Ultimamente venho me convencendo da importância dos viéses cognitivos e das
paixões (os desejos e ideais com que estamos comprometidos a priori) para
as discussões, principalmente políticas.

Há um livro voltado para filosofia da educação, de John Wilson, com
insights interessantes aplicáveis de maneira geral: Fantasy and Common
Sense in Education.

Uma das coisas que o autor observa frequentemente (não sei se no livro
acima citado) é que as pessoas são "capturadas" por uma espécie de modo de
defesa de princípios ANTES de iniciarem o processo racional que normalmente
conseguem empregar em outros contextos menos carregados emocionalmente.

Talvez tenha a ver com o dizer de Hume sobre a razão ser (e dever ser)
escrava das paixões. Se não às serve, é descartada.

Há um podcast de que gosto muito e que tem uma abordagem mais psicológica:
o You Are Not So Smart. Em vários episódios são abordados viéses cognitivos
cujo conhecimento acho relevante pra qualquer cientista/filósofo.

2017-07-05 12:24 GMT-03:00 Manuel Doria <manueldo...@gmail.com>:

> Em meu paper forthcoming sobre filosofia acadêmica e o politicamente
> correto, uma das teses que defendo é que a evidência empírica sugere que
> filósofos profissionais são capazes de facilmente deixar de lado standards
> de racionalidade visando objetividade e migrar para standards de
> racionalidade visando proteção de identidade grupal quando são confrontados
> com hipóteses que vão de encontro com elementos centrais de sua visão de
> mundo.
>
> A situação em alguns casos é bem trágica. Por exemplo, nós esperamos que
> experts se dêem melhor do que não-experts em seu domínio de expertise mas
> existe evidência empírica [1] de que filósofos morais em média são mais
>  suscetíveis a serem contaminados por viéses espúrios do que não-filosófos
> morais em contextos decisórios morais. Fenômenos análogos costumam ocorrer
> pelas ciências sociais e humanidades como economia e história.
>
> Eu recomendo fortemente também o último livro do Sesardic, "When Reason
> Goes On Holiday". Mostra como que algumas das mentes mais afiadas em lógica
> matemática do Século XX são capazes de deixar tudo de lado quando
> raciocinam sobre política.
>
> [ ]'s
>
> [1] Schwitzgebel, E.; Cushman, F. Philosophers’ biased judgments persist
> despite training, expertise and reflection. Cognition 2015, 141, 127–137.
>
> 2017-07-05 11:56 GMT-03:00 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>:
>
>> Prezada Gisele (S):
>>
>> Fico contente em vê-la participando das discussões da LOGICA-L, e
>> aproveito para parabenizá-la pela organização do *IV Workshop de
>> Filosofia e Ensino*, semana passada:
>> https://wfeufrgs.wordpress.com/
>>
>> > O texto em questão, embora seu contexto seja estadunidense, merece
>> alguma
>> > atenção no Brasil pelo simples fato de que a filosofia corre,
>> atualmente, o
>> > risco de não mais ser componente curricular obrigatório nas escolas de
>> > Ensino Médio (assim como muitas outras, vale dizer). No nosso contexto,
>> > quando então se intensifica a produção de argumentos em favor da
>> presença da
>> > filosofia na fase média de ensino básico, não é rara uma modalidade de
>> > defesa calcada em pesquisas como as mencionadas no texto, louvando-se as
>> > capacidades de pensamento crítico supostamente desenvolvidas nas aulas
>> de
>> > filosofia. Daí que o texto nos seja relevante, para compararmos com o
>> que se
>> > diz por aqui.
>> >
>> > (Digo "supostamente" porque nunca fica muito claro, nos eventos e
>> textos em
>> > que o tema é discutido, o que se entende por pensamento crítico, nem se
>> > explicitam seus vínculos com a lógica stricto sensu - tampouco se
>> oferecem
>> > exemplos de experiências didáticas de sucesso nesse sentido. Os livros
>> > didáticos selecionados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) até
>> o
>> > último edital possuem capítulos de lógica muito fracos, desconectados
>> dos
>> > demais, e é bem sabido que a maioria dos professores de filosofia do
>> Ensino
>> > Médio não tiveram boas aulas de lógica durante a graduação (o que gera
