2009/1/17 Roberto Parente <betim.pare...@gmail.com>

> (..)Glauber, a sua argumentação não faz sentido. Por exemplo:
> "... logo ele não deveria surgir em um governo com sistema capitalista -
> assim como uma planta que é incompatível com certo solo e clima não pode se
> desenvolver em condições que contrariem sua natureza."
>
> Seria o mesmo de dizer que não deveria existir o MST, pois ele reivindica a
> Reforma Agrária (dentre outras coisas), algo que não é possível/viável pelos
> moldes do Capitalismo (outro debate). Porém eu acho que movimentos sociais
> surgem após uma aberração criada contra o natural. Por exemplo, latifúndio
> não é normal então surgem os movimentos pela reforma agrária, da mesma forma
> o Software Proprietário não é natural então surgem os movimentos
> pró-software livre.
>

Perfeito o seu exemplo. Assim como o MST luta pela reforma agrária (e não
pelo fim do captalismo), o SL luta pela liberdade do software através do
desenvolvimento de sofware livre, e não contra o capitalismo. Ele deseja ser
capaz de usar apenas softwares cujas 4 liberdades estejam disponíveis. Os
membros do MST querem terra, os do SL querem essas 4 liberdades.

Diferente do movimento MST que não pode produzir as terras onde irão
plantar, o movimento do SL produz os softwares com os quais irão produzir. E
nenhum desses movimentos pretende dividir o resultado do seu trabalho com o
resto da população, e nem de acabar com a propriedade privada de todos os
meios de produção (ex: computadores, etc).

A aberração anti-natural que é combatida pelo movimento do software livre é
a falta de liberdade dos usuários de software, e isso não tem nada a ver com
a abolição de qualquer propriedade privada.



>
> Os movimentos surgem, são debatidos e etc. Eles existirem não quer dizer
> que podem ser 100% implantados no sistema no qual surgiu. Por exemplo,
> existem milhares de movimentos sociais que estarão se encontrando no Fórum
> Social Mundial, será que todas as idéias são compatíveis com o Sistema
> Capitalista? Pela a sua lógica são.


Se eles não fossem compatíveis com o modelo capitalista, só poderiam ser
implatados com o fim do capitalismo, e não durante. A prova da
compatibilidade é o seu surgimento. Isso não quer dizer que não poderiam se
beneficiar melhor de outro modelo, mas isso não o mesmo que ser incompatível
com um modelo onde seu efeito é limitado.


>
> Outra coisa, eu disse que concordava que o SL não era 100% com o sistema
> capitalista. Não falei nada de Open Source (aberração criada para adaptar o
> SL a este, eita + 1 debate!).
>

O Open Source tem uma estratégia de evangelização diferente, só isso. Os
softwares são os mesmos e o dinheiro vem e vai para o mesmo lugar.


>
> Bruno Buss,
>
> "O que se pode fazer se a Red Hat emprega muitos desenvolvedores dos
> principais sub-sistemas que fazem parte de um SO Linux?"
>
> Não estou dizendo que ela está fazendo algo errado ou que o S.L. morreu por
> causa disso. Estou dizendo que ele está sendo cooptado (sim pelo $$), pois
> se ele estivesse para a sociedade não aconteceria coisas dessa forma, mas é
> possível e natural dentro do sistema que vivemos. Entende a troca
> filosófica? Quem tem dinheiro manda no desenvolvimento do projeto e ele
> deixa de ser autônomo e livre (no sentindo filosófico de estar para todos do
> que respeitar as 4 regras).


"Livre" não tem sentido de estar para todos. Você distribuir a mesma
porcaria para todo mundo nao significa que essas pessoas tenham a liberdade
de mudar a realidade. Um leão livre na selva não está disponível para você
andar de cavalinho nele.

Por exemplo, imaginemos uma padaria fictícia na qual quando o padeiro quer o
seu pão mais macio ou mais duro, ele consegue isso de forma mais rápida que
os seus clientes - já que o pão é feito por ele. Se o cliente quizer o pão
do jeito dele, ele tem que ir lá e fazer o pão do jeito que ele acha que
deve ser feito. Ele vai lá e pede para o padeiro mostrar a receita para ele.
Então ele tira ou adiciona fermento de acrodo com o seu gosto. Uma padaria
assim poderia ser chamada de "padaria livre", já que o cliente tem liberdade
de alterar a receita do pão que ele está pedindo, desde que trouxesse os
ingredientes de casa.

