Em 22/12/2006, às 22:42, Antonio Fonseca escreveu:

Sua teoria é interessante e você utilizou uma boa argumentação. Mas ela não passa de conjectura. Como exercício intelectual é ótima.

Certamente não sou pretensioso a ponto de me achar dono da verdade. Mas, acho q muitas pessoas estão utilizando uma análise extremamente reducionista sobre o assunto, talvez pelo tradicional ímpeto de enxergar a MS apenas como uma máquina de moer a concorrência. Apesar dos esqueletos no armário, não foi apenas através de jogadas duvidosas q a empresa chegou ao nível de penetração de mercado q tem hoje. E muita gente parece estar esquecendo disso, enquanto ela vai aos poucos fazendo seu dever de casa e ganhando espaços q poderiam estar sendo ocupados por concorrentes mais atentos.


Ainda faltam praticamente todos os indícios necessários para dar a ela alguma credibilidade. E a aposentadoria de Gates, Allchin e outros executivos de alto escalão da Microsoft não são o bastante.

Vc tem certeza? Quais indícios vc considera relevantes neste caso? Curiosamente, as teorias de inovação de ruptura falam justamente sobre como essas reviravoltas acontecem e os "indícios" tradicionais só aparecem qdo já é tarde demais . . . Eu vejo todo dia a MS indo cada vez mais para o lado de serviços, embora sua "cash cow" ainda seja o licenciamento de software. Ela tem caixa para experimentar e errar várias vezes, então se dá ao luxo de lançar um Zune da vida só para experimentar com as possibilidades de distribuição de música e vídeo. Suas unidades de negócio de games estão crescendo, vide o fenômeno do XBox, q provavelmente vai desbancar o PS3 como console dominante (pelo menos nos EUA) e tem pretensões de se estabelecer como media center. Estão experimentando algumas licenças OSI e já aperfeiçoaram seus processos de liberar padrões através do ECMA (eles costumam fazer isso rapidamente qdo há interesse).

Enfim, há sinais de q a empresa está mudando. Para mim a dúvida maior será o ritmo desta mudança, pois será isto q determinará o sucesso da empreitada. Mas, como já disse antes, é apenas mais uma visão do assunto. Não explica a totalidade do fenômeno, tampouco é a palavra final sobre o q está acontecendo.


Em toda sua história a Microsoft jamais deixou de ser uma empresa com ímpeto monopolista.

E qual empresa capitalista deixou de ter ímpeto monopolista? Vc realmente acha q a IBM, por exemplo, não tem "ímpetos monopolistas"? Vá lidar com os caras na hora em q querem vender algo deles . . . No final das contas, eles querem ser seu provedor único de serviços. Se isso passar pelas licenças de produtos IBM, ótimo, mas, caso contrário, ainda querem deter o monopólio naquilo em q competem. Vá visitar o Banco Central para ver do q estou falando.

E a Oracle? Aliás, esta última, q tantos consideravam "amiguinha" do SL em virtude de algumas contribuições menores, mostrou bem a sua cara ao gerar um tipo de FUD sobre gnu/linux q a MS jamais conseguiria gerar diretamente. Ao dizer q ia oferecer o Oracle Linux, ela conseguiu prejudicar mais as distribuições corporativas (em especial a Red Hat) do q a SCO conseguiu fazer em todos este anos. Tendo em vista q muitos usam Red Hat para rodar Oracle hoje, vc acha q se a Oracle oferecer a stack completa esses clientes não vão largar a Red Hat?

O "ímpeto monopolista" está na natureza do capitalismo. Acreditar q uma empresa ou outra não têm essa motivação é não enxergar completamente o mercado em q elas estão envolvidas. Uma empresa q "joga limpo" em um campo, pode simplesmente estar garantindo para si um nicho ainda não contemplado por outras. Aliás, não fosse isso p q será q as distribuições gnu/linux corporativas procuram se diferenciar tanto no código, ao invés de se aterem somente aos serviços? Esforços como o LSB seriam desnecessários caso estas distribuições realmente fossem tão cooperativas qto alguns acreditam q elas sejam. Certificações próprias então, nem pensar . . .

Eu continuo enxergando a Microsoft da mesma forma e nada ainda foi suficiente para me fazer pensar diferente, mesmo em relação a esse enfrentamento com o FOSS. Sim, continua sendo um enfrentamento. Na tentativa de mudar as regras e trazer o jogo para o terreno em que a Microsoft leve vantagem.

Ora, mas eu não disse jamais q seria algo diferente. Apenas acredito q ela possa estar tentando entender uma nova forma de jogar para continuar a ser a empresa dominante q sempre foi. Se um dia eles perceberem q abrir o código de seus produtos ou abraçar os valores da FSF não afetaria a sua posição no mercado (e ainda traria alguma vantagem), pode ter certeza de q eles adotariam esta postura do dia para a noite. Se vc ler o q eu escrevi, verá q não disse q ela tem por objetivo deixar de ser dominante. Estou apenas levantando a hipótese de q ela possa estar procurando novas formas de fazer isso, especialmente agora q seu modelo de negócio começa a demonstrar uma perda da pujança habitual.


Em relação a IBM é importante não esquecer que a empresa precisou se reinventar para sobreviver. Ou ela fazia isso ou fechava as portas. E ao que me consta a MS não sofre hoje de nenhum problemas de ordem financeira.

A MS pode ter bastante caixa, mas o fato é q diversos sintomas de q há problemas estão aparecendo. No âmbito financeiro, o principal deles é a queda acentuada no ritmo de valorização de suas ações. De 1986 até mais ou menos o ano 2000 a MS teve uma forte valorização em suas ações (acabei de olhar no Yahoo! Finance). Daí em diante foi uma pequena queda e nunca mais o valor das ações voltou a subir consideravelmente (e já são uns 5 anos assim). Para bom entendedor, meia cotação da NASDAQ basta. E tenho certeza de q há diversos analistas financeiros competentes trabalhando para a MS.

Assim, a questão não é esperar q comecem a aparecer problemas graves e a situação chegue a um nível de ou vai ou racha. Empresas inteligentes (e a MS já demonstrou diversas vezes q tem mais inteligência do q várias de suas concorrentes) tomam medidas de correção de rumo qdo o iceberg aponta no sonar. A maneira como ela começou a valorizar suas unidades de entretenimento, IMHO, é um sinal claro disso.

Mas, felizmente em uma sociedade livre temos a liberdade de concordar em discordar . . . :-)

[ ]s,

olival.junior


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