No sábado, 19 de junho de 2021, às 22:09:18 -03, João Marcos escreveu:
> 
> DEVEMOS MUDAR O NOME DO GRUPO?
> 
> Recentemente, uma discussão importante foi levantada no cerne do nosso
> grupo:
> "Será que o nome do grupo poderia funcionar como algo que _afasta_ as
> pessoas, ao invés de _aglutiná-las_?"

Os comentários que se seguem estão baseados na pauta introduzida pelas 
perguntas acima.

> Começamos, com este questionamento, a discutir uma possível mudança no nome
> do grupo, que eu gostaria de compartilhar com a comunidade desta lista,
> mais ampla, a fim de medir a sensibilidade e colher as impressões dos
> colegas, de forma geral, eventualmente colhendo subsídios para que tomemos
> uma decisão mais informada e sensata acerca do assunto.
> 
> Para tal, apresentarei brevemente a seguir os prós e os contras
> apresentados por membros do nosso grupo, ao longo dos últimos dias, para
> mantermos ou para trocarmos o nome.  Estou certo de que alguns dos itens
> abaixo poderiam ser melhor desenvolvidos, do ponto de vista argumentativo,
> e outros itens ficaram faltando.  (Notem que os itens entre aspas, abaixo,
> apontam para expressões que foram usadas por participantes do nosso fórum
> interno de discussões.)
> 
> %%%
> 
> [N0]
> O NOME "LoLITA" DEVE / PODE SER MANTIDO
> 
> A - O nome "LoLITA" está estabelecido há muito tempo, se encontra bem
> consolidado, e tem uma longa história institucional, na UFRN, no CNPq, e
> noutros cantos.  O nome do grupo é também o nome do nosso laboratório e do
> nosso fórum interno de discussões.

Certo. Há alguns custos associado à mudança do nome. Portanto, me parece 
razoável que as razões para mudar o nome alcancem, proporcionalmente, um certo 
patamar. No caso do LoLITA, os custos são relativamente pequenos, eu diria, na 
categoria de incovenientes, especialmente se comparados com o caso do Coq 
(https://github.com/coq/coq/wiki/Alternative-names). Os membros do grupo podem 
avaliar o balanço entre custo e benefício melhor do que eu.
 
> B - Eventuais referências negativas ao termo "lolita" parecem ser
> profundamente sensíveis à cultura.
> https://en.wikipedia.org/wiki/Lolita_(disambiguation)
> No Brasil, em particular, o nome aparece como nome de marca de cosméticos,
> nome de supermercado, nome de website com produtos para o mercado feminino,
> nome artístico de atriz, etc.
> Em espanhol:
> https://es.wikipedia.org/wiki/Lolita_(t%C3%A9rmino)
> https://www.asihablamos.com/word/palabra/Lolita.php
> No Chile:
> http://etimologias.dechile.net/?lolita
> https://www.asihablamos.com/word/palabra/Lolo.php
> No México:
> https://www.asihablamos.com/word/palabra/Lolita.php
> No Japão:
> https://en.wikipedia.org/wiki/Lolita_fashion
> (conferir também o primeiro item em [N1], abaixo)

Bem, primeiramente, invocar supermercados, cosméticos, nomes artísticos e etc. 
não é minimamente convincente. Eu entraria sem problemas numa loja de 
conveniências chamada "Canibais dos Trópicos", digamos; hesitaria um pouco 
mais, caso se tratasse de um restaurante; não chegaria nem perto, se fosse o 
nome de um grupo de pesquisa do departamento de nutrição.  Contexto importa. A 
maneira como o nome de um grupo de pesquisa afeta as decisões de uma pessoa, 
especialmente se esta pessoa está considerando dedicar um período da sua 
trajetória acadêmica, não é análoga, ou mantém qualquer paralelo, com a 
maneira como o nome de uma loja de cosméticos afeta a decisão de alguém em 
busca de loção hidratante.

Em segundo lugar, creio ser pacífico que, no Brasil, a expressão "lolita" 
possui sim conotações derivadas da história de Nabokov. O mesmo certamente 
ocorre em outros países/culturas de pessoas que eventualmente poderiam vir a 
se associar com o grupo de pesquisa em alguma capacidade. Novamente, estas 
conotações podem ser inócuas, ou até mesmo positivamente (surpreendentemente, 
provocativamente) significativas em certos contextos (nome artístico, por 
exemplo). Não é o caso de um grupo de pesquisa de lógica, eu diria.

> C - O nome já é usado na área de Computação, inclusive como acrônimo para
> um sistema de processamento de linguagem natural, escrito em Haskell e C:
> https://en.wikipedia.org/wiki/LOLITA

Totalmente irrelevante. Exemplo da técnica argumentativa que um colega aqui da 
UFPB gosta de chamar "O sujo e o mal-lavado". Também conhecido nos países 
anglófonos como "Whataboutism".