Se o cliente não quiser trazer os ingredientes de casa, ele pode pagar o
padeiro pelo trabalho de customizar o pão de acordo com o uso de
ingredientes. Se ele não souber fazer o pão, ele tem que esperar o padeiro
de plantão ficar disponível para atendê-lo. Ou então ele pode trazer um
padeiro de casa e pagar só pelos ingredientes.

O padeiro tem uma consciência social bem incomum, e sempre deixa vários pães
no balcão. Qualquer um pode ir lá e pegar o pão a hora que quiser. Esses
pães atendem às necessidades nutricionais da maioria dos clientes e ainda
vem com a receita. O padeiro até aceita sugestões dos clientes que levam os
pães de graça, tudo para melhorar a qualidade do seu pão. Mas ele sabe que a
exigência dos clientes aumenta a cada dia, por isso sempre terá cliente
pagando por um pão diferenciado. E ainda tem os clientes que contribuem com
alterações na receita em troca de ter um pão gratuito mais saboroso.

Aí um dia chega um cliente dizendo que aquela padaria era injusta pq tratava
os clientes de forma desigual. Agora na padaria tudo é de todo mundo, ela
não cobra nada por nada. Você diz para o padeiro "faz um pão assim e assim",
e ele faz o pão do jeito que ele achar que deve. O atendimento é
indiscriminado, mas é uma porcaria. O slogan da padaria é "pelo menos você
não morre de fome". Os clientes ficam presos sem poder sair da padaria.
Nessa padaria o mais importante é que não haja desigualdade, e isso
realmente não há.

Está vendo como liberdade e igualdade são coisas diferentes? Não estou
dizendo que uma coisa é mais ou menos importante que a outra. Mas para o
software ser livre isso não quer dizer que seus desenvolvedores tenham que
fazer tudo de graça para todo mundo independente de seus interesses e
motivações, desde que não retirem as liberdades do software. SL não é
questão de entregar a mesma coisa para todo mundo, mas de deixar as 4
liberdades sempre disponíveis junto com o software para seus usuários.


> Quanto ao exemplo do Gnome, eu usei um exemplo. Seria bem complicado eu
> listar todos FOSS existentes e comentar um por um. Ele (Proj. GNOME) tem
> toda a liberdade para fazer o que desejar com o código. Porém eu coloquei na
> perspectiva de ter um ambiente gráfico bem usado que rodasse de forma
> interessante nas máquinas antigas.
>
> Glauber,
> "Isso vale tanto para você quanto para o pessoal de cuba. É um problema do
> sofware, e não do sistema econômico. Lá em Cuba quando Fidel quer uma coisa
> com certeza sai mais rápido do que o normal."
>
> Não defendo o sistema vigente em Cuba (Stalinismo != Socialismo !=
> Comunismo)
>
> Porém, ainda acho que temos muito a aprender com Cuba, mas algumas coisas
> não são compatíveis com o sistema que vivemos (percebam de forma global e
> não em pais X, Y ou Z).
>

Talvez exista um modelo que favoreça melhor o SL que o capitalismo. Mas isso
não torna o SL incompatível com o capitalismo. O software livre oferece uma
solução para o problema de abuso na autoria de software usando as leis
cabíveis e a maneira de como as coisas funcionam no sistema capitalista.
Seria estranho se esse modelo não fosse compatível, seria como se fosse uma
solução elaborada para outro momento que não esse, outra realidade que não a
nossa.

Seria como "Ah, nós temos uma maneira de acabar com o problema do abuso no
software, mas ela não é compatível com a nossa realidade capitalista, vamos
mudar o sistema de governo e aí sim tá pra nós...". Nós temos uma solução
para esta situação, para esta realidade. Então porque ela seria
incompatível?

-- 
Glauber Machado Rodrigues
PSL-MA

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