Colocadas as coisas assim, fica mais claro.

Mas, voltando à Carla, que eu não conheço pessoalmente, parece ser do
estilo dela escrever artigos como o citado. Aqui vai um trecho de outro
artigo:

A metafísica seria uma forma de pensar o múltiplo a partir do um, o outro a
partir do mesmo, o diferente a partir do idêntico, a alteridade como uma
alteração do mesmo, o diferente como uma degradação da identidade. É sob
essa inspiração que pretendo discutir a diferença sexual e a articulação
entre feminino - esse outro pensado na tradição a partir do mesmo -,
alteridade e ética.

Partindo de proposições formuladas por Elizabeth Grosz, Tina Chanter e
Drucilla Cornell e em diálogo com Emmanuel Lévinas e Jacques Derrida, este
artigo articula feminilidade, neutralidade e o lugar da diferença sexual a
fim de pensar como, se o neutro se confunde ao masculino, e é anterior à
diferença sexual, então neutralidade e masculinidade se confundem e se
sobrepõem. A partir desse suposto neutro - que carrega nele a marca
implícita do masculino - a filosofia formula a pergunta "o que é", tomando
o neutro (masculino) como padrão para definir o outro (feminino) numa
perspectiva que essencializa o outro pelas suas diferenças. Ou, para ficar
nos termos com que Sylviane Agacinski define a metafísica, a pergunta "o
que é" se responde pensando o feminino (outro) como uma alteração do
masculino (mesmo/neutro).

Postular a pergunta "o que é a mulher" já seria uma forma metafísica e
essencialista de pensar sobre o feminino, como argumenta Chanter, para quem
a origem dos essencialismos sobre o feminino se localiza nesta equação: ao
tomar o neutro como masculino, a tradição precisa definir a mulher a partir
da pergunta "o que é". Chanter seguirá os passos de Derrida ao dizer que a
diferença sexual já nasce como uma forma de secundarizar o feminino e o
pretensamente neutro aparece na tradição filosófica como masculino. Meu
interesse aqui é pensar a neutralidade como um totalizador que elimina as
diferenças, e pensar a diferença sexual como elemento que secundariza a
mulher.

Lévinas buscou nas reflexões sobre diferença sexual a impossibilidade de
afirmação do neutro como sinônimo de humano. Se mesmo assim o fez dentro de
uma matriz androcêntrica, como tão bem aponta Derrida, isso não impede que
se possa reconhecer a importância de um pensamento que, desde muito cedo,
associou feminino, alteridade e ética.

O artigo dela segue por aí a fora. Parece que ela escreveu toda uma tese de
doutorado assim! Como diria a Simone de Beauvoir, Sacré Coeur!

Em 5 de dezembro de 2011 10:07, Francisco Antonio Doria <famado...@gmail.com
> escreveu:

