É pra levar a sério? 2008/10/9 Eduardo Júnior <[EMAIL PROTECTED]>
> > Olá, lista > > li um e-mail na lista linux-br [1] com o seguinte tema: > As contradições do Open Source > > A mensagem é antiga, mas vou postar aqui pra abrir discussão a respeito, > pois os poucos que lá > responderam, mostraram apenas indignação e não rebateram os pontos do texto > com argumentos e > também queria esclarecer alguns pontos que hoje pra mim não estão claros. > > ---- > > As contradições do Open Source > > Por Mauro Sant'Anna > > Durante os últimos trinta anos surgiu, a partir do zero, todo um novo ramo > da economia que simplesmente não existia antes: o ramo de software. Os > Estados Unidos são sem dúvidas os líderes do setor, mas mesmo assim o Brasil > > tem bastante o que comemorar: segundo a FIPE são 300 mil empregos diretos, > com salários três vezes maiores que a média da economia. O setor também > contribui para a sociedade diretamente: o governo arrecada 45% em taxas, > > contra 25% da média da economia, isso para não falar dos ganhos de > produtividade que o uso do software traz para outros setores. Estes números > não incluem os empregos em empresas cuja atividade principal não seja o > > software, como por exemplo, os bancos, apesar dos bancos serem hoje um > grande "bureau" de processamento de dados, pois é cada vez mais difícil > separar o produto bancário do produto de software. > > O grande crescimento, aliado aos salários mais altos, atraiu uma grande > > quantidade de jovens para o setor. Prova disso é a grande quantidade de > cursos superiores de análise de sistemas, bacharel em ciências da computação > e outros que surgiram nos últimos anos. > > O país possui hoje diversas empresas genuinamente brasileiras em posições de > > liderança no mercado, especialmente em softwares de ERP e contabilidade. > > O ramo de software inclui produtos criados para diversas plataformas e > sistemas operacionais. É sempre mais fácil lembrar do Windows, dada a sua > > liderança no mercado de estações de trabalho e seu recente crescimento no > lado do servidor, mas existem também muitas empresas que faturam com > software em outros sistemas operacionais, como por exemplo, as diversas > > variantes de Unix e os mainframes. > > Diferentes Licenças > > Ao longo dos anos desenvolveram-se diversas formas de licenciamento. Por > exemplo, o cliente podia comprar uma "caixinha" e usá-la em apenas um micro. > > Ou podia comprar certo número de licenças em função do número de pessoas na > empresa que usariam o produto. Ou um contrato "site", com número ilimitado > de licenças. Estas licenças podiam ser perpétuas ou por um período de tempo > > limitado. Podiam contemplar ou não uma "manutenção" com direito a ajustes > e/ou "upgrades". > > O acesso ao código fonte também variava conforme a licença: algumas o > permitiam outras não. Eu mesmo trabalhei na década de oitenta com Turbo > > Pascal e produtos da Turbo Power Software que vinham com fonte, embora o > fonte não se tornasse de minha propriedade. Na época a IBM também permitia > acesso ao fonte de muitos de seus produtos e lembro-me de examinar fontes de > > um sistema de entrada de dados em Assembly 370 que era não só licenciado mas > também alterado pelo banco no qual eu trabalhava. > > As formas de distribuição também variavam muito, desde caixas compradas em > lojas até licenças compradas de vendedores, de maneira semelhante a outras > > mercadorias. Também nos anos oitenta se popularizou uma fórmula de > distribuição exclusiva do software, o "shareware", muito popular até hoje. > No shareware você podia copiar indiscriminadamente um produto de software, > > usualmente com alguma restrição, e comprá-lo caso desejasse. > > É justo dizer que todo o crescimento que tivemos neste novo ramo deveu-se à > possibilidade das empresas cobrarem - de alguma forma - pelas licenças de > > uso. > > Open Source > > Em 1989, o Sr. Richard Stallman, já então bastante envolvido com algo que > iria chamar-se no futuro "software livre" criou um tipo de licença de > software que chamou "copyleft", mas que hoje é mais conhecida como "open > > source" (*). A licença deste tipo mais conhecida é a "GNU General Public > License". Este tipo de licença se caracteriza principalmente pelo seguinte: > você deve incluir o fonte do seu produto, deve permitir modificações e - o > > principal - qualquer um que inclua qualquer fragmento do seu software é > obrigado a incluir a totalidade