>> > insegurança para trabalha-la quando se tornam professores, um nefasto
>> > círculo de expectativas antimatemáticas entre postulantes a estudantes e
>> > futuros professores de filosofia) nem tampouco uma preparação para o
>> > trabalho didático com lógica em contextos de escola média e fundamental.
>> > Isso tudo sem contar boa parcela dos envolvidos com ensino de filosofia
>> que
>> > simplesmente desprezam a lógica como instrumento de pensamento e
>> filosofia.)
>>
>> O conteúdo do seu relato é realmente preocupante!
>>
>> Com relação aos pontos de contato entre o conteúdo do texto que
>> circulei antes e a realidade brasileira, choca-me em particular
>> perceber a forma como a educação no Brasil é muitas vezes tratada de
>> uma forma puramente ideologizada --- mesmo por cientistas da área, e
>> pelos especialistas nacionais em teoria pedagógica.  Recordo-me por
>> exemplo de uma reunião da qual participei há dois anos em um instituto
>> da minha universidade, na qual um colega de outra universidade
>> apresentou as inúmeras vantagens do problem-based learning (PBL), tal
>> como aplicado em um curso da área de TI de sua universidade, e todos
>> saíram da palestra maravilhados com tudo aquilo...  Uma postura
>> minimamente crítica e científica permitiria contudo identificar ali
>> dois problemas.  O primeiro era que na citada universidade não foi
>> feito nenhum esforço de *comparar* o resultado obtido através do PBL
>> com o resultado obtido em outras formas tradicionais de ensino.  De
>> fato, *todas* as turmas daquele curso, lá, são submetidas ao PBL desde
>> o início!  O segundo estava no fato de que no blog da Communications
>> of the ACM acabava de ser publicado um post que comentava que *não há
>> evidências* de que PBL, por mais bonito que pareça, realmente funciona
>> tão bem quanto desejaríamos:
>> http://cacm.acm.org/magazines/2015/2/182637-whats-the-best-w
>> ay-to-teach-computer-science-to-beginners/fulltext
>> Noto que este post cita um artigo extremamente influente [1], cujos
>> autores comentam:
>>   "Why do outstanding scientists who demand rigorous proof for
>>   scientific assertions in their research continue to use and indeed
>>   defend on the bias of intuition alone, teaching methods that are
>>   not the most effective?"
>> Creio que isto vai ao encontro de algumas das preocupações do Sesardic.
>>
>> A propósito, há um outro paper do Sesardic (com Rafael De Clercq) [2]
>> que comenta sobre a *disparidade de gênero* na área de Filosofia e
>> coloca em questão as alegadas evidências da hipótese segundo a qual
>> haveria algum tipo de *discriminação* contra as mulheres na área de
>> Filosofia.
>>
>> [1] Why Minimal Guidance During Instruction Does Not Work: An Analysis
>> of the Failure of Constructivist, Discovery, Problem-Based,
>> Experiential, and Inquiry-Based Teaching
>> http://www.cogtech.usc.edu/publications/kirschner_Sweller_Clark.pdf
>>
>> [2] Women in Philosophy: Problems with the Discrimination Hypothesis
>> https://www.nas.org/articles/women_in_philosophy_problems_wi
>> th_the_discrimination_hypothesis
>>
>> > Há muito ainda por ser pesquisado em termos de didática da lógica entre
>> nós,
>> > por isso me alegrou muito a notícia de que a nova diretoria da SBL está
>> > sensível ao tópico.
>>
>> Sem dúvida é saudável (é de se saudar) esta iniciativa da nova
>> Diretoria da SBL!  Suponho que teremos mais notícias em breve sobre
>> estas coisas, de Cassiano e outros.  A propósito, há dois anos
>> participei da organização do *Fourth International Congress on Tools
>> for Teaching Logic* (http://ttl2015.irisa.fr/), em Rennes.  Há uma boa
>> chance de que o próximo evento da série ocorra no Brasil, em conjunto
>> com o próximo EBL.
>>
>> Ah, vale notar que há nesta lista outros pesquisadores com bastante
>> envolvimento na área de Ensino (incluindo o uso de MOOCs).  Seria
>> muito bom vê-los participando desta discussão, e das iniciativas
>> correlatas!
>>
>> Abraços,
>> Joao Marcos
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[]'s ...and justice for all.

Ricardo Gentil de Araújo Pereira

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