> Explico: disse à moça, que, intuitivamente, no princípio da incerteza,
> temos duas grandezas - fenômenos, etc - acoplados, e tais que, definindo-se
> um deles, o outro se torna indefinido. E ela me deu exemplos, em
> psicanálise, de tais entidades acopladas.
>
>
> 2011/12/5 Tony Marmo <marmo.t...@gmail.com>
>
>>
>> Não entendo como o princípio da incerteza de Heisenberg possa ser
>> interpretado figurativamente de modo a ajudar na psicanálise.
>>
>> Mas, se ela insiste, quem sou eu para discordar?
>>
>> Em 5 de dezembro de 2011 07:55, Francisco Antonio Doria <
>> famado...@gmail.com> escreveu:
>>
>> Tony,
>>>
>>> Não concordo com vc nessa avaliação, mas deixa pra lá. Conheço cabeça de
>>> jornalista porque sou filho de jornalista, e pai de jornalista - meu filho
>>> Pedro é um dos editores executivos de O Globo. Esse texto é um artigo de
>>> opinião, ensaio, e como ele, escrevi muita coisa assim, em 1968, no finado
>>> Correio da Manhã, e em 1974, em Opinião.
>>>
>>> Gênero esse artigo da Carla; vcs iam se horrorizar... Mas me diverti
>>> muito; em 68 era pós adolescente, e era gostoso ser citado na praia de
>>> domingo, e na antessala do Paissandu :))  Gloriosos tempos.
>>>
>>> Há uns meses o Cesar Benjamin escreveu um artigo citando o teorema de
>>> Goedel, a incompletude. Me ligou, expliquei pra ele. Não saiu perfeito, mas
>>> saiu legal. Fui devidamente citado, e responsabilizado, no texto final.
>>> (Cesar, editor da Contraponto e ex-candidato a vice da Heloisa Helena, é um
>>> fascinado por filosofia da ciência.)
>>>
>>> Conto um episódio recente, aliás descrito ao fim do livro com o Chaitin
>>> e Newton. Estava saindo com uma psicanalista lacaniana que um dia me diz -
>>> no meio de uma palestra minha - que o princípio da incerteza de Heisenberg
>>> é relevante para a psicanálise.
>>>
>>> Pensei um instante e expliquei, devagarinho, o Princípio da Incerteza.
>>> Do técnico ao intuitivo - como um teorema de álgebra linear, como o
>>> comutador não trivial de x e d/dx - e relacionei-o ~as variáveis canônicas
>>> q e p em mecânica clássica, igualmente de comutador não trivial, e enfim
>>> como algo intuitivo. E ela me sai com uma interpretação surpreendente e
>>> rica de significado.
>>>
>>> Foi divertido :))
>>>
>>>
>>> 2011/12/5 Tony Marmo <marmo.t...@gmail.com>
>>>
>>>> Só fica uma pergunta: essa moça aceita que lhe expliquem direito as
>>>> coisas ou não?
>>>>
>>>> O que me parece é que a jornalista queria mesmo escrever algo que lhe
>>>> pareceria interessante aos seus leitores e não algo que esclarecesse. Não
>>>> se sabe de onde ela tirou as informações para fazer o artigo, se as
>>>> informações estavam corretas ou não nas fontes que ela consulto, ou,
>>>> supondo-se que estivessem corretas, se as entendeu. O que me parece é que
>>>> ela colocou no artigo o que queria colocar, nem que para isso tivesse de
>>>> mudar o que ouviu ou leu, ou de construir conclusões sem verificar se
>>>> procediam mesmo do material que leu.
>>>>
>>>> É uma pessoa que considera que a objetividade científica seja um mito e
>>>> usou de uma figura de autoridade para criar um artigo em defesa de sua
>>>> própria ideia. Como Goedel, Einstein e Heisenberg são figuras importantes
>>>> do século passado, nada melhor que usar os três para construir a sua versão
>>>> de como a objetividade científica teria sido demolida.
>>>>
>>>> Mas, é nesse tipo de artigo que os jornalistas acreditam para vender
>>>> jornal ou atrair público. Provavelmente, supõe ela que falar de método
>>>> axiomático, do debate entre Hilbert e Browser, e do que realmente os
>>>> teoremas de Goedel tratam seja muito assunto pesado para um simples artigo
>>>> e possivelmente afastaria uma ampla gama de leitores.
>>>>
>>>> Alguém se lembra de uma controvérsia entre um artigo da professora
>>>> Marilena Chauí e uma réplica de um professor do IMECC vários anos atrás? O
>>>> professor do IMECC corrigiu a apresentação de vários conceitos e criticava
>>>> o fato de que, ainda que aceites os conceitos do modo que ela os formulara,
>>>> não se entendia porque ela tirava certas conclusões deles.
>>>>
>>>> Em 5 de dezembro de 2011 01:04, Francisco Antonio Doria <
>>>> famado...@gmail.com> escreveu:
>>>>
>>>> Ela me escreveu e vamos nos encontrar.
>>>>>
>>>>>
>>>>> 2011/12/2 Tony Marmo <marmo.t...@gmail.com>
>>>>>
>>>>>> Li-o e considere-o uma crônica de ficção científica, quase a um estilo
>>>>>> borgeano! :D
>>>>>>
>>>>>> Em 1 de dezembro de 2011 15:11, Décio Krause <deciokra...@gmail.com
>>>>>> >escreveu:
>>>>>>
>>>>>> > Caros lógicos
>>>>>> > Vejam o texto em http://carlarodrigues.uol.com.br/index.php/570
>>>>>> > sobre os teoremas (de incompletude, claro) de Gödel e tirem suas
>>>>>> próprias
>>>>>> > conclusões. A autora é de uma capacidade incrível para dizer
>>>>>> tolices sobre
>>>>>> > o que certamente não conhece.
>>>>>> > D.
>>>>>> >
>>>>>> > ------------------------------------------------------
>>>>>> > Décio Krause
>>>>>> > Departamento de Filosofia
>>>>>> > Universidade Federal de Santa Catarina
>>>>>> > 88040-900 Florianópolis - SC - Brasil
>>>>>> > http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause
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