dos fontes do próprio produto, mesmo aquele > que foi desenvolvido depois. > > Note, o que caracteriza o Open Source não é nem o acesso aos fontes, nem a > > permissão de modificações, nem o baixo preço. Estas características sempre > existiram anteriormente. Existem hoje licenças bastante conhecidas que > satisfazem estes quesitos, como a do "BSD Unix", e que não são Open Source. > > A principal característica do Open Source é que ele "contamina" qualquer > software que use código Open Source, transformando-o automaticamente em Open > Source. > > Para os usuários, o Open Source parece, a princípio, caído do céu: o > > software não apenas pode ser copiado à vontade e por isso efetivamente > gratuito, como também na medida em que os desenvolvedores usem trechos de > código Open Source, todo software se tornará Open Source. Passado algum > > tempo, todo software existente na Humanidade seria gratuito! Na verdade a > estória não é tão rósea para os usuários, como veremos a seguir. > > Mas vamos falar primeiro dos desenvolvedores de software. Como eles > sobreviverão se não puderem vender seus produtos e cobrar algum tipo de > > licença, como tem feito usualmente, em um modelo de negócio provado e que > funciona? > > Sobrevivendo ao Open Source > > A "linha do partido" é que os desenvolvedores inicialmente terão a > satisfação de contribuir para o bem comum e também divulgar seu nome como um > > bom desenvolvedor. Bem, e os desenvolvedores que tiverem necessidades mais > imediatas como pagar aluguel, mandar os filhos para a escola e cumprirem > outras obrigações mais "mundanas"? Ainda segundo a "linha do partido", estes > > desenvolvedores poderão ganhar dinheiro vendendo suporte técnico, cursos e > implantação do próprio produto de software "Open Source" que tenham > desenvolvido. > > Mesmo sem entrar no mérito de que o tal desenvolvedor teria grande interesse > > em fazer um software ruim para aumentar sua receita em serviços (criar > dificuldades para vender facilidades), tal esquema é intrinsecamente > inviável. Vejamos: João desenvolveu o software originalmente e tem que > recuperar o gasto inicial de desenvolvimento em serviços. Já Antonio é > > igualmente capaz a João do ponto de vista técnico, mas é um pouco mais > esperto como negociante. Ao invés de se preocupar desenvolvendo o software, > Antonio resolve apenas examinar o produto já desenvolvido por João e vender > > os mesmos serviços. Antonio pode vender os serviços mais barato, porque não > tem que recuperar o gasto como desenvolvimento! Na verdade, gastar dinheiro > com o desenvolvimento automaticamente tira a sua competitividade como > > fornecedor dos serviços subseqüentes! > > No ramo do Open Source, o bom é pegar carona em alguma coisa que outras > pessoas tenham feito, mas fazer coisas novas é uma fria. > > Efetivamente, a maioria das "estórias de sucesso" com o uso de Open Source > > que eu ouço é de "caronistas" que estão usando de graça algo para o qual em > nada contribuíram. Open Source no software do outro é refresco. Embora > momentaneamente possa haver benefícios, principalmente se o "incauto" que > > desenvolveu o software originalmente foi alguma universidade estrangeira, > este não é um modelo que se sustente por muito tempo, já que não há > incentivo econômico para desenvolver software novo. > > Curiosamente, várias empresas brasileiras e estrangeiras que promovem o > > Linux e se beneficiam da "boa vontade" que existe em volta desta "nobre > causa", na verdade sobrevivem vendendo software comercial fechado e nada > Open Source. Faça como eu digo, mas não faça como eu faço! Em alguns casos > > existem até fortes suspeitas que algumas destas empresas violaram os termos > das próprias licenças "GNU" ao "fecharem" software que originalmente era > aberto. Isto é um crime que compensa, pois a própria falta de identidade > > jurídica dos programas Open Source (quem é o dono?) significa que não há > ninguém para processá-lo, se é que alguém que trabalha de graça teria > dinheiro para processar os outros. E mesmo que tal processo fosse movido e > > ganho pelo "licenciador", qual seria a pena por "roubar" algo gratuito? Isso > é um verdadeiro "buraco negro" legal. > > E os usuários? > > Os usuários estarão amarrando os seus negócios (não de software e sim de > > outra atividade como manufatura ou comércio) em uma base frágil e que pode > trazer diversas surpresas desagradáveis no futuro. > > Suponha que o software