Anahuac,

eu adorei e vou comentar...

qd estiver em casa com calma!

Bjk

Em 1 de outubro de 2014 18:57, <anah...@anahuac.eu> escreveu:

>
> Mais um artigo em http://www.anahuac.eu
>
> Longo!
>
> ---------------------------------------
>
> Querida amiga, você pediu por uma resposta. Ela é longa e bem
> intencionada. A faço pública porque suas dúvidas e receios são também de
> outros.
>
> Na Campus Party Brasil de 2014 tive o prazer de te conhecer, Bárbara
> Tostes. Naquele, então, estavas na equipe de curadores do eixo temático do
> Software Livre e te mostrastes uma pessoa muito sagaz, empreendedora, cheia
> de inciativa e especialmente criativa. Assumistes para si a interação com
> os participantes do evento pelas redes sociais. Com nítidas habilidades
> gráficas estava claro que esse, era também, teu trabalho, ou seja, fizestes
> das artes gráficas teu meio de vida e aplicavas nela todo o sentido crítico
> do seu curso de jornalismo.
>
> Teu entusiasmo e personalidade me remeteram imediatamente aos primeiros
> ativistas de Software Livre que inundaram as primeiras edições do FISL e
> Latinoware. Então antes de mais nada, aqui há meu respeito e admiração pelo
> seu trabalho e ativismo. Em segundo, um tremendo carinho por ser, você, uma
> convicta e verdadeira ativista do Software Livre. E por fim, e mais
> importante, minha extrema preocupação pela sua absoluta inocência por não
> conseguir discernir Software Livre de OSI.
>
> Como tenho dito em outros artigos, OSI e Software Livre não são a mesma
> coisa. Na verdade suas convergências são muito menores que suas diferenças.
> Enquanto um trata de filosofia, ética, moral e liberdade, o outro trata de
> mercados, finanças, técnicas e modelos de negócio. Então misturar as duas
> coisas não poderia terminar bem. Você, Bárbara é apenas mais uma vítima,
> dessa mistura. E a culpa é minha. Não só minha, mas de toda a comunidade de
> Software Livre que deliberadamente se deixou encantar pelos argumentos
> mercantilistas da OSI a uns 10 anos atrás.
>
> Li seu artigo “como é difícil ser livre!”, externando sua inocência e
> perplexidade frente aos novos argumentos levantados pelos ativistas do
> movimento Software Livre, que estão tentando corrigir o erro histórico de
> ter misturado o mercantilismo OSI com a filosofia GNU. Eu incluído e citado.
>
> Já no primeiro parágrafo você deixa claro que não percebeu a mistura
> homogênea que foi feita com o propósito de destituir o conteúdo filosófico
> do projeto GNU, quando fala nas Distribuições Linux. Permita-me te dizer
> que essa não é uma verdade. O Movimento Software Livre não usa um sistema
> Linux, não desenvolve um sistema Linux e não mantém um sistema Linux. O
> sistema é GNU. O kernel pode ser Linux ou não. Mas o sistema como um todo é
> GNU. Veja, no dia em que o kernel Hurd estiver usável e for feita uma
> distribuição usando-o, vamos chamá-la de distribuição Hurd? Pouco provável.
> Quer dois exemplos proprietários? Android e MacOS, usam kerneis livres. O
> primeiro Linux, o Segundo BSD. Não vejo ninguém chamando o MacOS de
> Distribuição BSD. Nem o Android de distro Linux. A lista de exemplos é
> imensa: Gnome ou KDE? Coloque o kernel no seu devido lugar: é apenas mais
> um componente do sistema GNU.
>
> A marca Linux ganhou espaço na mídia e o consciente coletivo das massas,
> porque ele destitui o fator ideológico do nome do sistema operacional ao
> remover o GNU. Inclusive o Linus Torvalds tem um papel fundamental nesse
> processo por não dar a devida importância à liberdade. Como ele mesmo
> declara, ele “faz livre porque é divertido, o resto é bobagem”. Veja, o
> mesmo acontece com o termo “hacker”, que como todos nós sabemos, é algo
> bacana, legal, inteligente e excitante, mas que na mão da mídia marrom, se
> transformou em sinônimo de crime, ilícito, desajustado, terrorista…
>
> Então se você defende a liberdade essencial, aquela que transforma a vida,
> não use mais “Linux” para definir o nome de nenhum sistema operacional
> Livre. O Linux é um excelente projeto de Software Livre, coordenado por um
