exa., o Ministro da Educação Abraham Weintraub, a respeito do ensino e > da pesquisa nas humanidades, particularmente a filosofia e a sociologia. > > > > As declarações são desastrosas e ofensivas não só aos profissionais dessas > áreas, como também deslegitimam toda a área das humanidades em todos os > níveis da educação brasileira, sem excetuar o ensino mais básico da > alfabetização mais chã, explicitamente mencionada por Sua Excelência o > Presidente – como se fosse possível aprender a ler e a contar sem reflexão > e autoconsciência. Chegando mesmo a dizer que apenas ricos deveriam se > dedicar aos estudos filosóficos, S. Exa. o Ministro junta-se à Sua > Excelência o Presidente na repetição de preconceitos rasos, caracterizados > por um utilitarismo de vista curta e um atroz elitismo. Dos muitos > problemas passíveis de ser levantados, ressaltamos dois erros nessas > declarações. > > > > O primeiro erro é supor que só tem valor o que é imediatamente útil. Como > filosofia e sociologia não trazem “retorno de fato”, devem ser consideradas > inúteis e, portanto, sem qualquer valor. Ora, a verdade é que esse discurso > trai uma preocupação exagerada com o que é desqualificado – se filosofia e > sociologia nada produzem de fato, por que então atacá-las? Se são inúteis e > desprovidas de todo valor, por que interessariam justamente aos ricos? O > ataque parece revelar justamente o oposto do que está dito: filosofia e > sociologia realmente são valiosíssimas, a ponto de merecerem menção direta, > e, por isso mesmo, devem ser eliminadas do currículo, ou reduzidas ao > mínimo disponível apenas às classes mais favorecidas. Cabe perguntar, > portanto, se as palavras de Sua Excelência o Presidente e de S. Exa. o > Ministro revelam o que seus enunciadores pensam ou se há algo que pensam e > não manifestam abertamente. > > > > O segundo erro, apoiado numa rígida e insustentável separação entre teoria > e prática, é tão grave quanto o primeiro. Se o valor de uma área de estudos > é reduzido exclusivamente às suas aplicações e resultados imediatos, então > a própria lógica do processo de conhecer é invertida: raciocinamos para > chegar às conclusões, para depois buscar descobrir o que fazer com elas, e > não o contrário. Se as aplicações práticas e os resultados imediatos > tornam-se critérios normativos para avaliar o conhecimento, então podemos > deixar de raciocinar, basta aplicar fórmulas já conhecidas. Por que pensar, > se basta só repetir? “Trabalhe, não pense”, diz um lema de assujeitamento > já conhecido. > > > > É claro, seria ingenuidade supor que apenas a filosofia e a sociologia são > capazes de produzir pensamento “consciente” ou “crítico”, da mesma forma > como seria ingênuo tentar defender sua “utilidade”. O conhecimento, em > qualquer área, é sobretudo inútil, contudo tão somente no sentido de que > seu produto maior não é nada de imediato e material, mas sim a autonomia de > pensamento e a criticidade de consciência, atingidos apenas no contato com > o mundo real e na apropriação do saber produzido por outras pessoas, em > todas as áreas. > > > > A esse respeito, é impossível esquecer que o lema da nossa bandeira é uma > adaptação de outro, de Auguste Comte: “O amor como princípio, a ordem como > base e o progresso como meta”. Isso porque a Escola Militar do Rio de > Janeiro, já durante o século XIX, foi o principal centro de ensino > sistemático da doutrina de Comte, o positivismo. Com isso, toda uma geração > de militares brasileiros tornou-se positivista, a mesma geração que, em > 1889, protagonizaria a Proclamação da República. De fato, Comte tornou-se > filósofo após formar-se em engenharia e ser professor de matemática. Seu > positivismo continha uma classificação das ciências que exerceu forte > influência sobre a sociologia. Então, apesar de descartarmos do lema da > bandeira
[Logica-l] Nota de repúdio da SBL
