Re: [Logica-l] Ontologia SUMO, ATP, ITP e Explicação de provas

2016-06-14 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Alexandre Rademaker <aradema...@gmail.com> escreve:

> Prezados,

Olá, Alexandre.

> Estamos fazendo vários experimentos com a SUMO [1], sua tradução para
> TPTP/FOL [2] e verificação automática em provadores como E, Vampire
> etc. Estamos reportando várias inconsistencias [3] e dificuldades de
> obter provas que deveriam ser simples como o exemplo de Banana Slug
> [4].
>
> Em especial, estou procurando agora boas ferramentas interativas que
> aceitei como entrada TPTP, debugar provas longas de refutação não é
> tarefa fácil... Dicas? Alguém conhece algo pronto?! 

Eu não conheço absolutamente nada sobre ontologia (informática), mas
tenho alguma experiência com o formato TPTP/ILTP.

Se entendi bem o que você precisa, tenho algumas informações que possam
ser relevantes.

Primeiro, baseado numa rápida passada de olhos, me parece que para
resolver o Banana Slug não basta lógica de primeira ordem (TPTP-FOF),
mas é necessário lógica de ordem superior (TPTP-THF)[1].

Quanto a assistentes interativos que trabalhem com o formato TPTP, sei
que o Isabelle contém uma ferramenta tptp_isabelle e que o Matita também
seria capaz de trabalhar com TPTP.

Porém, embora já tenha usado tanto Isabelle quanto Matita, nunca
trabalhei neles com problemas no formato TPTP.  Portanto, não sei dizer
se o suporte para TPTP está limitado a FOF ou inclui a extensão para
ordem superior THF.

Dê uma olhada no SystemonTPTP do Prof. Sutcliffe[2].  Talvez encontre
ali no meio um ATP/ITP que satisfaça suas demandas.

Saudações,

Notas:

[1] Imagino que funções indutivamente definidas são necessárias para a
parte aritmética, não?

[2] http://www.cs.miami.edu/~tptp/cgi-bin/SystemOnTPTP

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] votação eletrônica de classificação de periódicos da área de lógica

2016-06-17 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Prezados,

O período de votação terminou.

O resultado pode ser conferido em

http://civs.cs.cornell.edu/cgi-bin/results.pl?id=E_b8a67f80d6df72ec

Com apenas 19 votos contabilizados, o resultado dificilmente pode ser
tomado como representativo da comunidade de lógica brasileira, mas
talvez possa revelar algo de interessante.

Saudações,

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Re: Is there a model of ZFC inside which ZFC does not have a model?

2016-06-16 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Samuel Gomes escreveu:

> Olás,

Olá.

> Hermógenes: [...]

Novamente, obrigado pela resposta.

> João Marcos:
>
> *
> Mas no segundo sentido (assumindo que, para eliminar inteiramente a
> semântica desta conversa, por "refutação de S" estamos nos referindo à
> "demonstração de ~S") nem mesmo a própria teoria correspondente à
> *lógica clássica de primeira ordem* seria completa, né?
> *
>
> ... Imagino que aí tenha gente que consiga explicar melhor do que eu,
> mas essencialmente os teoremas de incompletude necessitam de um pouco
> de Aritmética, não ? Então, só pegando a Lógica de primeira ordem, não
> vejo (pelo menos não agora de imediato) como justificar uma
> incompletude sintática.

Ué.  Eu pensei a coisa muito mais simples do que isso:

A lógica de primeira ordem pura, na sua formulação padrão, é obviamente
incompleta (sintaticamente), pois, dada uma variável proposicional p,
não é possível obter uma demonstração ou refutação de p.

A questão da completude sintática só faz mesmo sentido quando temos uma
teoria formal na qual a lógica de primeira ordem é calibrada para
própositos aritméticos (matemáticos).  Por exemplo, na aritmética de
Peano, onde não há variáveis proposicionais e todas as sentenças
atômicas são compostas usando a constante 0, a função sucessor S e
demais funções artiméticas.  Ou em ZF, onde as sentenças atômicas tratam
de conjuntos e suas relações de pertinência.  Em outras palavras, na AP
todos os termos e variáveis estão para números, a igualdade e os
predicados se aplicam a números.  Analogamente para ZF, mas com
conjuntos.

Para teorias aritméticas (matemáticas), faz sentido esperar que, dada
uma sentença qualquer A, A ou ¬A seja demonstrável, pois não há nenhuma
sentença contingente.

Estou sendo ingênuo?  Ou não entendi direito a pergunta do João Marcos?

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Re: Is there a model of ZFC inside which ZFC does not have a model?

2016-06-16 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Dankness asked
> Is there a model of ZFC inside which ZFC does not have a model? 

Noah Schweber answered:
> Yes.

> Recall that by the Completeness Theorem, having a model and being
> consistent are the same thing. Also, by Incompleteness, ZFC doesn't
> prove its own consistency. Finally, ZFC can prove the Soundness
> Theorem - that an inconsistent theory has no models!

> So - assuming ZFC has a model - ZFC is consistent. If ZFC is
> consistent, then ZFC can't prove "ZFC is consistent." By completeness,
> this means there's a model of ZFC satisfying "ZFC is inconsistent."
> Since ZFC proves the Soundness Theorem, this model must think that ZFC
> has no model!

Algém teria a bondade de esclarecer o que significam "modelos pensantes"
e por quê o teorema de *completude* está sendo invocado para *ZFC*?

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] [META] Proposta de princípios e regras de convívio para a LOGICA-L, parte 1/3

2016-07-22 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> 2016-07-12 11:24 GMT-03:00 LOGICA-L <logica-l@dimap.ufrn.br>:
>> Na mensagem de hoje proponho discutir especificamente as quatro
>> primeiras regras de convívio do nosso documento.  Prazo para
>> manifestações: uma semana.
>>
>> REGRA 1. desaprovação da anonimidade: a lista é de livre inscrição,
>> mas postagens feitas a partir de perfis que aparentem ser fake podem
>> vir a ser moderadas pela administração
>
> O colega Carlos Gonzalez sugeriu uma redação bastante mais precisa
> para a REGRA 1, que foi registrada no nosso documento [...]

Se é que ainda há tempo, gostaria de expressar minhas desconfianças com
relação à *utilidade* da REGRA 1 no estado atual.

Primeiro, suponho que a justificativa para a regra da identificação
(REGRA 1) seja, conforme João Marcos apontou, que os participantes
assumam publicamente responsabilidade pelas mensagens que veiculam na
lista (incluindo, mas não limitado, aos efeito sofridos em termos de
reputação, prestígio e demais mecanismos sociais supostamente úteis).
Para isso, concordo, deve ser possível determinar a autoria das
mensagens.  Para tanto, porém, a autoria deve ser conhecida pela
*comunidade* e não somente pela administração.  Um perfil identificável
somente pela administração é, para todos efeitos e propósitos sociais e
comunitários, anônimo.

Segundo, se a regra da identificação é somente para propósitos de
responsabilização civil e criminal, devo lembrar que administrador de
lista não é capaz (tecnicamente falando) nem competente (legalmente
falando) de determinar a autoria de mensagens para esse propósito.  Isso
é papel da polícia e dos tribunais.  Neste contexto, sequer a sugestão
de que o administrador seria responsável pelo conteúdo ou identificação
da autoria de mensagens veiculadas na lista me soa demasiadamente
paternalista.

Assim, a REGRA 1, no seu estado atual, me parece despropositada e
inócua.  Me parece que devemos escolher: obrigatoriedade da ficha do JYB
ou permissão da anonimidade.  Para mim, tanto faz.

-- 
Hermógenes Oliveira

«Plus d'un, comme moi sans doute, écrivent pour n'avoir plus de
visage. Ne me demandez pas qui je suis et ne me dites pas de rester le
même : c'est une morale d'état civil; elle régit nos papiers. Qu'elle
nous laisse libre quand il s'agit d'écrire.» Michel Foucault

-- 
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Re: [Logica-l] [OFF] "It is time to delete your Academia.edu account"

2017-01-29 Por tôpico Hermógenes Oliveira
cê pode seguir outros pesquisadores e receber
notificações quando elas publicam algum artigo bem como receber
notificações de artigos em suas áreas de interesse (ou periódicos de
interesse).  Não sei como ele se compara com o Academia.edu (pois nunca
usei este último), mas estou bastante satisfeito (e o portal tem
melhorado a cada ano que passa).


> Eu continuo na rede.

De fato, a decisão é sua, meu amigo.

-- 
Hermógenes Oliveira

»Der Grundsatz, nach dem ich entscheide, ist: Die Schuld ist immer
zweifellos.« Der Offizier, Franz Kafkas »In der Strafkolonie«

-- 
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Re: [Logica-l] da matemática alemã

2017-02-13 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> [...]
>
> Recebi da Cláudia Nalon, entretanto, um link para um artigo
> relacionado e bem mais interessante: uma entrevista com Abraham
> Fraenkel, que apareceu no seu livro de memórias publicado recentemente
> em inglês (com um pouco mais de 50 anos de atraso).
>
> Hitler’s Math
> http://www.tabletmag.com/jewish-arts-and-culture/224161/hitlers-math
>
> Vale a pena observar o depoimento elogioso de Fraenkel a respeito de
> Hilbert e Landau, que possivelmente lhe fizeram nutrir simpatia pelo
> formalismo, e sua crítica política a Brouwer e idiotas como Ludwig
> Bieberbach (fundador da "Deutsche Mathematik"
> https://de.wikipedia.org/wiki/Deutsche_Mathematik), que eventualmente
> levaram Fraenkel a abominar o intuicionismo.

Por que você acha que questões pessoais, éticas e/ou políticas teriam
influenciado a atitude de Fraenkel com relação ao formalismo ou ao
intuicionismo?  Você leu isso em algum lugar, ou é apenas uma impressão
sua?

Dei uma olhada na edição alemã das memórias do Fraenkel aqui na
biblioteca e não consegui achar nada que indicasse isso... Pelo
contrário, pelo menos na passagem reproduzida no artigo que você
indicou, Fraenkel diz que o intuicionismo é "importante", "original" e
"interessante".  Contudo, ele censura implicitamente *o comportamento de
Brouwer* e critica sua abordagem dogmática e mística do intuicionismo
(enquanto elogia implicitamente o comportamento de outros
construtivistas como Weyl).

Esse negócio de julgar ideias com base em quem as professa é muito
curioso.  Algo que, inclusive, estava no centro dos movimentos pela
"Deutsche Mathematik" e "Deutsche Physik".  Assim, é possível que as
motivações por trás das críticas do "Círculo de Munique" fossem de
caráter ideológico nazista (esse círculo girava em torno de Hugo
Dingler[1] que na sua empolgação com o socionacionalismo alemão chegou
a ser denunciado por usar emblema da NSDAP antes de ser formalmente
aceito no partido): atacavam a teria da relatividade (Einstein era
judeu), a escola de Hilbert (Hilbert era "protetor" de judeus) e etc,
embora essas motivações geralmente não estivessem explícitas e as
críticas fossem feitas no âmbito teórico.

O interessante é que Heinrich Scholz, elogiado por Fraenkel nas
referidas memórias e amigo próximo de Fraenkel até a sua morte,
*publicou artigo na Deutsche Mathematik*.  Esse foi um artigo em defesa
da escola hilbertiana contra os ataques do Círculo de Munique
(especialmente Max Steck), um artigo escrito à convite do "idiota"
Bierberbach, que, neste caso, pode ter contribuído para que o centro de
pesquisas liderado por Scholz em Münster (um dos poucos em território
alemão após a decadência de Göttingen) não sofresse consequências de
motivação ideológica.  Esse artigo do Scholz foi inclusive resenhado por
Bernays no "Journal of Symbolic Logic".

O ambiente na matemática e, particularmente, na lógica durante o período
nazista é discutido em detalhes no livrinho de Eckart Menzler-Trott,
"Gentzens Problem", particularmente no capítulo 4, "A briga por uma
lógica alemã".  Contudo, alguém comentou comigo que a edição em língua
inglesa (à qual não tenho acesso) foi editada num formato mais puramente
biográfico, com discussões sobre o socionacionalismo removidas completa
ou parcialmente.  Vale lembrar que algumas coisas ali são mesmo
controversas.  Quando se trata desse tipo de assunto, as coisas nunca
são tão preto no branco.  Em geral, intelectuais e acadêmicos são
comumente desligados de questões políticas e são facilmente manipuláveis
ideologicamente, isso quando não são ativamente oportunistas.  Os poucos
que arriscam arregaçar as mangas nesse quesito, pagam muitas vezes um
preço caro em termos de suas carreiras, e podem mesmo acabar na cadeia
(como aconteceu com Bertrand Russel e Michael Dummett).

Interessante ainda é que a questão que provocou essa discussão, a da
"decadência da matemática alemã" após a segunda guerra, apresenta como
pressuposto implícito uma ligação entre nação e ciência, à exemplo da
ideologia nazista.  Muita gente acha que o problema principal com o
socionacionalismo alemão eram coisas como o Rassengünther[2] e campos
de concentração.  Esquecemos que o nacionalismo em si mesmo é
problemático, embora seja normalmente tolerado ou mesmo visto com bons
olhos.


Notas:

[1]  https://de.wikipedia.org/wiki/Hugo_Dingler

[2]  https://de.wikipedia.org/wiki/Hans_F._K._G%C3%BCnther

-- 
Hermógenes Oliveira

"Just publish it.  If you're afraid that the population will be seduced
by it, you have bigger problems than the book."  Someone on the
availability of Hitler's "Mein Kampf" on German book stores after the
expiration of the copyright in 2016.

-- 
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Re: [Logica-l] da matemática alemã

2017-02-14 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> [...]
>
>> O interessante é que Heinrich Scholz, elogiado por Fraenkel nas
>> referidas memórias e amigo próximo de Fraenkel até a sua morte,
>
> Estranho, sem dúvida, que eles fossem tão amigos.  Eu não sabia.  Como
> disse anteriormente, não li muita coisa de pessoal do Fraenkel, ou
> sobre o Fraenkel, além deste texto.

Pois é.  No trecho das memórias que você indicou, Fraenkel anuncia que
vai falar sob Otto e Scholz, mas essa parte foi cortada e não aparece no
trecho.  Ambos os teólogos são lembrados de forma elogiosa no seu livro
de memórias.

Scholz é um caso peculiar, pois há relatos aparentemente contraditórios
a respeito da relação dele com os nazistas: alguns relatam simpatia, ou,
pelo menos, tolerância, com relação a NSDAP, principalmente antes da
ascensão do partido ao poder; outros relatam que Scholz era um dos
poucos com os quais se pudesse conversar francamente e criticamente
sobre a NSDAP durante o auge do nazismo.  Conta-se também que a
intervenção de Scholz teria sido decisiva no resgate de um certo
discípulo de Łukasiewicz (Salamucha) dos campos de concentração, tendo
ele inclusive corrido riscos pessoais por fazê-lo.  Eckart Menzler-Trott
escreve que "Scholz war anfänglich ein starker Sympathisant des
Nationalsozialismus [...]" mas que, contudo, "[...] aus seiner
protestantischen Theologie schöpfte er ---im Gegensatz zu seinen
Kollegen Emmanuel Hirsch und vielen anderen--- die Kraft gegen den
Nationalsozialismus."

> Aparentemente o idiota do Bieberbach não era tão dogmático com relação
> ao que aceitava publicar na sua revista?  Ou o alinhamento ideológico
> lhe era mais caro do que o alinhamento matemático?

Vai saber.  Pelo pouco que sei a respeito, tendo a concordar com o
diagnóstico do Courant: o sujeito parecia ser meio desmiolado.

>> Vale lembrar que algumas coisas ali são mesmo controversas.  Quando
>> se trata desse tipo de assunto, as coisas nunca são tão preto no
>> branco.  Em geral, intelectuais e acadêmicos são comumente desligados
>> de questões políticas e são facilmente manipuláveis ideologicamente,
>> isso quando não são ativamente oportunistas.  Os poucos que arriscam
>> arregaçar as mangas nesse quesito, pagam muitas vezes um preço caro
>> em termos de suas carreiras, e podem mesmo acabar na cadeia (como
>> aconteceu com Bertrand Russell e Michael Dummett).
>
> Hilbert não parece ter sido uma figura muito desligada das questões
> políticas...

Não conheço muito da biografia de Hilbert, mas a impressão que tenho é
que ele era bem engajado quando se tratava de questões políticas que
afetavam o meio acadêmico.  Não obstante, intelectuais que se engajam
ativamente em questões políticas de interesse geral como
anti-militarismo (Bertrand Russell) ou racismo (Michael Dummett) são bem
mais raros.

> Por acaso, o que vinha à minha mente enquanto eu lia sobre isto era a
> história dos EUA, país que faturou cerca de 40% de todos os prêmios
> Nobel da história.  Destes, 31% foram dados a cientistas que não
> nasceram lá.  O recrudescimento do nacionalismo e da xenofobia, nos
> EUA e fora de lá, pode vir a causar danos nesta fronte, e em várias
> outras.

Eu pensei algo similar...

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] (In)decidibilidade e (In)completude

2016-09-24 Por tôpico Hermógenes Oliveira
nônica
> A_mn que descreve a operação de m com entrada n na interpretação
> padrão. A sentença A_mn tem modelo finito se e somente se m para com a
> entrada n. De fato, por um lado, A_mn é satisfeita na subestrutura da
> interpretação padrão cujo domínio é o intervalo de operação de m com a
> entrada n. Por outro lado, é fácil ver que se m não para com a entrada
> n então A_mn só tem modelos infinitos. Segue-se do problema da parada
> que a satisfatibilidade em estruturas finitas não é recursiva. Como a
> satisfatibilidade em estruturas finitas é recursivamente enumerável (a
> satisfatibilidade em cada estrutura finita é recursiva), temos que a
> validade em estruturas finitas não é recursivamente enumerável.
> Portando, não há sistema dedutivo (recursivamente enumerável) que
> tenha como teoremas exatamente as sentenças válidas em todas as
> estruturas finitas. Fim.

Isso demonstra a *indecidibilidade* do conjunto das sentenças válidas em
todas as estruturas finitas.

> Referências: Alguns livros de lógica "undergraduate" contém os
> detalhes. Ebbinghaus, Flum e Thomas é um deles. Pessoalmente, gosto
> (mais) do Boolos, Burgess e Jeffrey, mas neste o teorema de
> Trakhtenbrot é enunciado em um exercício apenas. 

Eu consultei o livro de Ebbinghaus, Flum e Thomas.  Ali, o teorema é
demonstrado como um teorema de indecidibilidade:

"5.4 Trahtenbrot's Theorem. The set of first-order sentences
valid in all finite structures is not R-enumerable." p. 171

onde

"W is said to be register-enumerable (abbreviated: R-enumerable) , if
there is a program which decides W" p. 160 (Definition 2.6)

O manuscrito de Stephen Simpson que consta nas referências da entrada na
Wikipédia apresenta o teorema de Trakhtenbrot como um reforço do
resultado de Church (não mencionei isso na mensagem anterior pois
somente agora me dei conta do manuscrito):

http://logic.amu.edu.pl/images/2/21/Churchtrakhtenbrot.pdf

Saudações,

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] like dirt under the carpet, the incompleteness just won’t go away

2016-11-25 Por tôpico Hermógenes Oliveira
ATENÇÃO: O que se segue está escrito num tom incisivo e moralista, além
de refletir uma agenda específica do autor com a qual muitos já devem
estar aborrecidos.

Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

>>> (brevíssimo artigo de divulgação, por Peter Lynch)
>>> http://www.irishtimes.com/news/science/the-shaky-foundations-of-mathematics-1.2877075
>
> [...]
>
> Precisamos certamente de mais artigos breves e inúteis como este.
> Divulgação científica é importante, [...]

Discordo plenamente.  O artigo é um desastre.  Repleto dos disparates,
hipérboles e sensasionalismos comuns em artigos de divulgação dos
teoremas de Gödel.

É altamente duvidoso que artigos desse tipo contribuam para a divulgação
de qualquer conteúdo que se possa chamar adequadamente de "científico".
Mas creio que contribua consideravelmente para o tipo de misticismo
barato e abuso dos teoremas de Gödel relatados nas obras de Torkel
Franzén e Sokal & Bricmont, dentre outros.

Porém, *mais importante ainda*, rejeito a premissa que ciência deva ser
divulgada (no sentido que o artigo de Peter Lynch pode ser chamado de
"divulgação científica").

*** começo da pregação ***

Em primeiro lugar, artigos de divulgação que circulam na imprensa comum
estão mais preocupados com frases de efeito e deslumbramento
pseudocientífico do que com precisão e correção, o que, do ponto de
vista científico, causa mais prejuízo do que benefício.  As razões para
isso são variadas, mas certamente incluem o fato de que é impossível
transmitir para o não especialista qualquer conteúdo científico
considerável em dez parágrafos de texto.  Excessão concedida à colunas
de recreação matemática, mas talvez estas não sejam, propriamente
falando, artigos de divulgação científica.

Em segundo lugar, a *veneração pela ciência* na maior parte das
sociedades ocidentais já está acima da linha do ridículo.  E isso é
prejudicial para a ciência.  Portanto, "divilgar ciência" como meio de
alavancar o seu status no meio da sociedade, ou aprimorar a sua imagem
perante a população em geral, me parece contraproducente.  *Ensinar*
ciência, contudo, me parede mais proveitoso.

Me admira a prepotência da comunidade científica de manter (por
conivência ou esmorecimento) uma situação na qual a Mariazinha da
Esquina tenha que dispensar considerável esforço e dinheiro para obter
conteúdo verdadeiramente científico (na forma de artigos e livros
didáticos) enquanto a alimenta com curiosidades pseudointelectuais na
roupagem de "divulgação científica": afinal a verdadeira ciência
pertence aos cientistas, é produzida por cientistas e só consegue ser
compreendida por cientistas; não há demanda por ciência em meio a
população em geral, somente demanda por aplicação, ou, melhor ainda, por
produtos de consumo; ciência e tecnologia é coisa de gente grande, deixe
por conta dos especialistas.