> gênio que só olha par seu próprio umbigo. E nada mais.
>
> E você, Bárbara tem toda a razão quando diz que ser livre é muito difícil.
> Guerras mundiais fora travadas em seu nome. Hoje o controle planetário pela
> disseminação e uso das redes sociais devassas tem tudo haver com a
> manutenção ou perda das mais elementares liberdades individuais. Você não
> precisa ter algo a esconder para ter direito a privacidade. Até porque,
> pense bem, se for assim, todos os que manifestarem interesse em tê-la serão
> alvos da curiosidade daqueles que não a querem permitir. Some à
> complexidade natural do tema, toda a pressão de marketing e ideologias do
> livre mercado, e teremos as reações mais absurdas, onde se justifica a
> perda da liberdade em nome de tê-la!
>
> Confuso? Vou explicar, mas leia com calma os dois próximos parágrafos.
>
> Por volta de 2004 a comunidade de Software Livre no Brasil estava
> completamente convencida de que a liberdade tecnológica era o caminho
> certo. O grande desafio era como fazer o GNU e sua filosofia chegar até as
> pessoas. A FSF, com o Stallman e Alexandre Oliva à frente, bradavam que o
> objetivo não era a a massificação, mas o entendimento, o convencimento.
> Qualidade sobre quantidade, pois de nada adiantaria criar uma massa de
> usuários de tecnologias livres se eles não soubessem o que estavam usando.
> A ignorância dos usuários seria o elo fraco que permitiria o a apropriação
> dos meios pelos poderosos, como sempre. E em contraponto estavam a Linux
> International, capitaneada pelo querido Maddog e Linus, e a OSI com seu
> maior expoente, Eric Raymon, que diziam exatamente o contrário: era
> necessário massificar o uso e a adoção a qualquer custo, em especial pelas
> empresas que são o motor da sociedade capitalista ocidental. Uma vez que a
> massa estivesse usando não seria nem necessário mais falar em liberdade,
> afinal, eles já estariam livres, certo? Dez anos depois, já podemos
> concluir quem tinha razão.
>
> O Linux é sem dúvida um dos maiores e mais importantes projetos de
> Software Livre, usado em 9 de cada 10 distribuições GNU. Portanto é um
> programa crítico que não deveria ser “infectado” por software não livre de
> forma alguma! Mas o argumento de que a massificação faria a diferença foi
> tão contundente que, como comunidade, como grupo social organizado,
> permitirmos a inserção de código fechado nele, proprietário mesmo.
> Permitimos que nossa liberdade fosse cerceada, na busca por garanti-la e
> massificá-la. Faz algum sentido isso? Então agora a liberdade de escolha,
> aquela que você menciona, está entre escolher qual será sua distribuição
> GNU não livre. Que armadilha!
>
> Deveríamos ter reagido! Deveríamos ter dito: ei! Nada disso! Os
> fabricantes de hardware que se ajustem, que abram seus drivers e façam
> maquinas compatíveis ou não compraremos seus equipamentos! Mas não fizemos
> isso. Porque não? Acreditávamos que se entregássemos os anéis, não
> perderíamos os dedos. E com a massificação do Software Livre – que agora
> nem é tão livre assim – estaríamos levando o melhor para as pessoas.
> Erramos feio. E estamos cometendo o mesmo erro com a adoção massiva das
> redes sociais devassas. Ativistas de Software Livre se lambuzando! Amanhã
> pagaremos o preço!
>
> O Ubuntu surgiu como sendo a prova material de que era possível ter um
> modelo de negócio que respeita-se os conceitos filosóficos do Software
> Livre. Um distribuição GNU, jovem, com alto investimento financeiro, com
> estrutura profissional, com aquele jeito de empresa web, bom acabamento e
> um apelo intangível da inocência africana! Era quase como um ato de boa fé!
> Eu mesmo embarquei nessa em 2005 e fui usuário e disseminador do Ubuntu até
> novembro de 2012. Cheguei até a fazer um bordão com o significado, para
> provocar os amigos do Debian: “Ubuntu é uma palavra africana que significa
> Debian bem feito”. Provocação pura! Assim ajudei a disseminar o Ubuntu e a
> massificar o uso de “Linux”, como todos os demais ativistas de Software