corresponda a uma pequena fatia do gasto das > empresas, algo como 2%. Se o seu negócio perder a produtividade na atividade > > fim por causa desta pequena suposta economia, você já fez um mau negócio, > mesmo que o Open Source seja rigorosamente gratuito. > > O Open Source não é gratuito porque mesmo que você use 100% de software Open > Source. Ele ainda exige serviços de implantação e manutenção, usando muitas > > vezes ferramentas sem coesão e conseqüentemente de baixa produtividade, > porque feitas por equipes diferentes com pouca coordenação e regras. Na > verdade existem estudos que apontam o custo total de uso Open Source como > > sendo maior que o do software comercial, se você incluir gastos como > implantação, suporte e treinamento. > > Outro grande problema é: "Quem dá garantia?" Assim como não há ninguém para > processá-lo, não há ninguém para quem reclamar. Não há garantia quanto à > > continuidade do funcionamento, quanto ao conserto de eventuais defeitos, > quanto à adaptação a novos hardwares, quanto à compatibilidade com outros > produtos nem quanto a não-violação de licenças ou patentes de terceiros. Não > > há um processo claro quanto à participação em órgãos de classe nem de > licenciamento de tecnologias específicas. Isso lembra um idealista do "amor > livre" que não preveja o que deve ser feito com as crianças que acabarem > > inevitavelmente nascendo. > > Nos últimos anos a sociedade Brasileira criou diversas leis e práticas como > o Código de Defesa do Consumidor que visam exatamente dar garantias aos > consumidores. O Open Source vai na contra-mão desta tendência, removendo as > > garantias dos produtos. > > Os milhões de olhos > > Um outro mito que ronda o Open Source é que ele tem melhor qualidade e é > intrinsecamente mais seguro porque existem milhões de olhos revendo o > software e pegando qualquer erro, já que o fonte sempre está disponível. > > Evidentemente muitos usuários poderão preferir pagar algum dinheiro e depois > ter a quem reclamar do que ficar com esta efêmera "garantia dos milhões de > olhos". Mesmo esta "garantia dos milhões de olhos" não é verdadeira por > > vários motivos. O primeiro é que a maioria das pessoas simplesmente não quer > saber de examinar fonte nenhum. Outro é que a proliferação da quantidade de > versões e distribuições torna esta revisão simplesmente impossível: não dá > > para rever todas as combinações e interações possíveis entre os vários > produto e versões. > > Na verdade, a quantidade de olhos nem é tão grande assim. Um estudo recente > de Stephen R. Schach da Universidade Vanderbilt prova que mais de 80% das > > modificações introduzidas em projetos Open Source como Gnome e Mozilla foram > feitas por um pequeno grupo de desenvolvedores. Pior, ele prova que o número > de variáveis globais presentes em versões de Linux cresce exponencialmente, > > enquanto o número de linhas cresce linearmente. O Linux caminha a passos > largos para ser de manutenção impossível. > > Conclusão > > As promessas do Open Source de um mundo onde o todo o software é grátis soa > > como uma agradável utopia para alguns. Mas não é um modelo de negócio > estável e capaz de se perpetuar e trazer avanços ao setor. Muito pelo > contrário, caso o Open Source seja indiscriminadamente usado, o setor de > > software simplesmente entrará em colapso e deixará de existir, deixando os > usuários à mercê de alguns "programadores beneméritos" que desenvolverão o > que quiserem, quando quiserem e se quiserem. > > Nem o ramo de software nem a sociedade como um todo estarão bem servidas com > > o uso indiscriminado do Open Source. > > (*) Existem várias definições para "Open Source", alguma das quais incluem > qualquer software que venha com fontes, mesmo que não haja nenhuma > transferência de direitos. Para efeito deste artigo estou chamando de "Open > Source" o código distribuído segundo alguma licença "copyleft" como a "GNU". > > > > [1] - > http://lie-br.conectiva.com.br/pipermail/linux-br/2004-July/021083.html > > -- > Eduardo Júnior > GNU/Linux user #423272 > > :wq > > _______________________________________________ > PSL-BA mailing list > PSL-BA@listas.dcc.ufba.br > https://listas.dcc.ufba.br/cgi-bin/mailman/listinfo/psl-ba > -- Anderson "Caco" Marques Ferraz 4.º Período de Engenharia da Computação - UEFS "I think Microsoft named .NET so it wouldn't show up in a Unix directory listing." (Oktal)
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