Ninguém é obrigado a se interessar por ciência e certamente *não* há
nenhum valor em estimular esse interesse artificialmente, mas as pessoas
que eu conheci que se interessam sinceramente por algum tema científico
mostravam-se frustadas pela ausência de informações relevantes em peças
de divulgação científica.  Só ficam satisfeitos aqueles que estão menos
interessados em ciência do que em parecer espertos.

Divulgação científica *não* é importante.  Ensino e livre acesso à
material didático e produção científica é essencial.

*** fim da pregação ***

Saudações,

-- 
Hermógenes Oliveira

"If you make people think they're thinking, they'll love you; but if you
 really make them think, they'll hate you." Donald Robert Perry Marquis

-- 
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Re: [Logica-l] like dirt under the carpet, the incompleteness just won’t go away

2016-11-25 Por tôpico Hermógenes Oliveira
az de desdenhar
artigos de divulgação científica completamente bem intencionados, os
    quais eu mesmo não conseguiria melhorar sequer uma linha sem
explodi-lo para as dimensões dos monólogos que escrevo para a lista
de lógica.

-- 
Hermógenes Oliveira

Este espaço deveria ser preenchido por uma frase inteligente e
espirituosa.

-- 
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Re: [Logica-l] Five stages of accepting constructive mathematics (Andrej Bauer)

2016-10-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Marcelo Finger <marcelo.fin...@gmail.com> escreveu:

> Como seria uma prova construtiva do resultado de Turing sobre a
> existência de números (reais) não computáveis?
>
> A prova clássica é fortemente não construtiva e não apresenta um tal
> número. E nem poderia apresentar pois se houvesse um algoritmo que o
> gerasse, o número seria construtivo.
>
> Mas uma prova construtiva deveria apresentar um tal número. Mas como?
> Fico com a impressão de que este resultado não é provável na lógica
> intuicionista.

Superficialmente, isto é, no âmbito puramente lógico, a demonstração
intuicionista mostraria que nem todos os números reais são computáveis
(¬∀x C(x), x ∈ ℝ) o que, intuicionisticamente, *não* é equivalente a
mostrar que existem números reais não computáveis (∃x ¬C(x), x ∈ ℝ).

No âmbito matemático mais fino, contudo, deve-se atentar ainda para a
presença de noções baseadas em definições intuicionisticamente
inadimissíveis.  Assim, a noção de número real intuicionista não
coincide com a noção de número real clássica, na medida em que podem
haver definições e especificações clássicas de números reais que não são
admissíveis para um intuicionista.  De fato, é na análise real que as
peculiaridades da matemática intuicionista se revelam com maior vigor.

Porém, eu suspeito que a noção *clássica* de número real não seja
essencial ao argumento de Turing.  Não sei exatamente a qual trabalho de
Turing você se refere, mas presumo que esteja se referindo ao artigo
clássico de 1936.  Ali, se não me falha a memória, Turing mostra que as
sequências e números computáveis são enumeráveis.  Bem, como os números
reais não são enumeráveis, segue que nem todos os números reais são
computáveis, isto é, classicamente, existem números reais não
computáveis.  Do ponto de vista intuicionista, a última parte, incluindo
o apelo ao resultado de Cantor sobre a não enumerabilidade dos números
reais, *pode* ser problemática.  Mas o argumento de Turing que mostra a
enumerabilidade dos números computáveis me parece em ordem.

Ademais, intuicionistas normalmente não possuem reservas quanto à
argumentos diagonais.  Porém, como lembrou o João Marcos, sentimentos
podem variar dentro da grande família construtivista: finitistas,
predicativistas e etc. podem ter lá suas desconfianças.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Proof-theoretic proof of NP=PSPACE?

2016-10-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

O trabalho de Hermann e Gordeev estava na programação da conferência
"General Proof Theory"[1] que aconteceu em Tübingen no ano passado.
Contudo, não foi possível aos autores participar da conferência.

Gordeev apresentou o trabalho no seminário do nosso grupo algumas
semanas depois.  Hudelmaier estava presente.

As lâminas[2] da apresentação do Gordeev oferecem um bom panorama geral da
demonstração, com foco nos pontos principais.  Elas foram publicadas nos
anais da conferência[3].

Na ocasião, o manuscrito foi disponibilizado com antecedência, o que nos
permitiu acompanhar a apresentação sem muita perplexidade.  Na minha
opinião, os pontos mais críticos da demonstração, isto é, aqueles que
mereceriam uma atenção mais detalhada em busca por erros:

a) a afirmação dos autores de que o embutimento do fragmento implicativo
   do cálculo de sequentes de Hudelmaier no fragmento implicativo de
   dedução natural preserva as estimativas polinomiais de comprimento e
   fundamento (nº de fórmulas distintas).

Gordeev apresentou o embutimento em detalhes e, para mim, ficou claro que
esta parte está correta.  Mas aqui é necessário atenção aos detalhes.
Quem sabe alguém encontra um escorregão...

Curiosamente, a reação inicial de Hudelmaier fora que uso do seu cálculo
de sequentes seria inessencial, o que me impressionou um pouco, pois as
estimativas polinomiais aqui estão apoiadas no fato de que o comprimento
da derivação está restrito a O(n log n).

b) após o embutimento das demonstrações CSH (cálculo de sequentes
   Hudelmaier) para DN (dedução natural), as árvores de DN são
   horizontalmente compactadas para DAGs (directed acyclic graphs) de
   maneira que colapsa múltiplas ocorrências de uma mesma fórmula.  Esse
   processo, contudo, resulta em complicações com o descarte de
   hipóteses.  A solução dos autores para este problema está baseada no
   que eles chamam de "correção local".  Esta parte merece atenção.

A noção intuitiva de descartes para DAGs é o que os autores chamam de
"correção global".  Esta noção de descarte, contudo, não pode, em geral,
ser verificada em tempo polinomial.  Daí, a noção de "correção local" é
introduzida como substituta suficiente com verificação polinomial.

Confesso que não acompanhei esta parte detalhadamente, embora tenha
capturado o funcionamento geral.  Este pedaço do argumento, eu diria, é
o mais engenhoso do trabalho e merece atenção especial.  Eu me prometi
passar pelas minúcias depois da apresentação do Gordeev, mas nunca
cheguei a fazê-lo.

+++

Eu li somente o manuscrito distribuido na conferência em Tübingen, mas
dei uma passada de olhos pelo artigo depositado no arXiv.  Em comparação
com o manuscrito, o artigo parece conter mais material, especialmente
exemplos e diagramas ilustrando a compactação (descompactação) para (a
partir de) DAGs, bem como uma discussão mais detalhada da questão dos
descartes, correção global/local[4].

O Hermann vem trabalhando na intersecção entre complexidade
computacional e derivabilidade em CS e DN há um bom tempo.  Mas creio
que não haja muitas pessoas amplamente familiriazidas com a literatura
de ambos os campos.

Eu recomendo as referencias nº 7, 1 e 2 do artigo, bem como outros
trabalhos do Hermann[5], para quem quiser entender mais sobre o método de
compactação para DAGs e a relação entre complexidade, CS e ND.

As atualizações recentes na página de divulgação indicam como transferir
os resultados obtidos para o âmbito mais conhecido do fragmento
existencial de QBF, respondendo aos comentários do Marcelo.

Acho ótimo que os colegas estejam interessados na demonstração.  É um
resultado importante e, quanto mais olhos, melhor.

Notas: 
[1]  http://ls.informatik.uni-tuebingen.de/GPT/

[2]  Me parece que permaneceu uma pequena falha na última lâmina.
Onde se lê "[...] proof of α is verifiable in polynomial time by a
non-deterministic algorithm [...]" deveria-se ler ""[...] proof of α is
*verifiable* in polynomial time by a *deterministic* algorithm [...]".

[3]  http://dx.doi.org/10.15496/publikation-10394

[4]  A definição 5 (correção global) mencionada na § 3.6.1 parece ter
sumido do artigo (embora haja uma discussão no corpo do texto em § 3.4).

[5]  http://www.tecmf.inf.puc-rio.br/EdwardHermann/Public

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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[Logica-l] Re: [fora do tópico] Algorithmic Bias

2017-01-14 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Flávio Luis de Mello <flavioluis.me...@gmail.com> escreveu:

> Saiu um statement da ACM
> (http://www.acm.org/media-center/2017/january/usacm-statement-on-algorithmic-accountability)
> tratando da preocupação deles com eventuais resultados tendenciosos de
> algoritmos voltados para a tomada de decisão.
>
> Penso que a IA é uma das áreas contempladas por essa preocupação. Além
> disso, ainda que a preocupação seja válida, me pergunto se realmente é
> viável auditar o processo neste contexto. Gerar dados ou informações
> tendenciosas é uma característica do algoritmo ou o reflexo daqueles
> que produzem o algoritmo? Entendo que é o segundo.

Eu entendo que é o primeiro.

Note que as tendências e preconceitos dos programadores, ou da
organização que desenvolve o algorítimo, não se refletem necessariamente
no algorítimo (se este fosse o caso, obter um algorítimo não tendencioso
seria praticamente um milagre).  Como o problema está nos resultados
tendenciosos dos *algorítimos*, então são estes que devem passar pelo
crivo.

Ademais, com o emprego crescente de métodos algorítmicos mais opacos,
como redes neurais artificiais em combinação com aprendizado de máquina,
resultados tendenciosos podem surgir a despeito das intenções
(conscientes ou não) dos desenvolvedores, pois, como observa bem o
documento publicado pela ACM, eles podem ser causados pelo dados que
alimentam o algorítimo.

Por exemplo, se um algorítimo, usado para alguma tomada de decisão,
digamos, a ordenação dos resultados de alguma busca, é alimentado com
dados coletados dos próprios usuários, pode-se esperar que tendências e
preconceitos dos usuários se reflitam nos resultados do algorítimo.
Dependendo do contexto, algo assim pode ser bastante problemático.

-- 
Hermógenes Oliveira

"There are two ways of constructing a software design: One way is to
make it so simple that there are obviously no deficiencies and the other
way is to make it so complicated that there are no obvious
deficiencies." C. A. R. Hoare

-- 
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Re: [Logica-l] Women in Logic -- workshop associated to LiCS

2016-12-05 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

>>> Esta é mais uma iniciativa válida, Valeria, com um comitê organizador
>>> de primeira (e de Primeiro Mundo anglófono).
>>
>> Bem, se a razão de ser desse comentário diz respeito ao país de origem e
>> à língua materna, posso acrescentar que reconheço apenas três nomes no
>> comitê, nenhum deles de "Primeiro Mundo anglófono": Valéria de Paiva
>> (brasileira), Alexandra Silva (portuguesa) e Adriana Compagnoni
>> (argentina).
>
> Não entendi bem o aparte...  Todas trabalham no Primeiro Mundo
> anglófono, como está claro.  Coincidência?  Ou um ponto a mais a cujo
> respeito valeria a pena refletir?

E eu continuo sem entender o propósito da observação sobre "Primeiro
Mundo anglófono".  De primeiro, cogitei que o ponto dizia respeito à
questão de diversidade cultural, étnica ou nacional.  Agora, o ponto
parece dizer respeito ao endereço e/ou vínculo empregatício?

>> acrescento o seguinte:
>>
>> Talvez o estresse mencionado na mensagem de divulgação seja melhor
>> compreendido, e talvez mesmo percebido como óbvio, por mulheres que
>> atuam na área de lógica (para as quais, enfim, o evento é direcionado).
>> Mas, fazendo um exercício de empatia, digo que, se eu entrasse numa sala
>> de conferência que estivesse repleto exclusivamente de mulheres,
>> certamente me sentiria inicialmente meio fora de lugar e talvez mesmo
>> buscasse verificar se não teria entrado numa espécie de lavatório feminino
>> por engano.  Porém, mulheres que atuam na área de lógica passam por
>> situação similar rotineiramente.
>
> De minha parte, eu certamente não penso que entrei em um lavatório nas
> ocasiões em que entro em salas nas quais as mulheres são maioria.

Nunca aconteceu comigo de eu entrar numa *sala de conferência*, num
evento acadêmico, onde houvessem mais de vinte pessoas e *todas* fossem
do sexo feminino.  Se pretende dizer que isso já aconteceu contigo, fico
sinceramente surpresso.  A observação sobre o lavatório foi uma
tentativa, aparentemente fracassada, de tratar o assunto com um pouco de
bom humor[1] (com uma referência indireta à citação de Hilbert).  Para
esclarecer, isso nunca aconteceu comigo, mas se eu entrasse numa sala de
conferência com, digamos, 200 mulheres e nenhum homem, eu obviamente não
pensaria que tivesse realmente entrado num lavatório feminino.  Ainda
assim, provavelmente me questionaria se alguma variável envolvendo
gênero me escapara: talvez o evento é somente para mulheres, etc.  O
ponto é que a maioria das mulheres que atuam na área de lógica, contudo,
certamente já tiveram a experiência de entrar em salas de conferência
cheias *sem nenhuma outra mulher presente*.  Porém, muitos crêem que,
neste caso, está tudo normal e não há nenhuma variável de gênero
envolvida, pois não há ninguém *proibindo* as mulheres de participar.

>> Se o ambiente não fosse tão dominado por homens e não houvesse tanto
>> assédio, creio que tanto homens quanto mulheres se sentiriam mais à
>> vontade para discutir ciência.
>
> Como são estas coisas nas áreas em que as mulheres são maioria?

Não faço idéia.  Mas não me preocupa tanto o fato de termos um sexo *em
maioria*.  Já participei de seminário (em filosofia, mas não em lógica)
onde as mulheres fossem maioria (algo como 6 mulheres e 4 homens).  O
problema é quando, com frequência, um sexo está absolutamente ausente ou
em *maioria esmagadora*. Em inúmeros ajuntamentos menores (seminários e
etc.) da área de lógica que participei, ou bem não havia mulheres (caso
mais comum) ou havia apenas uma (raro) ou, no máximo, duas (raríssimo)
mulheres presentes.


Notas: 
[1]  
https://broodsphilosophy.wordpress.com/2007/12/16/how-to-tell-if-you-suck-at-telling-philosophical-jokes/

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Women in Logic -- workshop associated to LiCS

2016-12-06 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Marcelo Finger <mfin...@ime.usp.br> escreveu:

> Mesmo em eventos em que há a presença de algumas mulheres, a postura
> é, em geral, masculina: um bando de gente batendo a mão no peito e
> mostrando os dentes.

:-D Essa frase raiou o meu dia, Marcelo!

Além do mais, acho que ela aponta para um fator importante.

Um estudo[1] publicado recentemente sobre a evasão de estudantes em
filosofia nos EUA revela que um dos fatores que afastam estudantes, em
particular as do sexo feminino, é o, digamos, "clima masculino" que
domina a disciplina, especialmente o *esteriótipo masculino* do filósofo
(podemos acrescentar também o lógico) e o *culto ao gênio*.

Citando um trecho da mensagem do Morgan Thompson, um dos autores do
estudo:

"[...] it seems likely that the subtle ways in which philosophy
instructors, texts, or stereotypes about philosophers contribute to this
brilliance-based belief about success in philosophy partially explains
why women leave (or simply don’t enter) the field. It’s likely that both
the gendered stereotype of philosophy and brilliance-based beliefs about
it are "in the air" such that students are influenced by them even
before taking any college philosophy courses."

Ademais, creio que o culto ao gênio influencie um pouco o clima de
rivalidade, vaidade e egomania que se observa na disciplina.  Durante a
graduação, algumas colegas comentaram comigo que achavam o ambiente em
filosofia um tanto hostil.  Claro que falar em "clima masculino" e
sugerir que mulheres são naturalmente aversas à confrontação pode
reforçar ainda mais os esteriótipos[2].  Mas talvez o esteriótipo do
gênio infalível seja prejudicial a todos estudantes, não somente as do
sexo feminino.

Notas: 
[1]  
http://dailynous.com/2016/03/31/why-do-undergraduate-women-stop-studying-philosophy/

[2]  http://thecooperreview.com/non-threatening-leadership-strategies-for-women/

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Saiu o Qualis 2015 !

2016-12-20 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> [...]
>
> EM FILOSOFIA
> [...]
> Subiram de posição:
> - Journal of Philosophical Logic

Uma das coisas mais estranhas no Qualis (≤ 2014) da Filosofia era esse
periódico estar classificado no extrato C.  Journal of Philosophical
Logic é pior que a revistinha dos alunos de graduação da minha antiga
universidade?!  Como pode isso?

Fico contente que pelo menos essa anomalia tenha sido corrigida.

***

A Revista Brasileira de Pós-Graduação publicou recentemente (ainda no
prelo) alguns artigos sobre o Qualis.  Dentre eles, me chamou a atenção
um artigo da Profª Rita de Cássia Barradas Barata:

Dez coisas que você deveria saber sobre o Qualis
http://dx.doi.org/10.21713/2358-2332.2016.v13.947

A visão do Qualis apresentada pela Profª Rita de Cássia, em geral, faz
sentido, porém temo que não corresponda muito à realidade de como o
Qualis é, de fato, aplicado e encarado pela comunidade científica
brasileira.  Por exemplo, no artigo consta:

"[...] o Qualis Periódicos não é uma ferramenta que possa ser utilizada
em avaliações do desempenho científico individual de pesquisadores,
visto que não foi desenvolvido com essa finalidade. Sua aplicação faz
sentido para a análise coletiva da produção de um programa, cumprindo
requisitos específicos do processo de avaliação comparativo estabelecido
pela Capes. Em avaliações orientadas por princípios essencialistas, os
instrumentos usados para comparações relativas nem sempre se mostrarão
adequados." (§2, e algo similar na §10)

Como justificar então o emprego do Qualis em editais de contratação e,
algumas vezes, mesmo em critérios de promoção?  Não seria compreensível
que um Programa de Pós-Graduação (Faculdade, Departamento, Instituto
etc.) queira contratar/promover alguém que aumente as chances do
programa de ser melhor avaliado?  Não seria ingênuo esperar que o
Qualis, como instrumento de avaliação dos programas, não termine enfim
afetando a avaliação *individual* de pesquisadores/professores?  Afinal,
a produção do programa nada mais é do que o conjunto da produção
*individual* dos pesquisadores/professores atrelados ao programa.

Dada a realidade de como o Qualis é aplicado, o conselho a seguir parece
contraproducente:

"Tendo em vista que a classificação é sempre feita a posteriori,
conforme será detalhado em outro item, não é aconselhável que a lista
sirva de referência para ações futuras, tais como a escolha de
periódicos para submissão de artigos. A escolha de um periódico para a
submissão deveria levar em conta, entre outros aspectos, o público-alvo
do próprio artigo, o escopo dos diversos periódicos em um mesmo campo
científico, a credibilidade, a rapidez no processo de julgamento e de
publicação, a competitividade expressa pela taxa de rejeição, a
circulação que os periódicos têm na comunidade de interesse e seu
prestígio, o que pode ser indiretamente avaliado por diferentes medidas
de impacto." (§2)

A Profª Rita de Cássia também menciona (§6, último parágrafo) o chamado
"mecanismo de indução" que consiste em inchar o Qualis de periódicos
nacionais com o intento de aumentar o fator de impacto, algo que é
facultado aos coordenadores de área (desde que aprovado pelo CTC-ES).
Contudo, o funcionamento desse suposto mecanismo está baseado no fato de
que o Qualis é, de fato, usado como referência na escolha de periódicos
para submissão de trabalhos!

O forte contraste entre a suposta função do Qualis e a aplicação prática
do Qualis (entre o Qualis teoria e o Qualis prática) torna ainda mais
evidente seus vários problemas.

Saudações,

P.S. Talvez o porquê do Journal of Philosophical Logic ter sido
classificado como C tenha algo a ver com o que está exposto na §4 do
artigo da Profª Rita de Cássia.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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[Logica-l] [fora do tópico] Nature's 10

2016-12-20 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

Alexandra Elbakyan, fundadora do SciHub, apareceu na lista da Nature de
dez pessoas que fizeram a diferença na ciência este ano:

http://www.nature.com/news/nature-s-10-1.21157

Num fórum de discussão sobre IA, alguém notou a ironia por traz disso
pois, segundo o autor da mensagem, a Nature havia pressionado Demis
Hassabis (outro dentre os dez) a retirar o "preprint" (disponibilizado
na página do DeepMind) do artigo sobre o AlphaGO que havia sido
publicado na Nature (eu mesmo não teria conseguido ler o artigo na época
não fosse pela ajuda do João Marcos).

Outro destaque da lista é, certamente, a Profª Celina.

Saudações,

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Saiu o Qualis 2015 !

2016-12-21 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Samuel Gomes escreveu:

> Isso de que o Qualis é só pra avaliar programas é só o que está "no
> papel" dos documentos da CAPES - todo mundo sabe que ele vem sendo
> usado como instrumento de avaliação individual, e isso tanto
> extra-oficialmente como oficialmente (por exemplo, no programa de
> pós-graduação que eu estou vinculado o professor para pedir para ser
> credenciado tem que ter dois artigos de B2 pra cima nos últimos 5
> anos, sendo um nos últimos 3 anos - e isso está escrito no
> Regimento!!!).

Pois é, Samuel.  E o problema maior é que o Qualis teoria, o Qualis no
papel, é usado para refutar críticas e tentativas de melhorar a
ferramenta.

Crítica: Disciplinas menos tradicionais não são adequadamente
representadas no Qualis.

Refutação Qualis Teoria: O Qualis foi feito para avaliar *programas*.
Portanto, o fato de disciplinas tradicionais carregarem mais peso,
apenas expressa o desejo de ver essas disciplinas bem representadas nos
programas de pós-graduação.  Pesquisadores de disciplinas menos
tradicionais não são prejudicados, pois o Qualis não deve ser usado para
avaliação *individual*.