> Livre! Estava militando no movimento social mais justo e revolucionário de
> que tenho notícia! Isso sem falar no meu uso do Gmail.
>
> O que aconteceu em outubro de 2012 foi uma das maiores traições à
> comunidade de Software Livre mundial. Os detalhes e suas consequências
> estão descritas no artigo “Microsoftização da Canonical“, mas em resumo,
> eles inseriram um spyware no ambiente gráfico padrão sem avisar nada a
> ninguém! E como se não bastasse a violação total de confiança, quando foram
> confrontados com os fatos, recorreram a argumentação mercadológica de que
> “todos estão fazendo isso, então não é nada grave demais. Vocês, os
> radicais, estão fazendo uma tempestade em um copo d’água”. Desde então,
> minha confiança na Canonical e no Ubuntu foi reduzida a zero. Como confiar
> que essa é a única armadilha plantada sem conhecimento de ninguém? Afinal
> de contas as empresas de TI são repletas de ações anti éticas, amorais e
> mercadológicas que “todas fazem”. Na Canonical não podemos mais confiar. E
> mais uma vez, a comunidade Software Livre em vez de se indignar, reclamar e
> deixar claro que não admitiria tamanha traição, fez o oposto: se fez de
> cega, surda e louca. Deu de ombros, creditou mais uma paranoia à FSF e
> Stallman e continuou usando e disseminando o spyware disfarçado de Software
> Livre, como se estivessem no maravilhoso mundo de Alice!
>
> Perceba que seu desejo é que as pessoas, prefeituras, bancos e demais usem
> Software Livre. Então nada de Ubuntu, pois ele vem com um kernel cheio de
> componentes não livres e com spyware. Nada mais parecido com o Windows!
> Tanto que o amigo Júlio Neves o batizou de “Linux 8″! Mas alguns pseudo
> ativistas, inebriados pelo mercantilismo conseguem a proeza de deformar
> tanto a lógica livre, que tem propagado que usar Ubuntu é o mesmo que usar
> Debian! Um absurdo completo! E se fosse um desqualificado a ter feito tal
> afirmação, ainda vá lá! Mas estamos falando de gente da própria comunidade
> Debian!
>
> Mas nem tudo está perdido, pois parte da comunidade Software Livre
> percebeu o engodo: não podemos mais pautar a liberdade tecnológica pelo
> dueto da massificação e mercantilização. Lentamente os sistemas
> operacionais estão perdendo a importância, sendo trocados por serviços e
> aplicativos na nuvem. Inclusive os computadores, o hardware mesmo. Hoje se
> troca de celular, tablet ou notebook sem maiores traumas, afinal de contas
> os arquivos e aplicações podem ser restaurados com alguns cliques. E são
> esses os grandes serviços que representam a maior opressão às liberdades
> que tanto defendemos. Google, Instagram, Facebook, Dropbox, Skype, Netflix
> e mais um monte de aplicações proprietárias tem se apropriado das
> tecnologias livres, das falhas em nossas licenças, e especialmente da
> complacência da comunidade e dos movimentos, para repensar seus modelos de
> negócio da forma mais lucrativa para eles usando nossos meios de produção,
> ideias e trabalho colaborativo. Nenhuma preocupação com liberdades ou
> direitos, apenas massificação e lucros!
>
> Então, Bárbara, se você queria muito que as pessoas, prefeituras, bancos,
> negócios e demais usassem “Linux”, pode relaxar: 90% dos smartphones do
> mundo usam Android. Seu maior desejo já é realidade. Sabendo disso, se
> pergunte como essa massificação no uso aumentou a autonomia, segurança ou
> liberdade das pessoas? Até onde consigo perceber, ao usar Andoid de
> fábrica, as pessoas estão carregando consigo sistemas de monitoramento em
> tempo real. Ao adicionar suas contas do Google e permitindo,
> automaticamente, que a mega corporação dos USA monitore cada movimento,
> ligação, mensagem, foto, desejo, ideia ou sonho, elas estão sendo mais
> livres? Mas pode ser ainda mais sinistro: estudo de caso feito pelo
> Facebook com 700 mil pessoas provou que eles são capazes, também, de
> influenciar diretamente o rumos e expectativas dos usuários! Não estão
> apenas monitorando, classificando, perfilando e categorizando. Estão