> D - O nome serve para fazer graça, como numa apresentação:
> "[...] as you see, my research group is called 'LoLITA' --- which
> _obviously_ means 'Logic, Language, Information, Theory and Applications'"
> [risadas da claque]

Sim, claro. De um lado nós temos considerações pertinentes à inclusividade num 
grupo de pesquisa. Do outro, uma piada gratuita para aspirantes a comediantes. 
Sinceramente. Algém quer fazer piada, mas não tem qualquer talento humorístico 
e está desesperado(a) por piadas de graça? Pois que se vire! Trata-se de algo 
frívolo demais para ser objeto de consideração, dada a pauta em discussão.

> E - Vários membros e ex-alunos do grupo afirmam ter muito orgulho do nome
> do grupo, e chegam a se autodenominar "loliteiros" ou "loliteiras" ("para
> sempre", ou "até a morte").
> 
> F - Continuando o ponto anterior, temos ex-alunos que tatuaram "LoLITA" no
> corpo, que afirmam que "não há nenhum tipo de malícia no nome" ou
> "intenções escusas ao criá-lo", que defenderam a tese usando sapatos que
> faziam referência ao logotipo do grupo (ver abaixo), etc.  Ainda, a maior
> parte das ex-alunAs e das colaboradorAs do grupo que se manifestaram no
> nosso fórum interno de discussões afirmaram estar plenamente confortáveis
> com o nome do grupo.

OK. Não tenho experiência com o grupo, mas gostaria de levantar a hipótese de 
que o orgulho não advém tanto do *nome* do grupo, mas do *próprio grupo* (das 
atividades que desenvolve, daquilo que o grupo representa). Sim, imagino que 
possa haver quem ache o nome legal, mas suspeito que não se sentiriam tão 
diferentes caso o grupo tivesse um outro nome, digamos tão astuto quanto e com 
duplo significado, mas que não estivesse associado com a exploração e/ou 
erotização de meninas púberes?

Interessante saber que a maior parte das alunas e colaboradoras se sentem 
confortáveis com o nome do grupo. E a menor parte? A maior parte também se 
sentiria confortável com um outros nomes, suponho? Talvez alguns com os quais 
a menor parte também esteja confortável?

Convém notar que a suposição considerada em pauta é de que o nome teria o 
*potencial* de afastar. Difícil sondar a opinião das pessoas que, caso o 
suposto potencial tenha se efetivado no passado, escolheram se afastar. Também 
é difícil auferir em que proporção esse potencial se efetivou, se é que isso 
ocorreu. Contudo, qualquer resquício de chance nesse sentido me parece 
bastante pesado em comparação com piadas, estampas de sapatos, ou defasagem de 
tatuagens, ainda que combinados. 

> G - Qualquer nome pode dar lugar a "interpretações distorcidas".

Correto. Mas inócuo.
 
> H - A *referência* última do nome "LoLITA", por nexo de batismo, é
> simplesmente o grupo de pesquisa correspondente, do DIMAp/UFRN, e não o
> romance do Nabokov, nem o apelido carinhoso de uma mulher chamada Dolores,
> nem nenhum dos outros itens extra-linguísticos apontados nos outros itens
> acima (ou abaixo).

Correto. Mas irrelevante.

Um pouco mais detalhadamente sobre os pontos G e H (e talvez partes do ponto 
F). Creio que ninguém esteja sob a hipótese de que o fato de que a sigla do 
grupo soletra "Lolita" é um infeliz acidente. Isto é, a sigla LoLITA é 
proposital. Bem, mas trata-se de um grupo de lógica. Não de literatura. Nem de 
fãs do Nabokov. Ou de pedófilos na internet. A pergunta natural é: Bem, por que 
logo "LoLITA"? Ao que tudo indica, a resposta, no contexto do batismo do 
grupo, é completamente inocente:  a sigla se encaixa bem com uma boa 
descrição, é o nome de uma obra literária famosa, é bem astuta e etc.

Agora, se pessoas começam a levantar preocupações com possíveis efeitos 
negativos do nome (que supostamente passaram despercebidos), a posição "o nome 
permanece" já não é tão inocente. Não se trata aqui de atribuir malícia, ou 
qualquer outra motivação nefasta ao contexto de batismo. Quem defende que o 
nome deve permanecer me parece estar comprometido(a) com alguma combinação das 
seguintes teses:

- Nenhuma pessoa razoável associa conotações negativas ou impróprias à 
expressão "lolita" (embora seja banida em várias ferramentas de busca por aí) 
a ponto de afetar o seu envolvimento com o grupo de pesquisa em qualquer 
capacidade (uma tese temerária, eu diria)

- os possíveis efeitos negativos são desfavoravelmente contrabalanceados pelos 
benefícios em termos de piadas, sapatos, tatuagens e evitar o considerável 
trabalho envolvido em mudar o nome do grupo

- o legado do grupo de pesquisa está de alguma forma atrelado à *permanência* 
do nome. proteger esse legado, de alguma maneira, tem mais valor do que 
garantir o conforto e/ou acolhimento de futuros membros e/ou colaboradores

Meus centavinhos,

--
Hermógenes Oliveira 


-- 
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