Crítica: O Qualis não é exaustivo.  Muitos periódicos, principalmente em
áreas de pesquisa emergentes em território nacional não constam na base
de dados.

Refutação Qualis Teoria: O Qualis foi feito para avaliar *programas*.  A
maneira mais eficiente de avaliar a produção de programas é a
posteriori.  Portanto o Qualis não pode, nem deve, ser exaustivo.  A
ausência de periódicos da base de dados não afeta a pesquisa em áreas
emergentes, pois o Qualis não deve ser usado para avaliação
*individual*.

Crítica: Em áreas que não adotam explicitamente critérios bibliométricos
(fatores de impacto etc.), com todas suas maravilhas e misérias, o
Qualis parece altamente sensível às convicções e agendas dos membros do
comitê de avaliação.

Refutação Qualis Teoria: O Qualis foi feito para avaliar *programas*.
Nesse âmbito não há mesmo como escapar o julgamento de um comitê
avaliador.  O Qualis foi feito para auxiliar o comitê na avaliação dos
programas e não prejudica ou privilegia pesquisadores específicos, pois
o Qualis não deve ser usado para avaliação *individual*.

E por aí vai...

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-03 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Fernando Yamauti <fgyama...@gmail.com> escreveu:

> Oi,
>
> Será que alguém teria acesso ao paper 
>
> 1 Ladyman, J., Presnell, S.: Identity in Homotopy Type Theory, Part I:
> The Justification of Path Induction. Philosophia Mathematica (2015) ?

Coincidência.  Eu li esse artigo recentemente.  A versão que eu li está
disponível em

http://philsci-archive.pitt.edu/11079/1/Identity_in_HTT_public.pdf 

Sem contar o selinho da Oxford University Press, não sei se há muitas
diferenças entre a versão acima e a versão oficial.

Além das páginas tradicionais,

https://homotopytypetheory.org/links/
https://ncatlab.org/nlab/show/homotopy+type+theory#References

mais referências interessantes para quem estiver estudando Teoria
Homotópica dos Tipos podem ser encontradas no repositório do grupo de
estudos que estamos organizando aqui em Tübingen:

https://github.com/BinderDavid/HoTT-StudyGroup

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-06 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Eu escrevi:

> [...]
>
> Uma exceção interessante é o caso da "Core Logic" de Tennant, onde a
> negação é dada um caráter lógico, mesmo sem ECQ, pela admissão de
> modus tollendo ponens (ou silogismo disjuntivo) e uma regra especial
> para a implicação que permite obter ¬A,A⊢B. [...]

Ops. Obviamente, o correto aqui seria "que permite obter ¬A⊢A→B".  Mania
de reler/revisar o que escreveu só depois de enviar.  

Foi mal. :-)

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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-06 Por tôpico Hermógenes Oliveira
to demonstra, em terminologia corrente, a correção da lógica
intuicionista (como sistema formal) com respeito a uma fundamentação
baseada nas introduções (estilo BHK).  Contudo, a contrapartida (a
questão se todos os princípios de raciocínio justificáveis são de fato
deriváveis intuicionisticamente), isto é, completude, em terminologia
corrente, permanece em aberto no artigo, pois Martin-Löf não oferece
nenhum argumento em seu favor.  Os resultados mencionados
anteriormente mostram que, sob certas condições que parecem razoáveis
de um ponto de vista construtivo, uma fundamentação estilo BHK, quando
formulada precisamente (uma vez que BHK é uma espécia de fundamentação
(semântica) informal), justificaria inferências que não são
intuicionisticamente deriváveis.

Me parece que em ambos os quesitos, a) e b), a posição construtivista
de vertente intuicionista, conforme tradicionalmente concebida, deixa
muito a desejar.  Confesso que, às vezes, me pergunto se o
intuicionismo tradicional, como exemplificado pela tradição BHK, seria
mesmo uma posição filosoficamente coerente.

> [...]
>
> Ou ainda, outro problema que leva ao regresso infinito e a
> identificação de um objeto do conhecimento com o conhecimento desse
> objeto (que o Rodrigo havia comentado a um tempo atras de maneira
> diferente). Um juízo do tipo 'A true' pode virar uma proposição onde
> '(A true) true' se torna um juízo. E, mais. No ponto de vista
> epistemico, essas duas coisas são equivalentes (saber que vc sabe é
> igual a saber). Acho que o ponto de vista epistemico não bate com a
> teoria, já que garantir que o tipo "A é habitado" não é equivalente
> a A (em um dado universo), ou será que é? Ou seja, a justificativa
> do ML não é adequada e só a teoria funciona.

Na minha opinião, o potencial explanatório e de fundamentação da
Teoria Intuicionista de Tipos (TIT) se estraçalha a partir do momento
que se introduz universos.  A partir daí, me parece, a TIT assume um
caráter fortemente ad hoc e muitas da intuições iniciais vão para o
espaço.  Neste ponto, a única vantagem de TIT em comparação à ZF (sua
concorrente igualmente ad hoc), principalmente se você é um computeiro
ou matemático preocupado com computabilidade, é o fato de TIT ser
construtiva.  Por outro lado, os argumentos de que ZF seria
filosoficamente mais robusta e conceitualmente mais coerente (ver, por
exemplo, Harvey Friedman na FOM) não me convencem.  Acontece que, dado
que ZF é a doutrina ortodoxa, estamos acostumados a fazer vista grossa
para as aberrações em ZF e maldizer excessivamente qualquer
idiossincrasia de propostas alternativas, como TIT.

De qualquer maneira, mesmo num contexto muito elementar, abordar o
intuicionismo, ou construtivismo, de um ponto de vista epistemológico,
tal como Martin-Löf faz, me parece um equívoco.  Concordo ainda que a
discussão epistemológica de Martin-Löf em conexão com a fundamentação
da sua Teoria de Tipos é muito confusa, para se dizer o mínimo.

A epistemologia, contudo, não é a única rota para o intuicionismo, e
sequer me parece a melhor.  No âmbito puramente lógico, uma rota mais
interessante rumo ao intuicionismo passa pela filosofia da linguagem,
em particular, por um certo pragmatismo linguístico.  Neste sentido,
princípios lógicos estariam apoiados em práticas linguísticas regradas
(ver trabalho recente do Marcos Silva).  Esse tipo de inferencialismo
lógico ainda é muito incipiente, é verdade, mas me parece muito
promissor.

Saudações,

Referências:

[1] Arend Heyting.  G. F. C. Griss and his negationsless
intuitionistic mathematics.  Synthese 9 (1):91-96, 1955.
(ver referências nesse artigo para os escritos de Griss)

[2] Ingebrigt Johansson. Der Minimalkalkül, ein reduzierter
intuitionistischer Formalismus.  Compositio Mathematica 4, 119-136,
1937.

[3] Neil Tennant.  The Taming of the True. Clarendon Press, 1997.
(ver também artigos no RSL sobre "Core Logic")

[4] Peter Schroeder-Heister. The Categorical and the Hypothetical: A
critique of some fundamental assumptions of standard
semantics. Synthese 187 (3), 925-942, 2012.

[5] Wagner de Campos Sanz, Thomas Piecha and Peter
Schroeder-Heister. Constructive Semantics, Admissibility of Rules and
the Validity of Peirce's Law. Logic Journal of the IGPL 22 (2),
297-308, 2014.

[6] Thomas Piecha, Wagner de Campos Sanz and Peter
Schroeder-Heister. Failure of Completeness in Proof-Theoretic
Semantics. Journal of Philosophical Logic 44 (3), 321-335, 2015.

[7] Per Martin-L\"of. On the Meanings of the Logical Constants and the
Justifications of the Logical Laws. Nordic Journal of Philosophical
Logic 1 (1), 11-60, 1996.

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-07 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

>> Eu, pessoalmente, acho ECQ um princípio *muito* suspeito.  O
>> difícil é que, sem ECQ, um construtivista ficaria basicamente sem
>> negação (ao estilo do cálculo mínimo de Johansson), ou a negação
>> cessaria de ser um operador *lógico*.
>
> Por quê, Hermógenes?

Bem, o problema é o que colocar no lugar de ECQ que, ao mesmo tempo,
(1) seja razoável se chamar de "negação" (ou, melhor, "absurdo", no
caso da negação definida pelo absurdo), e (2) seja construtivamente
justificável.

Se permanecemos com a negação definida como ¬A≡A→⊥ *e não colocamos
nada no lugar de ECQ*, então as nossas inferências dedutivas corretas
são exatamente aquelas do fragmento mínimo sem negação e, do ponto de
vista inferencial, não é possível distinguir o absurdo (⊥) de outra
sentença qualquer: nós basicamente não teríamos a negação no âmbito
das inferências lógicas.  Obviamente, poderiamos ainda introduzir uma
noção de incompatibilidade entre sentenças e, mantendo apenas as
regras de inferência do fragmento mínimo, tratar a negação no âmbito
extra-lógico: a negação deixa de ser um operador lógico (se entendemos
por lógica apenas aquilo que está sendo capturado pelas nossas regras
de inferência).

Espero que agora esteja mais claro.  Ou você estaria perguntando o
porquê de eu achar ECQ um princípio suspeito?

>> Martin-Löf, no artigo de fundamentação filosófica da sua Teoria dos
>> Tipos[7], assume que as regras de introdução dão o significado das
>> constantes lógicas e, a partir daí, justifica as regras de
>> eliminação.
>
> E o que dizer do conectivo nulário de absurdo, que não possui regra
> de introdução?

Bem, segundo Martin-Löf, há uma regra de introdução para o absurdo
(⊥): sob nenhuma circunstância podemos introduzir o absurdo (⊥).  Isto
é uma regra de introdução no sentido em que diz algo sobre as
circunstâncias em que teríamos uma prova do absurdo (similar à
cláusula BHK para o absurdo).

Daí, ele justifica ECQ como regra de eliminação usando, inclusive, um
exemplo não muito convincente envolvendo um chapéu. :-o

Referências:

[1] Per Martin-Löf. On the Meanings of the Logical Constants and the
Justifications of the Logical Laws. Nordic Journal of Philosophical
Logic 1 (1), 11-60, 1996.
(disponível em https://github.com/michaelt/martin-lof)

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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-07 Por tôpico Hermógenes Oliveira
ossa para as aberrações em ZF e maldizer excessivamente qualquer
>  idiossincrasia de propostas alternativas, como TIT.
>
> O problema que citei ('A true' =' 'A true' true' do ponto de vista
> epistêmico) não tem relação com universos (eu não devia ter citado
> universo no meu comentário) , apesar de ser mais fácil de internalizar
> o juízo 'A true' nas proposições usando universos, i.e., enche o saco
> escrever a definição de uma equivalência homotópica para definir 'A é
> habitado'.

Hum... Não consigo ver uma maneira de fazê-lo sem universos.  Poderia me
fornecer detalhes?  Pode ser em privado, se você preferir.

É possível ainda que eu não tenha compreendido muito bem o seu
comentário.

> Também acho que a definição de universo univalente é bem intuitiva e
> consistente com a pratica matemática. O universo é só um objeto a mais
> na teoria que mostra a compatibilidade da identidade com a
> equivalência homotópica. Eles fazem o mesmo papel dos V_{\kappa}. E
> como a TIT deve ser semântica e sintática ao mesmo tempo, acho natural
> colocar um universo (ou melhor, uma estratificação em universos) na
> teoria. Gostaria, portanto, de entender o que gera essa tal destruição
> do potencial explanatório da TIT.

O principal problema com os universos é que eles borram a distinção
entre os juízos "A é um tipo" e "x tem o tipo A" (i.e. A é habitado).
Na presença de universos, o juízo "B é um tipo" se reduz a um juízo da
forma "x tem o tipo A" ou "x é um termo do tipo A", onde A é um
universo.  Tecnicamente, isso pode até ser muito conveniente, mas,
filosoficamente, é desastroso.

Sem me alongar muito, creio que a gravidade do problema pode ser
depreendida de uma leitura atenta e refletiva do artigo de fundamentação
do Martin-Löf[1].  Ali, ele discorre sobre a importância em se
distinguir entre os juízos "A prop" ("A é um tipo", pois ali o único
tipo tratado é o tipo das proposições) e "A true" ("x tem o tipo A", "o
tipo proposicional A é habitado", "x é uma prova de A").  Esta distinção
me parece importantíssima para o funcionamento da teoria como
fundamentação filosófica.  Quando se introduz universos, toda as
intuições e coerência filosófica que estavam apoiadas nesta distinção
vão para o espaço.

Qual seria o valor como fundamentação filosófica de uma teoria
construtiva se, todas as vezes que efetuo uma construção com base nos
princípios básicos da teoria, tenho que verificar, *caso a caso*, se as
construções são bem tipadas sob pena de inconsistência?

A justificativa para a adição de universos é basicamente ad hoc: por que
eles são necessários para se fazer matemática para além da
aritméticazinha de primeira ordem.  Nesse sentido, TIT+universos não me
parece menos ad hoc do que ZF.  Eu, particularmente, tenho a impressão
de que a introdução irrestrita de universos é a maneira dos
construtivistas de jogar a toalha, após o que Martin-Löf chamou de
"segundo fracasso do programa de Hilbert"[2].

Agora, pode ser que universos sejam intuitivos e essenciais de um ponto
de vista homotópico, mas, até o momento, a aspiração da Teoria
Homotópica dos Tipos (THT) como fundamentação alternativa para a
matemática está apoiada na Teoria Intuicionista de Tipos adjacente, uma
vez que, até o momento, como você mesmo observou, as tentativas de
oferecer explicações e justificativas para os elementos básicos da
teoria por vias diretamente homotópicas, contornando a teoria de tipos,
são insatisfatórias.

>  De qualquer maneira, mesmo num contexto muito elementar, abordar o
>  intuicionismo, ou construtivismo, de um ponto de vista
>  epistemológico, tal como Martin-Löf faz, me parece um
>  equívoco. Concordo ainda que a discussão epistemológica de Martin-Löf
>  em conexão com a fundamentação da sua Teoria de Tipos é muito
>  confusa, para se dizer o mínimo.
>
> Brouwer não fazia a mesma coisa? Aquela idéia de matemático ideal no
> tempo me soa bem similar.

Brouwer não fazia a mesma coisa.  Fazia muito pior!

De qualquer maneira, não considero Brouwer, Heyting, Martin-Löf, ou
qualquer outro, como donos do intuicionismo.  Creio que há razões para
ser um intuicionista ou construtivista que independe da exegese desses
autores.


Referências:

[1] Per Martin-Löf. On the Meanings of the Logical Constants and the
Justifications of the Logical Laws. Nordic Journal of Philosophical
Logic 1 (1), 11-60, 1996.
(disponível em https://github.com/michaelt/martin-lof)

[2] Per Martin-Löf.  The Hilbert-Brouwer Controversy Resolved? In: One
Hundred Years of Intuitionism (1907-2007), 243-256, 2008.
(disponível em https://github.com/michaelt/martin-lof)

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-07 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Bruno Bentzen <b.bent...@hotmail.com> escreveu:

> Oi Hermógenes,

Olá, Bruno.

> [...]
>
> PS: Posso estar enganado, mas acho um pouco equivocado e confuso usar
> a palavra “completude” (um termo de cunho técnico ou meta-matemático)
> neste caso quando estamos nos tratando de uma semântica informal ou
> justificativa filosófica (até onde sei, o estudo de semânticas formais
> para a lógica intuicionista nunca foi uma das preocupações principais
> do Martin-Löf).  De qualquer forma, não vejo porque as explicações de
> significado não seriam “completas”, no sentido informal, para a MLETT,
> que, repito, é a única das duas vertentes tradicionais de sua teoria
> de tipos que interessa ao intuicionista.

Você está correto em observar que as explicações semânticas de
Martin-Löf não foram propostas como uma semântica formal e que o estudo
de semânticas formais não tem lugar no espectro da obra dele.

Porém, a questão da adequação das explicações semânticas pode ser
levantada também no âmbito informal, como tentei indicar na minha
mensagem original.

Nas suas explicações semânticas, Martin-Löf toma as regras de introdução
como primitivas (como aquelas que conferem significado às constantes
lógicas) e justifica as regras de eliminação com base nelas.  Se as
regras de eliminação também fossem consideradas primitivas, ele não
teria porquê se dar o trabalho de justificá-las com base nas regras de
introdução.  A questão agora surge: Será que as regras de eliminação
justificadas por Martin-Löf são, de fato, as regras mais fortes que
podem ser justificadas, tomando como base as regras de introdução?  Isto
é, seria possível fornecer regras de eliminação mais fortes que também
sejam justificadas com base nas regras de introdução?

Como se trata de uma semântica (explicação, fundamentação) informal,
esta questão não pode ser respondida, no caso de Martin-Löf, com um
teorema.  Mas isso não significa que a questão é inócua ou
desimportante, e, certamente, é uma questão que não pode ser afastada
simplesmente sob o pretexto de que a semântica é informal.  Martin-Löf
fornece uma justificação, informal, obviamente, para as suas regras de
eliminação (suas regras de eliminação estão *corretas*).  Mas, é
perfeitamente razoável se perguntar se haveriam outras regras de
eliminação que pudessem ser justificadas e que resultariam numa lógica
diferente da lógica intuicionista, que é a lógica alvo da semântica
informal em questão.

O que, com respeito a Martin-Löf, é um mero questionamento informal, se
torna, no caso de Prawitz, uma conjectura[1], pois Prawitz, ainda que
num estilo similar ao de Martin-Löf, fornece definições rigorosas que
resultam, de fato, numa semântica formal.  A conjectura de Prawitz é
justamente uma versão formal da questão que estou discutindo: Seriam as
regras de eliminação padrões as regras mais fortes que podem ser
validadas do ponto de vista das regras de introdução?

Os resultados que mencionei anteriormente sugerem que a resposta a essa
conjectura possa ser "não".  E, como esses resultados negativos incluem
mesmo contraexemplos, é fácil traduzir os contraexemplos na forma de
justificativas informais nos termos de semânticas informais como BHK e
as explicações semânticas de Martin-Löf.  De fato, eu já forneci a você,
em conversa privada, uma justificativa informal em termos de BHK de uma
inferência que não é intuicionisticamente derivável.

Eu entendo a objeção que faz ao meu uso do *termo* "completude" no
contexto de Martin-Löf, mas espero que tenha conseguido deixar claro que
o uso que fiz de "completude" e "correção" naquele contexto se referia à
*adequação* das explicações semânticas de Martin-Löf ao sistema de
regras de inferência dedutivas que conhecemos como lógica intuicionista.
Esta questão da adequação é legítima, não importa o quão informal seja a
sua fundamentação (explicação, semântica).

Gostaria ainda de deixar claro que estas minhas observações não afetam
em nada a *utilidade* da TIT como teoria matemática e o fato de que suas
propriedades construtivas, concordo com a Valéria nesse ponto, podem ser
razões mais do que suficientes para favorecê-la em detrimento de ZF.

Referências:

[1]  Dag Prawitz. An Approach to General Proof Theory and a Conjecture
of a Kind of Completeness of Intuitionistic Logic Revisited. In:
Advances in Natural Deduction, 269-279, 2014.

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-07 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

>> Bem, o problema é o que colocar no lugar de ECQ que, ao mesmo tempo,
>> (1) seja razoável se chamar de "negação" (ou, melhor, "absurdo", no
>> caso da negação definida pelo absurdo), e (2) seja construtivamente
>> justificável.
>>
>> Se permanecemos com a negação definida como ¬A≡A→⊥ *e não colocamos
>> nada no lugar de ECQ*, então as nossas inferências dedutivas corretas
>> são exatamente aquelas do fragmento mínimo sem negação e, do ponto de
>> vista inferencial, não é possível distinguir o absurdo (⊥) de outra
>> sentença qualquer: nós basicamente não teríamos a negação no âmbito
>> das inferências lógicas.
>
> Por um lado, vale notar que há sim uma maneira neste caso de
> distinguir a negação, vista como um conectivo com interpretação
> parcialmente não-determinística aplicada a uma outra sentença qualquer
> (note-se que a negação de uma sentença falsa é perfeitamente
> determinística, usando a definição acima; o "problema" está apenas na
> negação de sentenças verdadeiras), de uma sentença atômica arbitrária

Uma maneira de resumir o meu comentário nesse contexto seria:

Até que ponto seria razoável chamar isso de *operador lógico*?

Isto é, eu hesitaria em chamar o conectivo que você descreve acima de
operador lógico (assumindo que o entendi corretamente).  No fim das
contas, me parece, a questão é ideológica: uns vêem lógica em tudo,
outros a procuram de dia com uma lâmpada na mão. :-)

> note com efeito que a regra de substituição uniforme não se aplica ao
> símbolo de absurdo, como um *conectivo* nulário, tal como se aplica a
> sentenças atômicas.

Bem, a regra de substituição uniforme não se aplica, de qualquer
maneira, a conectivos (o quão marivolhoso seria se pudéssemos substituir
conectivos à vontade, não é mesmo? :-D).  Mas, considerando a *sentença*
formada usando o conectivo nulário, não consigo ver porquê a regra de
substituição seria problemática, assumindo, é claro, que esse conectivo
não seja governado por ECQ ou qualquer outra regra de inferência, que
era o caso que eu tinha em mente.  Afinal, neste caso, o absurdo seria
apenas uma sentença, embora pudéssemos conferí-la, extra-logicamente, um
significado especial.

> Por outro lado, não vejo porque deveríamos pensar sempre na negação
> como conectivo *derivado*.  Aliás, isto parece até uma ideia bem
> ruinzinha, do ponto de vista de lógicas não-clássicas em que a
> interdefinibilidade entre conectivos clássicos usualmente se perde
> pelo caminho.

De acordo.

