PessoALL: Eu também diria que há aqui gente muito mais competente do que eu para falar sobre tudo isto (e sobre qualquer outra coisa a respeito da qual eu possa falar). Faço contudo um esclarecimento breve. Se pensamos em *teorias* como conjuntos de fórmulas fechados sob derivabilidade, então as teorias clássicas proposicionais são ("sintaticamente") completas no sentido de Post. Estas coisas são bem conhecidas e estão discutidas, por exemplo, no artigo do Zach, "Completeness before Post".
No caso clássico *de primeira ordem*, contudo, isto não vale em geral. Aparentemente este resultado aparece pela primeira vez no livro clássico de Hilbert & Ackermann de 1928. Vale notar que a "completude sintática" equivale à "completude de Post", a saber, a propriedade de uma teoria não poder ser dedutivamente estendida sem se tornar inconsistente. Há em Teoria dos Modelos um critério útil para a completude de Post, dado pelo chamado "Teste de Łoś–Vaught" (a saber, para a "completude sintática" é suficiente uma teoria ser satisfatível sem ter modelos finitos e também ser categórica para algum cardinal com cardinalidade maior ou igual à cardinalidade da linguagem). * * * Sei que com estas observações já vou mudando o rumo da discussão original, mas uma mensagem da FOM que eu mencionei aqui há duas semanas trata de alguns pontos históricos interessantes sobre as várias "completudes": https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/VGpLWarJiYM/zoxKzN5yAgAJ Logo no primeiro parágrafo de sua mensagem, o Franks chama a atenção para as evidências de que Hilbert estaria interessado quase que exclusivamente no conceito de "Post-completeness" ("completude sintática"), tendo deixado a completude semântica mais ou menos de lado. (É preciso tomar cuidado, contudo, com o fato de que o termo "Post-completeness" também é às vezes usado para algo bem diferente, a saber, para a *completude funcional*, também conhecida mais propriamente como "expressive completeness".) * * * Abraços, Joao Marcos 2016-06-16 16:19 GMT-03:00 Hermógenes Oliveira <hermogenes.olive...@student.uni-tuebingen.de>: > Samuel Gomes escreveu: > >> Olás, > > Olá. > >> Hermógenes: [...] > > Novamente, obrigado pela resposta. > >> João Marcos: >> >> ***************************************************************************** >> Mas no segundo sentido (assumindo que, para eliminar inteiramente a >> semântica desta conversa, por "refutação de S" estamos nos referindo à >> "demonstração de ~S") nem mesmo a própria teoria correspondente à >> *lógica clássica de primeira ordem* seria completa, né? >> ***************************************************************************** >> >> ... Imagino que aí tenha gente que consiga explicar melhor do que eu, >> mas essencialmente os teoremas de incompletude necessitam de um pouco >> de Aritmética, não ? Então, só pegando a Lógica de primeira ordem, não >> vejo (pelo menos não agora de imediato) como justificar uma >> incompletude sintática. > > Ué. Eu pensei a coisa muito mais simples do que isso: > > A lógica de primeira ordem pura, na sua formulação padrão, é obviamente > incompleta (sintaticamente), pois, dada uma variável proposicional p, > não é possível obter uma demonstração ou refutação de p. > > A questão da completude sintática só faz mesmo sentido quando temos uma > teoria formal na qual a lógica de primeira ordem é calibrada para > própositos aritméticos (matemáticos). Por exemplo, na aritmética de > Peano, onde não há variáveis proposicionais e todas as sentenças > atômicas são compostas usando a constante 0, a função sucessor S e > demais funções artiméticas. Ou em ZF, onde as sentenças atômicas tratam > de conjuntos e suas relações de pertinência. Em outras palavras, na AP > todos os termos e variáveis estão para números, a igualdade e os > predicados se aplicam a números. Analogamente para ZF, mas com > conjuntos. > > Para teorias aritméticas (matemáticas), faz sentido esperar que, dada > uma sentença qualquer A, A ou ¬A seja demonstrável, pois não há nenhuma > sentença contingente. > > Estou sendo ingênuo? Ou não entendi direito a pergunta do João Marcos? > > -- > Hermógenes Oliveira -- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br. Para postar neste grupo, envie um e-mail para logica-l@dimap.ufrn.br. Visite este grupo em https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/group/logica-l/. Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CAO6j_LiHB88b8vrLAoUxP4shkh1ae2XOeGMarcLsLZdcMWyWjg%40mail.gmail.com.