Hermógenes e lista,

Eu , (pura teimosia?) continuo insistindo que a raiz do problema está na
definição recursiva que usam as linguagens formais, que passam a ser, como
Kleene disse, aritméticas.

Foi Thoralf Skolem, um defensor da teoria de números, que "aritmetizou" a
lógica e a matemática quando deu a definição recursiva de fórmula, etc.

Um artigo interessante e profundo teria como nome:

"Thoralf Skolem and the mechanization of mathematics"

Para ser bem claro:
Para mim não tem sentido algum, nem interesse qualquer, falar da influência
de Gödel na mecanização da matemática quando "fórmula", "dedução", etc.,
tem uma definição recursiva. Quero dizer coisas como: a concatenação e uma
adição e a substituição é uma multiplicação. Por isso é que funciona a
aritmetização de Gödel.

A propósito:
Alguém conhece uma bibliografia sobre o uso geral desse conceito de
"mecanização"? "Que comportamento mecânico que tem esse homem", etc.

Carlos












On Sat, Dec 28, 2019 at 8:10 PM Hermógenes Oliveira <olive...@daad-alumni.de>
wrote:

> Olá, pessoal.
>
> João Marcos escreveu:
> > Rodrigo, a sua resposta ajuda a corroborar a minha afirmação que a
> > demonstração do teorema de incompletabilidade gödeliano NÃO depende
> > da "aritmetização da sintaxe" (como defendeu a autora do artigo
> > citado no começo da presente discussão).
>
> Permitam-me assumir o ultrajante papel de advogado do diabo. :-)
>
> Rodrigo Freire escreveu (ênfase minha):
>
> > TMR apresenta a seguinte versão do teorema de Godel (citando de
> > memória, pode haver alguma variação inessencial)
>
> > *Se T tem nomes para suas fórmulas* (item 1 da codificação na minha
> > mensagem anterior) e é consistente, então T não representa
> > simultaneamente a operação de diagonalização nas suas fórmulas e a
> > dedutibilidade em T.
>
> Ora, é fácil se livrar da aritmetização se simplesmente a assumirmos
> como hipótese!
>
> O resultado de Kleene também foi aludido nesta discussão como
> evidência em favor da tese de João Marcos.  Esse resultado, de fato,
> implica uma *versão* do resultado de Gödel que trata de teorias
> recursivamente axiomatizáveis nas quais *as funções recursivas
> primitivas são representáveis*[1].  Ora, para se chegar ao enunciado
> original de Gödel, é necessário ainda estabelecer que as funções
> recursivas primitivas são representáveis nas teorias fundacionais tipo
> Principia Mathematica.  É precisamente isso que é alcançado por meio
> da aritmetização.  Ainda que seja repertório básico para os lógicos de
> carreira contemporâneos, isso não é evidente.  Inclusive, pode-se
> dizer que Gödel inaugurou com seu artigo os estudos do que hoje
> chamamos de funções recursivas primitivas.
>
> Se estamos pensando em demonstrações do enunciado original de Gödel,
> com todo seu impacto e consequências, então não creio que seja
> possível evitar a tal aritmetização (bem como diagonalização).
> Supostas demonstrações livres dela estão fadadas a pressupô-la de
> alguma maneira, seja explicitamente, ou embutida em definições.
>
> Certamente, como já foi observado nesta discussão, há uma certa
> vagueza em "demonstrações do resultado de incompletabilidade de
> Gödel".  Não está perfeitamente claro quando um resultado deve contar
> como uma demonstração do enunciado gödeliano.  Ademais, quando estamos
> discutindo o que é ou não necessário para se demonstrar um resultado,
> há que se considerar ainda uma certa ambiguidade na noção de
> demonstração.  Afinal, há boas e más demonstrações.  Qual o valor de
> se evitar esta ou aquela técnica se o preço é terminarmos com uma má
> demonstração?
>
> Assim como qualquer resultado, as demonstrações do teorema da
> indecidibilidade do Gödel podem ser inseridas num espectro com relação
> a sua perspicácia e poder elucidatório. Num dos extremos está algo
> como a demostração do próprio Gödel (talvez com algumas melhorias
> inessenciais na codificação) e no outro extremo está aquela em que
> simplesmente se assume o enunciado do teorema como hipótese.
>
> Afinal, o resultado é conhecido como teorema de Gödel e não teorema de
> Finsler[2]. E, a julgar pela escassa correspondência entre os dois[3],
> os detalhes técnicos, inclusive aritmetização, são uma importante
> razão para essa nomenclatura.  Portanto, não diria que seja matéria
> apenas para hackers[3].
>
>
> Notas:
>
> [1] Em conversa privada, João Marcos indicou a excelente nota de Peter
> Smith sobre o assunto:
>
> https://www.logicmatters.net/resources/pdfs/KleeneProof.pdf
>
> [2] Paul Finsler. Formale Beweise und die Entsheidbarkeit. Mathematische
> Zeitschrift, Band 25, 1926, S. 676-682.
>
> [3] Kurt Gödel. Collected Works, Volume IV, p. 405-415.
>
> [3] A codificação particular escolhida por Gödel é, de fato,
> inessencial, como observou o próprio Gödel, e pode ser substituída,
> eventualmente por versões melhores, sem qualquer prejuízo.  Porém, a
> aritmetização em si me parece desempenhar um papel central.
>
> --
> Hermógenes Oliveira
>
> "The competent programmer is fully aware of the strictly limited size
> of his own skull; therefore he approaches the programming task in full
> humility, and among other things he avoids clever tricks like the
> plague." Edsger W. Dijkstra
>
> --
> Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L"
> dos Grupos do Google.
> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie
> um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br.
> Para ver esta discussão na web, acesse
> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/AM6P192MB0488F538837579BDB703E438E9250%40AM6P192MB0488.EURP192.PROD.OUTLOOK.COM
> .
>

-- 
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos 
Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um 
e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br.
Para ver esta discussão na web, acesse 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CAGJaJ%2B-3Q-8ikc0HSN1tw9b%2Bj93X3%3D71oChizN%2BFSeLhTuZcJQ%40mail.gmail.com.

Responder a