>> Bem, segundo Martin-Löf, há uma regra de introdução para o absurdo
>> (⊥): sob nenhuma circunstância podemos introduzir o absurdo (⊥).
>> Isto é uma regra de introdução no sentido em que diz algo sobre as
>> circunstâncias em que teríamos uma prova do absurdo (similar à
>> cláusula BHK para o absurdo).
>>
>> Daí, ele justifica ECQ como regra de eliminação usando, inclusive, um
>> exemplo não muito convincente envolvendo um chapéu. :-o
>
> Hummm...  Dualmente, qual seria a regra de eliminação do top?  A regra
> de que "sob nenhuma circunstância podemos eliminar o top"?  Parece-me
> um simples forçação de barra.

Eu diria que não é apenas aparência...

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] A respeito de um Teorema de Tarski e uma historinha interessante

2017-04-01 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Walter Carnielli <walter.carnie...@gmail.com> escreveu:

>
> [...]
>
> Para os estudantes iniciantes compreenderem [...] o Axioma da Escolha
> não é [...] falso [...]

Me parece que "estudantes iniciantes", dependendo do seu grau de
doutrinação em Lógica (especialmente lógica clássica ensinada como
"teoria do bom raciocínio"), tenderiam a entender a afirmação acima como
equivalente a "o Axioma da Escolha é verdadeiro" e estariam assim
autorizados a solicitar-lhe, como justificativa dessa alegação, uma
demonstração do *Axioma* da Escolha, visto que "axioma" aqui não pode
ser tomado como verdade óbvia/evidente (conforme você mesmo escreveu).

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-08 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:

> Assim que tivermos um critério de logicidade em mãos, portanto,
> poderemos discutir melhor. :-)

Eu diria que o problema não é a ausência de critérios de logicidade, mas
a abundância deles.

> Uma maneira de resumir o meu comentário seria: antes de dizer que algo
> não é "razoável", convém deixar claras as nossas expectativas e as
> regras do jogo.

Perdão, eu pensei que estivesse claro.

Se é que eu entendi bem o "conectivo" que você apresentou, minha
hesitação inicial diz respeito exatamente ao fato dele ser apenas
*parcialmente* determinado, isto é, sua semântica (valor semântico)
estaria fixada apenas com relação a uma parte das sentenças da
linguagem.  Isso parece ir de encontro a algumas propriedades que são
comumente atribuídas à logica e que, portando, deveríamos exigir de
conectivos lógicos: neutralidade e universalidade.

Esta posição, obviamente, não é sacrossanta.  Por isso mesmo, eu não
*afirmei* que o conectivo não era razoável, mas *questionei* até que
ponto ele seria razoável.  Também compartilhei a minha (pessoal)
*hesitação* em aceitar o conectivo como conectivo lógico.  Minha
esperança era que isso fosse interpretado como um *convite* a uma defesa
da logicidade do conectivo.  Por fim, concedi que o núcleo da questão
pudesse ser ideológica (ou, terminológica): alguns são mais liberais com
uso do termo "lógica", ou "negação", outros são mais conservadores.  Não
vejo nenhum problema nisso.

> (Tenho a impressão de que falhar repetidamente nesta tarefa converte
> muito do que se faz em Teoria das Demonstrações em pregação com
> caráter puramente ideológico.)

Não entendi muito bem o que você quis dizer com isso, ou sua relevância
para o tópico em questão, mas fico com a impressão de que talvez eu
tenha, inadvertidamente, tocado em alguma ferida...

Não sei muito bem o que você entende por "muito do que se faz em Teoria
das Demonstrações", mas, no que diz respeito a "deixar claras as
expectativas e regras do jogo" com relação a critérios de logicidade e
constantes lógicas, eu diria justamente o contrário[1][2].  Obviamente,
ninguém é obrigado a concordar, mas não há pobreza de argumentos.

Além disso, só para deixar registrado, eu, pessoalmente, não vejo nenhum
problema com "pregações com caráter puramente ideológico".

> [...]
>
> Moral: um conectivo não é uma proposição atômica --- nem quando ambos
> se parecem.

Você poderia elaborar mais?  Em particular, no caso de IL⁺ e hJ, dado
que você admite[3] que este é extensão conservativa daquele, qual seria
a diferença entre ⊥ e uma sentença atômica qualquer? O fato de que um
deles eu escrevo assim "⊥" e o outro eu escrevo assim "p", ou assim "q"?
(AKA don't you see? the signature is different!)


Referências:

[1]  https://plato.stanford.edu/entries/logical-constants/#InfCha

[2]  Michael Dummett.  The Logical Basis of Metaphysics. 1991.
(capítulo 9, em especial a subseção "Conservative Extensions")

[3]  João Marcos.  What is a Non-truth-functional Logic? Studia Logica
92:215-240, 2009. (página 230)

-- 
Hermógenes Oliveira

"The reasonable man adapts himself to the world; the unreasonable one
persists in trying to adapt the world to himself. Therefore all progress
depends on the unreasonable man."
George Bernard Shaw

-- 
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Re: [Logica-l] Philosophia Mathematica Vol 23 Issue 3

2017-04-08 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Fernando Yamauti <fgyama...@gmail.com> escreveu:

> Não. A minha sugestão é diferente. \neg A deve ser definido como A
> \cong empty := \sum_{f: A --> empty} isequ (f) . Já iseq (f) é um
> pouco mais complicado de escrever via email, portanto vou pedir que
> olhe a pagina 78 do HoTT book

Isso não faz muito sentido para mim.  Em primeiro lugar, o termo sendo
definido, ¬A, não aparece na definição (estou usando "0" para o seu
"empty"): A≅0 := ∑(f: A→0) isequiv(f).  A não ser que você já esteja
tomando A→0 como definição de ¬A, mas aí a coisa fica ainda mais
confusa.  Em segundo lugar, não me parece muito conveniente, para se
dizer o mínimo, uma abordagem que defina a negação em termos de tipos
mais complexos como a soma ∑ (também conhecido como quantificador
existencial) e tipos de igualdades (uma vez que isequiv(f) é definido de
acordo com os tipos idA e idB para f: A→B).

> Mas isso é considerado quando se usa tipos dependentes. De uma prova
> hipotética \Gamma \vdash A e outra \Delta \vdash \Gamma se
> concatenarmos tudo temos \Delta \vdash \Gamma \vdash A, ou seja, outra
> prova hipotética, não?

Sim. Mas esse não era o ponto.

> [...]
>
> A introdução de 'A prop' como proposição até onde eu entenda serve
> para evitar em falar de um domínio (onde as expressões variam)
> contendo objetos de caráter semânticos e não puramente formais. Em
> contrapartida em Analytic and Synthetic Judgements in Type Theory, ML,
> inspirado por Church, introduz um tipo 'prop' (que é igual a 'set') e
> usa 'A : prop' ao invés de 'A prop' . Além disso, ele introduz um tipo
> 'type' e termos 'i (A) : prop' para cada tipo A.
>
> Portanto, de acordo com a sua afirmação, ML não estaria sendo
> consistente?

Não, não foi isso que eu quis dizer (eu acho).  Você está trazendo mais
e mais elementos para a discussão, e eu não estou conseguindo ver a
relação deles com os meus comentários iniciais (isto não significa que
não haja relação, somente que *eu* não estou conseguindo vê-la).  Isso
não é ruim, *em si*, mas eu já estou ficando meio velho e não tenho mais
fôlego intelectual para discussões assim.  Você poderia, por gentileza,
tentar se focar naquilo que eu escrevi e responder ponto-a-ponto para
que eu possa identificar exatamente aquilo que não ficou claro.

> Desculpe-me, mas ainda estou falhando em entender o que vai para o
> espaço. Creio eu que você esteja pensando em um problema diferente do
> que eu mencionei acima : criar uma estratégia para A variar em
> expressões completas ao invés de proposições, que tem um caráter
> semântico.

Espero que você tenha compreendido, pelo menos, que, com a introdução
*irrestrita* de universos (i.e. com a introdução completa da hierarquia
infinita de universos), nós perdemos a distinção entre os juízos "A é um
tipo" e "x tem o tipo A" (i.e. "x é um termo do tipo A" ou "A é
habitado").  Você poderia dizer: "Tá bem.  E daí?"  Bem, para
compreender o tamanho da perda, é preciso apreciar o valor da distinção.
Para isso, eu sugeri uma leitura atenta e *reflexiva* dos escritos mais
*filosóficos* do Martin-Löf, com uma mente voltada para fundamentação.
Não fornecerei uma explicação detalhada disso aqui na lista para não
encher ainda mais o saco do pessoal que, a este ponto, já deve estar
lotado de doutrina martin-löfiana. :-)

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Lógica construtiva

2017-07-18 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Diogo Dias <diogo.bispo.d...@gmail.com> escreveu:


Gostaria de pedir ajuda com duas perguntas.

1. É possível definir, na lógica clássica proposicional, uma noção
de "construtível" de tal forma que se possa dizer que tal prova é
construtível e, portanto, aceita intuicionisticamente? Dito de outro
modo, é possível determinar uma restrição no conceito clássico de
prova para limitá-lo a provas construtivas?


Não sei se corresponde ao que você tem em mente, mas Gödel parece ter
tratado essa questão[1][2].

*Grosso modo*, a lógica modal S4 corresponde ao cálculo proposicional
intuicionista de Heyting se interpretarmos o operador modal como
demonstrabilidade intuicionista.  Nesse caso, portanto, teríamos uma
teoria clássica, isto é, uma extensão da lógica clássica, que é capaz
de expressar validade proposicional intuicionista.

Num outro registro, reconhecer se uma demonstração clássica é aceita
intuicionisticamente é algo relativamente simples em dedução natural.
Basta colocar a derivação em forma normal.  A demonstração é
construtiva se, e somente se, não há aplicações da regra de redução ao
absurdo clássica (ou, dependendo da formulação, outro princípio
clásssico, como a Regra de Peirce).

Referências:

[1] Kurt Gödel. Eine interpretation des intuitionistischen
aussagenkalküls. Ergebnisse eines mathematischen Kolloquiums, 4:
39-40, 1933. (ver excelente nota introdutória de Troelstra no
"Collected Works", primeiro volume)

[2] Sergei Artemov. Explicit provability and constructive
semantics. Bulletin of Symbolic Logic 7 (1):1-36, 2001. (ver para
exemplos de desenvolvimentos recentes da idéia Gödeliana)

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] How do we construct the Gödel’s sentence in Martin-Löf type theory?

2017-07-02 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Anderson Nakano <andersonnak...@gmail.com> escreveu:

> Boa tarde, pessoal. 

Olá, Anderson.

>
> [...]
>
> 1. Como o primeiro teorema da incompletude poderia ser construído em
> sistemas formais da aritmética sem negação? Refiro-me, em particular,
> ao sistema introduzido por Krivtsov em "A Negationless Interpretation
> of Intuitionistic Axiomatic Theories".

Não conheço o sistema de Krivtsov, mas gostaria de observar o seguinte.

A demonstração de Gödel não depende de nenhuma noção semântica, seja a
noção *semântica* de "negação" ou "verdade".

Dado que a lógica clássica pode ser interpretada na lógica mínima[#],
via lógica intuicionista, imagino que não seria difícil ajustar a noção
Gödeliana de representabilidade à um sistema "sem negação", por exemplo,
à um sistema no qual ¬A ≡ A → (1=0), com a noção de igualdade e
desigualdade (diferença) determinada por axiomas construtivos
adicionais.

Desde que o sistema formal em questão seja poderoso o suficiente para
representar sua própria sintaxe, é possivel diagonalizar e obtair daí
uma sentença indecidível.

Algo similar acontece com o teorema de Church: a tradução da lógica
clássica na lógica intuicionista é comumente usada para transferir o
resultado de indecidibilidade da lógica clássica de primeira ordem para
o caso intuicionista.

>
> [...]
>
> 3. Além disso, a prova do primeiro teorema demonstra a
> indecidibilidade da sentença G levando a hipótese da decidibilidade
> (seja de G ou de ¬G) a uma contradição. Para um intuicionista que não
> aceita que a refutação (P → ⊥) seja de fato o sentido da negação na
> matemática (penso na linha de Freudenthal, Griss, ...) e que vão
> trabalhar com axiomas para a relação de diferença (no lugar da
> negação), não me é claro qual seria a interpretação correta do teorema
> neste caso.

A interpretação sintática do teorema permanece inalterada.

Na minha hulmide opinião, interpretações semâmticas do teorema, que
apelam a noções semânticas como "verdade" ou alguma noção semântica de
"negação", *não fazem o menor sentido*.  Mesmo no caso clássico.

Nota:

[#] Interpretações da lógica clássica na lógica intuicionista e mínima
foram exploradas por Kolmogorov, Bernays, Gentzen e Gödel, dentre
outros.  Um apanhado geral dos resultados e traduções pode ser
encontrado em: D. Prawitz and P. E. Malmnäs. A survey of some
connections between classical, intuitionistic and minimal logic. In
H. Arnold Schmidt, K. Schütte, and H. J. Thiele, editors, Contributions
to Mathematical Logic, Proceedings of the Logic Colloquium, Hannover
1966, pages 215-229. North-Holland Publishing Company, 1968.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] How do we construct the Gödel’s sentence in Martin-Löf type theory?

2017-07-03 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Rodrigo Freire <freires...@gmail.com> escreveu:


Olá Hermógenes,


Olá, Rodrigo.


Imagino que a "interpretação sintática do teorema" para um sistema S
(digamos, para a aritmética de Peano) seja: há (construtivamente)
uma sentença G tal que se S é (omega-)consistente, então G não é
teorema e ~G não é teorema. É isso?


Sim.  Em linhas gerais, foi isso o que Gödel demonstrou em 1931, não?


O problema é que só com essa "interpretação sintática do teorema" é
impossível distinguir o teorema de Godel de uma trivialidade
irrelevante como, por exemplo: Há uma sentença G da teoria de grupos
(suposta consistente) tal que G não é teorema e ~G também não. De
fato, sintaticamente, como sistemas formais sem algum tipo de
"interpretação semântica", a aritmética de Peano e a teoria de
grupos são o mesmo tipo de coisa. Onde estaria a diferença? De onde
viria a pretensão de completude da aritmética de Peano, e por que
isso estaria ausente na teoria de grupos, por exemplo?


O estado medíocre do meu atual conhecimento de álgebra não me permite
comentar com precisão o exemplo que você citou.  Mas eu me interessei
pelo exemplo e também planejo remediar a minha ignorância de álgebra,
portanto referências pontuais são bem-vindas (pode enviar em privado).

O que posso comentar no momento, assumindo aqui que o exemplo
algébrico não é essencial à questão, é que, no caso de sistemas como
AP (aritmética de Peano), no qual o vocabulário é exclusivamente
matemático e os axiomas são tomados como determinantes exaustivos das
noções matemáticas envolvidas, haveria sim a pretensão de que o
sistema formal possa decidir qualquer sentença matemática A por meio
de uma derivação de A ou de uma refutação de A.

--
Hermógenes Oliveira

--
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Re: [Logica-l] How do we construct the Gödel’s sentence in Martin-Löf type theory?

2017-07-03 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Anderson Nakano <andersonnak...@gmail.com> escreveu:


Olá, Hermógenes. Muito obrigado pela resposta!


Por nada.


Uma pequena observação: nestes sistemas sem negação, não se trata
apenas de tratar a negação como conectivo derivado (def., p. ex., ¬A
≡ A → (1=0)), mas de banir toda e qualquer "suposição não
realizável" e, com isso, até mesmo o raciocínio hipotético (o "p →
q") da matemática. Isso porque, vai alegar, digamos, o Freudenthal,
uma suposição não realizada não é um "material construtivo" a partir
do qual se poderia partir.


Isso me parece exatamente a situação que temos no caso da lógica
mínima onde não temos o princípio ECQ (ex contradictione quodilibet)
que nos permitiria extrair conseqüências de "suposições não
realizáveis".

Em resumo, o enredo da minha sugestão seria o seguinte.

A negação clássica pode ser interpretada na lógica intuicionista por
meio da conhecida tradução de Gentzen-Gödel.  Porém, ainda resta o
princípio ECQ, característico da negação nos sistemais intuicionistas
usuais, mas que não é aceito por construtivistas como Freudenthal e
Griss.

Contudo, ECQ pode ser interpretado numa lógica mínima por meio da
disjunção.  Aqui, em termos gerais, traduzimos uma sentença A por A∨⊥.
Grosso modo, isto significa que, tendo em vista a regra de introdução
da disjunção, A pode ser obtido pelas vias mínimas normais *ou por
meio de ⊥*, simulando assim os raciocínios por ECQ.  Note que "⊥" não
precisa ser considerada uma constante lógica, mas pode ser uma
sentença refutável qualquer (de acordo com os axiomas aritméticos
subjacentes) como, por exemplo, 1=0.

É claro, resta saber ainda se os sistemas sem negação aos quais você
se refere permitem alguma noção de refutação, ou se há apenas a noção
de demonstração.  Isto é, resta saber se uma demostração de 1≠0
significa o mesmo que uma refutação de 1=0, ou se as noções de
igualdade e desigualdade (diferença) são *completamente independentes*
(i.e. não há nenhum axioma aritimético subjacente conectando, ou
contrastando, as duas noções, o que seria bastante estranho).

Enfim, ao que me parece, a aplicação dos resultados de Gödel a esses
sistemas sem negação dependeria mais da teoria aritmética subjacente
do que dos conectivos lógicos disponíveis.

Não estou certo se a minha sugestão estaria correta, mas, independente
disso, a questão que você levanta é bastante interessante.

--
Hermógenes Oliveira

--
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Re: [Logica-l] How do we construct the Gödel’s sentence in Martin-Löf type theory?

2017-07-03 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Rodrigo Freire <freires...@gmail.com> escreveu:



[...]

O vocabulário da teoria de grupos é exclusivamente matemático, e os
axiomas são tomados como determinantes exaustivos das noções
matemáticas envolvidas (operação de grupo), muito mais que no caso
da aritmética.


Não sei se compreendi muito bem a analogia.

Normalmente, a noção de grupo é definida como *uma* operação sob um
conjunto de elementos que satisfazem determinados axiomas.  Porém,
diversas operações *distintas* satisfazem os axiomas de grupo.  Em que
sentido poderíamos dizer que os axiomas determinam exaustivamente a
operação?

Em contraste, você conseguiria ver como os axiomas de AP determinariam
exaustivamente (ou pelo menos, possuem a pretensão de determinar
exaustivamente) a noção de número natural?


--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] How do we construct the Gödel’s sentence in Martin-Löf type theory?

2017-07-03 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Rodrigo Freire <freires...@gmail.com> escreveu:


Não. Não há um predicado para "número natural" que ocorre nos
axiomas da aritmética [...]




Então eu não sei o que você entende por axiomas de Peano.  No meu
livro, o primeiro axioma já reza:

1. O zero é um número natural.

:-)



[...]

Alem disso, apelar para uma "noção de número natural" que aritmética
pretende capturar já é introduzir um elemento semântico que vai além
da sintaxe [...]


Eu concordo com isso (talvez trocando "introduzir" por "reconhecer" ou
"aceitar").


[...] justamente para avaliar a "limitação do formalismo".


Mas *não* concordo com isso, ao menos da forma como está expresso.

O fato de que reconhecemos noções pré-teóricas (supostamente de
caráter semântico, embora não exatamente num sentido técnico do termo
"semântico", e.g. Teoria dos Modelos) que nos guiam na formulação de
sistemas formais não implica, *por si só*, limitações inerentes do
formalismo.


Não há diferença puramente formal entre o caso aritmético e o caso
da teoria de grupos, o que trivializaria sim a relevância
fundacional do teorema na ausência de algum elemento semântico (pois
o caso da incompletude dos grupos é irrelevante).


Bem, o teorema, conforme demonstrado em 1931, é puramente sintático e
responde a uma importante questão de *decidibilidade formal* que havia
sido formulada e estudada no contexto da Escola Hilbertiana desde o
início do século passado.  Portanto, acho que podemos concordar que o
teorema, mesmo na sua formulação original sintática, *não* é trivial.

Quanto à uma suposta "relevância fundacional" que só poderia ser
reconhecida numa interpretação semântica do teorema, eu não saberia
dizer.  Como observei anteriormente, as interpretações semânticas do
teorema, assim como tentativas de formular e demonstrar o teorema em
termos semânticos não fazem o menor sentido para mim.  Claro, esta
observação pode ser tomada como nada além de evidência da minha
própria ignorância e/ou incapacidade.  Para mim, contudo, ela
constitui evidência de que a interpretação semântica do teorema,
juntamente com seus usos e abusos em alegações sobre os "limites da
matemática" (ou formalismo) e "existência de sentenças verdadeiras
indemonstráveis", não passam de histórias pra boi dormir.  Porém, eu
continuo sinceramente buscando evidências contrárias, e, em vista das
informações do JYB, estou curioso para saber o que Kripke tem a dizer
sobre o assunto.  Até agora, contudo, apresentações "semânticas" do
teorema de Gödel tem me decepcionado, inclusive aquelas presentes no
excelente livro de Smullyan sobre o assunto.


--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] lógica, pra quê?

2017-07-06 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Joao Marcos <botoc...@gmail.com> escreveu:



[...]

A propósito, há um outro paper do Sesardic (com Rafael De Clercq)
[2] que comenta sobre a *disparidade de gênero* na área de Filosofia
e coloca em questão as alegadas evidências da hipótese segundo a
qual haveria algum tipo de *discriminação* contra as mulheres na
área de Filosofia.

[...]

[2] Women in Philosophy: Problems with the Discrimination Hypothesis
https://www.nas.org/articles/women_in_philosophy_problems_with_the_discrimination_hypothesis


Obrigado pela referência João Marcos.  Esse artigo é um ótimo
exercício em sofismas!

Ele não sobrevive aos próprios padrões que pretende aplicar aos
trabalhos que critica e emprega os clássicos _falácia do espantalho_,
_apelo à ignorância_, _falsa dicotomia_ e _petição de princípio_.

