On Fri, Feb 14, 2020 at 7:14 PM Gerald Weber <gwebe...@gmail.com> wrote:
>
> Oi Fernando
>
> On Fri, 14 Feb 2020 at 14:34, Fernando Trebien <fernando.treb...@gmail.com> 
> wrote:
>>
>> On Thu, Feb 13, 2020 at 10:41 PM Gerald Weber <gwebe...@gmail.com> wrote:
>>>
>>> Enfim, se eu já achava que a proposta era uma má ideia, agora estou 
>>> convencido que se trata de um grande desastre.
>>
>>
>> Para quem?
>
> Para quem precisa confiar que os dados são reflexo da realidade e não reflexo 
> de um algorítmo.

Por que o algoritmo não seria um reflexo da realidade? O fluxograma de
2013 também é um algoritmo, só que mais simples.

>>> Daqui a duas semanas participo de uma banca de mestrado onde se fez 
>>> precisamente isto, extrairam os dados do OSM e fizeram uma análise de 
>>> conectividade. Eu já vi que tiveram problemas com as classificações das 
>>> rodovias. A atual proposta vai agravar a situação e tornar o OSM inútil 
>>> para estudos científicos deste tipo.
>>
>>
>> Pode dar mais detalhes? Eu acredito fortemente que a nova proposta resolverá 
>> problemas de classificação ao invés de prejudicar. Para poder ajudar e poder 
>> dizer se a nova proposta realmente prejudica alguém, gostaria de saber: que 
>> trabalho foi esse, o que estavam tentando fazer, que problemas tiveram, que 
>> estudos científicos estão sendo feitos usando o OSM, etc.
>
>
> Eu vou terminar de ler a dissertação e te falo com mais propriedade. Penso 
> que o texto, após as correções deva ficar disponível on-line, quando isto 
> acontecer eu aviso aqui.
>
> Mas para ficar em exemplos de trabalhos científicos, vamos considerar este 
> artigo:
> https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2226585615000199
>
> Eu não sei como os mapeadores chineses classificaram suas vias e que regras 
> usaram.

Para alguém com uma opinião forte, soa meio preocupante. E se os
chineses tiverem usado um algoritmo? E se estiverem copiando uma
classificação oficial que dependeu de um algoritmo? O que consta na
página chinesa do artigo key:highway [1] é uma tradução quase ipsis
literis do original em inglês. Já no fórum chinês do OSM só há 44
postagens - o Brasil tem 3808. Para mim, parece que a classificação
atual é resultado da importação de dados de uma fonte de dados
oficial, e a qualidade da classificação portanto reflete a qualidade
dessa fonte de dados. Além disso, a China está cheia de motorways e
trunks, para mim seria interessante saber se a análise da qualidade da
classificação contemplou todos os níveis ou se ateve ao mais altos, o
que pode significar que é apenas efeito colateral da enorme população
desse país.

> dentre elas que o OSM se aproxima mais da realidade que mapas comerciais.

Qual aspecto da realidade?

> mas eu prefiro uma metodologia ancorada na verificação (survey) ou, na 
> impossibilidade desta, na consulta de uma autoridade que realiza este tipo de 
> verificação como o DEER.

Veja bem, a classificação do DEER não tem uma relação 1:1 com qualquer
regra definida por atributos físicos, que é exatamente o que a
proposta de 2013 é. Ou você defende um "algoritmo" baseado em
atributos físicos, ou defende a cópia da classificação funcional
"arbitrária" do DEER. Defender as duas coisas é uma contradição.

> Por exemplo, no caso de MG, o seu algoritmo considerou algumas rodovias ao 
> redor de Diamantina deviam ser trunk. Já pelo DEER-MG ali tem um grande 
> vazio, não há qualquer rodovia trunk (e eu concordo com o DEER neste caso). O 
> que aconteceu? É o Vale do Jequitinhonha, umas das regiões mais pobres de 
> Minas. Tem população que satisfaz o seu critério, mas não tem renda, não tem 
> PIB. Tem gente, mas não tem produtos para transportar que justifiquem uma 
> malha tipo trunk. O grande contraste aqui é o Triângulo Mineiro que é uma 
> região rica permeada por trunks.

Disso eu concluo que esse algoritmo então é, pelo menos do ponto de
vista social, provavelmente mais ético, por não diminuir a importância
das malhas que atendem populações pobres simplesmente por serem
pobres. O efeito de outros métodos é apagar essas malhas do mapa, como
se nessas regiões não houvese nada importante. Essa também é uma das
minhas preocupações, sobretudo nas regiões menos densas (e que também
são mais pobres) do Norte e do Centro-Oeste. Não havendo vias de
classificação alta lá, perde-se discernibilidade, para quem mora e
transita na região, entre as vias que são melhores e as que não são no
contexto regional.

Eu acho importante notar que é muito raro alguém fazer uma viagem
terrestre muito longa, e que a maioria das viagens terrestres está
limitada àquilo que se pode fazer em 1 ou no máximo 2 dias de viagem.
Quando você aplica essa janela à classificação das vias e faz a
classificação de forma comparativa dentro da área correspondente a
esse contexto, você acaba produzindo um mapa mais útil pra mais gente.
Só é menos útil pra quem quer ter um termômetro de qualidade/segurança
viária que seja rigidamente válido em todas as partes do mundo,
ignorando suas disparidades. Talvez por isso os mapas comerciais não
classifiquem as vias dessa forma.

> Olhando a lista de rodovias que você mostrou no seu email anterior, aquilo 
> basicamente esgota o que pode ser trunk em MG, a maioria são rodovias 
> pedagiadas, isso é de fácil verificação.

Isso demonstra que há um certo consenso então!

> Agora como a proposta também cobre classificação de primary, eu temo que a 
> situação possa ficar mais intratável. Quando chegar o momento de classificar 
> as vias primárias pelo algorítmo aí eu penso que distorções bem maiores podem 
> acontecer sem nenhum claro benefício para o usuário do mapa.

Eu acho importante enfrentar uma dor por vez. Mas se é algo que te
preocupa, talvez o ideal seja fazer um teste simples: pegar todos os
municípios com mais de 20k hab (ou 50k hab, o limiar é um dos tópicos
a serem discutidos) em Minas Gerais e ver (por amostragem) se estão
predominantemente conectados por rodovias de algum tipo aceitável.
Obviamente o padrão dessas vias não precisa ser o mesmo padrão das
vias da malha trunk. No RS, a única restrição aplicada à malha
primária é que elas deveriam ser pavimentadas. Os outros critérios
propostos pelo Flávio, de área de influẽncia, acabaram retirando
algumas vias desse conjunto, geralmente vias que também estavam em mau
estado de conservação. Daí é interessante olhar a pesquisa atualizada
anualmente pela CNT (Comissão Nacional do Transporte). Para a grande
maioria das rodovias que pertenceriam à malha trunk, há dados da CNT.
Para as que pertenceriam à malha primary sem ser trunk, geralmente não
há dados, já que são de importância mais local. Nesse caso, é possível
restringir por outros critérios, contanto que haja consenso em Minas.
Mas lembro: a Inglaterra tem pelo menos uma trunk perigosa de 1 faixa
por sentido e sem acostamento por terreno ondulado, então não há razão
para excluir da malha primária vias sem acostamento, como é feito pelo
fluxograma da proposta de 2013.

[1] https://wiki.openstreetmap.org/wiki/Zh-hans:Key:highway

-- 
Fernando Trebien

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