> gerando tendências artificialmente.
>
> Sua insegurança é causada pelo choque de contrapor liberdade como algo que
> não pode ser conseguida sem um modelo de negócios que gere receita para
> pagar as contas. Essa é a grande mentira do sistema capitalista, onde o
> objetivo maior é ganhar dinheiro e não fazer as coisas do jeito certo. A
> concepção de que o objetivo maior é ganhar a vida antes de educar, ser
> educado, respeitar e ser respeitado é o que afoga a todos no mar de lama do
> consumismo. Como somos impelidos a nos classificar em sociedade, terminamos
> fazendo isso pelo consumo. Onde quem consome mais é melhor. Não se destaca
> quem respeita mais, ou quem ama mais, ou quem mais luta pelas minorias, ou
> quem, de fato, dedica a vida a defender a liberdade. A capacidade de
> acúmulo e consumo passou a definir quem se destaca. Antepor qualquer valor
> moral, ético ou até mesmo religioso a isso, te desqualifica em vez de te
> destacar.
>
> Eu não estou me contrapondo a ganhar dinheiro. Não estou propondo viver de
> luz, nem nenhuma outra baboseira (me desculpem os bobos) desse tipo. Eu
> vivo de Software Livre! Ganho a vida da mesma forma que você e dos demais
> 95% dos humanos: vendendo minha força de trabalho. Viver de Software Livre
> é igual a viver de qualquer outro tipo de Software. É como plantar orgânico
> ou transgênico. Plantar é plantar oras! Mas o que se planta e como se
> planta, definira certamente o que se colhe. Eu planto Software Livre, sem
> agrotóxico, sem semente transgênica e sem atravessador. Quem me ensinou foi
> o Stallman.
>
> Concordo muito contigo quando dizes “que não podemos ser livres assim, que
> não podemos mostrar a liberdade que temos (ou não temos), sem exemplos”.
> Nós, os ativistas de Software Livre devemos dar o exemplo do que é ser
> livre tecnologicamente, e devemos defender essa liberdade. Devemos não
> fazer concessões, não sermos coniventes, não sermos acomodados ou
> complacentes, além de não nos deixar levar pelas ondas mercadológicas. Como
> ativistas, devemos nos recusar a usar ferramentas proprietárias e devassas
> como Facebook e Gmail. Devemos refutar com veemência o Ubuntu pela sua
> traição. Não devemos assinar o NetFlix. Devemos retomar o curso da defesa
> do Software Livre e seus símbolos: FSF, GNU e Stallman. Olhar para trás,
> identificar o erro e corrigi-lo, como bons hackers que somos!
>
> Um dia, muitos optaram por se libertar do Windows! E isso foi muito além
> de apenas não usar Software Proprietário. Fomos criticos contumazes de seu
> modelo de negócio, dos seus ardis mercadológicos e de se seus anseios
> monopolistas. O que difere as empresas que citei antes da Microsoft? Foi a
> promessa de que uma nova ordem estava se estabelecendo e que nós faríamos
> parte dela. Uma nova ordem tecnológica que levaria liberdade, segurança e
> autonomia ao usuário. Então, uma vez empoderado, nós, os humanos
> conectados, seríamos mais fortes e poderíamos usar esse poder para
> transformar o Mundo em um lugar melhor, mais justo, mais limpo, mais
> fraterno. Eu sonhei isso contigo e com muitos outros.
>
> Mas a realidade é bem diferente. Ingênuos, fomos usados, fomos corroídos
> por dentro pelo movimento contra-revolucionário chamado OSI. Esse movimento
> infiltrou o mercantilismo e a complacência com o Software Proprietário, sob
> o argumento da massificação de seu uso, e promoveu o “Linux” sobre o “GNU”,
> os modelos negociais sobre as comunidades de usuários, o ganha-pão sobre o
> voluntariado, o Maddog sobre o Stallman, e como eles mesmo dizem, não veem
> mal algum em usar as redes sociais e serviços on-line privativos. Hora de
> reagir!
>
> Então minha amiga. Concordamos que ser livre não é fácil. Será que
> concordaremos mais ainda?
>
> Saudações Livres!
>
>
>
> --
> Anahuac de Paula Gil
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-- 
Claudia Archer


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porque você nasceu nele".
George Bernard Shaw

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