Isto se revela a qualquer um que esteja familiarizado com a literatura
citada pelo próprio artigo, mas vou fazer um breve apanhado como
aperitivo.

a) Alguns pontos do artigo argumentam contra espantalhos de Haslanger,
Saul e Beebee.  Por exemplo, Haslanger realmente escreve que "the data
mostly speak for themselves".  Essa citação é tirada fora de contexto
para sugerir que Haslanger faz um salto ilegítimo da "disparidade de
gênero" para "discriminação".  Quando se lê o texto de Haslanger,
porém:

1. Está claro que ela toma os dados como evidência da *disparidade de
gênero*, o que, de fato, *pode* ser concluído dos dados a despeito da
afirmação de Sesardic de que "the data don’t speak for themselves at
all. Without additional information, it is impossible to draw *any*
conclusion".

2. Haslanger então prossegue a *problematizar os dados* e sugere
explicações para a disparidade, *uma* das quais é a discriminação
("outright discrimination").  Outras explicações incluem "Gender Bias"
e "Stereotype Threat", coisas que Sesardic, aparentemente, joga tudo
no mesmo saco.  Mas, mesmo aqui, Haslanger concede que "Based on the
limited data I’ve gathered (for example, I don’t have data on
submission), I cannot argue that evaluation bias *is* playing a role
in publication in philosophy." (ênfase dela)

3. Diferente do que sugere Sesardic, Haslanger está discutindo a
disparidade de gênero em *publicações* e não em comitês de
contratação.  A tabela citada por Sesardic relacionando o número de
mulheres nos programas de pós-graduação americanos é usado por
Haslanger somente para constrastar o número de mulheres ativas em
áreas da filosofia com o números de publicações por mulheres nas
mesmas áreas.

4. Em nehum dos trabalhos citados no artigo de Sedardic, Haslanger
sugere "a prima facie case for anti-woman hiring bias" ou recomenda
cotas ou quaisquer outras medidas de reparação do mesmo.

b) Sesardic oferece duas possíveis alternativas que explicariam a
disparidade de gênero, mas que seriam livres da hipótese de
discriminação: "gender differences in abilities" e "gender differences
in interests".  A segunda delas *não* está livre da hipótese de
discriminação, pois, como o próprio Sesardic explica mais adiante, um
ambiente de discriminação pode levar mulheres a desenvolver menos
interesse por filosofia.  A primeira delas, além de ser completamente
ridícula, possui muito menos evidência em seu favor do que a hipótese
criticada por Sesardic.

c) Ao mesmo tempo que exige alta robustez estatística de estudos que
apontem a presença de discriminação, Sesardic cita trabalhos baseados
em "estimativas", como o de Andrew Irvine.

d) Os estudos canadenses mencionados como evidência de que mulheres
não seriam discriminadas ou seriam até mesmo favorecidas em
contratações foram realizados num período em que universidades
canadenses implantaram fortes medidas, incluside envolvendo cotas,
favorecendo a contratação de mulheres.  A despeito da paridade
relativa em contratações recentes, em termos absolutos, a disparidade
é enorme (veja relatório sobre a Universidade de Western Ontario
citado por Sesardic).

e) Quando se trata de discutir "Bias" em pesquisa, Sesardic cita
estudos da área de medicina, onde a disparidade de gênero é bem menor.

f) Mesmo aqui, Sesardic cita o estudo de Sandström & Hällsten como
contraposto ao estudo anterior de Wennerås & Wold quando, na verdade,
o estudo de Sandström & Hällsten pertende mostrar como medidas
adotadas pelo governo Sueco ajudaram a amenizar os problemas relatados
por Wennerås & Wold (tanto na questão de gênero quanto na questão do
nepostismo).

Enfim, as falácias e deturpações são numerosas.  Quando terminei de
ler o artigo, fiquei me perguntando se não se tratava de uma piada...


--
Hermógenes Oliveira

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Para postar neste 

Re: [Logica-l] Gaisi Takeuti (1926-2017)

2017-05-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Recollections of Prof. Takeuti by Norbert Preining:

https://www.preining.info/blog/2017/05/gaisi-takeuti-1926-2017/

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] the most influential living philosophers

2017-09-19 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com> escreveu:

> https://thebestschools.org/features/most-influential-living-philosophers/
>
> e aí? concordam com a (controversa) lista?

Lembrando que a lista contém apenas filósofos *vivos* e que o critério
de seleção é a *influência* ou prestígio, me parece que ela abre pouco
espaço para controvérsia.

Eu reconheço por volta de 80% dos nomes na lista, o que indica que esses
nomes são mesmo influentes, pois minha familiaridade com o vasto corpo
de discussão filosófica contemporânea é bastante limitado.

A maioria dos nomes não me causaram nenhuma surpresa: Cornel West,
Charles Taylor, Slavoj Žižek, Martha Nussbaum, John Searle, Graham
Priest, Noam Chomsky, David Chalmers, Peter Singer, Alain Badiou, Robert
Brandom, Saul Kripke, Jürgen Habermas, Daniel Dennett.  Esses são
certamente filósofos *muito* influentes.  Outros nomes causaram uma
surpresa inicial: Jaegwon Kim, Christine Korsgaard, Nancy Cartwright,
Tyler Burge e Susan Haack.  Mas, pensando bem, esses filósofos são
realmente influentes em suas respectivas áreas de especialização.
William Lane Craig também me surpreendeu, mas deve-se reconhecer que o
sujeito conquistou muita influência devido ao deplorável debate teísmo
vs. ateísmo, religião vs. ciência.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] um probleminha com logica intuicionista...

2017-10-24 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com> escreveu:



[... ]

(¬φ → ¬χ) → (χ → φ) (Law of contraposition)

mas essa ultima assercao nao 'e o que eu chamaria de contraposicao.
Contraposicao usual 'e valida em logical intuicionista.

o que acontece e' que essa assercao combina contraposicao com
eliminacao da negacao dupla, ou seja:

contraposicao devia ser

(A → B) → (¬B → ¬A)

mas quem escreveu o artigo em vez de dizer

(¬A → ¬B) → (¬¬B → ¬¬A),
removeu a dupla negacao, ficando com
(¬A → ¬B) → (B → A)

dai que isso 'e mesmo nao-derivavel em IL, pois inclui double
negation elimination, junto com a contraposicao.

voces concordam? ou eu estou "esquecendo" alguma coisa importante?


Eu concordo contigo, Valéria.  Tradicionalmente, "contraposição" é o
nome dado à (A → B) → (¬B → ¬A).

Curiosamente, a primeira vez que eu vi a "contraposição" apresentada
como divisora de águas entre lógica clássica e intuicionista foi no
vídeo da palestra da Elaine Pimentel, "A semantical view of proof
systems", no Filomena 2017 (divulgado recentemente nesta lista).  Na
ocasião, pensei "Peraí...", pausei o vídeo e raciocinei basicamente o
que você apresentou acima.  A Elaine apresentou o negócio como uma
regra de inferência que permitiria estabelecer A → B por meio de
derivação de ¬A a partir de ¬B.  Devo admitir, contudo, que
apresentado assim, como regra de inferência, o nome "contraposição"
não me parece *tão* estranho.

Eu não sei porque (¬A → ¬B) → (B → A), com o nome "contraposição", tem
sido usado como diferenciador entre lógica clássica e intuicionista,
mas isso parece ser um desenvolvimento recente (a palestra da Elaine e
o artigo da Wikipédia sendo os únicos casos que me lembro até agora).
Talvez tenha aparecido em algum livro ou artigo e as pessoas passaram
a adotar essa caracterização.  Eu não gosto muito, pois tem grande
potencial para causar confusão.


tem mais alguma coisa errada no artigo?  eu estou querendo me
lembrar da relacao entre implicacao e disjuncao.  essas estao
certas?

Disjunction versus implication:

   (φ ∨ ψ) → (¬φ → ψ)


Esta está correta.  Basta aplicar ∨E com premissa menor ψ, obtida,
respectivamente, (1, [φ]) por ECQ a partir de φ (descartado) e ¬φ, e
(2, [ψ]) ψ (descartado).  Daí é só introdizir as implicações.


   (¬φ ∨ ψ) → (φ → ψ)


Esta tambeḿ está correta.  Basta substituir φ por ¬φ na justificativa
acima.

Mas talvez a relação mais interessante entre disjunção e implicação
seja dada por

φ ∨ ψ ⇔ ∀χ (φ → χ) → ((ψ → χ) → χ))

que é, basicamente, uma tradução da regra de eliminação em segunda
ordem (com quantificação sobre sentenças), também chamado de sistema
Fₐₜ na literatura recente. Essa relacão é inclusive usada no artigo da
Wikipédia que você mencionou para oferecer um *esquema* axiomático
alternativo para a lei do terceiro excluído (φ ∨ ¬φ):

(φ → χ) → ((¬φ →χ) → χ).


--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] sobre a "melhor forma" de apresentar a negação em lógicas construtivas

2018-05-18 Por tôpico Hermógenes Oliveira
digo, filosóficas, pode ser mesmo que razões metalógicas conduzam à
posição oposta.  Por razões históricas, no entanto, as matérias técnicas
que preocupavam Gentzen ainda carregam um peso considerável nas
investigações em lógicas construtivas, de maneira que ainda é comum
encontrar a negação abreviada na literatura.


Referências: 

[1] Dag Prawitz. Natural Deduction: A Proof-Theoretic Study, 1965,
Almqvist & Wiksell. Chapter II, § 1, Remark on pp. 34-35.

[2] Michael Dummett. The Logical Basis of Metaphysics, 1991, Harvard
University Press. Chapter 13, Negation, pp. 291-296.

[3] Ian Rumfitt. "Yes" and "No". Mind, 109, 781-823. 

[4] Stepen Read. Harmony and Autonomy in Classical Logic. Journal of
Philosophical Logic, 29 (2), 123-154. 

-- 
Hermógenes Oliveira

»Wir sind leicht bereit, uns selbst zu tadeln, unter der Bedingung, dass
 niemand einstimmt.« -- Marie von Ebner-Eschenbach

-- 
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Re: [Logica-l] Dúvidas sobre Dummett

2018-01-11 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Diogo Dias <diogo.bispo.d...@gmail.com> escreveu:


Olá!


Olá, Diogo.


Eu estou estudando Dummett e sua teoria do significado. Em diversas
ocasiões, ele defende a necessidade de distinguir entre prova e
prova canônica, sendo que a última seria responsável por determinado
o significado dos conectivos lógicos. Não obstante, não há uma
definição precisa de prova canônica, e ele próprio reconhece
isso. Gostaria de saber se alguém tem indicações de textos em que
essa noção é definida com precisão.


Dummett oferece uma definição precisa de argumento canônico em _The
Logical Basis of Metaphysics_, em particular os capítulos 11 ao 13
(infelizmente, desconheço traduções deste livro para o português ou
espanhol).

Definições alternativas podem ser encontradas em diversos artigos de
Prawitz, Martin-Löf, Schroeder-Heister, Göran Sundholm, Tor Sandqvist
e outros.  Contudo, dependendo do caso, essas definições podem se
distanciar bastante da perspectiva de Dummett.


Em particular, estou investigando se, e como, é possível gerar
lógicas diferentes a partir de formalizações diferentes da noção de
prova canônica.


Dummett oferece duas definições distintas de validade lógica: uma com
base nas regras de introdução, e outra com base nas regras de
eliminação.  As definições não pressupõe nenhuma lógica específica de
antemão e poderiam, *em princípio*, ser aplicadas a qualquer lógica
bem-comportada (normalização, propriedade da subfórmula).  Por
exemplo, as definições com base nas regras de eliminação podem ser
levemente adaptadas de modo a obter lógicas subestruturais, como a
lógica relevante.

Eu estou trabalhando com isso no momento e, se você quiser, podemos
discutir os detalhes em privado (para não incomodar a lista).

--
Hermógenes Oliveira

--
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Re: [Logica-l] Dúvidas sobre Dummett

2018-01-11 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Diogo Dias <diogo.bispo.d...@gmail.com> escreveu:

> Quando disse que Dummett não apresenta uma definição precisa de prova
> canônica, estava pensando nas seguintes citações:
>
> "What exaclty the notion of a canonical proof amounts to is obscure"
> (The Philosophical Basis of Intuitionistic Logic, p. 241), e "no one
> can at present give a detailed account of canonical proofs even of
> statements of first order arithmetic." (Elements of Intuitionism,
> p. 400)

Ao que me parece, Dummett tinha em mente nessas citações um contexto
mais amplo do que o da lógica pura: o contexto da aritmética ou mesmo da
matemática em geral (análise e etc.).  Isso está inclusive explícito no
caso da segunda citação.

Enquanto a tese da canonicidade parece bastante natural e plausível no
âmbito da lógica pura, a coisa complica quando passamos para a
aritimética de primeira ordem ou teorias matemáticas mais complexas.
Problemas similares aparecem quando tentamos aplicar a tese da
canonicidade à teorias empíricas.  O próprio Dummett chega a discutir
vários problemas com a tese da canonicidade (ali tratada como "hipótese
fundamental") em contextos extra-lógicos, tanto empíricos quanto
matemáticos, no capítulo 12 do "The Logical Basis of Metaphysics".

> Obrigado pela indicação do Logical Basis of Metaphysics. Acabei de ler
> os capítulos que você mencionou e, de fato, ali ele apresenta uma
> definição precisa dessa noção. Li, também, o texto Meaning approached
> via proofs, do Prawitz, em que ele apresenta outro possível tratamento
> de prova canônica, e compara com o do Dummett.
>
> Meu interesse no tema é o seguinte: Eu estou atualmente estudando
> pluralismo lógico, e estou investigando se alguns argumentos que, a
> princípio, foram propostos como uma defesa de um tipo de monismo
> lógico, podem ser interpretados como dando margem à legitimidade de
> lógicas distintas. No caso do Dummett, me parece que, variando o
> tratamento da noção de prova canônica, mas respeitando as restrições
> gerais da sua proposta (normalização, harmonia, molecularidade da
> linguagem etc), é possível gerar lógicas distintas.
>
> Você poderia me indicar alguns artigos desses autores que você
> mencionou que fazem isso? Em particular, fiquei interessado na
> possibilidade de obter uma lógica relevante mantendo o framework do
> Dummett.

Quanto à semântica Dummettiana para lógica relevante e outras lógicas
subestruturais, me referia a um trabalho preliminar meu e de dois
co-autores, Mattia Petrolo e Eugenio Orlandelli.  Nosso impulso é, em
linhas gerais, exatamente a que você descreveu acima: trazer uma
perspectiva pluralista para o monismo característico do inferencialismo
semântico da tradição Prawitz-Dummett.  Nós apresentamos nosso trabalho
em alguns congressos, mas ainda não temos nada publicado.  Infelizmente,
não conheço nenhuma pesquisa nessa linha além da nossa, portanto não
tenho muito o que indicar.

No que concerne o nosso trabalho, a ideia é bastante simples.  Grosso
modo, basta observar que a noção de argumento canônico de Dummett
trabalha com argumentos hipotéticos (com hipóteses abertas), em vez de
provas fechadas.  Uma vez que as hipóteses são incorporadas de modo
essencial na abordagem, podemos refinar o tratamento das hipóteses de
modo a obter lógicas subestruturais.

Por exemplo, nas defininições baseadas nas regras de eliminação,
argumentos válidos são predicados, grosso modo, na possibilidade de
transformar certos argumentos canônicos em outros argumentos canônicos
que dependem, *no máximo*, das mesmas hipóteses.  Se, em vez disso,
exigirmos que os argumentos canônicos resultantes dependam *exatamente
do mesmo conjunto de hipóteses*, temos uma lógica relevante (sem a lei
de distribuição) similar àquela de Prawitz (1965, Cap. VII).  Se, além
disso, coletamos as hipóteses em multiconjuntos, em vez de conjuntos,
temos um fragmento da lógica linear intuicionista (sem exponenciais).  E
por aí vai.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Arquivo digital do Die Grundlagen der Arithmetik: Centenarausgabe mit ergänzenden Texten (1986 - Christian Thiel)

2018-03-10 Por tôpico Hermógenes Oliveira
João Paulo Carneiro <jpcb...@gmail.com> escreveu:

>
> [...]
>
> Estou buscando o texto que citei no título deste tópico (Die
> Grundlagen der Arithmetik: Centenarausgabe mit ergänzenden Texten -
> 1986 - Christian Thiel).  Trata-se de uma edição comemorativa do
> centenário do famoso Die Grundlagen der Arithmetik de Frege. O que me
> interessa no livro, interesse oriundo das minhas investigação no
> doutorado, são os "ergänzenden Texten" (textos suplementares) que o
> editor apresenta nessa versão. Já fiz buscas do formato digital (a
> versão impressa custa por volta de R$ 600,00) em vários domínios na
> internet, mas sem sucesso até o momento. Gostaria de solicitar que,
> caso alguém tenha o formato digital dessa obra (ou consiga a partir do
> material físico), o compartilhasse comigo (e outros possíveis
> interessados aqui no grupo).

Os textos suplementares dessa edição consistem meramente de resenhas e
reações ao livro de Frege que apareceram em outros lugares.  A maioria
desses textos, talvez mesmo todos eles, estão disponíveis na rede
(domínio público).  Veja o índice da edição:

http://digitool.hbz-nrw.de:1801/webclient/DeliveryManager?pid=1804014%5Fatt%5F2=simple%5Fviewer

Os textos suplementares estão listados na seção "Das Echo der Grundlagen".
Por exemplo, o primeiro texto listado ali, a resenha de Hoppe, publicado
no Archiv der Mathematik und Physik, está disponível pelo archive.org
(p. 486 nesta digitalização):

https://archive.org/details/archivdermathem14unkngoog

Para os outros textos, aconselho procurar também no DigiZeitschriften:

http://www.digizeitschriften.de

Os artigos na Wikipedia alemã também costumam indicar versões
digitalizadas de revistas e livros antigos disponíveis na rede.  Por
exemplo, a resenha de Cantor foi publicada no Deutsche Literaturzeitung:

https://de.wikipedia.org/wiki/Deutsche_Literaturzeitung

Digitalizações estão listadas ali no Wikisource.

P.S. Estranho que você tenha encontrado a edição impressa por R$
600,00...  Na livraria regional aqui, ela sai por € 19,00!

-- 
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] #OFF A Vida de Ada Lovelace

2018-10-18 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Adolfo Neto  escreveu:


Aproveito e pergunto: que outra mulher na lógica poderia ser tema de
um livro infantil?


Rózsa Péter, sem dúvida.

[1] https://en.wikipedia.org/wiki/R%C3%B3zsa_P%C3%A9ter
[2] http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/Biographies/Peter.html

Uma bela história de perseverança.  Ela sobreviveu o gueto em
Budapeste durante a Segunda Guerra (ainda que tenha perdido amigos e
um irmão), perdeu manuscritos por conta dos bombardeios (mas os
recriou e publicou posteriormente).  Buscou consolo na poesia após
descobrir que os resultados de seu trabalho em teoria dos números já
haviam sido publicados por outros.  Retornou à matemática no âmbito
da lógica, especializando em funções recursivas.  Na literatura sobre
funções recursivas em língua alemã, de Felscher a Hermes, a influência
do trabalho dela é praticamente onipresente.

As anedotas sobre como um colega a convenceu a se dedicar à matemática
("it is not that I am worthy to occupy myself with mathematics, but
rather that mathematics is worthy for one to occupy oneself with") e
sobre o ensino do algorítimo de Euclides no ensino fundamental são
absolutamente encantadoras[2].

--
Hermógenes Oliveira

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[Logica-l] Georg Cantor e seus rivais

2018-11-05 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Olá, pessoal.

Como o João Marcos já esclareceu, nossa discussão revela uma certa
confusão entre a demonstração de que os números naturais podem ser
relacionados bijetivamente com os números (im)pares (ou outros
supostos subconjuntos próprios dos naturais), ideia cuja origem
precede Cantor (Galileu, Dedekind e outros), e o argumento diagonal de
Cantor que mostra que os números reais tem cardinalidade diferente
daquela dos números naturais.

O primeiro argumento de fato não assumi nada sobre a natureza do
infinito, mas o segundo, ao menos em sua formulação mais comum,
aparentemente pressupõe totalidades infinitas completadas, ainda que
seja um argumento por redução ao absurdo (posso elaborar esse ponto,
se alguém sentir que é necessário).

O primeiro argumento é relativamente incontroverso, mas o argumento
diagonal tem sido ocasionalmente contestado, algumas vezes por gente
aparentemente competente.  Wilfrid Hodges escreveu um artigo muito
interessante à respeito:

An editor recalls some hopeless papers. The Bulletin of Symbolic
Logic. Volume 4, Issue 1, March 1998.  Postscript file available at:
http://www.math.ucla.edu/~asl/bsl/0401-toc.htm

Aqui na Alemanha, Wolfgang Mückenheim[1] causa bastante polêmica sobre
o assunto.  Ele tem participado de discussões, muitas delas pouco
produtivas, em fóruns virtuais como o sci.math (assinando sempre com
suas iniciais "WM"), embora, algumas vezes, essas discussões revelem
informações históricas interessantes[2].  Algumas pessoas tem exigido
que, por conta de suas ideias controversas no que concerne o infinito
e a teoria de conjuntos, Mückenheim seja removido e proibido de
lecionar, uma sugestão certamente inapropriada.

É curioso que a teoria Cantoriana dos conjuntos atraia tanta confusão
e tantos rivais.  Ao que me parece, um dos motivos pode ser sua
difusão descuidada por meio de alegações aparentemente fantásticas,
como a de que existem infinitos maiores que o infinito (sem esclarecer
o conceito de cardinalidade e o que "maior" significa nesse contexto).
Algo similar ocorre com os teoremas de Gödel e alegações sobre
verdades matemáticas indemonstráveis ou incognoscíveis, ou sobre o
poder relativo entre mentes e máquinas de Turing.  Para piorar, tanto
Cantor quanto Gödel foram tentados pelo misticismo fantástico (por
exemplo, tentando relacionar seus resultados com teologia) e, no
ambiente altamente personalista que vigora na ciência atualmente, eles
são ocasionalmente tomados, sem muita reflexão, como autoridades.