Colegas, divulgo aqui a Nota de Repúdio elaborada pela Diretoria da SBL às últimas declarações do Presidente Bolsonaro e seu Ministro da Educação Abraham Weintraub sobre a filosofia e a sociologia no contexto da educação brasileira. Atenciosamente, Cassiano. Nota de repúdio da Sociedade Brasileira de Lógica às declarações de Sua Excelência, Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, e Sua Excelência, Ministro de Estado da Educação, Abraham Weintraub Em apoio à ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia. Em apoio à SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ao movimento #CiênciaOcupaBrasília e à mobilização nacional de 8 e 9 de maio de 2019 contra os cortes orçamentários em Ciência, Tecnologia e Informação. A Sociedade Brasileira de Lógica (SBL) repudia veementemente as recentes declarações, por parte de Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro, e de S. Exa., o Ministro da Educação Abraham Weintraub, a respeito do ensino e da pesquisa nas humanidades, particularmente a filosofia e a sociologia. As declarações são desastrosas e ofensivas não só aos profissionais dessas áreas, como também deslegitimam toda a área das humanidades em todos os níveis da educação brasileira, sem excetuar o ensino mais básico da alfabetização mais chã, explicitamente mencionada por Sua Excelência o Presidente – como se fosse possível aprender a ler e a contar sem reflexão e autoconsciência. Chegando mesmo a dizer que apenas ricos deveriam se dedicar aos estudos filosóficos, S. Exa. o Ministro junta-se à Sua Excelência o Presidente na repetição de preconceitos rasos, caracterizados por um utilitarismo de vista curta e um atroz elitismo. Dos muitos problemas passíveis de ser levantados, ressaltamos dois erros nessas declarações. O primeiro erro é supor que só tem valor o que é imediatamente útil. Como filosofia e sociologia não trazem “retorno de fato”, devem ser consideradas inúteis e, portanto, sem qualquer valor. Ora, a verdade é que esse discurso trai uma preocupação exagerada com o que é desqualificado – se filosofia e sociologia nada produzem de fato, por que então atacá-las? Se são inúteis e desprovidas de todo valor, por que interessariam justamente aos ricos? O ataque parece revelar justamente o oposto do que está dito: filosofia e sociologia realmente são valiosíssimas, a ponto de merecerem menção direta, e, por isso mesmo, devem ser eliminadas do currículo, ou reduzidas ao mínimo disponível apenas às classes mais favorecidas. Cabe perguntar, portanto, se as palavras de Sua Excelência o Presidente e de S. Exa. o Ministro revelam o que seus enunciadores pensam ou se há algo que pensam e não manifestam abertamente. O segundo erro, apoiado numa rígida e insustentável separação entre teoria e prática, é tão grave quanto o primeiro. Se o valor de uma área de estudos é reduzido exclusivamente às suas aplicações e resultados imediatos, então a própria lógica do processo de conhecer é invertida: raciocinamos para chegar às conclusões, para depois buscar descobrir o que fazer com elas, e não o contrário. Se as aplicações práticas e os resultados imediatos tornam-se critérios normativos para avaliar o conhecimento, então podemos deixar de raciocinar, basta aplicar fórmulas já conhecidas. Por que pensar, se basta só repetir? “Trabalhe, não pense”, diz um lema de assujeitamento já conhecido. É claro, seria ingenuidade supor que apenas a filosofia e a sociologia são capazes de produzir pensamento “consciente” ou “crítico”, da mesma forma como seria ingênuo tentar defender sua “utilidade”. O conhecimento, em qualquer área, é sobretudo inútil, contudo tão somente no sentido de que seu produto maior não é nada de imediato e material, mas sim a autonomia de pensamento e a criticidade de consciência, atingidos apenas no contato com o mundo real e na apropriação do saber produzido por outras pessoas, em todas as áreas. A esse respeito, é impossível esquecer que o lema da nossa bandeira é uma adaptação de outro, de Auguste Comte: “O amor como princípio, a ordem como base e o progresso como meta”. Isso porque a Escola Militar do Rio de Janeiro, já durante o século XIX, foi o principal centro de ensino sistemático da doutrina de Comte, o positivismo. Com isso, toda uma geração de militares brasileiros tornou-se positivista, a mesma geração que, em 1889, protagonizaria a Proclamação da República. De fato, Comte tornou-se filósofo após formar-se em engenharia e ser professor de matemática. Seu positivismo continha uma classificação das ciências que exerceu forte influência sobre a sociologia. Então, apesar de descartarmos do lema da bandeira justamente o amor, parece que a filosofia e a sociologia, no final das contas, são bem mais importantes para o país do que as últimas declarações de Sua Excelência o Presidente e de S. Exa. o Ministro admitem. Muito embora possa não saber, quem