> Hermógenes e lista,

Olá, Carlos.

> Eu , (pura teimosia?) continuo insistindo que a raiz do problema
> está na definição recursiva que usam as linguagens formais, que
> passam a ser, como Kleene disse, aritméticas.

Bem, eu, particularmente, não vejo nenhum problema com isso.

Você havia observado:

> Se demonstrar que o conjunto das fórmulas que não são teoremas não é
> recursivamente enumerável, então o conjunto dos teoremas não é
> recursivo, E isso pode ser provado de maneira finitária. Certo?

O problema em se abordar o resultado obtido por Gödel em termos da
teoria das funções recursivas é que se perde de vista, ou simplesmente
se pressupõe, a relação entre esses conceitos da teoria da
recursividade e as teorias formais com aspirações fundacionistas.
Hoje isso faz parte do repertório do lógico, e alguns poderiam mesmo
tomar como óbvio ou evidente, porém, foi algo que Gödel precisou
demonstrar!  E, se parece tão natural agora, é porque ele o fez!

Após o teorema demonstrado, fica fácil olhar para trás e formular
enunciados equivalentes ao resultado original de Gödel os quais, ao
menos superficialmente, não fazem uso dos conceitos e métodos
encontrados no original.

Observações semelhantes se aplicam à sua sugestão envolvendo modelos
não-standard.

Imagine que você voltasse no tempo, para 1928, e se encontrasse com
Hilbert, ou Ackermann ou Bernays e dissesse a eles que o programa do
Hilbert não pode triunfar porque "nem toda função recursiva parcial é
potencialmente recursiva" (ou qualquer outro enunciado da teoria da
recursão que o valha) e prosseguisse com as definições dos conceitos
que ocorrem no enunciado e uma demonstração dele.  Qual seria a
reação deles?

Ou, se viagem no tempo for ficção científica demais, imagine que
você está *demonstrando* para seus alunos o resultado de Gödel e
explicando seus efeitos sobre o programa de Hilbert.  Você usaria
modelos não-standard? Teoria da recursividade?

Uma boa parte desses conceitos, como o de modelos não-standard, só
fazem sentido hoje *por causa* do resultado de Gödel e, portanto, não
podem prescindir dele ou substituí-lo.

Por isso, me parece que algumas alternativas propostas nesta discussão
pressupõe, ainda que implicitamente, o resultado original (ou uma
parte importante dele).

Nós podemos, eventualmente, nos contorcer com considerações informais
baseadas no nosso já solidificado conhecimento de lógica, dizendo que
é evidente a relação entre sistemas formais e recursividade, ou que é
óbvio que qualquer teoria adequada da matemática permite
diagonalização, ou coisas do gênero.  Mas quando se trata de
*demonstrar* essas alegações, fazer as continhas mesmo e mostrar o
recibo, acho que é difícil escapar de algo semelhante ao trabalho
meticuloso do original.

Não lembro onde li isso, mas dizem que Gödel considerou o seu teorema
a partir de algumas ideias bastante informais, de ordem semântica,
envolvendo autorreferência.  Mas ele sabia que esse tipo de argumento
não convenceria os vovozinhos de Göttingen e sentou para elaborar uma
demonstração completamente sintática.  O esforço teria o custado uma
temporada no sanatório.  Mas, em troca, recebemos uma bela demonstração.

--
Hermógenes Oliveira

-- 
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