Por falar na exaltação de cientistas, um documentário recente sobre o
Cantor (em alemão, legenda em alemão disponível):

https://www.ardmediathek.de/tv/MDR-Dok/Georg-Cantor-Der-Entdecker-der-Unendli/MDR-Fernsehen/Video?bcastId=17603862=50543922
https://www.ardmediathek.de/tv/MDR/Georg-Cantor-Der-Entdecker-der-Unendli/mdr-de/Video?bcastId=15123138=50613182 (mesa redonda sobre o  
documentário)


Notas:

[1] https://de.wikipedia.org/wiki/Wolfgang_M%C3%BCckenheim
[2] https://de.sci.mathematik.narkive.com/LWMTIIfp/kronecker-und-cantor



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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] "All I am saying is to give Ps (and Qs) a chance."

2018-12-09 Por tôpico Hermógenes Oliveira
ue se revelaram inconsistentes).

Independente de serem perfeitos, os métodos estatísticos da corrente
conexionista recentemente obtiveram grandes sucessos enquanto os almejos
simbolistas das décadas de 60 e 70 permanecem, em grande medida, como
promessas.  Impressiona que o financiamento[10], a empolgação e a
especulação pseudocientífica esteja favorecendo os conexionistas e seus
métodos de aprendizado de máquina?

Notas:

[1]  https://twitter.com/JeffDean/status/1065342676143243265

[2]  https://medium.com/backchannel/has-deepmind-really-passed-go-adc85e256bec

[3]  https://en.wikipedia.org/wiki/AlphaGo_Zero

[4]  https://en.wikipedia.org/wiki/AlphaGo_versus_Lee_Sedol#Game_4

[5]  https://youtu.be/yCALyQRN3hw?t=11406

[6]  https://youtu.be/yCALyQRN3hw?t=12152

[7]  https://www.youtube.com/watch?v=HT-UZkiOLv8

[8]  https://youtu.be/yCALyQRN3hw?t=21327

[9]  http://users.ox.ac.uk/%7Ejrlucas/Godel/mmg.html

[10]  http://cyber-valley.de/en

-- 
Hermógenes Oliveira

"If you give someone Fortran, he has Fortran. If you give someone Lisp,
he has any language he pleases."
Guy L. Steele

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[Logica-l] [META] Sobre uma questão técnica de configuração da lista

2018-11-27 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Mario Benevides  escreveu:


Peço desculpas por ter enviado uma mensagem pessoal para o Jean na
lista.


Ana Paula  observou:


Agora todo mundo da lista sabe seu número de telefone.


Pessoal,

A nossa lista pratica o famigerado "Reply-To Munging"[1].  Isto
significa que, ainda que você escolha a opção "Responder" em vez de
"Responder a todos" (responder para a lista), a sua mensagem será
*automaticamente* endereçada para a lista.  Algumas listas aderem a
esta prática numa tentativa de direcionar para a lista discussões que
eventualmente aconteceriam em privado (não sei se esta é a motivação
no nosso caso).

Assim que notei esta configuração, quando comecei a participar
ativamente há alguns anos atrás, conversei com os então
administradores a respeito.  Apesar dos incidentes[2] que, volta e
meia, acontecem na nossa lista, a coisa acabou ficando do jeito que
estava.

Isto não me afeta pessoalmente, pois o meu gerenciador de mensagens
possui um antídoto[3].  Mas, para a maioria das pessoas, responder a
uma mensagem da lista em privado provavelmente requer que se altere
*manualmente* os campos de endereçamento do E-mail.  Ademais, a
prática de "Reply-To Munging" parece estar em conflito com o tipo de
convívio que esperamos da nossa lista[4], pois incentiva,
indiretamente, o clima de sala de bate-papo e rede social.

O propósito desta mensagem *não* é, de forma alguma, reclamar da
administração da lista (passada ou atual).  A intenção é apenas levar
ao conhecimento dos membros uma questão técnica que, provavelmente,
tenha passado despercebida, e sugerir que, talvez, convenha repensar o
atual estado de coisas.


Notas:

[1] http://marc.merlins.org/netrants/reply-to-still-harmful.html
[2] Apenas um aperitivo, uma lista completa seria muito longa para  
incluir aqui:
 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/I6kFjUAerj8/x-PZ3A-H83gJ
 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/4OXfJaRRzuk/pZwAYt5TFgAJ
 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/dAbP6w2kx8w/Lf4cFjCsBwAJ
[3]  
https://www.gnu.org/software/emacs/manual/html_node/gnus/Group-Parameters.html#index-broken_002dreply_002dto-253
[4]  
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/C4CCsLSKywA/CVtVnxGgZTIJ


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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] [META] Sobre uma questão técnica de configuração da lista

2018-11-27 Por tôpico Hermógenes Oliveira

Para os colegas usuários do Gmail que porventura sofram de fadiga
cognitiva e prefiram que suas pérolas de sabedoria tenham, por padrão,
o maior alcance possível, seguem instruções do Gmail para alterar a
sua configuração:

https://support.google.com/mail/answer/6585?hl=pt-BR_topic=3395756
(Seção "Definir 'Responder a todos' como sua configuração padrão")

Notem, contudo, que essa configuração afeta *todas* as mensagens, não
somente as da Lógica-L.

Eu, pessoalmente, prefiro a fadiga ao arrependimento.  E me esforço
bastante para que minhas bobagens não caiam no domínio público, embora
nem sempre com sucesso (afinal, aqui estamos).  Na minha opinião,
eventualmente ter que reenviar para a lista uma mensagem erroneamente
endereçada somente ao remetente é preferível do que eventualmente
colocar no domínio público mensagens de conteúdo privado.


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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] [fora do tópico] Europeus aumentam a pressão por OA

2018-09-13 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Creio que *ninguém* tenha entendido mal, mas para que não reste sombra
de dúvida, talvez convenha deixar explícito que não há intenção de
apontar o dedo para quem quer que seja.

Eu mesmo, há alguns anos atrás, decidi que a melhor estratégia era
dançar à toada do Qualis (e demais monstrengos classificatórios) na hora
de considerar os veículos para minhas publicações, ao menos
temporariamente, enquanto não consigo meu lugarzinho ao sol (presumindo
a fortuna sorrirá para mim algum dia), ou enquanto o bom senso não
contagia as políticas acadêmicas de avaliação.

Nesse sentido, penso sim que cientistas estabelecidos carregam uma
responsabilidade maior, se quisermos mesmo mudar o status quo.  Dito
isso, há diversas razões legítimas para um que um cientista, ainda que
empenhado em melhorar a situação da acessibilidade, publique em (ou
revise para) veículos de acesso restrito: área de especialização ou
enquadramento da obra ainda não tem periódicos de qualidade publicados
com acesso livre, coautoria (não é cortês empurrar sua agenda nos seus
coautores), compromisso com coletâneas (também não é muito cortês
empurrar sua agenda nos editores) etc.  Enfim, em cada caso, diversos
fatores estão potencialmente em jogo.

Contudo, gosto de levantar o assunto sempre que tenho oportunidade, pois
certamente há muita insatisfação, mas às vezes não agimos por receio de
ficarmos isolados, ou de prejudicar nossas carreiras acadêmicas por uma
causa perdida.  Divulgar as pequenas conquistas e o grande apoio da
comunidade acadêmica ajuda a manter o assunto vivo e a ganhar o impulso
necessário para que possamos pender essa balança de vez.  Ademais, não
me parece que qualquer apoio que temos visto a essa causa, seja com
pequenas medidas *voluntárias* (individuais ou coletivamente
organizadas), seja com regras de agencias de fomento (no livre
desempenho de suas funções), possam ser classificadas como "radicais".
Radical é manter a própria comunidade científica refém em mesas de
negociação por meses com demandas abusivas, e quando suas demandas
finalmente não são atendidas, cancelar o acesso de cientistas aos frutos
do seu próprio trabalho voluntário, em grande parte financiado por
agências de fomento com dinheiro público (Elsevier vs Projeto DEAL na
Alemanha).  Surpreende que agências de fomento queiram dar um basta a
isso?

-- 
Hermógenes Oliveira

"Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor
modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão."
Machado de Assis

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[Logica-l] [fora do tópico] Europeus aumentam a pressão por OA

2018-09-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

Aqui estou, discutindo novamente meu assunto predileto fora do tópico da
lista.

Na Europa, aumenta cada vez mais a pressão de agências de fomento e
centros de pesquisa por maior acessibilidade e menores custos para
publicações científicas.

https://www.sciencemag.org/news/2018/09/european-science-funders-ban-grantees-publishing-paywalled-journals

Os argumentos das grandes editoras acadêmicas se tornam cada vez mais
difíceis de sustentar em face da atual multitude de periódicos de livre
acesso, alta qualidade e baixo custo de manutenção.  As lamúrias sobre
"inevitáveis e gigantescos custos de manutenção" e alegações sobre os
"inestimáveis serviços" supostamente prestados por editoras comerciais
estão mais do que desbancados.

O único trunfo restante à editoras como Springer e Elsevier é o nome e
suposto prestígio dos seus periódicos.  A preocupação com
acessibilidade, contudo, tem levado muitos cientistas a evitar
periódicos de acesso pago.

Perfeitamente cientes de que suas faturas não são pagas por indivíduos
em busca de artigos avulsos, mas sim por agencias governamentais de
fomento e bibliotecas públicas pelo mundo, essas editoras estão
empenhadas em manter o fluxo de artigos e revisores para os seus
periódicos.  Estão mesmo dispostas a liberar o acesso, desde que *sob o
seu controle*.

https://www.springernature.com/gp/researchers/sharedit

Artigos "compartilhados" por tais vias não podem ser redistribuídos e o
compartilhamento e arquivamento fica sob controle absoluto da editora.
O acesso ao artigo em si não está restrito, mas a distribuição sim.  A
diferença é que, nesse cenário, nossas agências de fomento permanecem
compelidas a entregar somas milionárias para os que controlam o acesso.
Imaginem esses milhões de dólares revertidos em bolsas de estudo e
laboratórios de pesquisa em vez de pagamentos de lucros e dividendos aos
acionistas...

Se você publicou um artigo num periódico da Springer cujo período de
embargo já espirou, não compartilhe SharedIt links, mas sim PDFs
arquivados em repositórios institucionais.  Para suas próximas
publicações, considere periódicos de livre acesso (Philosopher's
Imprint, Ergo, Logical Methods in Computer Science etc.).

Seu chato de plantão,

-- 
Hermógenes Oliveira

»Wer sich nicht bewegt, spürt seine Fesseln nicht«
Rosa Luxemburg

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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2020-01-04 Por tôpico Hermógenes Oliveira
 é a indecidibilidade de
A.  Consultando as definições relevantes em TMR, em particular a
definição de "definível", constatamos que a nossa missão seria
demonstrar um resultado existencial.  E eis aqui, finalmente, a minha
alegação:

- Uma *demonstração* de que a função D de diagonalização é definível
  em A não pode dispensar de aritmetização.

Em especial, essa alegação *não* pretende ser interpretada das
seguintes formas:

- Para se compreender o enunciado abstrato de TMR e sua dicotomia
  subjacente é necessário apelar à aritmetização.

- A noção de "aritmetização", ou "representabilidade da matemática" é
  uma panaceia que remonta, pelo menos, aos tempos de Pitágoras.

No próprio livro TMR, as demonstrações de indecidibilidade de teorias
particulares, especialmente no teorema 9, §II, assumem explicitamente
(nota de rodapé 7, §II) a recursividade da função D, e aqui se aplicam
as minhas observações anteriores sobre as propostas alternativas nos
moldes de Kleene.

Em resumo, o enunciado abstrato de TMR nos fornece a dicotomia:

¬ D (diagonalização) ∨ ¬ T (teoremicidade)

o que, para quem está familiarizado com a lógica proposicional
clássica, é equivalente a

D → ¬T

Se o resultado pretendido é, para além da dicotomia abstrata de TMR, a
indecidibilidade, isto é ¬T,  de uma teoria particular A para a aritmética,
então, temos ainda que demonstrar D.  Ora, pelas definições em
TMR, D é um enunciado existencial.  Por isso eu falava de uma hipótese
existencial embutida.

> No que me concerne, foi me perguntado se eu poderia, porventura,
> representar a diagonalização *na aritmética* sem usar
> aritmetizacao. Pois bem, posso resolver o problema sem usar a
> divisão em primos e compostos. Se eu usasse só a divisão entre pares
> e ímpares estaria bom? Ou a dicotomia pares e ímpares ainda conta
> como aritmetizacao?

Está concedido que existem codificações distintas e, porventura,
melhores do que aquelas utilizadas por Gödel e que, por sua vez, podem
apelar para as mais variadas propriedades numéricas.  Isso significa
que qualquer codificação funciona para se aritmetizar a teoria, desde
a noção de fórmula até a noção de derivação formal, e que basta
mencionar números para que se tenha aritmetização?  Não me parece
razoável.

Agora, nós poderíamos, eventualmente, fornecer critérios gerais (por
exemplo, por meio de definições) que uma codificação precisa obedecer
para desempenhar o papel pretendido na aritmetização.  Isso não
significa, porém, prescindir da aritmetização.  Seria apenas o mesmo
que dizer, em termos coloquiais: "Não enche o saco! Gödel já mostrou
que dá pra fazer!  Ninguém tem tempo ou interesse nessas continhas.
Com exceção, talvez, dos hackers.  Vá amolar um construtivista!"

Referências:
[1] 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/3r3JuY79Ojc/r-G5sBKzBgAJ
[2] 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msg/logica-l/dAbP6w2kx8w/VawkJgKnBwAJ

--
Hermógenes Oliveira

»Die Mathematiker sind eine Art Franzosen: Redet man zu ihnen, so
übersetzen sie es in ihre Sprache, und dann ist es alsobald ganz etwas
anderes.« Johann Wolfgang von Goethe

-- 
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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2019-12-29 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, Chico.

Eu não li a tese de doutorado do Smullyan ou o artigo de 1959, mas
conheço o livro de 1992, Gödel's Incompleteness Theorems.  De acordo
com o prefácio, ideias daquelas obras anteriores estão incorporadas
ali.

Dentre a literatura secundária sobre os teoremas de Gödel, esse livro
do Smullyan é o meu predileto.  Me lembro de nós termos usado ele,
juntamente com o artigo original do Gödel, num curso do mestrado na
UFG em meados de 2011.  Um dos cursos mais divertidos dos quais eu já
participei!

O livro apresenta codificações bem perspicazes que, na minha opinião,
são melhores que as do artigo original.  Contudo, ele não abre mão da
aritmetização em momento algum, ainda que em alguns momentos a
pressuponha *explicitamente* quando apresenta formulações abstratas
do resultado gödeliano.

--
Hermógenes Oliveira


From: Francisco Miraglia Neto 
Sent: Sunday, 29 December 2019 12:47
Cc: Lista brasileira
Subject: Re:  [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics


> Car@s,
>
> Me indago porque ninguém parece se lembrar da tese de doutorado do Smulian em 
> Princeton, publicada naquela coleção de Princeton que tinha capa vermelha. 
> Para quem não conhece , recomendo:
> A theory of formal systems
> Princeton Univ Press, 1961.
>
> Há um artigo anterior de 1959, seu primeiro artigo, anterior à tese, em que 
> os argumentos de Godel são analisados e simplificados consideravelmente.
>
> De todo modo, o que chamamos de aritmetizacão , um caso particular de 
> internalização de uma Teoria no sentido que fala o Rodrigo, possui muitas 
> outras aplicações, como todo mundo sabe.  O mesmo se aplica à ideia de 
> diagonalização, que trata-se, na minha opinião, de um método , uma ideia e 
> não apenas uma técnica particular.
>
> Um grande abraço a todas e todos e  Feliz Ano Novo !!
>
> Chico Miraglia

--
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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2019-12-29 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Rodrigo Freire  escreveu:

> A hipótese que T tem nomes para suas fórmulas significa apenas que
> as fórmulas de T e os termos fechados de T estão em correspondência
> 1-1: a cada fórmula F corresponde um termo fechado ‘F’. Nem precisa
> mencionar aritmética. Qualquer teoria em que o numero de fórmulas é
> igual ao número de termos fechados satisfaz isso por definição.

> Que T não representa simultaneamente sua diagonalização de fórmulas
> (a operação que associa F(‘F’) à fórmula F) e sua teoremicidade é a
> conclusão (em TMR), e também dispensa qualquer menção à
> aritmética. Não é preciso qualquer menção, por exemplo, às funções
> recursivas nesse teorema. Onde está a aritmetização como hipótese?

Bem, Rodrigo, acho que podemos concordar que a questão em pauta não é
a simples *menção* do termo "aritmetização", ou outro termo que o
valha, mas se a técnica em si não é, de alguma maneira, pressuposta
nas demonstrações alternativas que estamos discutindo.

No caso da sua proposta específica, você pergunta:

> Onde está a aritmetização como hipótese?

Eu necessitaria de mais detalhes para fornecer uma resposta mais
enfática, mas faço algumas indicações a seguir.

Você propõe:

> Se o numero de fórmulas de T é igual ao número de termos fechados de
> T, e T é consistente, então T não representa simultaneamente a
> operação de diagonalização nas suas fórmulas e a dedutibilidade em
> T.

Ora, consideremos uma teoria matemática fundamental, numa formulação
qualquer, digamos, nos moldes do Principia Mathematica, como Gödel
fez.  Vamos avaliar a sua (in)decidibilidade com base no enunciado
acima.

Suponhamos que essa teoria é consistente.  O critério de que o número
de fórmulas seja igual ao número de termos fechados, claramente, não
pode ser suficiente para a indecidibilidade (ex. Aritmética de
Presburger).  O outro critério seria que T "*representa* a operação de
diagonalização nas suas fórmulas". O que significa isso?  Seria
possível avaliar esse critério para a nossa teoria sem apelar para a
aritmetização?

A minha aposta é que não.

Imagino que você tenha em mente algo similar ao que consta no TMR,
§II, Theorem 1.  Ali, o resultado está enunciado em termos da noção de
definibilidade (§II.2), onde, assim eu mantenho, estaria embutido o
apelo à aritmetização.  Inclusive, esse termo "definível"
("definierbar") é o mesmo usado por Gödel no artigo original.  Porém,
enquanto Gödel meticulosamente constrói as classes definitórias dos
predicados e relações metamatemáticas por meio da aritmetização, TMR
simplesmente substituem uma definição existencial, inserem como
hipótese do enunciado e pronto!  Típico matemático clássico! Sempre
que há uma bela e elegante construção, substitui uma definição
existencial e alega um resultado mais geral e abstrato. ;-)

A questão é: Como seria possível demonstrar o existencial ali com
respeito a função D de diagonalização para uma teoria particular, como
o Principia Mathematica (e, assim, obter o resultado original de
Gödel), sem usar aritmetização?

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2019-12-30 Por tôpico Hermógenes Oliveira
> Hermógenes e lista,

Olá, Carlos.

> Eu , (pura teimosia?) continuo insistindo que a raiz do problema
> está na definição recursiva que usam as linguagens formais, que
> passam a ser, como Kleene disse, aritméticas.

Bem, eu, particularmente, não vejo nenhum problema com isso.

Você havia observado:

> Se demonstrar que o conjunto das fórmulas que não são teoremas não é
> recursivamente enumerável, então o conjunto dos teoremas não é
> recursivo, E isso pode ser provado de maneira finitária. Certo?

O problema em se abordar o resultado obtido por Gödel em termos da
teoria das funções recursivas é que se perde de vista, ou simplesmente
se pressupõe, a relação entre esses conceitos da teoria da
recursividade e as teorias formais com aspirações fundacionistas.
Hoje isso faz parte do repertório do lógico, e alguns poderiam mesmo
tomar como óbvio ou evidente, porém, foi algo que Gödel precisou
demonstrar!  E, se parece tão natural agora, é porque ele o fez!

Após o teorema demonstrado, fica fácil olhar para trás e formular
enunciados equivalentes ao resultado original de Gödel os quais, ao
menos superficialmente, não fazem uso dos conceitos e métodos
encontrados no original.

Observações semelhantes se aplicam à sua sugestão envolvendo modelos
não-standard.

Imagine que você voltasse no tempo, para 1928, e se encontrasse com
Hilbert, ou Ackermann ou Bernays e dissesse a eles que o programa do
Hilbert não pode triunfar porque "nem toda função recursiva parcial é
potencialmente recursiva" (ou qualquer outro enunciado da teoria da
recursão que o valha) e prosseguisse com as definições dos conceitos
que ocorrem no enunciado e uma demonstração dele.  Qual seria a
reação deles?

Ou, se viagem no tempo for ficção científica demais, imagine que
você está *demonstrando* para seus alunos o resultado de Gödel e
explicando seus efeitos sobre o programa de Hilbert.  Você usaria
modelos não-standard? Teoria da recursividade?

Uma boa parte desses conceitos, como o de modelos não-standard, só
fazem sentido hoje *por causa* do resultado de Gödel e, portanto, não
podem prescindir dele ou substituí-lo.

Por isso, me parece que algumas alternativas propostas nesta discussão
pressupõe, ainda que implicitamente, o resultado original (ou uma
parte importante dele).

Nós podemos, eventualmente, nos contorcer com considerações informais
baseadas no nosso já solidificado conhecimento de lógica, dizendo que
é evidente a relação entre sistemas formais e recursividade, ou que é
óbvio que qualquer teoria adequada da matemática permite
diagonalização, ou coisas do gênero.  Mas quando se trata de
*demonstrar* essas alegações, fazer as continhas mesmo e mostrar o
recibo, acho que é difícil escapar de algo semelhante ao trabalho
meticuloso do original.

Não lembro onde li isso, mas dizem que Gödel considerou o seu teorema
a partir de algumas ideias bastante informais, de ordem semântica,
envolvendo autorreferência.  Mas ele sabia que esse tipo de argumento
não convenceria os vovozinhos de Göttingen e sentou para elaborar uma
demonstração completamente sintática.  O esforço teria o custado uma
temporada no sanatório.  Mas, em troca, recebemos uma bela demonstração.

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2019-12-30 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Rodrigo Freire  escreveu:

> Legal, vamos ver como o teorema de Godel na versão que mencionei
> (TMR) *se aplica* nesse caso sem aritmetização no sentido usual
> (sequer há um predicado para os números naturais).

Ora, se a teoria é decidível, ninguém disputa que a aritmetização pode
ser dispensada!  Trata-se, porém, de dispensá-la em demonstrações de
*indecidibilidade*!

> [...]
> 
> Agora a aritmetização: Entendo que esse termo está sendo usado para
> um tipo de implementação da “representação formal da matemática” em
> T. Há outros modos de fazer isso que não apelam para números. Acho
> que essa é a “eliminação” da aritmetização que está em questão. É
> claro que não se está propondo a eliminação da “representação formal
> da matemática em T”. Se você identifica essas duas coisas, tudo
> bem. Mas não acho razoável. “Representação” é muito mais geral que
> “aritmetização”. Me parece claro que “aritmetização” é um tipo muito
> particular e restrito de “representação” que remete ao uso de
> operações aritméticas básicas com números apenas. Mas essa é uma
> discussão sobre a identificação de dois termos indefinidos.

Bem, então me parece que há uma maneira bastante direta de se resolver
a questão.

Considere o mencionado teorema 1 na seção II.2 do TMR. Tome uma
formalização qualquer T, em primeira ordem, da aritmética.  Você
poderia, porventura, *demonstrar*, sem uso da aritmetização, que a
função D é definível em T (sob a hipótese de que T é consistente)?

Sinta-se a vontade para usar qualquer outro tipo de "representação
formal da matemática" que não seja aritmética (que não apele a
números), ou para, alternativamente, apenas indicar uma referência
na literatura onde isto tenha sido realizado.

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Kurt Gödel and the mechanization of mathematics

2019-12-28 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

João Marcos escreveu:
> Rodrigo, a sua resposta ajuda a corroborar a minha afirmação que a
> demonstração do teorema de incompletabilidade gödeliano NÃO depende
> da "aritmetização da sintaxe" (como defendeu a autora do artigo
> citado no começo da presente discussão).

Permitam-me assumir o ultrajante papel de advogado do diabo. :-)

Rodrigo Freire escreveu (ênfase minha):

> TMR apresenta a seguinte versão do teorema de Godel (citando de
> memória, pode haver alguma variação inessencial)

> *Se T tem nomes para suas fórmulas* (item 1 da codificação na minha
> mensagem anterior) e é consistente, então T não representa
> simultaneamente a operação de diagonalização nas suas fórmulas e a
> dedutibilidade em T.

Ora, é fácil se livrar da aritmetização se simplesmente a assumirmos
como hipótese!

O resultado de Kleene também foi aludido nesta discussão como
evidência em favor da tese de João Marcos.  Esse resultado, de fato,
implica uma *versão* do resultado de Gödel que trata de teorias
recursivamente axiomatizáveis nas quais *as funções recursivas
primitivas são representáveis*[1].  Ora, para se chegar ao enunciado
original de Gödel, é necessário ainda estabelecer que as funções
recursivas primitivas são representáveis nas teorias fundacionais tipo
Principia Mathematica.  É precisamente isso que é alcançado por meio
da aritmetização.  Ainda que seja repertório básico para os lógicos de
carreira contemporâneos, isso não é evidente.  Inclusive, pode-se
dizer que Gödel inaugurou com seu artigo os estudos do que hoje
chamamos de funções recursivas primitivas.

Se estamos pensando em demonstrações do enunciado original de Gödel,
com todo seu impacto e consequências, então não creio que seja
possível evitar a tal aritmetização (bem como diagonalização).
Supostas demonstrações livres dela estão fadadas a pressupô-la de
alguma maneira, seja explicitamente, ou embutida em definições.

Certamente, como já foi observado nesta discussão, há uma certa
vagueza em "demonstrações do resultado de incompletabilidade de
Gödel".  Não está perfeitamente claro quando um resultado deve contar
como uma demonstração do enunciado gödeliano.  Ademais, quando estamos
discutindo o que é ou não necessário para se demonstrar um resultado,
há que se considerar ainda uma certa ambiguidade na noção de
demonstração.  Afinal, há boas e más demonstrações.  Qual o valor de
se evitar esta ou aquela técnica se o preço é terminarmos com uma má
demonstração?

Assim como qualquer resultado, as demonstrações do teorema da
indecidibilidade do Gödel podem ser inseridas num espectro com relação
a sua perspicácia e poder elucidatório. Num dos extremos está algo
como a demostração do próprio Gödel (talvez com algumas melhorias
inessenciais na codificação) e no outro extremo está aquela em que
simplesmente se assume o enunciado do teorema como hipótese.

Afinal, o resultado é conhecido como teorema de Gödel e não teorema de
Finsler[2]. E, a julgar pela escassa correspondência entre os dois[3],
os detalhes técnicos, inclusive aritmetização, são uma importante
razão para essa nomenclatura.  Portanto, não diria que seja matéria
apenas para hackers[3].


Notas:

[1] Em conversa privada, João Marcos indicou a excelente nota de Peter
Smith sobre o assunto:

https://www.logicmatters.net/resources/pdfs/KleeneProof.pdf

[2] Paul Finsler. Formale Beweise und die Entsheidbarkeit. Mathematische
Zeitschrift, Band 25, 1926, S. 676-682.

[3] Kurt Gödel. Collected Works, Volume IV, p. 405-415.

[3] A codificação particular escolhida por Gödel é, de fato,
inessencial, como observou o próprio Gödel, e pode ser substituída,
eventualmente por versões melhores, sem qualquer prejuízo.  Porém, a
aritmetização em si me parece desempenhar um papel central.

--
Hermógenes Oliveira

"The competent programmer is fully aware of the strictly limited size
of his own skull; therefore he approaches the programming task in full
humility, and among other things he avoids clever tricks like the
plague." Edsger W. Dijkstra

-- 
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Re: [Logica-l] [discussão sobre Lógica e inclusão] uma rosa com um novo nome?

2021-06-20 Por tôpico Hermógenes Oliveira
ra aspirantes a comediantes. 
Sinceramente. Algém quer fazer piada, mas não tem qualquer talento humorístico 
e está desesperado(a) por piadas de graça? Pois que se vire! Trata-se de algo 
frívolo demais para ser objeto de consideração, dada a pauta em discussão.

> E - Vários membros e ex-alunos do grupo afirmam ter muito orgulho do nome
> do grupo, e chegam a se autodenominar "loliteiros" ou "loliteiras" ("para
> sempre", ou "até a morte").
> 
> F - Continuando o ponto anterior, temos ex-alunos que tatuaram "LoLITA" no
> corpo, que afirmam que "não há nenhum tipo de malícia no nome" ou
> "intenções escusas ao criá-lo", que defenderam a tese usando sapatos que
> faziam referência ao logotipo do grupo (ver abaixo), etc.  Ainda, a maior
> parte das ex-alunAs e das colaboradorAs do grupo que se manifestaram no
> nosso fórum interno de discussões afirmaram estar plenamente confortáveis
> com o nome do grupo.

OK. Não tenho experiência com o grupo, mas gostaria de levantar a hipótese de 
que o orgulho não advém tanto do *nome* do grupo, mas do *próprio grupo* (das 
atividades que desenvolve, daquilo que o grupo representa). Sim, imagino que 
possa haver quem ache o nome legal, mas suspeito que não se sentiriam tão 
diferentes caso o grupo tivesse um outro nome, digamos tão astuto quanto e com 
duplo significado, mas que não estivesse associado com a exploração e/ou 
erotização de meninas púberes?

Interessante saber que a maior parte das alunas e colaboradoras se sentem 
confortáveis com o nome do grupo. E a menor parte? A maior parte também se 
sentiria confortável com um outros nomes, suponho? Talvez alguns com os quais 
a menor parte também esteja confortável?

Convém notar que a suposição considerada em pauta é de que o nome teria o 
*potencial* de afastar. Difícil sondar a opinião das pessoas que, caso o 
suposto potencial tenha se efetivado no passado, escolheram se afastar. Também 
é difícil auferir em que proporção esse potencial se efetivou, se é que isso 
ocorreu. Contudo, qualquer resquício de chance nesse sentido me parece 
bastante pesado em comparação com piadas, estampas de sapatos, ou defasagem de 
tatuagens, ainda que combinados. 

> G - Qualquer nome pode dar lugar a "interpretações distorcidas".

Correto. Mas inócuo.
 
> H - A *referência* última do nome "LoLITA", por nexo de batismo, é
> simplesmente o grupo de pesquisa correspondente, do DIMAp/UFRN, e não o
> romance do Nabokov, nem o apelido carinhoso de uma mulher chamada Dolores,
> nem nenhum dos outros itens extra-linguísticos apontados nos outros itens
> acima (ou abaixo).

Correto. Mas irrelevante.

Um pouco mais detalhadamente sobre os pontos G e H (e talvez partes do ponto 
F). Creio que ninguém esteja sob a hipótese de que o fato de que a sigla do 
grupo soletra "Lolita" é um infeliz acidente. Isto é, a sigla LoLITA é 
proposital. Bem, mas trata-se de um grupo de lógica. Não de literatura. Nem de 
fãs do Nabokov. Ou de pedófilos na internet. A pergunta natural é: Bem, por que 
logo "LoLITA"? Ao que tudo indica, a resposta, no contexto do batismo do 
grupo, é completamente inocente:  a sigla se encaixa bem com uma boa 
descrição, é o nome de uma obra literária famosa, é bem astuta e etc.

Agora, se pessoas começam a levantar preocupações com possíveis efeitos 
negativos do nome (que supostamente passaram despercebidos), a posição "o nome 
permanece" já não é tão inocente. Não se trata aqui de atribuir malícia, ou 
qualquer outra motivação nefasta ao contexto de batismo. Quem defende que o 
nome deve permanecer me parece estar comprometido(a) com alguma combinação das 
seguintes teses:

- Nenhuma pessoa razoável associa conotações negativas ou impróprias à 
expressão "lolita" (embora seja banida em várias ferramentas de busca por aí) 
a ponto de afetar o seu envolvimento com o grupo de pesquisa em qualquer 
capacidade (uma tese temerária, eu diria)

- os possíveis efeitos negativos são desfavoravelmente contrabalanceados pelos 
benefícios em termos de piadas, sapatos, tatuagens e evitar o considerável 
trabalho envolvido em mudar o nome do grupo

- o legado do grupo de pesquisa está de alguma forma atrelado à *permanência* 
do nome. proteger esse legado, de alguma maneira, tem mais valor do que 
garantir o conforto e/ou acolhimento de futuros membros e/ou colaboradores

Meus centavinhos,

--
Hermógenes Oliveira 


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Re: [Logica-l] [discussão sobre Lógica e inclusão] uma rosa com um novo nome?

2021-06-22 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Na segunda-feira, 21 de junho de 2021, às 12:40:15 -03, Marcelo Finger 
escreveu:
> No centro de IA (C4AI) da USP-IBM-Fapesp, estamos construindo 3 Córpus:
>   - Córpus Carolina (em homenagem à Carolina Michaelis de Vasconcelos)
>   - Córpus Portinari (em homenagem a Cândido Portinari)
>   - Córpus Coraa (em homenagem à Cora Coralina)

Confesso que, a despeito de muito esforço, não consegui capturar o motivo 
desse informe no contexto desta discussão.

> Pessoalmente, não acho que as objeções ao nome do seu grupo tenham
> fundamento, não vejo como admitir a crítica "não adequado para um grupo de
> pesquisa vinculado a uma universidade; é anti-profissional; é de mau
> gosto".
> 
> O estilo Tango era considerado vulgar e de mau gosto.  Idem para o samba.
> Idem para o  Jazz.  Já foi o tempo, sei lá por quê, que mulheres grávidas
> não podiam aparecer na TV.  O futebol feminino já foi ilegal no Brail.  E
> por aí vai.

A analogia aqui seria que a exploração e/ou erotização de meninas é censurável 
hoje, mas eventualmente poderá ser considerada totalmente normal no futuro?!

> Eu acho Lolita simpático e consagrado.

Não me parece que esta seja a pauta da discussão. Não se trata de uma enquete: 
quem gosta do nome, quem não gosta do nome.

Me parece perfeitamente concebível que alguém goste do nome (digamos, porque é 
um(a) fã de Nabokov), mas que discorde que seja apropriado usá-lo para um 
grupo de lógica.

Recapitulando, a pauta, juntamente com uma possível argumentação para mudança 
do nome, pelo que eu entendi, seria:

- Existem conotações negativas associadas ao termo "lolita".

- Isso pode gerar constrangimentos (mesmo para pessoas que não associam, elas 
mesmas, nada de negativo com o termo, por exempĺo, ao lidar com outras 
pessoas) e, consequentemente, afugentar e/ou intimidar pessoas de se associar 
com o grupo em alguma capacidade

- Ora, mas as razões para a escolha do nome "lolita" são completamente 
ortogonais à missão e à área de trabalho do grupo: lógica.

- Deveríamos mudar o nome, pois assim evitamos possíveis associações 
negativas. A mudança do nome não traz nenhum empecilho ou efeito negativo ao 
propósito e aos trabalhos do grupo de pesquisa, que, repito, é a *lógica*

Em resumo, não se trata de uma questão de pudor ou gosto. Nesse sentido, 
concordo que o ponto citado por JM que menciona "mau gosto" não é muito 
convincente, pelo menos da forma como está formulado, embora eu consiga 
vislumbrar um ponto subjacente que possa ser pertinente. Enfim,
não vejo a mudança do nome como uma pauta moral. Ninguém estaria sendo 
proibido de ler Nabokov, gostar de Nabokov, dançar o tango, o Jazz e o ChaCha, 
fazer piada usando o termo "lolita" na mesa de buteco com os amigos, e seja lá 
mais o que as pessoas acham que essa discussão seja a respeito). 

--
Hermógenes Oliveira


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Re: [Logica-l] Para Todxs: Natal - Procuram-se coautoras e coautores

2021-05-28 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, Daniel.

Muito legal o projeto!

Há algum tempo atrás, eu escrevi para sondar sobre o projeto e, na ocasião, 
você me enviou as fontes LaTeX da tradução feita pelo grupo de Natal. Eu e 
Diego estamos usando o texto como livro didático das disciplinas de lógica 
aqui em João Pessoa. Para coordenar as nossas revisões do texto, Diego incluiu 
as fontes no GitHub sob a licença que acompanhava as fontes que você me 
forneceu, isto é CC-BY-4.0 (a mesma do projeto original):

https://github.com/diegofernandess/paratodxs-rn-pb

Nós fizemos algumas alterações e correções que estão espalhadas em quatro 
bifurcações ("branches"). Tentamos, na medida do possível, granularizar ao 
máximo nossas alterações em remendos ("commits") separados, adicionando 
comentários explicativos ou motivadores, sempre que possível (alguns, 
inclusive, contém discussões e divergências entre eu e Diego). A ideia é 
encorajar colaborações e permitir pinçar ("cherry pick") mudanças localizadas, 
facilitando a incorporação em versões paralelas (por quem quer que seja).

Provavelmente, algumas de nossas correções não são mais aplicáveis, pois estão 
baseadas numa versão mais antiga do texto. Porém, talvez algumas delas ainda 
sejam de interesse.

Noto que a versão atual contém capítulos sobre lógica modal  e metateoria. Eu 
havia começado a trabalhar no capítulo sobre lógica modal, mas infelizmente 
não pude avançar muito.

Talvez convenha centralizarmos os esforços. Daí nós manteriamos um tronco 
separado do repositório de vocês. Isso facilitaria a troca de remendos entre 
as diversas versões.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira


-- 
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https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/1664059.lhQJIO16El%40avalon.


Re: [Logica-l] [off] Licença maternidade no lattes

2021-04-09 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Na sexta-feira, 9 de abril de 2021, às 18:02:50 -03, Jaison Schinaider 
escreveu:
> Acredito que essa informação seja de interesse de alguns membros do grupo:
> 
> https://linkdigital.ifsc.edu.br/2021/04/08/cnpq-anuncia-inclusao-do-campo-li
> cenca-maternidade-no-curriculo-lattes/

Bem, antes tarde do que nunca, eu suponho.

O próximo passo agora é adaptar todas as resoluções, regimentos, pareces 
técnicos e demais normas que regem seleções, promoções, progreções, e demais 
processos relevantes no âmbito acadêmico, para que levem em conta esse novo 
campo. Uma longa jornada.

Ideias sobre os detalhes de como isso poderia funcionar na prática podem ser 
talvez obtidos junto à organizações acadêmicas que já incorporam algo assim há 
algum tempo. A DFG, para citar apenas um exemplo, possui diretrizes[1] nesse 
sentido para pareceristas em processos seletivos:

"There is no room for non-scientific criteria in the review process. However, 
appropriate consideration can and should be given to personal factors affecting 
an applicant. For example, appropriate allowance should be made for longer 
qualification phases, publication gaps or reduced periods abroad, which are 
often due to childcare or caring for a family member."

[1] https://www.dfg.de/en/research_funding/principles_dfg_funding/
equal_opportunities/reviewers/index.html

--
Hermógenes Oliveira


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Re: [Logica-l] Vácuo

2021-04-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
No domingo, 11 de abril de 2021, às 17:45:16 -03, Joao Marcos escreveu:
>  [...]
> 
> Meu raciocínio:
> Se houvesse uma "Aritmética Relevante", estendendo [A4], que tivesse
> algo relevante (perdão) a dizer sobre [A1], sem ao mesmo tempo se
> comprometer com [A2] (como Daniel parece desejar), talvez ela
> consistisse em uma resolução satisfatória para o mistério de [A3]?

Core Logic?

https://sci-hub.se/10.1007/bf00763511

> Claro, esta seria a solução _mais simples_.  Outra explanação para o
> funcionamento da semântica "folk", que vai contra o bom senso _dos
> lógicos_, também poderia ser satisfatória.  Uma Aritmética sempre será
> necessária, de uma maneira ou de outra, para dar conta de [A1].

Quais lógicos são esses, cujo bom senso está sendo invocado aqui? Lógicos 
clássicos, eu suponho?

Não me parece que a relevância seja um problema para a aritmética em si. Ao 
menos, não me recordo de inferências patentemente irrelevantes em teoria dos 
números, com a qual tenho certa familiaridade, mas, reconhecidamente, não sou
um especialista. Ficaria agradavelmente surpreso se alguém fornecesse um 
exemplo.

A irrelevância do condicional clássico oferece alguns ganhos técnicos no 
âmbito dos programas de fundamentação que pairavam por volta do início do 
século XX, mas não parece ser um elemento essencial da argumentação matemática 
informal.

Porém, ainda que o fosse, não me parece correto impor um artefato da tradição 
matemática, especialmente como conteúdo obrigatório em cursos de filosofia, nos 
quais, inclusive, é comumente apresentado como regra do raciocinar correto, 
dentre outras baboseiras.

--
Hermógenes Oliveira


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Re: [Logica-l] Vácuo

2021-04-12 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Em segunda-feira, 12 de abril de 2021, às 11:53:36 -03, Joao Marcos escreveu:
> > 
> > Quais lógicos são esses, cujo bom senso está sendo invocado aqui? Lógicos
> > clássicos, eu suponho?
> 
> Os lemas que eu invoquei eram intuicionisticamente válidos, certo?

OK. O bom senso dos lógicos clássicos e intuicionistas, então. Ambos endossam 
lógicas não relevantes. E os lógicos relevantes? Não são lógicos? São 
anátemas? Blásfemos?
 
> > Porém, ainda que o fosse, não me parece correto impor um artefato da
> > tradição matemática, especialmente como conteúdo obrigatório em cursos de
> > filosofia, nos quais, inclusive, é comumente apresentado como regra do
> > raciocinar correto, dentre outras baboseiras.
> 
> Ainda gostaria de ver uma interpretação formal (de qualquer tipo) que
> justificasse a alegada inequivalência entre (A) e (B).

Assumindo que se trata de um desejo sincero da sua parte, trata-se de uma 
simples aplicação da lógica intuicionista *relevante*, cujos detalhes formais 
estão disponíveis no artigo que mencionei antes. Na verdade, a apresentação 
aqui está mais robusta, ainda que o título não seja tão chamativo quanto:

https://sci-hub.se/10.1017/s1755020311000360

Divirta-se!

--
Hermógenes Oliveira


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Re: [Logica-l] Concurso Público (FIL-UnB) - Área: Lógica

2022-12-15 Por tôpico Hermógenes Oliveira
João Marcos  escreveu:

> De resto, considero válido, sim, discutir OUTROS argumentos
> importantes apresentados aqui, envolvendo a formação pedagógica, a
> escolha cuidadosa dos temas a serem cobrados no concurso, a escolha
> cuidadosa da banca e a implementação de políticas públicas
> afirmativas, dentre outros.

Proponho focar a questão por uma perspectiva prática. Poderíamos discutir qual 
seria o formato ideal para contratações no magistério superior federal, mas, na 
realidade, já existem regras gerais sobre o formato dos concursos a nível 
nacional e, eventualmente, regras mais específicas também a nível da 
instituição.

Sobre esta perspectiva prática, a primeira coisa a se observar é que a 
preocupação primordial em contratações para o magistério superior é o interesse 
público, conforme emanado da finalidade e missão da autarquia. Não se trata de 
uma questão de distribuição equitativa de cabides de emprego de acordo com o 
mérito de indivíduos, não importa qual métrica seja adotada para o mérito (na 
minha humilde opinião, "meritocracia" é um conceito que já nasceu falido, mas, 
enfim, tentarei me manter no tópico[1]).

O perfil mais alinhado com a missão pública atrelada ao departamento pode 
variar de acordo com a situação do mesmo, não obstante o mérito percebido em 
favor deste ou daquele candidato, ainda que a ideia de mérito empregada aqui 
esteja diretamente relacionada com a área de conhecimento do concurso.

Por exemplo, numa certa IES, os programas de pós-graduação na área podem ser 
mais ou menos desenvolvidos. Portanto, a expectativa de atuação do(a) 
contratado(a) na graduação em filosofia pode ser maior ou menor. Em certas 
IESs, a lógica está presente na grade de vários cursos de graduação. Em outras, 
a lógica, como componente curricular ministrada pelo departamento de filosofia, 
está presente apenas no curso de filosofia. De acordo com a situação, o 
contratado terá a expectativa de lecionar exclusivamente lógica ou, 
eventualmente, outras temáticas afins para o curso de filosofia, ainda que 
predominantemente focado na lógica. Enfim, existem diversos fatores inerentes 
ao contexto específico da IES e/ou departamento que justifiquem a preferência 
pela contratação de professor especialista em lógica, porém com formação 
razoavelmente ampla e sólida em filosofia. Isto do ponto de vista do interesse 
público.

Agora, dados os parâmetros legais para contratação, qual seria a maneira de 
tentar aumentar a probabilidade de contratação de um profissional com o perfil 
mais alinhado? Garantias cabais não podem ser obtidas, e creio que isto seja 
pacífico.

Uma sugestão apresentada foi incluir pontos filosóficos nas temáticas do 
concurso. Os pontos são sorteados, contudo. O que significa que a averiguação 
de competência em temas filosóficos ficaria ao sabor da sorte. Por outro lado, 
se todos temas são filosóficos, não se averigua competência em tópicos 
avançados de lógica.

Existem várias outras opções de incluir a averiguação de ampla competência 
filosófica dentro das etapas do concurso. Por exemplo, seria concebível incluir 
na prova de títulos uma pontuação generosa para quem já tem experiência docente 
em filosofia (embora suponho que isto não agradaria nem a gregos nem a 
troianos, e também esbarra no fato deste tipo de pontuação normalmente já estar 
determinada a nível da IES). Poderia também ser o caso de calibrar o sorteio 
dos pontos, introduzir algumas novidades na prova didática, e por aí vai.

Contudo, quem já participou de bancas de concurso sabe que estas medidas são 
convites irresistíveis a recursos e toda sorte de imbróglios jurídicos. Exigir 
graduação em filosofia, por outro lado, é uma maneira mais segura, ainda que 
falível, de aumentar a probabilidade de contratação de uma pessoa com ampla 
formação em filosofia e, concomitantemente, competente em temas avançados de 
lógica. É uma garantia? Não, obviamente. É razoável exigir alguma garantia 
neste processo? Não creio. É um processo justo, do ponto de vista de quem 
supostamente "merece" uma posição no serviço público pela sua dedicação e 
conquistas acadêmicas na área? Também não creio.  Pode ser razoavelmente 
justificada do ponto de vista do interesse público? Possivelmente sim.

Agora, quanto ao edital do concurso em tela, não consigo sequer especular quais 
motivações levaram à exigência de diploma de graduação em filosofia. Se tivesse 
que adivinhar, diria que sequer refletiram tanto sobre a questão quanto nós 
aqui na lista e simplesmente fizeram o conhecido copia-cola-e-ajusta do último 
edital lançado.

Cordialmente,

[1] Para quem se interessa pelo tópico, recomendo a coletânea "Meritocracy and 
Economic Inequality" editada por Kenneth Arrow etal. como aperitivo inicial.

--
Hermógenes Oliveira

-- 
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica 

--- 
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Re: [Logica-l] Fwd: [CAROL / UFRN] Fwd: [CHAMADA] - Edição Especial revista Axioms

2023-03-28 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Em segunda-feira, 27 de março de 2023 às 21:59:20 UTC-3, Walter Carnielli 
escreveu:

Então Hermógenes, considerando os elevados custos da compra de 
assinaturas pelo cofres públicos, e considerando 
a tendência de pagar para publicar que está pressionando aqueles que 
produzem ciência, o que devemos fazer? 
Pagar dos dois lados? 


Pois é, Walter. Acho que um primeiro passo importante é levantar a pauta, 
como você fez, e trocar ideias e argumentos entre os colegas para que o 
assunto ganhe mais visibilidade e, quem sabe, suscite ações mais 
coordenadas (é um problema difícil de solucionar no âmbito meramente 
individual).

Como escrevi, não tenho uma solução universal a sugerir. Mas vou 
compartilhar algumas considerações, as quais, contudo, são bastante 
peculiares à minha situação e certamente não se aplicam a vários outros 
contextos.

Primeiro, algumas observações, que me parecem incontestáveis:

1. O serviço de editoração de casas de publicação científica é ruim, e 
parece estar piorando com o passar do tempo (escrevi sobre isto na lista 
antes 
<https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/D5hMtl4KedY/m/Jug-fvxaBQAJ>).
 
Uma boa parte do serviço é terceirizado a trabalhadores sobrecarregados em 
países em desenvolvimento.

2. Publicação científica tem custos, sim. Hospedagem, indexação, arquivo 
permanente, DOI, software de gerenciamento do fluxo de submissão etc. Nada 
disto é gratuito. Contudo, como Valéria tem apontado, existem diversos 
exemplos que demonstram que este custo é bem menor do que muitas casas de 
publicação alegam, especialmente quando não é necessário bancar o lucro de 
proprietários. No âmbito da filosofia, se destacam Philosopher's Imprint 
<https://journals.publishing.umich.edu/phimp/> e Ergo 
<https://journals.publishing.umich.edu/ergo/> (ambas gerenciadas pela 
Michigan Publishing). A qualidade do serviço (tanto para leitores quanto 
autores) deixa grande parte das grandes casas editoriais no chinelo. Em 
comparação, o custo é irrisório.

Então, com base nisto e outras observações já aludidas na discussão, uma 
estratégia bastante natural seria apoiar veículos com modelo de acesso 
livre genuíno e, em caso de insuficiência destes em alguma especialidade, 
buscar fundar novos. As condições para desempenhar estas ações variam 
bastante de indivíduo para indivíduo, de área de especialidade para área de 
especialidade, de contexto para contexto. Portanto, vou focar agora no meu 
caso.

Eu atuo como parecerista para periódicos de grandes editoras. Minha 
racionalização/desculpa esfarrapada: a minha área de especialização é 
relativamente pequena e praticamente todos os textos são submetidos e/ou 
publicados num certo punhado de periódicos de grandes editoras, pelo 
simples fato de especialistas fazerem parte do corpo editorial destes 
periódicos. Novos pesquisadores na área comumente reclamam de submissões 
apodrecendo no "journal hell", em boa parte por dificuldade de arranjar 
pareceristas ou, ao menos, de conseguir pareceres em tempo hábil. Isto 
afugenta a moçada, a qual, sob pressão para publicar, eventualmente decide 
dedicar-se a outra especialidade, contribuindo assim para o arrefecimento 
ainda maior da minha área. Portanto, no balanço das coisas, me parece menos 
danoso tolerar o status quo, ao menos enquanto não conseguimos pouco a 
pouco diversificar para outros veículos.

Quanto à publicação, a minha intenção é submeter meus melhores artigos 
daqui em diante em periódicos mais decentes, ainda que menos prestigiosos. 
Sim, o Qualis provavelmente irá me penalizar por isto, pode ser difícil 
encontrar pareceristas e etc. Mas acho que, sem um pouco de sacrifício, é 
difícil conseguir impulso para sairmos desta encruzilhada. Contudo, não me 
parece correto impor esta minha decisão a coautores em caso de artigos 
conjuntos. Nestes casos, vou com a sugestão dos meus colaboradores e o que 
seria melhor para suas respectivas carreiras.
 
*Se eu fosse influente na minha área*, e capaz de aglutinar pesquisadores, 
eu fundaria um novo veículo de livre acesso com um bom corpo editorial, ou 
convenceria meus pares a abandonar suas funções nos corpos editoriais das 
grandes casas e se juntar a mim no corpo editorial de outros periódicos 
mais decentes. Tenho certeza que as submissões e, consequentemente, os 
artigos publicados iriam nos acompanhar. Até eu chegar lá, vou vivendo 
entre frustrações, planos e racionalizações.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira

-- 
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Re: [Logica-l] Fwd: [CAROL / UFRN] Fwd: [CHAMADA] - Edição Especial revista Axioms

2023-03-27 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Prezad@s,

João Marcos traz um ponto importante, sobre o qual já discorri antes na 
lista 
<https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/hdgs_PeUEyo/m/cbY8DMUeBAAJ>.
 
Não convém ignorar que contribuir com periódicos de propriedade das grandes 
editoras científicas também prejudica a causa da ciência e pesquisa livre. 
Sim, sob a condição de ceder os direitos autorais, *autores* comumente não 
pagam para *publicar*. Mas, neste caso, os *cofres públicos* normalmente 
pagam pelo *acesso*, e as respectivas editoras também embolsam lucros 
obscenos.

Eis um experimento para quem curte ficar deprimido ou indignado. Abra a 
página do Diário Oficial da União e faça uma busca na Seção 3 pelo termo 
"Elsevier", "Springer", "Clarivate Analytics" etc. Faça uma breve soma dos 
contratos dos três últimos anos e relembre a magreza dos recursos para 
pesquisa no mesmo período. Eles também assinam contratos diretamente com as 
IES, claro. A minha instituição, a UFPB, por exemplo, pagou algumas 
centenas de milhares de reais 
<https://sipac.ufpb.br/public/jsp/processos/processo_detalhado.jsf?id=1849298> 
para obter acesso aos dados bibliométricos da Clarivate e Scival. O 
contrato tem sido renovado periodicamente. A justificativa supostamente 
seria a "necessidade de uma ferramenta para avaliação da produção da 
universidade com base em dados e evidência". Os demais detalhes da 
justificativa é copiado e colado da própria brochura do fornecedor.

É possível argumentar 
<https://www.scidev.net/global/features/open-access-excludes-developing-world-scientists/>
 
que *pagar para publicar* afeta mais negativamente a pesquisa em países 
emergentes do que *pagar para ler* (não quero entrar nas 
instrumentalizações destes argumentos pelas grandes editoras para se 
pintarem como defensoras dos fracos e oprimidos). Contudo, somos leitores 
de ciência também. Não é improvável que uma boa parte de nós vá direto ao 
Sci-Hub e sequer se importe com o portal de periódicos da CAPES. Ainda que 
não façamos tanto uso atualmente, os cofres públicos continuam pagando. E 
não é factível que o Governo Brasileiro simplesmente deixe de pagar sob a 
alegação que quase 100% de nós já usamos Sci-Hub mesmo. Me parece que os 
custos aos cofres públicos devem ser devidamente considerados, ainda que 
seu efeito em pesquisadores individuais seja mais diluto.

Não tenho soluções a sugerir. Trata-se de um problema melindroso. Mas acho 
importante evitar que a perspectiva do pesquisador individual domine, e que 
os custos para a sociedade sejam devidamente considerados.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Trends in Logic conference- Torun, 2023

2023-07-23 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Salve, Valéria, e demais.

Bem, a memória do ser humano é falha, como sabemos, mas talvez convenha 
compartilhar mais algumas recordações da conversa, pois foi muito 
instrutiva para mim à época.

O grupo vinha organizando "MANELS" mais por omissão ou acidente do que por 
convicção. Com as reclamações em 2015, ficou meio que acordado que este 
fator seria considerado de modo mais contundente na organização de eventos 
posteriores. Entretanto, **não** foi colocado um embargo em "MANELS", 
embora evitar "MANELS" tenha sido promovido para um dos fatores de maior 
peso.

Minha única contribuição para a conversa, pelo que me recordo, foi 
compartilhar o relato de uma jovem pesquisadora de destaque, com a qual 
esbarrei num evento de lógica, quem lamentava estar sendo inundada por 
convites. Como ela considerava a causa justa, sentia-se pressionada a 
aceitar os convites, porém já estava ficando "farta de eventos e 
conferências" e sentia-se meio que usada como espécie de trunfo anti-MANEL.

É costumeiro julgar um evento, principalmente na fase inicial de 
organização, por meio da notoriedade do painel de palestrantes convidados. 
Junte-se a escassez de mulheres na área com outros fatores como conflitos 
de agenda, falta de entusiasmo por viagens transoceânicas e etc, e a tarefa 
de se evitar um "MANEL" pode se tornar bastante melindrosa. De fato, foi 
mencionado que alguns dos "MANELS" organizados anteriormente foram 
acidentais, isto é, mulheres foram inicialmente convidadas (não como medida 
consciente de evitar um "MANEL"), mas recusaram por razões diversas.

Por estas e outras razões, fixou-se o entendimento de que se evitar 
"MANELS" a todo e qualquer custo, não seria proveitoso. Por exemplo, numa 
suposta situação logística desesperadora, esgotadas as opções razoáveis, 
não seria propício (e talvez fosse mesmo ofensivo) estender convites a 
pessoas apenas longinquamente relacionadas com a temática do evento, de 
modo que ficasse patente que a pessoa estava sendo convidada *única e 
exclusivamente* por causa do seu gênero. Felizmente, parece que este tipo 
de situação hipotética se mostrou bem menos factível do que se antecipava. 

Enfim, as reclamações em 2015, além de não gerarem qualquer desconforto 
(pelo que me recordo), suscitaram mudanças positivas. Portanto, creio que 
ainda pode valer a pena reclamar, sim. Também acho razoável, contudo, 
adotar cautela ao atrelar malícia, ou um posicionamento consciente sobre o 
desequilíbrio de gênero na área, com base **apenas** na organização de um 
evento com "MANEL". Claro, independente das razões por traz do "MANEL", 
seja por fatores incontornáveis de logística organizativa ou simples 
obtusidade, reclamar é sempre legítimo e, eu diria, necessário.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Trends in Logic conference- Torun,2023

2023-07-21 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

Eu simpatizo com a frustração e o cansaço, mas concordo com Elaine que 
convém continuar reclamando.

Me lembro que, há não muito tempo atrás, após reclamações 
<https://feministphilosophers.wordpress.com/gendered-conference-campaign/#comment-139251>,
 
houve uma conversa interna e o grupo em Tübingen passou a considerar a 
questão nos eventos que organizou dali em diante.

Cordialmente,

--
Hermógenes Oliveira

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[Logica-l] Peter Schroeder-Heister on Proof-Theoretic Semantics

2024-02-14 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Acesso livre:

https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-50981-0

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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Códigos de ética e conduta em sociedades científicas

2023-12-20 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Prezadas(os),

Sobre esta temática, acho que sanções são absolutamente indispensáveis.

Denunciantes precisam ter total transparência sobre os procedimentos para 
tratamentos das denúncias, a expectativa de serem levadas(os) à sério e 
protegidas(os) de eventuais retaliações, e que suas denúncias, caso 
contundentes, conduzam a reais consequências. Caso contrário, ninguém se 
prestará a denunciar qualquer coisa.

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Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Caso de vira-latismo e misoginia no CNPq- será o primeiro????

2024-01-07 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Olá, pessoal.

Em sábado, 6 de janeiro de 2024 às 21:12:12 UTC-3, Joao Marcos escreveu:

Está de parabéns o CNPq pela justa e expedita reação! (mesmo que ainda 
não tenha ficado inteiramente claro, do que está escrito na nota do 
CNPq, quem seriam os beneficiados pelo "parto ou adoção", e como isto 
seria computado na prática) 


Diferente de alguns países onde o próprio arcabouço legal, especialmente o 
trabalhista, permitem uma participação mais equitativa no cuidado da prole 
(na Alemanha, a duração da licença pode mesmo aumentar caso haja 
participação do pai), no Brasil as coisas infelizmente ainda funcionam sob 
o pressuposto de que o cuidado das crianças é responsabilidade da mãe.

No caso da Alemanha, que conheço mais de perto, as semanas de licença para 
cuidado da criança retiradas pelo pai possuem o mesmo peso daquelas 
retiradas pela mãe frente a agências de fomento, como a DFG.

Dado o contexto brasileiro, as medidas anunciadas pelo CNPq provavelmente 
afetarão apenas as mães (ou talvez também pais com guarda exclusiva).

Acho que parte da tarefa de tornar o ambiente trabalhista brasileiro (não 
só o acadêmico) um pouco mais adequado para pessoas com filhos passa por 
uma reorientação das políticas públicas ao contexto familiar atual, onde 
pais participam ou desejam participar de maneira equitativa no cuidado dos 
filhos e famílias nas quais o cuidado das crianças é exercido por casais 
homossexuais, para citar apenas alguns exemplos.

No caso da DFG, a agência pode contar com o contexto alemão para averiguar, 
digamos, que o pai está efetivamente com o cuidado da criança, uma vez que 
este está de licença enquanto a mãe trabalha, digamos.

O contexto brasileiro é bem distinto. Afinal, a situação de um novo pai com 
uma rede de suporte local, uma esposa, uma babá e um escritório com 
isolamento acústico dentro de casa é muitíssimo diferente daquela de uma 
mãe solteira sem família num raio de mil quilômetros e que more num cafofo 
de 50 m². Sabemos que temos colegas na universidade em ambos estes 
extremos, bem como em diversos outros pontos no espectro.

--
Hermógenes Oliveira

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Re: [Logica-l] Caso de vira-latismo e misoginia no CNPq será o primeiro????

2024-01-08 Por tôpico Hermógenes Oliveira
incomodado com os ruídos envolvidos nos cuidados da minha filha durante 
minhas aulas remotas (Cafofo sem escritório aqui. Também levando em conta 
este episódio desagradável, não liguei o microfone para fazer minha 
pergunta no encontro recente em Bristol, pois a pequena estava cantando 
amavelmente em alto e bom som, e ninguém conseguiria escutar minha pergunta 
mesmo). Acho que os colegas conhecem os episódios lamentáveis durante a 
pandemia de mães sendo hostilizadas por patrões, juízes e/ou colegas de 
trabalho por estarem amamentando ou cuidando da prole durante 
videochamadas. Eu pude usar efetivamente do machismo arraigado para 
convencer minha esposa a vagar pelas ruas desertas com a criança no colo 
nos dias de aula com o tal cidadão. O mesmo não está disponível a uma 
mulher que amamenta.

Dado o contexto brasileiro, as medidas anunciadas pelo CNPq provavelmente 
afetarão apenas as mães (ou talvez também pais com guarda exclusiva).


É um começo! Importante, porque atinge a maioria dos casos.


Sim, eu diria que não apenas é um começo, como o correto, dado o cenário 
nacional atual. Uma situação mais ideal, como a que observamos com a DFG, 
apenas faz sentido quando em consonância com as demais políticas públicas 
em geral, como ocorre na Alemanha, mas não no Brasil.

Acho que parte da tarefa de tornar o ambiente trabalhista brasileiro (não 
só o acadêmico) um pouco mais adequado para pessoas com filhos passa por 
uma reorientação das políticas públicas ao contexto familiar atual, onde 
pais participam ou desejam participar de maneira equitativa no cuidado dos 
filhos e famílias nas quais o cuidado das crianças é exercido por casais 
homossexuais, para citar apenas alguns exemplos.


Concordo. Isso vai levar uma vida. Como a gente tem que começar de algum 
lugar, que tal do mais óbvio? :)
 

O contexto brasileiro é bem distinto. Afinal, a situação de um novo pai com 
uma rede de suporte local, uma esposa, uma babá e um escritório com 
isolamento acústico dentro de casa é muitíssimo diferente daquela de uma 
mãe solteira sem família num raio de mil quilômetros e que more num cafofo 
de 50 m². Sabemos que temos colegas na universidade em ambos estes 
extremos, bem como em diversos outros pontos no espectro.


Pra qual lado você acha que a balança pende mais? Eu diria que raramente 
pra babá e escritório com isolamento acústico, ao menos no nosso ambiente 
brasileiro.


Eu diria que o papai hipotético no seu escritório, na verdade, está em 
condições invejáveis para *alavancar* a sua carreira, nos moldes do seu 
colega italiano.

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Hermógenes Oliveira

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[Logica-l] Intuicionismo e racismo? (Clickbait)

2024-01-29 Por tôpico Hermógenes Oliveira
Esbarrei numa curiosidade que *talvez* adicione a uma discussão histórica 
iniciada por João Marcos há algum tempo atrás:

https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/g/logica-l/c/AvSKkMvN-gs/m/ghsLFIngCwAJ

Nos anos 50, na época do apartheid 
<https://en.wikipedia.org/wiki/Population_Registration_Act,_1950>, Brouwer 
publicou a seguinte peça no South African Journal of Science:

https://hdl.handle.net/10520/AJA00382353_3009

OK, nada particularmente surpreendente até aqui. Acontece que, ao buscar 
pelo artigo no sumário do respectivo volume, notei que o artigo de Brouwer 
sucede o seguinte artigo cujo título, "The Nation's Intelligence and its 
Measurement" me chamou a atenção:

https://hdl.handle.net/10520/AJA00382353_3008

Dado o título do artigo e o contexto, choca, mas não surpreende, que logo 
no resumo lê-se coisas do tipo:

"There is a shortage in South Africa of people with professional, 
administrative and technical ability, because a small European population 
is trying to meet virtually all requirements in these top employment 
classes for a nation of 12,600,000 people. Potential ability for these 
functions should therefore be detected at an early age, and developed to 
its maximum capacity. At the same time, the basic abilities of Africans 
should be studied to determine what contributions they could eventually 
make."

Asqueroso, não é mesmo? Não li muita coisa de Brouwer (e não gostei muito 
do pouco que li). Da sua biografia, então, não conheço basicamente nada. 
Portanto, não sei até que ponto a publicação do artigo dele neste contexto 
sugere algo sobre sua pessoa.

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Hermógenes Oliveira

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